No coracao do mar - Charlotte Rogan

— Isso significa que a outra metade escapará — interveio a Sra. Grant,
deixando claro com o olhar que assim se encerrava o assunto.
A Sra. Fleming parecia ter de algum modo se recuperado, e eu me orgulhava
de ter contribuído para isso com minhas tentativas de acalmá-la, segurando sua
mão e garantindo-lhe que aquela era apenas uma versão da história, talvez não a
verdadeira. Falei para ela sobre meu breve porém feliz casamento com Henry e
que planejávamos uma cerimônia ao voltarmos para casa. Por isso, fiquei muito
surpresa quando ela anunciou:
— Já que estamos sendo sinceros, é importante dizer que Grace não deveria
de modo algum estar neste barco salva-vidas.
— Ora, isso é absurdo — retrucou Mary Ann, com a voz tranquilizadora que
usava desde o início para dirigir-se à Sra. Fleming.
— Talvez você não tenha percebido, Mary Ann, mas eu sim. É por causa de
Grace que este barco está superlotado. Não ouviram o que o Sr. Hoffman disse?
Que tinham começado a baixar o barco salva-vidas e depois o ergueram de
novo, só um pouco, antes de baixá-lo de vez? O Sr. Hardie estava ajudando as
pessoas a entrar no barco e já tinha começado a baixá-lo para a água quando
Grace e seu marido apareceram e disseram alguma coisa para ele. Qual foi o
teor da conversa, Grace? Todos nós gostaríamos de saber. Percebi o que
aconteceu porque esperava ver minha Emmy entrar no barco. Ela estava bem
atrás de mim. Disseram que eu entrasse primeiro por causa de minha mão, mas
eu nunca teria feito isso se não tivesse certeza de que minha filha viria logo
depois. O que seu marido prometeu ao Sr. Hardie? Eles ergueram o barco, e foi
então que o Sr. Hardie e Grace entraram. E foi nessa hora que, segundo o Sr.
Hoffman, Emmy foi atingida. Se Grace não nos contar, talvez o Sr. Hardie o
faça!
— Se ergueram o barco, foi para deixá-lo nivelado — rosnou Hardie. — O
navio estava inclinado quase vinte graus, os conveses estavam escorregadios
devido ao óleo e as pessoas agarravam qualquer homem uniformizado que
vissem pela frente. Eu queria ver se vocês conseguiriam operar as roldanas
naquelas condições!
— Ergueram o barco para que o senhor e Grace embarcassem, esta foi a
única razão. Vi com meus próprios olhos!
— Calma, calma — sussurrei, pois não tinha a menor lembrança do momento
em que entrara no barco, a não ser que vira fumaça subindo da ponte de
comando e que, no meio do terror e da confusão, eu agarrara a mão de Henry e
o seguira cegamente, colocando um pé na frente do outro e fazendo o que me
mandavam até ser erguida do chão e depositada no barco.
Eu não conseguia pensar em mais nada a fazer a não ser murmurar frases
sem sentido e apertar a Sra. Fleming contra o peito, mas ela insistia:
— É ou não é por sua culpa que este barco está superlotado? É ou não é por