Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde

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20.05.2016 Views

TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE 138 administradas a seus pacientes, nas quais ele transpõe essa aparente facilidade de controle para a própria vida. Na publicação “A política do Ministério da Saúde para atenção integral a usuários de álcool e outras drogas” 8 descreve-se de que modo a realidade contemporânea tem colocado novos desafios na forma como certos temas têm sido habitualmente abordados, especialmente no campo da saúde, como o uso indevido de substâncias psicoativas, questão que, por sua complexidade, exige que se evitem simplificações reducionistas. No Brasil, o uso de álcool e drogas entre médicos tem sido recentemente apontado como um problema que merece atenção, 14 mas sobre o qual não existem estudos que avaliem sua magnitude de modo mais direto. Mais do que uma escassez de dados quantitativos – pois todos os dados de prevalência derivam de estudos americanos realizados há várias décadas –, há uma escassez de pesquisas que procuram traçar alguma linha de entendimento sobre como esse processo se estabelece localmente. 6. Proposições de tratamento Uma vez identificado o problema, faz-se necessário o correto encaminhamento para tratamento. Conforme demonstra o estudo realizado por Alvez e cols 16 junto ao Cremesp, os médicos demoram cerca de três anos para buscar tratamento a partir da identificação do problema, e essa busca é geralmente feita por pressão de chefias e familiares. Considerando-se que a dependência química pode trazer graves prejuízos ao desempenho laborativo dos médicos, podendo colocar em risco a vida dos pacientes, é importante frisar que há, muitas vezes, dada a resistência do profissional em buscar tratamento, a necessidade de levar o comportamento do profissional ao conhecimento das chefias para que o médico seja conduzido a um tratamento. Se esse fato pode parecer, à primeira vista, como um procedimento invasivo, que pareça desrespeitar a individualidade do sujeito, deve-se refletir a respeito da gravidade desse comportamento e o quanto pode comprometer a adequada realização do trabalho médico. Além disso, a prática rotineira de atendimento a médicos dependentes tem demonstrado que, quando um médico é encaminhado adequadamente para realização de tratamento, muitas vezes recomendados e amparados por seus superiores, as chances de sucesso são maiores, garantindo-se a manutenção da abstinência, redirecionando o profissional para áreas de menor risco, quando necessário. Por outro lado, vê-se que, quando o profissional não tem seu tratamento monitorado, muitas vezes acaba fazendo-o de forma irregular, ou simplesmente protelando sua realização, contribuindo para o agravamento do quadro,

com graves consequências em seu desempenho, aumentando o risco de erros médicos, entre outros prejuízos na realização do seu trabalho. Um outro desfecho grave e irreparável é o suicídio de médicos dependentes. Sabe-se que muitos profissionais acabam optando por não revelar o problema às chefias e é fato que há uma grande omissão por parte destas, bem como dos colegas de trabalho. É bastante comum que médicos dependentes realizem tratamentos de modo irregular, optando por internações em clínicas psiquiátricas durante períodos de férias, com o intuito de evitar a exposição no ambiente profissional. Entretanto, sabe-se que o retorno desse profissional é bastante delicada, porque apresenta alto risco de recaída, além do risco de morte por overdose e, não raras vezes, o suicídio. 8 Uso de drogas entre médicos Referências 1. Mansur J. O que é alcoolismo? 2 ed. São Paulo: Brasiliense; 1991. 2. Olievesntein C. Destino do toxicômano. São Paulo: ALMED; 1985. 3. Becker HS. Outsiders: Éstudes de sociologie de la déviance. Paris: Métaillé; 1985. 4. Velho G. Desvio e divergência: uma crítica da patologia social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor; 1985. 5. American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders (DSM-IV). 4 edition. Washington: American Psychiatric Association; 1994. 6. Lecky JH, Aukburg SJ, Conahan TJ 3rd, et al. A departmental policy addressing chemical substance abuse. Anesthesiology 1986;65(4):414-417. 7. International Labour Organization. Safework: workplace drug and alcohol abuse prevention programmes. [Internet]. Genève: ILO. Disponível em : http://www. dronet.org/avanzate/veneto/sospsico/upload/art050.pdf 8. Ministério da Saúde; Secretaria Executiva, Secretaria de Atenção à Saúde. A política do Ministério da Saúde para atenção integral a usuários de álcool e outras drogas. Brasília: Ministério da Saúde; 2003. 9. Seligmann-Silva E. Saúde mental e automação: a propósito de um estudo de caso no setor ferroviário. Cad Saúde Públ 1997;13(Supl 2):95-109. 10. Presidência da República, Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD). Política Nacional Antidrogas. Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas; 2001. 11. Robinson A, Smallman C. The Healthy Workplace? Research Papers in Management Studies. Cambridge: Judge Institute of Management Studies, University of Cambridge; 2000. 12. Martins LAN, Jorge MR. Natureza e magnitude do estresse na Residência Médica. Rev Ass Med Bras 1998;44(1):28-34. 13. Roberts LW, Warner TD, Lyketsos C, Frank E, Ganzini L, Carter D. Perceptions of academic vulnerability associated with personal illness: a study of 1027 students of nine medical schools. Compr Psychiatry 2001;42(1):1-15. 14. Martins LAN. Programa de atenção à saúde e qualidade de vida do médico. Brasília: Conselho Federal de Medicina; 2004. 15. Farley W, Talbott GD. Anesthesiology and addiction. Anesth Analg 1983;62(5):465-6. 16. Alves HNP, Surjan JC, Nogueira-Martins LA, Marques ACPR, Ramos SP, Laranjeira RR. Perfil clínico e demográfico de médicos com dependência química. Rev Ass Med Bras 2005;51(3):139-43. 139

com graves consequências em seu desempenho, aumentando o risco de erros<br />

médicos, entre outros prejuízos na realização do seu trabalho.<br />

Um outro desfecho grave e irreparável é o suicídio de médicos dependentes.<br />

Sabe-se que muitos <strong>profissionais</strong> acabam optando por não revelar o<br />

problema às chefias e é fato que há uma grande omissão por parte destas, bem<br />

como <strong>dos</strong> colegas de trabalho. É bastante comum que médicos dependentes<br />

realizem tratamentos de modo irregular, optando por internações em clínicas<br />

psiquiátricas durante perío<strong>dos</strong> de férias, com o intuito de evitar a exposição<br />

no ambiente profissional. Entretanto, sabe-se que o retorno desse profissional<br />

é bastante delica<strong>da</strong>, porque apresenta alto risco de recaí<strong>da</strong>, além do risco de<br />

morte por over<strong>dos</strong>e e, não raras vezes, o suicídio.<br />

8 Uso de drogas entre médicos<br />

Referências<br />

1. Mansur J. O que é alcoolismo? 2 ed. São Paulo: Brasiliense; 1991.<br />

2. Olievesntein C. Destino do toxicômano. São Paulo: ALMED; 1985.<br />

3. Becker HS. Outsiders: Éstudes de sociologie de la déviance. Paris: Métaillé; 1985.<br />

4. Velho G. Desvio e divergência: uma crítica <strong>da</strong> patologia social. Rio de Janeiro:<br />

Jorge Zahar Editor; 1985.<br />

5. American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of <strong>mental</strong><br />

disorders (DSM-IV). 4 edition. Washington: American Psychiatric Association;<br />

1994.<br />

6. Lecky JH, Aukburg SJ, Conahan TJ 3rd, et al. A depart<strong>mental</strong> policy addressing<br />

chemical substance abuse. Anesthesiology 1986;65(4):414-417.<br />

7. International Labour Organization. Safework: workplace drug and alcohol abuse<br />

prevention programmes. [Internet]. Genève: ILO. Disponível em : http://www.<br />

dronet.org/avanzate/veneto/sospsico/upload/art050.pdf<br />

8. Ministério <strong>da</strong> Saúde; Secretaria Executiva, Secretaria de Atenção à Saúde. A política<br />

do Ministério <strong>da</strong> Saúde para atenção integral a usuários de álcool e outras<br />

drogas. Brasília: Ministério <strong>da</strong> Saúde; 2003.<br />

9. Seligmann-Silva E. Saúde <strong>mental</strong> e automação: a propósito de um estudo de caso<br />

no setor ferroviário. Cad Saúde Públ 1997;13(Supl 2):95-109.<br />

10. Presidência <strong>da</strong> República, Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD). Política Nacional<br />

Antidrogas. Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas; 2001.<br />

11. Robinson A, Smallman C. The Healthy Workplace? Research Papers in Management<br />

Studies. Cambridge: Judge Institute of Management Studies, University of<br />

Cambridge; 2000.<br />

12. Martins LAN, Jorge MR. Natureza e magnitude do estresse na Residência Médica.<br />

Rev Ass Med Bras 1998;44(1):28-34.<br />

13. Roberts LW, Warner TD, Lyketsos C, Frank E, Ganzini L, Carter D. Perceptions of<br />

academic vulnerability associated with personal illness: a study of 1027 students<br />

of nine medical schools. Compr Psychiatry 2001;42(1):1-15.<br />

14. Martins LAN. Programa de atenção à <strong>saúde</strong> e quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> do médico. Brasília:<br />

Conselho Federal de Medicina; 2004.<br />

15. Farley W, Talbott GD. Anesthesiology and addiction. Anesth Analg 1983;62(5):465-6.<br />

16. Alves HNP, Surjan JC, Nogueira-Martins LA, Marques ACPR, Ramos SP, Laranjeira<br />

RR. Perfil clínico e demográfico de médicos com dependência química. Rev Ass<br />

Med Bras 2005;51(3):139-43.<br />

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