No coracao do mar - Charlotte Rogan

sob hipótese alguma, pois pode parecer que estamos conspirando. De todo modo,
diga à Sra. Grant que não se preocupe. Sabemos exatamente o que fazer!” E
perguntou:
— A senhora combinou seu depoimento com as outras sobreviventes?
— Claro que não — afirmou Greta.
A genialidade do Sr. Reichmann era tamanha que a resposta a sua pergunta
não faria diferença alguma, e a negativa de Greta permitiu que ele se dirigisse
aos jurados e indagasse:
— Os senhores percebem o poder que Ursula Grant e Hannah West exerciam
sobre estas mulheres? Por que Grace não estaria sujeita à mesma influência?
Quem poderia imaginar que no último dia da réplica da promotoria, Any a
Robeson apareceria e daria o mais impiedoso de todos os depoimentos? Ela não
participara de nada. Não levantara um dedo para tirar a água do barco nem para
cuidar dos doentes, mas, quando contou isso aos jurados, sua passividade não
soava condenável já que ela tinha o pequeno Charles como desculpa.
O promotor providenciara uma réplica do barco salva-vidas, na qual haviam
feito quarenta furos destinados a receber trinta e nove peças de madeira que
representavam os passageiros. As peças tinham etiquetas com o nome dos
sobreviventes. Ele entregou várias delas a Anya e pediu-lhe que as colocasse nos
assentos que haviam ocupado na ocasião do julgamento do Sr. Hardie. O Sr.
Reichmann se opôs à ideia, alegando que os quarenta furos sugeriam que a
embarcação fora concebida para quarenta ocupantes, embora ele tivesse
demonstrado anteriormente que os barcos salva-vidas haviam sido construídos
em uma escala menor do que previa o projeto. Rejeitada a objeção, Any a
colocou lado a lado as figuras que continham o nome de Mary Ann e o meu.
Depois encontrou os lugares de Hannah, da Sra. Grant e do Sr. Hardie e em
seguida colocou-se atrás de Mary Ann, nos fundos do barco.
— Todos pensavam que eu não percebia o que se passava, que me interessava
apenas por meu filho, mas eu vi tudo — revelou ela.
E prosseguiu em seu intuito de nos incriminar. Descreveu como, sob as ordens
da Sra. Grant, Hannah e eu lutáramos com o Sr. Hardie, chutando seus joelhos e
pernas até ele cair sobre nós. Contou que Mary Ann não podia nos ajudar por ter
desfalecido, mas que nós duas conseguíamos enfrentar com folga o Sr. Hardie,
que apresentava um grave ferimento no braço. Em um ponto ela tinha razão: não
dávamos atenção a ela no barco, mas, pensando bem, ela tinha conseguido salvar
o filho, que era seu único propósito afinal.
O Sr. Reichmann conseguiu que ela declarasse que eu não tinha votado pela
condenação do Sr. Hardie, ao contrário da maioria das mulheres. Interrogada
mais adiante, Any a disse que eu voltara para meu assento ao lado de Mary Ann
após a morte do Sr. Hardie e que desde então me mantivera distante de Hannah e
da Sra. Grant. Afirmou que conseguia nos enxergar bem e também ouvir parte