No coracao do mar - Charlotte Rogan

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quando uma das mulheres perto dele soltou um grito de fazer gelar o sangue, tive a certeza de que alguém a estava matando. Em seguida percebi uma pequena agitação, uma alteração no equilíbrio do barco, depois a voz reconfortante da Sra. Grant informando a seja lá quem fosse que se acalmasse, pois tinha sido apenas um pesadelo. Por fim, o sol lançou sobre nós sua pálida luz matinal, iluminando nosso mundo flutuante em um avanço quase imperceptível de tão gradual; mas quaisquer esperanças que tivéssemos nutrido durante a noite de que um novo dia apagaria o drama da véspera estavam prestes a ser retalhadas.
DIA QUATORZE Todos estavam estranhamente calmos quando, com o dia já alto, a Sra. Grant pediu uma votação para determinar se o Sr. Hardie deveria se jogar do barco. Só posso explicar tal equanimidade pela relação de confiança que a Sra. Grant estabelecera com os outros passageiros, como descrevi antes, ou talvez pelo fato de o dia estar tranquilo, cinzento e sem vento. Apenas Anya Robeson pareceu um pouco chocada, como se só naquele momento tomasse consciência do que estava acontecendo a seu redor. — E o outro barco salva-vidas? — perguntou ela, tendo o cuidado de cobrir os ouvidos do filho com as mãos. — Se não o quer neste barco, ele não pode ser transferido para o outro? Quando relembro os fatos, os esforços de Any a para tentar conseguir um meio-termo me parecem louváveis, mas na hora a sugestão pareceu totalmente fora da realidade, quase oriunda de uma mente perturbada. Em primeiro lugar, o outro barco não estava visível, de modo que não havia uma possibilidade real de pedir ajuda. Em segundo, acredito que estávamos tão acostumados a nos ver como seres isolados de todo tipo de sociedade humana, que a ideia de receber socorro de fora de nosso pequeno barco havia muito deixara de passar por nossa cabeça. A Sra. Grant respondeu a Anya amavelmente. Lembro-me de seu tom, mas não das palavras exatas. — Quem for favorável a sua morte diga “sim” — acrescentou Hannah, para que não houvesse dúvida quanto ao objetivo da votação. Mary Ann, no entanto, olhou-me com olhos arregalados e perguntou: — O quê? O que ela quer dizer com isso? Cada vez mais eu me mostrava impiedosa com Mary Ann, que parecia sempre supor que seria natural que todos cuidassem dela, apesar de suas acusações e de sua instabilidade emocional. Embora desde o início sua tímida indecisão tivesse me encorajado, não me lembro de ela ter me oferecido alguma coisa, apenas de ter tomado. Se a situação fosse ruim, eu não a protegeria da realidade. Não era de minha natureza procurar metáforas que ela pudesse entender ou aceitar, como Hannah teria feito. Eu considerava suas perguntas tolas e desnecessárias, mas como ela estava desesperada para acreditar que algum de nós tinha respostas, agarrava-se a cada palavra que eu dizia. Muitas vezes, logo após conseguir atrair minha atenção, ela já não tinha o que dizer, ou esperava por uma resposta sem nem ter formulado a pergunta. Eu também tinha fome de certezas, e algumas vezes era apenas o desespero implacável de Mary Ann que refreava minha compulsão a agir do mesmo modo infantil que ela. Se o Sr. Hardie dissesse “O vento virou para o oeste”, ela me perguntava “Oeste? Ele falou oeste?”.
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Sumário Capa Folha de rosto Crédi
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Para Kevin E para Olivia, Stephanie
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— Mas o restaurante é logo ali,
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