Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde
Trabalho_e_saude_mental_dos_profissionais_da_saude
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gar era ocupado pelas ativi<strong>da</strong>des em consultório. 33 Ressaltaram que 85% <strong>dos</strong><br />
médicos neste país exercem duas ou mais ativi<strong>da</strong>des em Medicina; os que exercem<br />
três ou mais contabilizam 55,4%; e, penosamente, 28,2% exercem quatro<br />
ou mais ativi<strong>da</strong>des médicas em diferentes locais. 19 É evidente que esses números<br />
causam profun<strong>da</strong> consternação, pois revelaram a sobrecarga do trabalho<br />
do profissional médico, deman<strong>da</strong>ndo esforços sem limites e dedicação mais<br />
do que incondicional. Isso implica um deslocamento diário, às vezes distantes<br />
quilômetros, bairros diferentes, ci<strong>da</strong>des distantes uma <strong>da</strong> outra. A aceitação<br />
desta sobrecarga expressa uma dependência profun<strong>da</strong> destes <strong>profissionais</strong> médicos<br />
a um mercado de trabalho aviltante, do qual o SUS é paradigmático pela<br />
baixa remuneração, tornando o exercício <strong>da</strong> profissão médica no Brasil uma<br />
coisa penosa e diminutiva, numa evidente contradição com a consideração<br />
que se apregoa existir em relação a esse trabalho e à sua importância, <strong>da</strong> qual<br />
ninguém, em sã consciência, pensa em prescindir por um minuto sequer, nem<br />
mesmo os governantes.<br />
Um estudo mostrou que a remuneração <strong>dos</strong> <strong>profissionais</strong> médicos aumentou<br />
na última déca<strong>da</strong>, entretanto foi devido ao aumento <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> de<br />
trabalho, conforme <strong>da</strong><strong>dos</strong> já apresenta<strong>dos</strong>. 19 A precarie<strong>da</strong>de salarial se reflete<br />
igualmente nas expectativas destes <strong>profissionais</strong> médicos, que têm diminuído<br />
nos últimos anos. Na pesquisa de 2004, quase metade <strong>dos</strong> médicos entrevista<strong>dos</strong><br />
afirmou que se contentaria com salários equivalentes a U$ 4.000,00 (quatro<br />
mil dólares). Essa pretensão, longe de se tornar reali<strong>da</strong>de para a maioria<br />
<strong>dos</strong> <strong>profissionais</strong> médicos, muito declinou em relação à pesquisa de 1997. 32<br />
Atualmente, 72% <strong>dos</strong> médicos possuem ren<strong>da</strong> mensal individual igual ou inferior<br />
a U$ 3.000,00 (três mil dólares); pior ain<strong>da</strong> é que, deste contingente,<br />
37% ganham U$ 2.000,00 (dois mil dólares) ou menos. Quando se comparam<br />
esses valores com a importância do trabalho do profissional médico percebese<br />
a condição deplorável em que pode estar a autoestima desses <strong>profissionais</strong><br />
médicos. Deve ser salientado que 52% <strong>dos</strong> médicos entrevista<strong>dos</strong> na pesquisa<br />
exercem ativi<strong>da</strong>des de plantonista. 19 Conclui-se, necessariamente, que esta<br />
mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de estafante de trabalho constitui parcela significativa do mercado<br />
de trabalho médico no Brasil, com certa variação regional. Na maioria <strong>dos</strong><br />
Esta<strong>dos</strong> brasileiros as condições de assistência à <strong>saúde</strong> <strong>da</strong> população geral que<br />
depende do setor público são amplamente deficitárias e, associa<strong>da</strong>s à baixa remuneração,<br />
a plantões segui<strong>dos</strong> em ambientes carentes de recursos tecnológicos<br />
imprescindíveis, constituem um ambiente nefasto aos anseios de médicos<br />
e pacientes, pondo em risco a <strong>saúde</strong> de ambos. 16<br />
O que se depreende desses <strong>da</strong><strong>dos</strong> é que, para significativa parcela de <strong>profissionais</strong><br />
médicos, o trabalho em Medicina constitui a única fonte de poder<br />
aquisitivo. Para muitos, o trabalho excessivo certamente não produz socialização<br />
nem identi<strong>da</strong>de, senão isolamento, angústia e aborrecimento. Muitos médicos<br />
passam parcela significativa de suas vi<strong>da</strong>s em diversos locais de trabalho,<br />
7 Consequências do trabalho na <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong> do médico<br />
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