Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde
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TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE 28 internos latentes, que serão transformados por meio de sua inserção na cultura. Este processo de humanização se realizará na aceitação pelo indivíduo dos limites internos e externos. Considerando a ética como princípio individual, muitas pessoas acreditam que o ser ético significa apenas seguir os próprios valores. Ser ético implica lidar com os conflitos nascentes do impacto dos valores pessoais com os valores sociais ou do outro. Como é colocado no ditado popular, “a sua liberdade termina quando começa a do outro”. 1 Assim, ser ético, como conceituado por Cohen e Segre (2002), é “ter a percepção dos conflitos entre o que o coração diz e o que a cabeça pensa, ou seja, é poder percorrer o caminho da emoção à razão, podendo posicionar-se na parte deste percurso que considerar mais adequada”. Sob o enfoque psicanalítico, a mediação dos conflitos é uma função do ego, que é justamente a instância que vai lidar com as pulsões vindas do id e as ordens morais do superego. 2 Observa-se em todos os grupos sociais a necessidade da criação de várias “leis” para regulamentar a convivência social. Nas relações profissionais não é diferente: todas as profissões são regulamentadas por seus códigos de ética. Consideramos que todos estes códigos de ética são, na verdade, códigos de moral, pois estabelecem as regras de acordo com os valores sociais de determinado grupo em um determinado momento. As profissões da área da saúde tratam de relações interpessoais muito especiais, pois é uma das únicas áreas nas quais as pessoas, de um lado, expõem sua intimidade física e emocional, por haver uma confiança presumida na pessoa que está na função de profissional. Assim, há uma assimetria de funções, estando a vulnerabilidade presente em um dos lados destas relações e a responsabilidade do profissional do outro lado. O fato de o ser humano ser vulnerável por natureza é um conceito social presente em todas as culturas humanistas. Inclusive, a própria cultura e mesmo as estruturas sociais e políticas foram desenvolvidas justamente para combater os abusos ocorridos. Transpondo o conceito de vulnerabilidade humana para uma compreensão psicodinâmica do indivíduo, compreende-se que a vulnerabilidade do ser humano se encontra na sua própria constituição emocional; a maior ameaça à condição humana é o indivíduo tornar-se incapaz de frear suas próprias pulsões. 3 O que torna o indivíduo humano e ético é justamente o fato de ter que lidar com as pulsões e desejos presentes em todos, confrontando-os com a realidade. A impossibilidade de ser ético pode ser consequência de uma falha na estruturação mental do indivíduo, que não percebe a importância do respeito às funções sociais nas relações. 4 Não há uma definição “oficial” de saúde mental pela Organização Mundial de Saúde (OMS). As diferenças culturais, que pressupõem diferenças de
valores, as várias teorias distintas dentro desta área são fatores que afetam o modo como a “saúde mental” pode ser definida. Comportamentos ou condutas comuns a determinada cultura podem ser considerados “desviantes” em outra, colocando os indivíduos participantes fora da esfera da “sanidade” naquele grupo específico. Segundo a World Mental Health, “a saúde mental refere-se a uma ampla gama de atividades direta ou indiretamente relacionadas com o bemestar mental, elemento incluído na definição de saúde da OMS: “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença”. 5 Ela está relacionada à promoção do bem-estar, à prevenção de transtornos mentais, e ao tratamento e reabilitação de pessoas afetadas por transtornos mentais. De qualquer modo, assim como a saúde não pode ser definida por ausência de doença, a saúde mental não significa a simples ausência de um transtorno mental. Se a qualidade de vida é um aspecto primordial na definição atual de saúde, e esta só pode ser avaliada pelo sujeito por meio de seus aspectos cognitivos e emocionais, então a definição de saúde é totalmente dependente de uma saúde mental preservada. Segundo definição da Secretaria da Saúde do Estado do Paraná, “saúde mental é o equilíbrio emocional entre o patrimônio interno e as exigências ou vivências externas. É a capacidade de administrar a própria vida e as suas emoções dentro de um amplo espectro de variações sem contudo perder o valor do real e do precioso. É ser capaz de ser sujeito de suas próprias ações sem perder a noção de tempo e espaço. É buscar viver a vida na sua plenitude máxima, respeitando o legal e o outro”. 6 Concordando com estas possibilidades de definições de saúde mental, podemos concluir que a constituição do sujeito ético está estritamente ligada ao conceito de saúde mental. Se puder resumir que o ser ético é aquele que tem condições de lidar com os conflitos humanos com autonomia e respeito ao outro, podemos concluir que o ser ético é condição para possuir saúde mental. 1 Bioética e saúde mental dos profissionais de saúde Motivação para a escolha profissional na área da saúde A existência do profissional de saúde é determinada pela existência da dor e do sofrimento humanos. Sabemos que o profissional de saúde lida com pessoas que procuram ser cuidadas em relação à saúde: o paciente procura um serviço de saúde por sentir mal-estar, desconforto e dor, e a equipe de saúde tem como função atendê-lo. 7 Lidar diretamente com o sofrimento humano implica interesse pelo ser humano e compromisso com o bem-estar do outro. 29
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valores, as várias teorias distintas dentro desta área são fatores que afetam o<br />
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comuns a determina<strong>da</strong> cultura podem ser considera<strong>dos</strong> “desviantes” em<br />
outra, colocando os indivíduos participantes fora <strong>da</strong> esfera <strong>da</strong> “sani<strong>da</strong>de” naquele<br />
grupo específico.<br />
Segundo a World Mental Health, “a <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong> refere-se a uma ampla<br />
gama de ativi<strong>da</strong>des direta ou indiretamente relaciona<strong>da</strong>s com o bemestar<br />
<strong>mental</strong>, elemento incluído na definição de <strong>saúde</strong> <strong>da</strong> OMS: “um estado<br />
de completo bem-estar físico, <strong>mental</strong> e social e não meramente a ausência<br />
de doença”. 5 Ela está relaciona<strong>da</strong> à promoção do bem-estar, à prevenção de<br />
transtornos mentais, e ao tratamento e reabilitação de pessoas afeta<strong>da</strong>s por<br />
transtornos mentais.<br />
De qualquer modo, assim como a <strong>saúde</strong> não pode ser defini<strong>da</strong> por ausência<br />
de doença, a <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong> não significa a simples ausência de um transtorno<br />
<strong>mental</strong>. Se a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> é um aspecto primordial na definição atual<br />
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cognitivos e emocionais, então a definição de <strong>saúde</strong> é totalmente dependente<br />
de uma <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong> preserva<strong>da</strong>.<br />
Segundo definição <strong>da</strong> Secretaria <strong>da</strong> Saúde do Estado do Paraná, “<strong>saúde</strong><br />
<strong>mental</strong> é o equilíbrio emocional entre o patrimônio interno e as exigências ou<br />
vivências externas. É a capaci<strong>da</strong>de de administrar a própria vi<strong>da</strong> e as suas emoções<br />
dentro de um amplo espectro de variações sem contudo perder o valor do<br />
real e do precioso. É ser capaz de ser sujeito de suas próprias ações sem perder<br />
a noção de tempo e espaço. É buscar viver a vi<strong>da</strong> na sua plenitude máxima,<br />
respeitando o legal e o outro”. 6<br />
Concor<strong>da</strong>ndo com estas possibili<strong>da</strong>des de definições de <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong>,<br />
podemos concluir que a constituição do sujeito ético está estritamente liga<strong>da</strong><br />
ao conceito de <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong>. Se puder resumir que o ser ético é aquele<br />
que tem condições de li<strong>da</strong>r com os conflitos humanos com autonomia e<br />
respeito ao outro, podemos concluir que o ser ético é condição para possuir<br />
<strong>saúde</strong> <strong>mental</strong>.<br />
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dor e do sofrimento humanos. Sabemos que o profissional de <strong>saúde</strong> li<strong>da</strong> com<br />
pessoas que procuram ser cui<strong>da</strong><strong>da</strong>s em relação à <strong>saúde</strong>: o paciente procura um<br />
serviço de <strong>saúde</strong> por sentir mal-estar, desconforto e dor, e a equipe de <strong>saúde</strong><br />
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