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As enormes ondas chegavam até nós em um ritmo hipnótico. Um movimento<br />
de sobe e desce regular como o mecanismo de um relógio. À exceção <strong>do</strong>s que<br />
recolhiam a água <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> barco e a despejavam de volta no oceano, quase<br />
to<strong>do</strong>s permaneciam em silêncio e inertes. Estávamos ator<strong>do</strong>a<strong>do</strong>s, ansiosos e<br />
quase anestesia<strong>do</strong>s pela fadiga de nossos corpos e mentes e pelo balanço ritma<strong>do</strong>,<br />
até que, como que por milagre, o outro barco e o nosso subiram ao mesmo<br />
tempo no alto de ondas distintas, e antes de deslizarmos <strong>do</strong> <strong>do</strong>rso verde e<br />
transparente <strong>do</strong> oceano para o meio de outra depressão, distinguimos a segunda<br />
embarcação, a silhueta recortada contra o céu, a uma distância de talvez<br />
quatrocentos metros de nós.<br />
Dessa vez, várias pessoas o viram.<br />
— Peguem os remos! — gritou o coronel, quebran<strong>do</strong> aquele silêncio de<br />
ator<strong>do</strong>amento. — Vamos até lá!<br />
Houve então grande alvoroço enquanto assimilávamos a informação e<br />
confrontávamos a lista reduzida de nossas certezas com a lista muito mais<br />
extensa de nossas esperanças. Com grande agitação, os remos foram retira<strong>do</strong>s de<br />
sob a amurada, onde eram guarda<strong>do</strong>s e onde haviam permaneci<strong>do</strong> quase sem<br />
uso desde a tempestade, e foi então que Hardie levantou-se, abriu os braços<br />
como se fosse Cristo na cruz e avisou:<br />
— É o barco de Blake! Aposto o que quiserem como é ele! Pousar remos!<br />
— Que seja o diabo em pessoa! — exclamou o coronel. — Preparem-se para<br />
re<strong>mar</strong>!<br />
Foi nesse momento que Hannah encaminhou-se para a popa, <strong>do</strong>brada sobre si<br />
mesma e agarran<strong>do</strong>-se ao que houvesse por perto para conseguir manter o<br />
equilíbrio. O Sr. Hardie estava distraí<strong>do</strong> e tive a impressão de que só reparou nela<br />
quan<strong>do</strong> a viu colocar as mãos em um <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is tonéis de água que nos restavam<br />
depois <strong>do</strong> que perdêramos na tempestade.<br />
— Volte para o seu lugar, droga! — gritou Hardie.<br />
Mas era tarde demais para impedi-la de arrancar a tampa de um deles.<br />
Hardie investiu em sua direção.<br />
— Não permitirei que a senhora nos coloque em risco! — vociferou ele.<br />
A mão de Hannah, no entanto, desapareceu dentro <strong>do</strong> tonel e reapareceu com<br />
uma pequena caixa de madeira solidamente a<strong>mar</strong>rada com uma corda.<br />
— O senhor, que não teme ninguém, age como se tivesse me<strong>do</strong> de Blake —<br />
gritou ela. — Será esta a razão?<br />
Ela parecia saber da existência da caixa. Imaginei que a Sra. Grant a tivesse<br />
descoberto quan<strong>do</strong> examinara os tonéis para verificar a água, e que passara a<br />
informação adiante.<br />
— Devolva isso! — gritou Hardie. — A senhora não sabe o que está fazen<strong>do</strong>.<br />
As mãos de Hannah, no entanto, já manuseavam a corda e tentavam desfazer<br />
o nó. Por um momento, o outro barco ficou esqueci<strong>do</strong>, fora de nossa visão e atrás