Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde
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TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE<br />
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Por fim, além <strong>da</strong>s exigências <strong>da</strong> população e <strong>da</strong> precarização <strong>da</strong>s relações<br />
trabalhistas ofereci<strong>da</strong>s, os próprios médicos em parte contribuem para o aumento<br />
de expectativas de recompensa de sua profissão. Muitos entram nas<br />
escolas médicas iludi<strong>dos</strong> pelo prestígio social e padrão de remuneração que<br />
outrora já desfrutou a Medicina, mas que hoje não apresenta as mesmas condições.<br />
Deslumbra<strong>dos</strong> pela suposta quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, status e retorno financeiro<br />
alcança<strong>dos</strong> pelos seus colegas seniores, os médicos jovens acabam por sobrecarregar-se<br />
no trabalho, para atingir tal padrão de gratificação ou reverência social.<br />
Considerações psicodinâmicas do trabalho<br />
e relações com a <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong><br />
O trabalho desempenha papel importante na formação <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de<br />
pessoal. Ele aparece como o mediador central <strong>da</strong> construção, do desenvolvimento,<br />
<strong>da</strong> complementação <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> constituição <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> psíquica.<br />
Sendo a identi<strong>da</strong>de entendi<strong>da</strong> como processo vinculado à noção de alteri<strong>da</strong>de,<br />
que se desenvolve ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do sujeito, é justamente na relação<br />
com o outro – em processo de busca de semelhanças e de diferenças – que se<br />
constrói a identi<strong>da</strong>de individual e social, a singulari<strong>da</strong>de em meio a diferenças<br />
do coletivo.<br />
O trabalho possibilita o confronto entre o mundo externo e interno do<br />
trabalhador. O mundo objetivo – com suas lógicas, desafios, regras e valores –<br />
por meio <strong>da</strong>s relações de trabalho, entra em conflito com o mundo subjetivo<br />
– com suas características pessoais únicas, singulares – gerando sofrimento<br />
psíquico. No entanto, o trabalho pode ser também a oportuni<strong>da</strong>de central de<br />
crescimento, fonte de prazer e de desenvolvimento humano do trabalhador.<br />
Fica evidente, portanto, que o trabalho e as relações que nele se originam nunca<br />
podem ser toma<strong>dos</strong> como espaço de neutrali<strong>da</strong>de subjetiva ou social.<br />
Ain<strong>da</strong>, são ca<strong>da</strong> vez mais evidentes as interferências do trabalho para<br />
além de seu espaço restrito na vi<strong>da</strong> profissional, influenciando outras esferas<br />
<strong>da</strong> existência do trabalhador. O desenvolvimento de identi<strong>da</strong>de e a transformação<br />
do sofrimento em prazer estão diretamente relaciona<strong>dos</strong> aos mecanismos<br />
de reconhecimento decorrentes do olhar do outro. Quando o reconhecimento<br />
do trabalho não existe, a desvalorização consequente se estende<br />
a outros espaços <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana <strong>dos</strong> trabalhadores, contaminando o tempo<br />
do não-trabalho.<br />
Em um mundo com tendências ca<strong>da</strong> vez mais individualistas, vislumbrase<br />
a falência do desenvolvimento de estratégias defensivas contra o sofrimento,<br />
que passariam pela cooperação entre trabalhadores na luta contra o sofrimento<br />
produzido pelas coações do trabalho: o medo de se acidentar, <strong>da</strong>s agressões<br />
provenientes <strong>dos</strong> clientes e <strong>da</strong> demissão; a angústia de não seguir os limites de