Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde
Trabalho_e_saude_mental_dos_profissionais_da_saude
Trabalho_e_saude_mental_dos_profissionais_da_saude
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE<br />
e incapazes de progredir profissionalmente, por acreditarem que o que sabem<br />
é sempre insuficiente. Alguns passam a vi<strong>da</strong> profissional auxiliando colegas<br />
mais experientes sem nunca ganhar autonomia, buscando se sentir seguros,<br />
ou protegem-se em instituições nas quais a responsabili<strong>da</strong>de é sempre dividi<strong>da</strong><br />
com o restante <strong>da</strong> equipe. Assim, não há confiança nos próprios sentimentos<br />
construtivos e a tentativa de reparação é onipotente (maníaca), como foi descrito<br />
acima ou, com maior frequência, obsessiva (repetitiva e ineficaz), como,<br />
por exemplo, o médico que pede excesso de exames desnecessários repeti<strong>da</strong>mente,<br />
por insegurança. Por duvi<strong>da</strong>r de sua capaci<strong>da</strong>de de cui<strong>da</strong>r <strong>dos</strong> pacientes,<br />
esse médico fica desesperado e com forte sentimento de culpa diante de um<br />
caso que evolua mal ou <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de um paciente, o que Grinberg (1963) denominou<br />
de culpa persecutória. 26 Essa configuração psicológica está presente nos<br />
transtornos de ansie<strong>da</strong>de e depressivos encontra<strong>dos</strong> com muita frequência entre<br />
estu<strong>da</strong>ntes de Medicina e médicos residentes, levando, nos casos extremos,<br />
ao suicídio, que seria um meio de eliminar o que o indivíduo acredita ter de<br />
ruim dentro de si: sua incompetência e impossibili<strong>da</strong>de de ser um bom médico.<br />
• A pulsão vocacional pode passar de egodistônica total e parcial para<br />
egossintônica e vice-versa em um mesmo indivíduo num curto espaço de tempo,<br />
dependendo <strong>da</strong>s variáveis já expostas anteriormente.<br />
• Ao entrar na facul<strong>da</strong>de de Medicina os alunos que fizeram sua escolha<br />
por vocação, terão de li<strong>da</strong>r com sua pulsão vocacional e buscarão desenvolver<br />
seu potencial vocacional no transcorrer de sua formação. Por serem, em<br />
sua grande maioria, adolescentes e imaturos, dificilmente terão condições de<br />
ter uma pulsão vocacional preponderantemente egossintônica no transcorrer<br />
de todo o curso e passam por vários perío<strong>dos</strong> de crise. Aqueles que não têm<br />
vocação médica e optaram pela Medicina por outras motivações como, por<br />
exemplo, pressões familiares ou o desafio de serem aprova<strong>dos</strong> em uma seleção<br />
competitiva, dificilmente passarão de bons técnicos, caso não abandonem o<br />
curso antes do seu final. Talvez não sofram tanto por não terem de li<strong>da</strong>r com<br />
sua pulsão vocacional e, aparentemente, podem parecer bem a<strong>da</strong>pta<strong>dos</strong> ao<br />
curso a quem os observa de forma superficial.<br />
74<br />
• Ao contrário <strong>dos</strong> alunos, como foi visto no início deste capítulo, os médicos<br />
residentes tendem a apresentar apenas uma grande crise no primeiro<br />
ano. É o momento em que sua pulsão vocacional será coloca<strong>da</strong> a to<strong>da</strong> prova,<br />
uma vez que pela primeira vez passa a ter a responsabili<strong>da</strong>de como médico,<br />
apesar de estar ain<strong>da</strong> em formação. Esse aspecto, somado aos problemas já descritos<br />
de más condições de trabalho e de relacionamento com seus superiores,<br />
tende a fazer com que a pulsão vocacional seja egodistônica, até que adquiram<br />
autoconfiança, no final do primeiro ano.