No coracao do mar - Charlotte Rogan

EM FESTA , que falava de ouro e obrigações de curto prazo e mencionava
exatamente a empresa sobre a qual eu lera no parágrafo referente ao trabalho de
Henry. A tarefa de desembalar as taças foi esquecida, pois comecei a
apressadamente examinar o jornal à procura de uma data. Descobri que o
exemplar era de mais de três meses antes.
Já em nosso terceiro encontro Henry me apresentou sua teoria de que todas as
pessoas são destinadas a um grande amor e que se ele tivesse a sorte de
encontrar um durante sua vida, o ignoraria por sua conta e risco. Respondi que,
em minha opinião, pouquíssimas pessoas tinham a felicidade de nascer no
mesmo local e na mesma época de seu grande amor; as outras, talvez em maior
número, tinham nascido antes ou depois do momento ideal. Pensei em minha
mãe, que, pela distância de vários séculos e pelo menos um continente, perdera a
oportunidade de ser arrebatada por um cavaleiro arrojado. Não muito tempo
depois dessa declaração, no entanto, Henry deixou de ir ao local de nosso
encontro. Enquanto eu tentava maquinar explicações alternativas, suspeitava que
ele estivesse com a noiva.
— Fiquei preocupada com você! — exclamei, atirando-me em seus braços
quando ele apareceu no dia seguinte. — Sabia que devia ser alguma coisa
importante, caso contrário, você teria vindo.
— Era importante — limitou-se a responder, com ar sombrio.
Pelo restante da noite, porém, Henry mostrou-se mal-humorado e quieto,
parecendo não entender o que eu dizia, até afinal me comunicar que passaria
algum tempo fora da cidade e que viria me buscar quando voltasse. Três dias
depois ele apareceu à minha porta, pálido e com aspecto debilitado. Fiquei
eufórica ao vê-lo, pois o emprego de governanta começava a se associar a
nomes e datas, e eu via a corrente de possibilidades correr para trás, na direção
do charco fétido de um emprego servil.
— Não fui verdadeiro com você! — confessou Henry quando peguei meu
xale e saímos para a rua sozinhos, ou tão sozinhos quanto conseguíamos no bairro
miserável onde minha mãe e eu morávamos agora.
Crianças maltrapilhas brincavam no quintal e desafiavam umas às outras a
pedir dinheiro a Henry, que, embora em geral fosse alegre e generoso, nem
chegou a reparar nelas.
— Você deve ter tido suas razões — respondi.
Mas o fato de eu ter me doado completamente a ele e não me importar com
sua deslealdade serviu apenas para deixá-lo com uma expressão ainda mais
desolada e atormentada. Ele ajoelhou-se no chão imundo e declarou que não se
moveria dali até eu aceitar me casar com ele.
Puxei-o pelo casaco e respondi depressa:
— Claro que me caso com você!
Mas também não parecia ser isso que ele queria ouvir, pois permaneceu