No coracao do mar - Charlotte Rogan

— Imagine, todo esse rebuliço por causa de um duque morto — sussurrei para
Penelope.
— Arquiduque — corrigiu ela, e nós duas rimos.
A maior parte do tempo, no entanto, falávamos sobre casamento, já que ela
também era recém-casada, e, embora tivéssemos consciência de que nossa
conversa era muito menos importante do que aquelas em ebulição ao redor,
acreditávamos que o mundo seria um lugar melhor se as pessoas precisassem se
preocupar apenas com casamentos e se mantivessem afastadas da guerra.
Um dia, quando já tínhamos nos tornado amigas, Penelope inclinou-se para
perto de mim mais do que o habitual e me disse ao pé do ouvido:
— Imagino que esteja se perguntando por que no início o Sr. Cumberland e eu
não éramos convidados para a mesa do comandante e agora somos. — É óbvio
que eu já me fizera essa pergunta, porém não o admiti. — Meu marido é
funcionário de um banco britânico — explicou ela — e foi indicado para
acompanhar um grande carregamento de ouro até Nova York.
Penelope contou ainda que ele carregava uma chave especial na cintura o
tempo inteiro e que, como precisava manter contato permanente com o
comandante e os outros banqueiros a bordo, parecera-lhes prudente usar esse
pretexto para evitar que as pessoas fizessem perguntas demais.
— É evidente que isso tem relação com a guerra — concluiu ela.
Mais tarde, Henry pediu-me que mantivesse a amizade de Penelope, alegando
que seu banco esperava manter relações comerciais com o banco onde
trabalhava o Sr. Cumberland. Ele uma vez me contara que seus colegas
observavam com grande interesse a situação europeia, pois sempre havia a
possibilidade de muitos lucros em tempos de guerra.
Acho que passei a gostar mais de Penelope depois disso; porém, enquanto eu
sentia ter por fim encontrado meu verdadeiro lugar no mundo, ela se mostrava
retraída. Fiz o que pude para convencê-la de que tinha direito a um lugar à mesa
do comandante tanto quanto qualquer outra pessoa. Ensinei-lhe a se comportar à
mesa; emprestei-lhe dois de meus vestidos novos, orientando-a a fazer farfalhar
as saias e a caminhar com os ombros para trás e os olhos fixos em um ponto
distante. Disse-lhe para sorrir e rir, embora sem exagero, quando não soubesse
como reagir; e o comandante fez sua parte para estimulá-la, consentindo que
entrasse no restaurante antes dos demais passageiros como se fosse a coisa mais
natural do mundo.
— Mesmo que não seja algo de sua natureza, sempre se pode fingir — falei.
A única vez que Henry e eu discutimos foi a bordo do Empress Alexandra. Ele
me levara a acreditar que seus pais sabiam o real motivo do rompimento de seu
noivado com Felicity Close, e toda vez que eu pedia detalhes ele argumentava
“Eles sabem tudo” ou “Não posso casar com Felicity porque não a amo. Não
seria justo com ela, e já falei isso para eles”, mas no final ficou claro que ele