Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde
Trabalho_e_saude_mental_dos_profissionais_da_saude
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funcionar, regras e valores. A partir destes significantes são construí<strong>da</strong>s as referências<br />
sociais que assegurariam uma convivência civiliza<strong>da</strong>. 32<br />
Freud nos acrescentaria: 33<br />
Durante as últimas gerações, a humani<strong>da</strong>de efetuou um progresso extraordinário<br />
nas ciências naturais e em sua aplicação técnica, estabelecendo seu controle sobre<br />
a natureza de maneira jamais imagina<strong>da</strong>... Os homens se orgulham disso e têm<br />
todo o direito de se orgulhar.<br />
Nenhum problema nisso, já que é à luz do aparato <strong>da</strong> ciência 34 que é possível<br />
fun<strong>da</strong>r o que não vai bem, o que não funciona como deveria, as próprias<br />
noções de doença ou higiene, e, a partir disso, desenvolver a tecnologia necessária<br />
à manutenção <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, do bem-estar.<br />
Estar munido destes recursos faz certa manutenção do estado de <strong>saúde</strong><br />
biopsicosocial destes <strong>profissionais</strong> cui<strong>da</strong>dores, tamanha e profun<strong>da</strong> a identificação<br />
com o lugar de cui<strong>da</strong>dor. O profissional de <strong>saúde</strong> se beneficia com os<br />
recursos <strong>da</strong> ciência e tem sua recompensa por tanta doação de si com o reconhecimento<br />
de seu trabalho. Mas é precisamente neste ponto que podemos<br />
pensar uma crise.<br />
Lacan 34 dirá de importantes efeitos psicológicos relaciona<strong>dos</strong> ao que chamará<br />
de declínio social <strong>da</strong> imago paterna, elemento que teria grande importância<br />
na formação do eu, na construção de ideais e articulação de funções<br />
psíquicas como repressão e sublimação.<br />
9 A <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong> <strong>dos</strong> <strong>profissionais</strong> de <strong>saúde</strong><br />
Um grande número de efeitos psicológicos nos parecem depender de um declínio<br />
social <strong>da</strong> imago paterna. Declínio condicionado pelo retorno de efeitos extremos<br />
do progresso social no indivíduo. (p. 60) 34<br />
(...) Nossa experiência nos leva a designar sua determinação principal na personali<strong>da</strong>de<br />
do pai, sempre carente de alguma forma, ausente, humilha<strong>da</strong>, dividi<strong>da</strong><br />
e postiça. É essa carência que (...) vem não só exaurir o impulso instintivo como<br />
também prejudicar a dialética <strong>da</strong>s sublimações. (p. 61) 34<br />
Neste contexto de declínio do pai, algo falha no conhecido esquema sustentado<br />
pelos significantes mestres, incorpora<strong>dos</strong> pelos sujeitos que transmitem<br />
e interpretam a lei fun<strong>da</strong>nte <strong>da</strong>s instituições. A dúvi<strong>da</strong>, a falta de confiança<br />
e a insistência em pôr à prova o saber do profissional minam a força do mestre,<br />
ele não terá consistência reconheci<strong>da</strong> em sua interpretação <strong>da</strong> teoria e <strong>da</strong> lei.<br />
Uma importante ressalva a ser feita é que Lacan não se referirá ao pai <strong>da</strong><br />
reali<strong>da</strong>de, mas a uma função no psiquismo; não devemos, portanto, tomar o<br />
pai em sua concretude ou individualmente. Estamos falando então de uma<br />
importante mu<strong>da</strong>nça na relação do sujeito com as referências e significantes<br />
mestres, portanto com a lei e com o saber.<br />
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