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— Então a seu ver a Sra. Grant representava a mãe ideal.<br />
— Sou uma mulher casada, Dr. Cole. Não tenho mais necessidade de mãe.<br />
— Mas sua mãe a decepcionou.<br />
— Suponho que sim, mas a vida é repleta de decepções, não acha? E naquela<br />
época eu era perfeitamente capaz de me virar sozinha.<br />
— E como foi isso?<br />
Expliquei que, com a ajuda de nosso advoga<strong>do</strong>, eu encontrara uma casa para<br />
alugar, que tinha supervisiona<strong>do</strong> a venda de nossos bens e que por fim Henry se<br />
casara comigo.<br />
— Ah — limitou-se ele a dizer.<br />
Esperei que prosseguisse, mas ele parou por aí mesmo. Seria para ele uma<br />
brilhante revelação perceber que as mulheres julgavam estar em melhor<br />
situação quan<strong>do</strong> casadas? Jamais saberei, porque, quan<strong>do</strong> voltou a falar, disse:<br />
— Retornemos ao capítulo sobre sua irmã. — E mentalmente nós <strong>do</strong>is viramos<br />
a página. — Alguém no barco a lembrava à senhora?<br />
Eu me divertia com sua tentativa de identificar os ocupantes <strong>do</strong> barco salvavidas<br />
com membros de minha família, e deduzi que, da<strong>do</strong> o papel insignificante<br />
de Miranda, ele só fazia alusão a ela para chegar finalmente ao Sr. Hardie e<br />
sugerir que ele talvez me lembrasse meu pai. Eu ria por dentro <strong>do</strong> absur<strong>do</strong> da<br />
ideia, mas não via razão para não entrar no jogo. Na verdade, muito antes da<br />
insinuação <strong>do</strong> Dr. Cole eu já percebera por mim mesma que Miranda e Mary<br />
Ann eram parecidas em vários aspectos. Mary Ann era muito mais emotiva <strong>do</strong><br />
que minha irmã, mas a meus olhos ela tinha uma alma de governanta.<br />
— Suponho que se eu tivesse que escolher alguém equivalente à personalidade<br />
de minha irmã, escolheria Mary Ann. Eu a amava, mas ela também me irritava,<br />
exatamente como Miranda. Eu queria coisas maiores para minha irmã, mais <strong>do</strong><br />
que ela mesma queria. Quanto a Mary Ann, ela não estava se casan<strong>do</strong> com<br />
Robert para obter algo maior para si, mas para estabelecer-se firmemente em<br />
sua pequenez. Exatamente como Miranda, que preferia fazer uma aposta inferior<br />
porém segura a arriscar tu<strong>do</strong> por um prêmio maior.<br />
— E a senhora, é uma joga<strong>do</strong>ra? — perguntou o Dr. Cole, o que me fez dar<br />
uma boa risada.<br />
Conversamos um pouco sobre Mary Ann e sobre quão facilmente eu podia<br />
prever sua reação a quase tu<strong>do</strong>, justamente por ela me lembrar Miranda. Já<br />
sabia o que ela responderia caso eu lhe perguntasse se gostava de crianças, se<br />
gostava que elas sentassem em seu colo, se gostava de ler para elas. Acertei<br />
praticamente em cheio: seus olhos brilharam com uma expressão distante e feliz<br />
e ela respondeu: “Robert e eu planejamos ter filhos...” Mas sua voz sumiu quan<strong>do</strong><br />
ela se deu conta de que isso talvez nunca acontecesse. É óbvio que ela temia<br />
morrer ali no <strong>mar</strong>, mas preferi fingir que não entendera bem e interpretei a<br />
observação como me<strong>do</strong> de que Robert não a estivesse esperan<strong>do</strong> ou que, por