No coracao do mar - Charlotte Rogan

O RESGATE
O dia seguinte àquele em que Hardie foi morto amanheceu claro e luminoso. A
Sra. Grant tirou um pente da bolsa e pediu que Hannah nos fizesse tranças ou
coques para que não ficássemos com o cabelo caindo no rosto. O sol brilhou
durante os dois dias seguintes e nos permitiu secar os cobertores, embora ao
mesmo tempo tenha rapidamente sugado a umidade de nosso corpo através da
pele.
Éramos agora vinte e oito pessoas no barco. A Sra. Grant escolheu novos
lugares para cada um de nós, com o objetivo de distribuir melhor o peso; depois
pediu que os homens içassem a vela, e em pouco tempo rumávamos para a
Inglaterra ou talvez para a França. Com o vento oeste soprando forte, o barco
logo ganhou velocidade. Fui mandada para a popa, onde deveria substituir o Sr.
Nilsson no leme, tarefa para a qual provei não ter a menor qualificação. Foi a
primeira vez que tive a oportunidade de observar o Sr. Nilsson de perto, e percebi
que se tratava de um homem jovem que apenas parecia mais velho devido ao
aspecto sisudo e autoritário que ele agora perdera por completo. Quando pedi que
me ensinasse a manejar o leme, ele olhou-me com ar de coelho assustado e
limitou-se a responder:
— Basta mantê-lo na direção oposta à qual deseja ir.
Ele ilustrou o que dizia empurrando com força o leme até deixar atrás de nós
um rastro de espuma. Quando comentei que havia sangue em seu rosto e me
ofereci para limpá-lo, ele esquivou-se, de novo com o olhar de coelho assustado.
Gastei a maior parte de minha energia apenas tentando segurar o leme, mas
não posso dizer que de fato conduzi o barco. Em determinado momento, talvez
devido a algum movimento que fiz, o leme soltou-se dos parafusos de fixação e
quase o perdemos no mar. Em várias ocasiões tive tanta vertigem que teria caído
no mar se não fosse pelo Sr. Nilsson, que me agarrou pelos ombros e me puxou
para trás. Controlar o leme exigia praticamente toda a minha capacidade física e
mental de tal forma que quase perdi a noção do que os outros passageiros faziam.
Depois de algum tempo Greta assumiu meu lugar, e posteriormente trocamos de
novo.
Para nossa surpresa, entrava pouca água na embarcação. Conseguimos
manter o buraco no casco vedado e, claro, o peso era muito menor agora que
havia menos gente a bordo e todos eram meras sombras do que haviam sido.
Quando o vento cessou, paramos de avançar e nos prostramos no barco, sem
força ou vontade de reagir. Somente a Sra. Grant permaneceu firme, sentada no
banco com os olhos fixos no horizonte à procura de navios ou espiando pela
amurada na esperança de ver algum peixe na água agora calma e transparente.
Um dia avistamos uma baleia a distância.