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PRISÃO<br />
Neste momento estou sentada em meu catre na prisão, rodeada por três paredes<br />
cinzas. A quarta são grades, através das quais consigo ver a cela em frente —<br />
ocupada por uma mulher chamada Florence, que sufocou os filhos para evitar<br />
que fossem morar com o pai violento.<br />
— Por que simplesmente não os levou para morar com você? — perguntei um<br />
dia, para puxar conversa.<br />
— Eles moravam comigo, mas como eu conseguiria alimentá-los? —<br />
respondeu Florence, irritada. — O juiz ficou feliz de me conceder a custódia,<br />
mas não teve a menor disposição para mandar meu <strong>mar</strong>i<strong>do</strong> me dar dinheiro. “É<br />
o que está escrito na lei”, declarou ele, em toda a sua grandeza. “E quem o<br />
senhor acha que escreve a lei?”, perguntei, mas ele apenas bateu o <strong>mar</strong>telo e<br />
perguntou se eu queria ficar com as crianças ou não.<br />
Ela estava tomada pela raiva, mas sem qualquer arrependimento. Quan<strong>do</strong><br />
perguntei se seus filhos eram meninos ou meninas, ela deu uma risada de gelar o<br />
sangue, se sacudin<strong>do</strong> toda, e respondeu:<br />
— Meninas, claro! Com a sorte que tenho, claro que fui ter só meninas!<br />
Desde então, cada vez que lhe dirigia a palavra ela perguntava “E quem você<br />
acha que escreve a lei?”, por isso passei a evitá-la. Mesmo quan<strong>do</strong> se aproxima<br />
das grades e fixa os olhos em mim, finjo não perceber. Meu equilíbrio mental já<br />
é frágil o bastante; não preciso correr o risco de debilitá-lo ainda mais ao falar<br />
com esse tipo de gente.<br />
As conversas com Florence me perturbaram também de outra maneira. Suas<br />
ideias sobre dinheiro me fizeram to<strong>mar</strong> consciência de alguns aspectos de minha<br />
própria situação que precisarão ser resolvi<strong>do</strong>s se eu conseguir provar minha<br />
inocência diante <strong>do</strong> magistra<strong>do</strong>. Uma semana atrás, meu advoga<strong>do</strong> trouxe uma<br />
carta de minha sogra que me deu motivo para ter esperança, mas que, por outro<br />
la<strong>do</strong>, não indicava como eu seria recebida caso fosse inocentada. Ela também<br />
não explicou a longa demora em me procurar, e posso apenas supor que<br />
desejasse obter uma prova irrefutável de meu casamento. Pensei de novo no<br />
telegrama que Henry dizia ter envia<strong>do</strong> a ela. A investigação preliminar mostrou<br />
que o equipamento Marconi de telegrafia sem fio <strong>do</strong> Empress Alexandra estava<br />
de fato quebra<strong>do</strong> no momento <strong>do</strong> naufrágio, mas não havia como saber se a pane<br />
acontecera antes ou depois de Henry tentar a comunicação. Também descobri<br />
que o opera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> sistema de telegrafia não era emprega<strong>do</strong> <strong>do</strong> navio, trabalhava<br />
diretamente para a empresa Marconi, o que me levou a crer que o Sr. Blake não<br />
estava mandan<strong>do</strong> pedi<strong>do</strong>s de socorro no momento da explosão. Não perdi tempo<br />
com conjeturas. A única coisa em que pensei foi que, se Henry não tivesse<br />
mesmo consegui<strong>do</strong> mandar o telegrama, a Sra. Winter só teria sabi<strong>do</strong> <strong>do</strong>