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No coracao do mar - Charlotte Rogan

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As enormes ondas chegavam até nós em um ritmo hipnótico. Um movimento<br />

de sobe e desce regular como o mecanismo de um relógio. À exceção <strong>do</strong>s que<br />

recolhiam a água <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> barco e a despejavam de volta no oceano, quase<br />

to<strong>do</strong>s permaneciam em silêncio e inertes. Estávamos ator<strong>do</strong>a<strong>do</strong>s, ansiosos e<br />

quase anestesia<strong>do</strong>s pela fadiga de nossos corpos e mentes e pelo balanço ritma<strong>do</strong>,<br />

até que, como que por milagre, o outro barco e o nosso subiram ao mesmo<br />

tempo no alto de ondas distintas, e antes de deslizarmos <strong>do</strong> <strong>do</strong>rso verde e<br />

transparente <strong>do</strong> oceano para o meio de outra depressão, distinguimos a segunda<br />

embarcação, a silhueta recortada contra o céu, a uma distância de talvez<br />

quatrocentos metros de nós.<br />

Dessa vez, várias pessoas o viram.<br />

— Peguem os remos! — gritou o coronel, quebran<strong>do</strong> aquele silêncio de<br />

ator<strong>do</strong>amento. — Vamos até lá!<br />

Houve então grande alvoroço enquanto assimilávamos a informação e<br />

confrontávamos a lista reduzida de nossas certezas com a lista muito mais<br />

extensa de nossas esperanças. Com grande agitação, os remos foram retira<strong>do</strong>s de<br />

sob a amurada, onde eram guarda<strong>do</strong>s e onde haviam permaneci<strong>do</strong> quase sem<br />

uso desde a tempestade, e foi então que Hardie levantou-se, abriu os braços<br />

como se fosse Cristo na cruz e avisou:<br />

— É o barco de Blake! Aposto o que quiserem como é ele! Pousar remos!<br />

— Que seja o diabo em pessoa! — exclamou o coronel. — Preparem-se para<br />

re<strong>mar</strong>!<br />

Foi nesse momento que Hannah encaminhou-se para a popa, <strong>do</strong>brada sobre si<br />

mesma e agarran<strong>do</strong>-se ao que houvesse por perto para conseguir manter o<br />

equilíbrio. O Sr. Hardie estava distraí<strong>do</strong> e tive a impressão de que só reparou nela<br />

quan<strong>do</strong> a viu colocar as mãos em um <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is tonéis de água que nos restavam<br />

depois <strong>do</strong> que perdêramos na tempestade.<br />

— Volte para o seu lugar, droga! — gritou Hardie.<br />

Mas era tarde demais para impedi-la de arrancar a tampa de um deles.<br />

Hardie investiu em sua direção.<br />

— Não permitirei que a senhora nos coloque em risco! — vociferou ele.<br />

A mão de Hannah, no entanto, desapareceu dentro <strong>do</strong> tonel e reapareceu com<br />

uma pequena caixa de madeira solidamente a<strong>mar</strong>rada com uma corda.<br />

— O senhor, que não teme ninguém, age como se tivesse me<strong>do</strong> de Blake —<br />

gritou ela. — Será esta a razão?<br />

Ela parecia saber da existência da caixa. Imaginei que a Sra. Grant a tivesse<br />

descoberto quan<strong>do</strong> examinara os tonéis para verificar a água, e que passara a<br />

informação adiante.<br />

— Devolva isso! — gritou Hardie. — A senhora não sabe o que está fazen<strong>do</strong>.<br />

As mãos de Hannah, no entanto, já manuseavam a corda e tentavam desfazer<br />

o nó. Por um momento, o outro barco ficou esqueci<strong>do</strong>, fora de nossa visão e atrás

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