Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde
Trabalho_e_saude_mental_dos_profissionais_da_saude Trabalho_e_saude_mental_dos_profissionais_da_saude
TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE 144 no âmbito hospitalar. 15, 16 Pesquisas sobre as relações entre o estresse ocupacional, o sofrimento psíquico e a saúde mental dos diferentes profissionais de saúde têm sido realizadas em nosso meio, com destaque para as profissões de Enfermagem, 3, 9, 17 Psicologia 18 e Medicina. 16 O desgaste físico, emocional e mental gerado pelo trabalho pode produzir apatia, desânimo, hipersensibilidade emotiva, raiva, irritabilidade e ansiedade; provoca ainda despersonalização e inércia, acarretando queda na produtividade, no desempenho e na satisfação do trabalhador. 19 No entanto, ao estudar a saúde mental no trabalho, também é fundamental a observação de problemas relacionados à organizacão da atividade laboral, como a valorizacão da função, a carga, o ritmo, a qualidade dos relacionamentos interpessoais, períodos de descanso, pressão de chefia, conteúdo das tarefas, horas trabalhadas, pois estas muitas vezes são as causas de agravos psíquicos. 20 Tratando-se especificamente do ambiente hospitalar, muito se tem falado e publicado a respeito das condições de trabalho vigente em grande parte dessas instituições, caracterizadas frequentemente por uma estrutura formal e burocrática, que dificulta a comunicação entre as pessoas, além de expor seus trabalhadores a riscos de ordem biológica, física, química, ergonômica, mecânica, psicológica e social. 21, 22 Apesar da organização hospitalar buscar a satisfação tanto do trabalhador quanto de seus pacientes, muitas instituições são burocráticas e a equipe de saúde não tem participação efetiva na formulação dos planos institucionais, piorando a situação dos trabalhadores e favorecendo a sobrecarga de trabalho, 23, 24 o que por sua vez desencadeia o risco para o estresse. Com relação ao trabalho na atenção básica de saúde, Dilélio e outros 25 avaliaram 4.749 profissionais da atenção básica das regiões Nordeste e Sul do país, e constataram uma prevalência de transtornos psiquiátricos menores de 16%, variando de 10% a 18,8% entre as categorias profissionais, sendo maior entre outros trabalhadores de nível médio e agentes comunitários de saúde (18,8% e 18,4%, respectivamente) e menor entre outros profissionais de nível superior (10%). 25 Ainda, este estudo identificou uma menor prevalência de transtornos nos trabalhadores da atenção primária em comparação a estudos que avaliaram trabalhadores de hospitais e de outras categorias profissionais. Outro estudo realizado com os profissionais da rede básica, em Botucatu, São Paulo, constatou que estes profissionais são submetidos a demandas psicológicas elevadas no trabalho, identificando fatores de estresse ocupacional e elevada prevalência de transtornos psiquiátricos menores. Os resultados apontaram para uma necessidade de intervenção visando melhorar as condições gerais de trabalho e o fornecimento de suporte social ao coletivo de trabalhadores. 26 A literatura sobre a morbidade psicológica entre trabalhadores de saúde indica que dentre as profissões de nível superior os médicos são os que apre-
sentam os mais altos índices de dependência de álcool, estresse e depressão, e é grande o número de médicos que fazem uso de psicotrópicos ou drogas ilícitas. 16 Também são relatados distúrbios do sono, licenças e afastamentos da atividade laboral por problemas psicopatológicos, transtornos depressivos e ansiosos e até ideação suicida. 27 Na França, a prevalência de burnout e de fatores associados foi investigada em 978 médicos de Unidades de Terapia Intensiva de adultos em hospitais públicos. Um alto nível de burnout foi identificado em 46,5% deles, e os fatores organizacionais relacionados ao trabalho foram fortemente associados ao desenvolvimento da síndrome. Houve uma relação estreita entre o desenvolvimento de burnout e vários aspectos, dentre eles a precária qualidade de vida dos intensivistas, a sobrecarga de trabalho, os relacionamentos prejudicados e os conflitos com outros colegas intensivistas. 28 Em Salvador, Bahia, um estudo transversal investigou a associação entre as condições de trabalho e distúrbios psíquicos menores em uma amostra aleatória de 350 médicos. Constatou-se elevada sobrecarga de trabalho, ocorrência de trabalho em regime de plantão, múltiplas inserções profissionais, baixa remuneração por hora trabalhada e contratação precária sob a forma de remuneração por procedimento. Nesse estudo, a prevalência de distúrbios psíquicos menores foi de 26%. Médicos com trabalho de alta exigência (alta demanda e baixo controle) apresentaram 3,07 (IC95%: 1,38-6,85) vezes mais distúrbios psíquicos menores do que aqueles com trabalho de baixa exigência. 10 Andrade e outros 29 realizaram uma revisão de literatura acerca do estresse relacionado ao trabalho de médicos anestesistas. Apesar de algumas condições de trabalho investigadas terem sido consideradas adequadas, como extensão da jornada de trabalho, tempo de locomoção trabalho-casa-trabalho, fruição regular de férias, flexibilidade do horário de trabalho, realização de cursos de capacitação, possibilidade de informar à chefia sobre o andamento do trabalho e tratamento dado pela chefia às informações sobre o trabalho, ainda assim os sujeitos revelaram-se insatisfeitos com a remuneração, o reconhecimento profissional e a impossibilidade de ascensão na carreira. 29 Estudos realizados desde a década de 70 com enfermeiros, a respeito da tarefa assistencial, também constataram um alto nível de tensão, angústia e ansiedade entre os profissionais, com faltas, abandono de tarefa e de emprego constantes. 30 Além dos custos pessoais e da queda de produtividade dos trabalhadores adoecidos, o absenteísmo em instituições hospitalares tem sido fonte de estudo e preocupação de muitos administradores, visto que desencadeiam problemas tanto de ordem organizacional como de ordem econômica, onde se calcula que na equipe de enfermagem pelo menos 35% dos dias de trabalho 22, 31 perdidos anualmente são por motivos de ordem psicológica. Segundo Nogueira-Martins, um conjunto de fatores tem contribuído para o aumento do estresse profissional na área da saúde no Brasil, dentre 9 A saúde mental dos profissionais de saúde 145
- Page 94 and 95: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 96 and 97: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 98 and 99: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 100 and 101: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 102 and 103: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 104 and 105: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 106 and 107: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 108 and 109: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 110 and 111: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 112 and 113: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 114 and 115: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 116 and 117: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 118 and 119: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 120 and 121: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 122 and 123: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 124 and 125: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 126 and 127: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 128 and 129: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 130 and 131: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 132 and 133: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 134 and 135: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 136 and 137: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 138 and 139: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 140 and 141: TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFIS
- Page 143: 9 A saúde mental dos profissionais
- Page 147 and 148: funcionar, regras e valores. A part
- Page 149 and 150: A proposta à qual este mestre fura
- Page 151 and 152: devem estar ao nosso alcance rapida
- Page 153 and 154: incentivo e regulamentação do des
- Page 155 and 156: 28. Embriaco N, Azoulay E, Barrau K
- Page 157 and 158: 10 A formação e a atuação do en
- Page 159 and 160: as quais pode não estar preparado
- Page 161 and 162: Estresse e Síndrome de Burnout: pr
- Page 163 and 164: 25. Lipp MEN. Mecanismos neuropsico
- Page 165 and 166: 11 Saúde mental entre os cirurgiõ
- Page 167 and 168: Outro aspecto a ser considerado, de
- Page 169 and 170: também têm participação em algu
- Page 171 and 172: A OMS considera quatro dimensões p
- Page 173 and 174: Referências 1. Marx K. El capital,
- Page 175 and 176: 12 Saúde mental dos profissionais
- Page 177 and 178: veis pela coordenação do cuidado.
- Page 179 and 180: cer dados sobre os critérios diagn
- Page 181 and 182: maneira constante, independentement
- Page 183 and 184: o Brasil, onde a exposição à vio
- Page 185 and 186: Tabela 2 - Associações da exposi
- Page 187 and 188: Os agentes comunitários de saúde
- Page 189 and 190: Ministério da Saúde; 2012. Dispon
- Page 191: Seção 4 Programa de tratamento em
sentam os mais altos índices de dependência de álcool, estresse e depressão,<br />
e é grande o número de médicos que fazem uso de psicotrópicos ou drogas<br />
ilícitas. 16 Também são relata<strong>dos</strong> distúrbios do sono, licenças e afastamentos <strong>da</strong><br />
ativi<strong>da</strong>de laboral por problemas psicopatológicos, transtornos depressivos e<br />
ansiosos e até ideação suici<strong>da</strong>. 27<br />
Na França, a prevalência de burnout e de fatores associa<strong>dos</strong> foi investiga<strong>da</strong><br />
em 978 médicos de Uni<strong>da</strong>des de Terapia Intensiva de adultos em hospitais<br />
públicos. Um alto nível de burnout foi identificado em 46,5% deles, e os fatores<br />
organizacionais relaciona<strong>dos</strong> ao trabalho foram fortemente associa<strong>dos</strong> ao<br />
desenvolvimento <strong>da</strong> síndrome. Houve uma relação estreita entre o desenvolvimento<br />
de burnout e vários aspectos, dentre eles a precária quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong><br />
<strong>dos</strong> intensivistas, a sobrecarga de trabalho, os relacionamentos prejudica<strong>dos</strong> e<br />
os conflitos com outros colegas intensivistas. 28<br />
Em Salvador, Bahia, um estudo transversal investigou a associação entre<br />
as condições de trabalho e distúrbios psíquicos menores em uma amostra aleatória<br />
de 350 médicos. Constatou-se eleva<strong>da</strong> sobrecarga de trabalho, ocorrência<br />
de trabalho em regime de plantão, múltiplas inserções <strong>profissionais</strong>, baixa<br />
remuneração por hora trabalha<strong>da</strong> e contratação precária sob a forma de remuneração<br />
por procedimento. Nesse estudo, a prevalência de distúrbios psíquicos<br />
menores foi de 26%. Médicos com trabalho de alta exigência (alta deman<strong>da</strong> e<br />
baixo controle) apresentaram 3,07 (IC95%: 1,38-6,85) vezes mais distúrbios<br />
psíquicos menores do que aqueles com trabalho de baixa exigência. 10<br />
Andrade e outros 29 realizaram uma revisão de literatura acerca do estresse<br />
relacionado ao trabalho de médicos anestesistas. Apesar de algumas condições<br />
de trabalho investiga<strong>da</strong>s terem sido considera<strong>da</strong>s adequa<strong>da</strong>s, como extensão<br />
<strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> de trabalho, tempo de locomoção trabalho-casa-trabalho, fruição<br />
regular de férias, flexibili<strong>da</strong>de do horário de trabalho, realização de cursos de<br />
capacitação, possibili<strong>da</strong>de de informar à chefia sobre o an<strong>da</strong>mento do trabalho<br />
e tratamento <strong>da</strong>do pela chefia às informações sobre o trabalho, ain<strong>da</strong> assim<br />
os sujeitos revelaram-se insatisfeitos com a remuneração, o reconhecimento<br />
profissional e a impossibili<strong>da</strong>de de ascensão na carreira. 29<br />
Estu<strong>dos</strong> realiza<strong>dos</strong> desde a déca<strong>da</strong> de 70 com enfermeiros, a respeito <strong>da</strong><br />
tarefa assistencial, também constataram um alto nível de tensão, angústia e<br />
ansie<strong>da</strong>de entre os <strong>profissionais</strong>, com faltas, abandono de tarefa e de emprego<br />
constantes. 30 Além <strong>dos</strong> custos pessoais e <strong>da</strong> que<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> trabalhadores<br />
adoeci<strong>dos</strong>, o absenteísmo em instituições hospitalares tem sido fonte<br />
de estudo e preocupação de muitos administradores, visto que desencadeiam<br />
problemas tanto de ordem organizacional como de ordem econômica, onde se<br />
calcula que na equipe de enfermagem pelo menos 35% <strong>dos</strong> dias de trabalho<br />
22, 31<br />
perdi<strong>dos</strong> anualmente são por motivos de ordem psicológica.<br />
Segundo Nogueira-Martins, um conjunto de fatores tem contribuído<br />
para o aumento do estresse profissional na área <strong>da</strong> <strong>saúde</strong> no Brasil, dentre<br />
9 A <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong> <strong>dos</strong> <strong>profissionais</strong> de <strong>saúde</strong><br />
145