No coracao do mar - Charlotte Rogan

me convidado para ir a Nova York, e um dia irei visitá-la, claro, mas ainda não
sei quando. Será estranho que o que parecia um componente crucial de meu
futuro pareça não ter mais lugar em minha vida?
— Você jamais encontrará a paz interior se não resolver sua ambivalência
com relação ao barco salva-vidas... E com relação a mim — o Dr. Cole
começou a dizer, mas retruquei que já encontrara a paz interior.
A vida naquele momento voltava a parecer um jogo para mim, um jogo que
eu podia até vencer, acima de tudo porque havia sido absolvida e ainda não
tomara nenhuma decisão irrevogável. Sem dúvida logo tomaria. Não se pode
viver por muito tempo sobre o fio de uma navalha sem cair para um lado ou o
outro, como minha experiência a bordo do barco salva-vidas mostrou com tanta
clareza. Eu me sentia euforicamente feliz na presença de William? Não, mas ele
dizia ser feliz por nós dois, e isso me satisfazia.
Voltei a ter notícias de Greta, que escreveu contando que as mulheres do
barco salva-vidas estavam recolhendo dinheiro para as apelações de Hannah e
da Sra. Grant e perguntando se eu gostaria de contribuir. Também queriam que
eu usasse minha influência para persuadir o Sr. Reichmann não apenas a aceitar
as duas causas, mas também a cobrar honorários reduzidos. Passei um dia inteiro
debruçada sobre meu bloco de papéis de cartas rascunhando uma resposta...
Várias, na verdade. Em uma eu oferecia toda a assistência que me fosse
possível; em outra, perguntava como pessoas que tinham não apenas me
envolvido em seu crime, mas que mais tarde se viraram contra mim, podiam
pedir minha ajuda. Em uma terceira ainda, eu adotava termos polidos e um ar
distante para apenas mandar-lhes saudações, sem nada prometer. Contei ao Dr.
Cole sobre as três versões e pedi sua opinião sobre qual enviar.
— Qual você quer mandar? — perguntou ele, como eu já imaginava que
faria.
— Bem, não tenho dinheiro para dar a elas.
Eu lhes desejava boa sorte, do fundo do coração, mas não queria que William
passasse o primeiro ano de nosso casamento imerso nos acontecimentos de um
período que eu havia deixado para trás.
Ao contrário da sala úmida da prisão onde nos conhecêramos, o consultório do
Dr. Cole era amplo e arejado, graças a uma fileira de janelas que davam para o
porto. Passei os últimos minutos da consulta observando a água e o vaivém das
ondas de crista espumosa. Ao longe, uma flotilha de pequenas embarcações a
vela, graciosas como pássaros, eram empurradas pelo vento.
— Você está sorrindo — reparou o Dr. Cole.
— Sim — admiti. — Acho que sim.
O vestido novo de seda que eu usava fez um delicioso farfalhar quando me
levantei para ir embora antes de meu horário acabar.
— Não posso mais ajudá-lo a encontrar as respostas que busca. O senhor terá