No coracao do mar - Charlotte Rogan

opinião da outra mulher. “Não é um assunto em que eu costume pensar”,
respondeu ela, confusa por se tornar o centro das atenções, que em geral
excluíam nós duas. Surpreendi-me com a resposta que dei, com ar de grande
convicção: “Claro que as mulheres deveriam votar!” Não que eu tivesse uma
opinião formada sobre a questão; apenas acreditava que aqueles homens, sem
nenhuma sensibilidade, usavam a outra mulher para provar os próprios conceitos.
Mais tarde, Henry me disse, orgulhoso: “Acho que você os colocou na linha.” De
modo geral, no entanto, Henry e eu falávamos pouco, economizando nossa voz
para os momentos de intimidade.
Quando o Sr. Hardie acabou de falar, outras pessoas começaram a relatar
suas próprias versões sobre a explosão e a fazer conjeturas sobre o que a teria
provocado. As opiniões divergiam: a explosão teria sido a causa do naufrágio ou
apenas um efeito secundário?
— Um efeito secundário do quê? — perguntou o coronel, mas ninguém
conseguiu responder.
Quase todos tinham uma história a contar sobre o Titanic, que afundara de
maneira espetacular havia pouco mais de dois anos. A irmã mais nova da Sra.
McCain fora uma das sobreviventes, e ficamos ouvindo, encantados, tudo que ela
tinha a dizer sobre o naufrágio, perturbando-a para saber detalhes da experiência.
No caso do Titanic, o problema fora a falta de barcos salva-vidas, mas quem
conseguira entrar em um fora logo resgatado.
— O navio afundou de noite, então muitas pessoas não estavam vestidas de
maneira adequada — explicou a Sra. McCain. — Toda vez que minha irmã conta
essa história ela ri e diz que sua maior preocupação foi estar calçada com um par
de sandálias árabes enfeitadas com pedras, pois seus tornozelos apareciam por
baixo do penhoar no momento de entrar e sair do barco.
As outras passageiras e eu olhamos para nossos pés todas ao mesmo tempo,
corando, uma doce lembrança de que em algum lugar ainda havia um mundo
onde essa poderia ser nossa principal preocupação. O Sr. Nilsson recorreu a seus
conhecimentos náuticos para afirmar que o navio gêmeo do Titanic seria batizado
de Gigantic, mas que, após o desastre, a White Star Line decidira chamá-lo de
Britannic.
— Imagino que não quiseram desafiar o destino de novo com um nome tão
arrogante.
— Não foi o nome que afundou o Titanic — argumentou a Sra. McCain. — Foi
um iceberg. Acha que aconteceu a mesma coisa conosco?
— Não batemos em um iceberg — explicou o Sr. Hardie. — Depois do
naufrágio do Titanic, as rotas dos transatlânticos foram desviadas um pouco para
o sul, exatamente para evitar isso.
O Sr. Sinclair acrescentou que muitos barcos salva-vidas do Titanic foram