No coracao do mar - Charlotte Rogan

— Se estiver certo quanto à situação do segundo barco, talvez seja possível
transferir algumas pessoas daqui para lá.
Sua voz, no entanto, carecia de força, o que fez com que a ideia por ele
apresentada parecesse débil e discutível. Antes mesmo de ele concluir, o Sr.
Hardie já sacudia a cabeça.
— Se comportasse mais passageiros, não acha que a essa altura algumas
pessoas do outro barco, que está superlotado, já teriam se transferido para lá?
Eles estão muito mais próximos um do outro do que de nós.
— Devíamos pelo menos falar com eles — insistiu o coronel.
— Que seja — concordou o Sr. Hardie após uma longa pausa. — Chegaremos
a uma distância que lhes permita nos ouvir, mas eu decidirei o que faremos
depois.
Os remadores então retomaram seus postos, e eu prendi a respiração quando
nos aproximamos do primeiro barco. Eu orava para avistar Henry, embora não
ousasse esperar tanto. Mary Ann sussurrou-me que jogaria no mar seu anel de
noivado como uma oferenda se sua mãe estivesse em um dos outros barcos, e eu
sabia que ao meu redor negociações similares estavam sendo feitas.
Mantínhamos os olhos apertados por causa do sol, e era difícil distinguir rostos
contra a claridade. Quando chegamos mais perto, reconheci Penelope
Cumberland, uma das pessoas a quem eu fora apresentada no Empress
Alexandra, mas contei apenas quatro homens a bordo e nenhum deles era Henry.
Ouvi suspiros de decepção enquanto o Sr. Hardie gritava:
— Aqui já está bom. Preparem os remos.
Um homem de barba cerrada gritou do outro barco. Queria saber se
estávamos bem. Ele e o Sr. Hardie trocaram algumas palavras.
— Já fez contato com o outro barco? — perguntou Hardie.
— Sim — respondeu o homem barbudo, que parecia estar no comando. — O
barco não está nem com metade da lotação, mas um oficial maluco a bordo diz
que há um buraco no casco. Ele tentou transferir para cá alguns dos passageiros
e, quando falei que não podíamos recebê-los, jogou dois no mar. É claro que os
recolhemos. Veja a situação com seus próprios olhos.
De fato, o barco parecia tão superlotado quanto o nosso.
— Não há nenhum marinheiro com vocês, então? — perguntou Hardie.
— Nenhum.
— Já localizaram as caixas de mantimentos que ficam embaixo dos bancos?
O homem respondeu que sim. O Sr. Hardie então afirmou que pedidos de
socorro e outras mensagens haviam sido enviados pelo sistema sem fio antes de o
navio afundar e que tudo indicava que a ajuda chegaria na forma de outra
embarcação dentro de vinte e quatro horas, quarenta e oito no máximo; que
estava surpreso com a demora e que seria interessante não nos perdermos de
vista até o momento em que alguém chegasse para nos resgatar.