Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde
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TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE<br />
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internos latentes, que serão transforma<strong>dos</strong> por meio de sua inserção na cultura.<br />
Este processo de humanização se realizará na aceitação pelo indivíduo <strong>dos</strong><br />
limites internos e externos.<br />
Considerando a ética como princípio individual, muitas pessoas acreditam<br />
que o ser ético significa apenas seguir os próprios valores. Ser ético implica<br />
li<strong>da</strong>r com os conflitos nascentes do impacto <strong>dos</strong> valores pessoais com os valores<br />
sociais ou do outro. Como é colocado no ditado popular, “a sua liber<strong>da</strong>de<br />
termina quando começa a do outro”. 1<br />
Assim, ser ético, como conceituado por Cohen e Segre (2002), é “ter a percepção<br />
<strong>dos</strong> conflitos entre o que o coração diz e o que a cabeça pensa, ou seja, é<br />
poder percorrer o caminho <strong>da</strong> emoção à razão, podendo posicionar-se na parte<br />
deste percurso que considerar mais adequa<strong>da</strong>”. Sob o enfoque psicanalítico, a<br />
mediação <strong>dos</strong> conflitos é uma função do ego, que é justamente a instância que<br />
vai li<strong>da</strong>r com as pulsões vin<strong>da</strong>s do id e as ordens morais do superego. 2<br />
Observa-se em to<strong>dos</strong> os grupos sociais a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criação de várias<br />
“leis” para regulamentar a convivência social. Nas relações <strong>profissionais</strong> não<br />
é diferente: to<strong>da</strong>s as profissões são regulamenta<strong>da</strong>s por seus códigos de ética.<br />
Consideramos que to<strong>dos</strong> estes códigos de ética são, na ver<strong>da</strong>de, códigos de<br />
moral, pois estabelecem as regras de acordo com os valores sociais de determinado<br />
grupo em um determinado momento.<br />
As profissões <strong>da</strong> área <strong>da</strong> <strong>saúde</strong> tratam de relações interpessoais muito especiais,<br />
pois é uma <strong>da</strong>s únicas áreas nas quais as pessoas, de um lado, expõem<br />
sua intimi<strong>da</strong>de física e emocional, por haver uma confiança presumi<strong>da</strong> na pessoa<br />
que está na função de profissional. Assim, há uma assimetria de funções,<br />
estando a vulnerabili<strong>da</strong>de presente em um <strong>dos</strong> la<strong>dos</strong> destas relações e a responsabili<strong>da</strong>de<br />
do profissional do outro lado.<br />
O fato de o ser humano ser vulnerável por natureza é um conceito social<br />
presente em to<strong>da</strong>s as culturas humanistas. Inclusive, a própria cultura e<br />
mesmo as estruturas sociais e políticas foram desenvolvi<strong>da</strong>s justamente para<br />
combater os abusos ocorri<strong>dos</strong>.<br />
Transpondo o conceito de vulnerabili<strong>da</strong>de humana para uma compreensão<br />
psicodinâmica do indivíduo, compreende-se que a vulnerabili<strong>da</strong>de<br />
do ser humano se encontra na sua própria constituição emocional; a maior<br />
ameaça à condição humana é o indivíduo tornar-se incapaz de frear suas<br />
próprias pulsões. 3<br />
O que torna o indivíduo humano e ético é justamente o fato de ter que<br />
li<strong>da</strong>r com as pulsões e desejos presentes em to<strong>dos</strong>, confrontando-os com a reali<strong>da</strong>de.<br />
A impossibili<strong>da</strong>de de ser ético pode ser consequência de uma falha na<br />
estruturação <strong>mental</strong> do indivíduo, que não percebe a importância do respeito<br />
às funções sociais nas relações. 4<br />
Não há uma definição “oficial” de <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong> pela Organização Mundial<br />
de Saúde (OMS). As diferenças culturais, que pressupõem diferenças de