No coracao do mar - Charlotte Rogan

HENRY
A primeira vez que vi Henry foi quando sua foto apareceu na coluna social do
New York Times: “filho de... trabalhando com... ficou noivo de...”, et cetera, et
cetera, no meio de uma infinidade de detalhes sobre sua suntuosa festa de
noivado e a fantástica origem da família de sua futura esposa. Eram informações
que me intrigavam, ainda mais por chegarem no momento em que um emprego
de governanta, como o de minha irmã, parecia ser o objetivo final a que minhas
expectativas cada vez mais limitadas almejavam. Eu fora criada para acreditar
em um leque cada vez mais amplo de perspectivas, já que meu caminho, desde
o nascimento, estava destinado a unir-se a riachos e correntes cada vez maiores
de possibilidades, até o dia em que fosse depositada em um delta fértil, onde o
último dos largos rios finalmente encontraria um oceano de oportunidades. Agora
essa metáfora parece agourenta, mas na época se mostrava adequada, e aquele
destino ensolarado e cintilante no qual eu estava condicionada a pensar não era
outro senão a felicidade perpétua da vida de casada. Na ocasião da derrocada de
meus pais, Miranda namorava um jovem médico, mas o relacionamento não
sobreviveu ao ano tumultuado da morte de nosso pai. Em vez de ficar arrasada
pelo afastamento do médico, porém, Miranda pareceu apenas
momentaneamente desanimada. Passou em revista as opções que se ofereciam,
pediu cartas de recomendação e aconselhou-me a nunca depositar minha sorte
nas mãos de um homem.
— Mas você vai precisar trabalhar! — argumentei, não acreditando nem por
um momento que sua opção a deixasse feliz.
— Serei dona de minha vida — respondeu ela.
— Estará apenas um pouco acima de empregada doméstica — retruquei.
No entanto, se Miranda seguia um princípio ou se o princípio veio depois, para
ajudá-la a aceitar a única solução em que conseguia pensar, ela nunca
confessou, e partiu então para Chicago, deixando-me com a incumbência de
encontrar acomodação a preço acessível para nossa mãe e para mim no andar
superior da casa de um conhecido de nosso advogado. Tínhamos vendido a maior
parte de nossos móveis e encaixotado o restante dos pertences. Imaginando que
essa solução seria temporária, eu desembalava apenas o que precisávamos para
o dia a dia, deixando o restante das caixas empilhadas em um canto de um
cômodo vazio.
O fato de Henry já estar noivo me parecia o menor dos obstáculos. A meus
olhos era até um ponto positivo, pois como eu teria sabido da existência dele se
não pela notícia de sua festa de noivado no Times? Na mesma edição, que caiu
em minhas mãos quando abria uma caixa de taças de cristal que por algum
motivo escapara da venda, descobri um artigo intitulado BOLSA DE LONDRES