Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde

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20.05.2016 Views

TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE no sistema de saúde e responsável pela articulação com toda a rede de serviços de saúde. Os princípios norteadores da Atenção Primária incluem a universalidade, a integralidade, o cuidado contínuo, a humanização, a equidade e a participação social. 6 Atualmente, a ESF é responsável pelo cuidado de mais de 121 milhões de pessoas em todo o território nacional, o que corresponde a 62,5% da população do país. 7 Para alcançar esse número, grandes investimentos foram realizados e houve um aumento exponencial do número de equipes de saúde da família. Em 1994 eram 300 equipes e em 2015 são mais que 39 mil equipes (Gráfico 1) distribuídas em todo o país. Cada equipe de saúde da família é constituída por um médico, um enfermeiro, dois técnicos de enfermagem e quatro a seis agentes comunitários de saúde, e é responsável pelo cuidado de, no máximo, 4 mil pessoas. 6 No município de São Paulo, existem 1.165 equipes de saúde da família implantadas, que realizam uma cobertura de 35,4% da população, o que corresponde a aproximadamente 4 milhões de pessoas. 7 Gráfico 1 – Número de equipes de saúde da família no Brasil de 1994 a 2015 176 Número de equipes de Saúde da Família 45.000 40.000 39.221 35.000 31.660 30.000 25.000 24.564 20.000 15.000 10.000 8.500 5.000 0 300 Ano 1994 2000 2005 2010 2015 Fonte: Departamento de Atenção Básica, Ministério da Saúde, 7 2015. 1.2 Atribuições dos profissionais da Estratégia Saúde da Família Os profissionais que trabalham na Atenção Primária, segundo Barbara Starfield, 8 são aqueles responsáveis por garantir acesso ao sistema de saúde, por oferecer cuidado longitudinal e integral, além de serem responsá-

veis pela coordenação do cuidado. Essa concepção se reflete nas atribuições comuns aos profissionais da ESF descritas pelo Ministério da Saúde; entre elas estão: ...fornecer atenção integral e contínua à população adscrita; garantir assistência resolutiva da demanda espontânea e do primeiro atendimento às urgências; realizar as ações programáticas, coletivas e de vigilância à saúde, proporcionando atendimento humanizado, e estabelecendo vínculo; realizar busca ativa e notificar doenças e agravos de notificação compulsória; realizar atenção à saúde na Unidade Básica de Saúde, no domicílio, em locais do território, como espaços comunitários e escolas; responsabilizar-se pela coordenação do cuidado; desenvolver ações educativas que possam interferir no processo de saúde-doença, no desenvolvimento de autonomia, individual e coletiva, e na busca por qualidade de vida; promover a mobilização e a participação da comunidade, buscando efetivar o controle social; participar do planejamento local de saúde, assim como do monitoramento e avaliação das ações em sua equipe, unidade e município, visando à readequação do processo de trabalho. Diante dessas atribuições e do escopo desenhado pelo Ministério da Saúde para a atuação dos profissionais da Estratégia Saúde da Família, fica evidente a importância que esses trabalhadores possuem para o bom funcionamento do sistema de saúde. Apesar disso, e do número cada vez maior de profissionais de saúde que se dedicam à ESF, ainda são poucas as pesquisas que avaliaram a saúde mental desses trabalhadores e os estressores ocupacionais associados, como a exposição à violência no trabalho. Uma vez que esses profissionais atuam não apenas nas Unidades de Saúde, mas executam várias atividades nas áreas adscritas às equipes, como visita domiciliar, vigilância epidemiológica, grupos de promoção da saúde etc., eles podem estar expostos a estressores ocupacionais que diferem daqueles vivenciados por profissionais que atuam exclusivamente dentro dos serviços de saúde. A importância de estudar a saúde mental desses profissionais, em especial, sintomas depressivos e violência no trabalho também estão relacionadas às repercussões que essas condições geram para o indivíduo, para as organizações e para a população assistida, como, por exemplo, absenteísmo, baixa qualidade do cuidado ofertado, má prática (erro de conduta e negligência), 9 erros de prescrição comprometendo a segurança do paciente, 10 rotatividade, queda de produtividade, abandono do trabalho 11 e suicídio. 12 Neste capítulo, apresentaremos alguns resultados do Estudo Pandora-SP (Panorama of Primary Care Workers in São Paulo, Brazil: Depression, Organizational Justice, Violence at Work, and Burnout Assessments) 13 referentes à prevalência de sintomas depressivos em trabalhadores da Estratégia Saúde da Família e as associações desses sintomas com exposição à violência no trabalho, incluindo insultos, ameaças, agressões físicas e violência presenciada. 12 Saúde mental dos profissionais da Estratégia Saúde da Família 177

veis pela coordenação do cui<strong>da</strong>do. Essa concepção se reflete nas atribuições<br />

comuns aos <strong>profissionais</strong> <strong>da</strong> ESF descritas pelo Ministério <strong>da</strong> Saúde;<br />

entre elas estão:<br />

...fornecer atenção integral e contínua à população adscrita; garantir assistência<br />

resolutiva <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> espontânea e do primeiro atendimento às urgências; realizar<br />

as ações programáticas, coletivas e de vigilância à <strong>saúde</strong>, proporcionando<br />

atendimento humanizado, e estabelecendo vínculo; realizar busca ativa e notificar<br />

doenças e agravos de notificação compulsória; realizar atenção à <strong>saúde</strong> na<br />

Uni<strong>da</strong>de Básica de Saúde, no domicílio, em locais do território, como espaços<br />

comunitários e escolas; responsabilizar-se pela coordenação do cui<strong>da</strong>do; desenvolver<br />

ações educativas que possam interferir no processo de <strong>saúde</strong>-doença, no<br />

desenvolvimento de autonomia, individual e coletiva, e na busca por quali<strong>da</strong>de<br />

de vi<strong>da</strong>; promover a mobilização e a participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, buscando efetivar<br />

o controle social; participar do planejamento local de <strong>saúde</strong>, assim como<br />

do monitoramento e avaliação <strong>da</strong>s ações em sua equipe, uni<strong>da</strong>de e município,<br />

visando à readequação do processo de trabalho.<br />

Diante dessas atribuições e do escopo desenhado pelo Ministério <strong>da</strong> Saúde<br />

para a atuação <strong>dos</strong> <strong>profissionais</strong> <strong>da</strong> Estratégia Saúde <strong>da</strong> Família, fica evidente<br />

a importância que esses trabalhadores possuem para o bom funcionamento<br />

do sistema de <strong>saúde</strong>. Apesar disso, e do número ca<strong>da</strong> vez maior de <strong>profissionais</strong><br />

de <strong>saúde</strong> que se dedicam à ESF, ain<strong>da</strong> são poucas as pesquisas que avaliaram<br />

a <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong> desses trabalhadores e os estressores ocupacionais associa<strong>dos</strong>,<br />

como a exposição à violência no trabalho. Uma vez que esses <strong>profissionais</strong><br />

atuam não apenas nas Uni<strong>da</strong>des de Saúde, mas executam várias ativi<strong>da</strong>des nas<br />

áreas adscritas às equipes, como visita domiciliar, vigilância epidemiológica,<br />

grupos de promoção <strong>da</strong> <strong>saúde</strong> etc., eles podem estar expostos a estressores<br />

ocupacionais que diferem <strong>da</strong>queles vivencia<strong>dos</strong> por <strong>profissionais</strong> que atuam<br />

exclusivamente dentro <strong>dos</strong> serviços de <strong>saúde</strong>. A importância de estu<strong>da</strong>r a <strong>saúde</strong><br />

<strong>mental</strong> desses <strong>profissionais</strong>, em especial, sintomas depressivos e violência<br />

no trabalho também estão relaciona<strong>da</strong>s às repercussões que essas condições<br />

geram para o indivíduo, para as organizações e para a população assisti<strong>da</strong>,<br />

como, por exemplo, absenteísmo, baixa quali<strong>da</strong>de do cui<strong>da</strong>do ofertado, má<br />

prática (erro de conduta e negligência), 9 erros de prescrição comprometendo<br />

a segurança do paciente, 10 rotativi<strong>da</strong>de, que<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de, abandono do<br />

trabalho 11 e suicídio. 12<br />

Neste capítulo, apresentaremos alguns resulta<strong>dos</strong> do Estudo Pandora-SP<br />

(Panorama of Primary Care Workers in São Paulo, Brazil: Depression, Organizational<br />

Justice, Violence at Work, and Burnout Assessments) 13 referentes à prevalência<br />

de sintomas depressivos em trabalhadores <strong>da</strong> Estratégia Saúde <strong>da</strong> Família<br />

e as associações desses sintomas com exposição à violência no trabalho,<br />

incluindo insultos, ameaças, agressões físicas e violência presencia<strong>da</strong>.<br />

12 Saúde <strong>mental</strong> <strong>dos</strong> <strong>profissionais</strong> <strong>da</strong> Estratégia Saúde <strong>da</strong> Família<br />

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