Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde
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TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE<br />
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Violence. 22 Avaliamos exposição à violência que tivesse ocorrido nos últimos<br />
12 meses, pesquisamos quatro tipos de exposição à violência (insulto, ameaça,<br />
agressão física e violência presencia<strong>da</strong> no trabalho) e a frequência <strong>da</strong> exposição<br />
(nenhuma, uma/poucas vezes e várias vezes). Inserimos duas questões para<br />
saber se a exposição ocorreu durante o trabalho na ESF e se o episódio violento<br />
foi perpetrado pelo paciente ou por alguém <strong>da</strong> população adscrita à equipe de<br />
<strong>saúde</strong> <strong>da</strong> família. Consideramos violência presencia<strong>da</strong> quando o trabalhador<br />
testemunhou agressão física, roubo, brigas com arma branca, arma de fogo<br />
ou outro tipo de arma, tiroteio e/ou alguém recebendo um tiro. Estu<strong>dos</strong> que<br />
tenham avaliado a exposição à violência testemunha<strong>da</strong> no trabalho ain<strong>da</strong> são<br />
raros. Essa escassez de estu<strong>dos</strong> sobre violência testemunha<strong>da</strong> no trabalho pode<br />
estar relaciona<strong>da</strong> ao fato de que as definições de violência no trabalho, incluindo<br />
a utiliza<strong>da</strong> pela Organização Mundial de Saúde, 23 considera apenas a<br />
vitimização direta do trabalhador.<br />
3. Depressão em <strong>profissionais</strong> <strong>da</strong> ESF<br />
Na amostra de 2.940 <strong>profissionais</strong> <strong>da</strong> ESF no município de São Paulo encontramos<br />
alta prevalência de sintomas depressivos (52,3%). Desses, 36,3%<br />
apresentaram sintomas depressivos intermediários e 16% sintomas de depressão<br />
maior. Quando comparamos com a prevalência de depressão maior descrita<br />
na população <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de São Paulo, observamos que a prevalência encontra<strong>da</strong><br />
nos trabalhadores <strong>da</strong> ESF é quase o dobro <strong>da</strong> encontra<strong>da</strong> na população (9,4%). 24<br />
Esses <strong>da</strong><strong>dos</strong> são alarmantes, uma vez que evidencia que a <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong> desses<br />
trabalhadores está mais comprometi<strong>da</strong> do que a <strong>da</strong> população cui<strong>da</strong><strong>da</strong> por eles.<br />
Observamos que os agentes comunitários de <strong>saúde</strong> foram os <strong>profissionais</strong><br />
que apresentaram maior prevalência de sintomas de depressão maior<br />
(18%)(Gráfico 2). Após o ajuste do modelo estatístico por variáveis sociodemográficas<br />
(sexo, i<strong>da</strong>de, cor, escolari<strong>da</strong>de e ren<strong>da</strong> individual), e relaciona<strong>da</strong>s<br />
ao trabalho (tempo de trabalho na ESF e trabalhar em área vulnerável), encontramos<br />
que os ACS tiveram uma chance quase duas vezes maior de apresentar<br />
sintomas de depressão maior quando compara<strong>dos</strong> com os médicos.<br />
Por outro lado, a chance de apresentar depressão maior não diferiu entre os<br />
enfermeiros, os técnicos de enfermagem e os médicos (Tabela 1). Formulamos<br />
três hipóteses que podem contribuir para explicar a chance mais eleva<strong>da</strong><br />
de sintomas de depressão maior nos agentes comunitários de <strong>saúde</strong>: (1) os<br />
ACS são os únicos <strong>profissionais</strong> <strong>da</strong> ESF que precisam morar na mesma região<br />
em que trabalham; (2) eles trabalham a maior parte do tempo fora <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de<br />
Básica de Saúde, enquanto os demais <strong>profissionais</strong> executam a maior<br />
parte do trabalho dentro do serviço de <strong>saúde</strong>. Essas duas características contribuem<br />
para que os ACS recebam as deman<strong>da</strong>s <strong>da</strong> população ca<strong>da</strong>stra<strong>da</strong> de