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se eles estariam resgatan<strong>do</strong> o ouro por iniciativa própria ou por ordens de outra<br />
pessoa, e concluí que eu não poderia culpá-los por tentar roubar o ouro se de fato<br />
tivesse si<strong>do</strong> assim.<br />
Logo que amanheceu, <strong>do</strong>brei o recorte de jornal em um quadradinho e enfieio<br />
sob um <strong>do</strong>s cantos <strong>do</strong> colchão. Percebi tarde demais que Florence estava<br />
acordada, me olhan<strong>do</strong> através <strong>do</strong> lusco-fusco.<br />
— O que é isso? — perguntou ela, em um sussurro agressivo. — Se não me<br />
contar, chamo a carcereira.<br />
— Do que está falan<strong>do</strong>, Florence? — retruquei, aparentan<strong>do</strong> a maior calma<br />
possível.<br />
Eu não queria abrir mão <strong>do</strong> artigo. Talvez o visse como a chave <strong>do</strong> enigma ou<br />
talvez apenas tivesse por aquele recorte a mesma ligação que to<strong>do</strong>s os<br />
prisioneiros têm por seus ínfimos pertences. Em to<strong>do</strong> caso, tentar entender o que<br />
acontecia manteve-me ocupada.<br />
— Você colocou alguma coisa embaixo <strong>do</strong> colchão — insistiu Florence,<br />
enfian<strong>do</strong> o rosto estreito entre duas barras. — Eu vi. Com esses olhos que a terra<br />
há de comer.<br />
— Então você está ten<strong>do</strong> visões de novo — respondi, com uma pitada de<br />
preocupação na voz. Eu sabia que Florence queria desesperadamente que<br />
alguém acreditasse nela, por isso acrescentei: — A carcereira virá fazer uma<br />
vistoria e não encontrará nada, porque não há nada, e então ela terá mais uma<br />
razão para pensar que você é maluca.<br />
Florence dirigiu-me seu olhar feri<strong>do</strong>, mas calou-se, e foi bem na hora, pois<br />
não mais que <strong>do</strong>is minutos depois a carcereira apareceu tocan<strong>do</strong> sua sineta.<br />
De tempos em tempos gosto de tirar o artigo de seu esconderijo e tentar<br />
decifrá-lo, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> como se decifra um enigma. Isso me ajuda a passar<br />
o tempo, mas ainda não consegui concluir com segurança se Hardie e Blake<br />
eram conspira<strong>do</strong>res ou inimigos. Acredito que deviam ser um pouco de ambos.