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No coracao do mar - Charlotte Rogan

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sua culpa que minha pequena Emmy está morta?<br />

Sua voz saía entrecortada e baixa, e os outros passageiros tinham muda<strong>do</strong> de<br />

assunto, por isso talvez não nos ouvissem. Só Mary Ann, que me ajudava a<br />

confortar a Sra. Fleming, a escutava; de novo ela tentou tranquilizá-la:<br />

— Ora vamos, minha querida. Uma pessoa a mais ou a menos não faz<br />

diferença.<br />

— Não foi uma — sussurrou acidamente a Sra. Fleming, como se revelasse<br />

um segre<strong>do</strong> terrível. — Foi ela e Hardie. São duas pessoas, não são? Pelas minhas<br />

contas, sim.<br />

— Pois então devemos dar graças a Deus por isso — retrucou Mary Ann. —<br />

Sem o Sr. Hardie estaríamos perdi<strong>do</strong>s.<br />

— Mesmo com ele estaremos perdi<strong>do</strong>s! — grasniu a Sra. Fleming. — Anote<br />

minhas palavras.<br />

Mary Ann e eu trocamos um olhar, mas a Sra. Fleming mergulhou em um<br />

silêncio extenua<strong>do</strong>. Mantive os braços ao re<strong>do</strong>r de seus ombros durante toda a<br />

tarde, sussurran<strong>do</strong> palavras de incentivo, como se faz com uma criança. Ela<br />

a<strong>do</strong>rmeceu por um instante, mas, assim que acor<strong>do</strong>u, recomeçou:<br />

— Era para ter si<strong>do</strong> você. Emmy podia estar aqui a meu la<strong>do</strong>, mas seu <strong>mar</strong>i<strong>do</strong><br />

comprou a passagem, não foi? Só pode ser essa a explicação. Se não fosse por<br />

seu dinheiro, o barco não estaria superlota<strong>do</strong>. Se não fosse por seu dinheiro,<br />

minha pequena Emmy não estaria morta.<br />

Mantive a calma, pois ela certamente estava transtornada e falava bobagens.<br />

Expliquei que ninguém podia entrar no Empress Alexandra sem passagem.<br />

— Pode fingir que não me entende, se quiser — retrucou ela friamente, mas<br />

logo sua calma passageira desapareceu e ela se pôs a gritar: — Era para ter si<strong>do</strong><br />

ela! Era para ter si<strong>do</strong> ela!<br />

Foram necessários três homens para <strong>do</strong>miná-la. Por fim a Sra. Fleming<br />

acalmou-se e desabou entre Hannah e mim, de novo a<strong>do</strong>rmecida, ou em transe.<br />

Para não acordá-la, quan<strong>do</strong> chegou minha vez, Mary Ann me substituiu na tarefa<br />

de tirar a água <strong>do</strong> barco.<br />

Por causa das nuvens, o sol sumiu em vez de se pôr, mas mesmo sob a luz<br />

cada vez mais reduzida eu podia ver que a Sra. Fleming conseguira uma espécie<br />

de paz. Quan<strong>do</strong> perguntou pelo balde, julguei que o queria por razões íntimas. Eu<br />

não podia imaginar que pensasse em beber água <strong>do</strong> <strong>mar</strong>. Não a vi bebê-la, mas<br />

durante a noite percebi que tremia. Ajeitei o cobertor que caíra de seus ombros,<br />

e Hannah e eu nos revezamos para mantê-la contra nossos corpos. Em<br />

determina<strong>do</strong> momento, ela murmurou palavras incoerentes, e de manhã estava<br />

morta. Muito depois disso, quan<strong>do</strong> o Sr. Hoffman já se aliara ao Sr. Hardie, a Sra.<br />

Grant usou esse incidente como exemplo da traição de Hoffman, afirman<strong>do</strong> que<br />

ele matara a Sra. Fleming com a verdade.

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