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No coracao do mar - Charlotte Rogan

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um tom moreno; ainda assim, ela mantinha o olhar fixo no <strong>mar</strong>. Eu gostava de<br />

pensar que, se um navio aparecesse no horizonte depois de to<strong>do</strong> aquele tempo,<br />

seria porque ela o atraíra puramente com sua determinação e o ar<strong>do</strong>r de sua<br />

vontade. Eu percebia o efeito que ela tinha sobre alguns passageiros, que não<br />

hesitavam em inventar pretextos para se aproxi<strong>mar</strong> dela ou tocar seus ombros<br />

enquanto ela cumpria suas obrigações. Eu via tu<strong>do</strong> aquilo e acredito que<br />

compreendia, mas ainda assim olhava para Hardie como o alicerce de minha<br />

força.<br />

Hardie continuava acreditan<strong>do</strong> que era prudente permanecer perto <strong>do</strong> local<br />

em que o navio afundara, de onde tinham si<strong>do</strong> emiti<strong>do</strong>s os sinais de perigo e no<br />

qual também ouvíramos as sirenes de nevoeiro, mas o argumento da Sra. Grant<br />

prevaleceu. Assim, quan<strong>do</strong>, por volta <strong>do</strong> meio-dia, o vento voltou a ganhar força,<br />

Hardie apressou-se a transfor<strong>mar</strong> a cobertura de lona <strong>do</strong> barco em uma vela,<br />

prenden<strong>do</strong>-a a <strong>do</strong>is remos com tiras cortadas de um <strong>do</strong>s cobertores com sua<br />

faca. Cortou em seguida parte da corda de salvamento que circundava o barco e<br />

usou-a para puxar a vela e liberá-la de novo, dependen<strong>do</strong> da intensidade e da<br />

direção <strong>do</strong> vento. Depois de enfiar o remo no buraco <strong>do</strong> mastro, estabeleceu um<br />

rumo que, imagino, fazia senti<strong>do</strong> para ele. Para mim e os outros, o horizonte à<br />

frente não podia ser distingui<strong>do</strong> <strong>do</strong> horizonte às nossas costas ou de qualquer um<br />

<strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s. Ainda assim, senti confiança ao constatar que o Sr. Hardie tinha um<br />

plano. Suas mãos estavam sempre em movimento, e se a Sra. Grant<br />

personificava a força tranquila, Hardie encarnava a ágil impetuosidade.<br />

Os rema<strong>do</strong>res manejavam os remos com presteza, e em pouco tempo<br />

navegávamos tão depressa que quase tivemos esperança de a qualquer instante<br />

ver a costa americana erguer-se diante de nossos olhos. Manobran<strong>do</strong> a longa<br />

barra de madeira <strong>do</strong> timão que estava presa ao leme e controlava seu<br />

movimento, Hardie apontava o barco tanto quanto possível para o vento, que<br />

chegava até nós por bombor<strong>do</strong> e fazia com que o <strong>mar</strong> agita<strong>do</strong> parecesse muito<br />

mais encapela<strong>do</strong> <strong>do</strong> que antes. Como a tendência da vela era empurrar o barco<br />

para dentro da água, precisávamos contrabalançar a inclinação com nosso peso.<br />

Isso exigia atenção constante de nossa parte, e manter a amurada fora da água<br />

ou evitar que o barco emborcasse tornou-se uma espécie de jogo perigoso.<br />

Rebecca, que estava febril e gripada desde que caíra no <strong>mar</strong>, agora fitava ao<br />

re<strong>do</strong>r com olhos vidra<strong>do</strong>s. Em determina<strong>do</strong> momento pousou o olhar no Sr.<br />

Hardie e gritou:<br />

— Pai, pai! O cachorrinho correu para a estrada!<br />

A Sra. Grant fez o possível para acalmá-la, e Hannah murmurou:<br />

— Não há cachorro algum aqui, Rebecca. Você está se lembran<strong>do</strong> de alguma<br />

coisa de muito tempo atrás.<br />

Ouvir isso deixou Rebecca furiosa e transtornada. Lágrimas desciam de seus<br />

olhos.

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