Em foto
O livro reúne mais de 200 fotos do fotógrafo Ratão Diniz em um formato inovador: as imagens são enriquecidas com as muitas histórias capturadas pelo autor. Além das fotos, o leitor encontrará depoimentos, lembranças e frases de Ratão e de seus fotografados. A publicação está dividida em 4 capítulo temáticos: Favella, Graffiti, Festas Populares e Interior. Em cada um deles é possível perceber o fio de resistência que atravessa a obra de Ratão. Fotografando e viajando ele conta as histórias de um Brasil que persiste, resiste e reinventa o cotidiano com alegria, beleza e paixão. O livro é resultado de um trabalho de pesquisa e edição realizado desde 2012 e conta com o patrocínio da Prefeitura do Rio de Janeiro, através do programa de Fomento à Cultura Carioca.
O livro reúne mais de 200 fotos do fotógrafo Ratão Diniz em um formato inovador: as imagens são enriquecidas com as muitas histórias capturadas pelo autor. Além das fotos, o leitor encontrará depoimentos, lembranças e frases de Ratão e de seus fotografados.
A publicação está dividida em 4 capítulo temáticos: Favella, Graffiti, Festas Populares e Interior. Em cada um deles é possível perceber o fio de resistência que atravessa a obra de Ratão. Fotografando e viajando ele conta as histórias de um Brasil que persiste, resiste e reinventa o cotidiano com alegria, beleza e paixão.
O livro é resultado de um trabalho de pesquisa e edição realizado desde 2012 e conta com o patrocínio da Prefeitura do Rio de Janeiro, através do programa de Fomento à Cultura Carioca.
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RATÃO<br />
ALEGRIA<br />
DINIZ<br />
João Roberto Ripper<br />
Ratão Diniz é um fotógrafo que se especializou em captar<br />
alegria e bom humor. Sua <strong>foto</strong>grafia é um elo de simpatia<br />
entre o brilho de seus olhos e a luz que persegue nas pessoas<br />
que <strong>foto</strong>grafa. Ratão é fruto da raiz dos povos que<br />
teimam em ser felizes, mesmo quando submetidos a dificuldades<br />
extremas. Vem daí o impulso que o transformou<br />
em um fotógrafo harmoniosamente equilibrado entre a<br />
emoção de existir e o imperativo de resistir.<br />
As velhas e jovens mulheres sábias devem ter iluminado<br />
Ratão Diniz com o prazer da luz e da cor, mas suas<br />
<strong>foto</strong>grafias em preto e branco transmitem momentos de<br />
reflexão profunda, como a imagem da mãe que se debruça<br />
sobre a filha ao pé da escadinha de entrada da sua humilde<br />
casa. O carinho, o amor, a alegria e a dor de uma<br />
mãe são universais, independentemente de que classe social.<br />
O foco é o afeto.<br />
Conheci Ratão Diniz pouco depois de seus primeiros<br />
cliques e acompanhei sua persistência, sua obstinação em<br />
estudar a obra de outros fotógrafos, seu fôlego para experimentar<br />
sempre, em buscar caminhos novos e agarrar as<br />
oportunidades que se oferecem. Lembro do Ratão, praticamente<br />
menino, indo lá em casa aprender Photoshop com o<br />
amigo e fotógrafo Valdean. E hoje eles me ensinam.
Ratão escuta, vê, aprende sempre. Bebeu das aulas de<br />
seu grande mestre Dante Gastaldoni como quem sempre<br />
desejasse um copo a mais, aprendeu profissionalismo com<br />
a Kita Pedroza e avançou na sua arte escutando Joana<br />
Mazza. A evolução de Ratão Diniz como fotógrafo não parou<br />
mais. Algumas vezes ele nos brinda com composições<br />
clássicas; outras, rompe com regras. Seu trabalho sobre o<br />
grafite, por exemplo, lhe garantiu o reconhecimento e a<br />
amizade dos grafiteiros. Do seu delírio com a luz e com a<br />
cor, Ratão desenvolveu uma <strong>foto</strong>grafia documental onde<br />
ninguém se fere e ninguém é ofendido. Se eu fosse arriscar<br />
uma classificação para suas imagens, diria que constituem<br />
uma arte anarco-punk, como os muitos piercings<br />
que ele leva na orelha. <strong>Em</strong> alguma medida um trabalho<br />
que dialoga com o trabalho <strong>foto</strong>gráfico de AF Rodrigues,<br />
amigo da Maré. Pessoas iluminadas, gente do Bem.<br />
Bira Carvalho, o fotógrafo que melhor espelha a alma<br />
dos moradores de favela, que tem a Maré no coração,<br />
me apresentou Ratão e pediu pra ele cursar a Escola de<br />
Fotógrafos Populares e, posteriormente, integrar a agência<br />
Imagens do Povo. Devo isso ao Bira. Com tantos belos<br />
amigos, Ratão tem mesmo que viver rindo. Talvez por<br />
isso, além da qualidade do seu trabalho, quem trabalha<br />
com Ratão não quer mais largar. É assim com o projeto<br />
Revelando os Brasis, no qual ele trabalha desde 2007; é<br />
assim com os grafiteiros; é assim que seu trabalho vem<br />
sendo exposto em inúmeros lugares do Brasil e do mundo.<br />
Se visitarmos seu perfil na página de apresentação do<br />
Imagens do Povo, saberemos que em 2012 ele foi convidado<br />
a realizar uma residência artística no projeto Rio<br />
Occupation London (Londres/UK) e que neste mesmo ano<br />
participou da exposição Ginga da Vida, na Sede da Aliança<br />
Francesa, em Paris. Além destes projetos, Ratão já participou<br />
de inúmeras mostras <strong>foto</strong>gráficas no Brasil e no<br />
exterior e tem seu trabalho publicado em diversos livros<br />
e periódicos. Dentre as mostras das quais já participou,<br />
destacam-se “Da lama ao bloco” (Sesc RJ, 2014); “Esporte<br />
na favela” (CCBB/RJ, 2007); Mostra “Belonging: an inside<br />
story from Rio’s favelas” (CanningHouse, Londres, 2007);<br />
“Jogos visuais – Arte brasileira no PAN” (Centro Cultural<br />
da Caixa Cultural do Rio, 2007); “Travessias 2” (Galpão<br />
Bela Maré, 2013). <strong>Em</strong> 2013 recebeu Menção Honrosa, na<br />
categoria cor, no 10o Concurso Cultural Leica-Fotografe.<br />
Enfim, acompanhar de perto a trajetória dessa figura<br />
fantástica e mergulhar os olhos na <strong>foto</strong>grafia de Ratão Diniz<br />
enche a vida de alegria.
O movimento<br />
preciso<br />
ratão diniz
O movimento é algo precioso para mim. A <strong>foto</strong>grafia<br />
surgiu na minha vida num desses movimentos. Nos<br />
idos de 2004, tomei uma decisão que, nem imaginava,<br />
seria crucial na minha história. Eu me questionava sobre<br />
comprar uma guitarra nova ou investir num curso básico<br />
de <strong>foto</strong>grafia. A busca pelo novo fez com que eu investisse<br />
no curso básico de <strong>foto</strong>grafia no Senac o pouco<br />
dinheiro que tinha juntado. <strong>Em</strong> pouco tempo já não<br />
tinha mais banda.<br />
Bem antes do curso, quando participava de aulas de<br />
informática no Ceasm, um centro comunitário da Maré,<br />
ficava boa parte do tempo das aulas paquerando uma<br />
<strong>foto</strong> que ilustrava uma campanha contra o trabalho infantil.<br />
O retrato de um menino carvoeiro ficava pendurado na<br />
parede da sala de aula. Aquela imagem tinha uma força<br />
que me instigava. Como eu poderia imaginar que mais<br />
tarde viria a ser aluno do autor daquele registro?<br />
<strong>Em</strong> 2004, após as aulas do Senac, descobri a Escola<br />
de Fotógrafos Populares, no Observatório de Favelas, na<br />
Maré. Este foi o meu encontro crucial com a <strong>foto</strong>grafia.<br />
O professor era João Roberto Ripper, de quem eu tinha<br />
pouca informação. Resolvi pesquisar sobre ele na internet<br />
e reconheci várias imagens dele usadas no pré-vestibular<br />
do Ceasm durante as aulas de geografia do professor<br />
Leon Diniz. E o principal: era do Ripper a imagem do<br />
menino carvoeiro pendurada na parede da sala de aula<br />
do curso de informática. Ripper tornou-se uma das<br />
principais referências na minha <strong>foto</strong>grafia.<br />
Na Escola de Fotógrafos Populares éramos instigados<br />
por Ripper a documentar nosso ambiente familiar, não só<br />
os nossos parentes, mas também nossa vizinhança, amigos<br />
etc. A Maré, portanto, seria meu primeiro tema de documentação.<br />
Talvez o meu maior desafio até hoje seja <strong>foto</strong>grafar<br />
a Maré: captar a diversidade das coisas que me são<br />
mais próximas. As imagens de favelas neste livro buscam<br />
retratar da maneira mais abrangente possível o quanto é<br />
plural a vida que pulsa nas favelas. As <strong>foto</strong>s são em sua<br />
maioria registros do cotidiano de seus moradores e buscam<br />
retratar as belezas desses locais, quase sempre desconsideradas<br />
pelo senso, ou estereótipo, comum.
Desde quando decidi ser fotógrafo, uma coisa era clara<br />
na minha cabeça. Eu não pretendia viver de <strong>foto</strong>grafia, e<br />
sim viver para a <strong>foto</strong>grafia. Esta é uma decisão bastante<br />
arriscada, que me impõe, muitas vezes, assumir as consequências<br />
de uma vida instável, sobretudo financeiramente.<br />
Contudo, certamente não saberia fazer de outra<br />
forma. O meu prazer está em poder contar com a cumplicidade<br />
do <strong>foto</strong>grafado. Aliás, como o Ripper costuma<br />
dizer, prefiro ter uma boa história a uma boa <strong>foto</strong>grafia.<br />
Busco ser capaz de ter a confiança de quem se deixa <strong>foto</strong>grafar<br />
por mim, e almejo que o olhar do <strong>foto</strong>grafado deixe<br />
isso evidente para quem observa a minha <strong>foto</strong>grafia.<br />
O meu fazer <strong>foto</strong>gráfico é lento. Gosto de conhecer a<br />
história por trás dos rostos. Para mim é sempre difícil me<br />
despedir das pessoas que <strong>foto</strong>grafei e dos lugares. Por isso,<br />
é sempre um “até logo”, porque carrego a certeza de que<br />
vou retornar a esses locais para levar as <strong>foto</strong>s a quem <strong>foto</strong>grafei,<br />
reencontrar as pessoas e dar um forte abraço. Não<br />
conseguiria manter essas rotinas num emprego formal.<br />
Percebi, com o tempo, que minhas principais pesquisas<br />
<strong>foto</strong>gráficas se conectavam por uma ideia comum: resistência.<br />
Talvez essa seja a palavra que defina o cotidiano da<br />
Maré, um lugar que luta diariamente contra as arbitrariedades<br />
do Estado e tem a sua imagem distorcida pela mídia<br />
tradicional. As festas populares enfrentam e sobrevivem<br />
num mundo globalizado onde se valoriza cada vez menos<br />
as tradições de um povo. O graffitti é uma linguagem artística<br />
que busca dar visibilidade para os problemas sociais<br />
das periferias. As comunidades do interior do Nordeste<br />
brasileiro vivem à margem dos progressos econômicos e<br />
sociais do país, mas para mim o que sempre chamou atenção<br />
foi seu povo guerreiro e sua luta cotidiana. E são os migrantes<br />
vindos desses locais que compõem a imensa colcha<br />
de retalhos afetiva dos espaços periféricos das grandes<br />
cidades. Seja na periferia de Recife, de Vitória ou na Maré.<br />
* * *<br />
A escolha das <strong>foto</strong>s deste livro não segue uma ordem<br />
cronológica e não representa um trabalho finalizado. Todos<br />
os ensaios permanecem em desenvolvimento. Não se<br />
trata de projetos pontuais, são documentações de vida,<br />
que vou construindo pouco a pouco. A favela onde moro,<br />
os espaços periféricos, os povos tradicionais, as viagens,<br />
as histórias das pessoas que encontro... Tudo é parte da<br />
busca interminável da beleza de estar no mundo e de<br />
poder apresentar essa beleza como a vejo. Enfim, é o<br />
que me movimenta.
“O meu prazer está em poder contar com a cumplicidade<br />
do <strong>foto</strong>grafado. Aliás, como o Ripper costuma dizer,<br />
prefiro ter uma boa história a uma boa <strong>foto</strong>grafia.”
ve
O Vidigal e a orla da Zona Sul do Rio de Janeiro
Morro da Providência, no Centro do Rio<br />
Santa Marta, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro<br />
12
_ fav e l a#noturna<br />
“Desde o início, <strong>foto</strong>grafar<br />
a favela pra mim é pensar<br />
na plasticidade, na luz que<br />
compõe esses ambientes.<br />
Eu vejo muita beleza na favela,<br />
e uma das maiores belezas são<br />
as relações humanas.”<br />
O Pão de Açúcar no horizonte da Vila do Pinheiro, na Maré<br />
13
Varal e pipa na Santa Marta<br />
14
_ fav e l a#pessoas<br />
Futebol no Morro Dois Irmãos,<br />
Zona Sul do Rio de Janeiro<br />
Mudança no Alemão por conta<br />
das obras do PAC<br />
15
Copyright © Ratão Diniz.<br />
Todos os direitos desta edição reservados<br />
à MV Serviços e Editora Ltda.<br />
R. Teotonio Regadas, 26 / 904<br />
Lapa – Rio de Janeiro<br />
www.morula.com.br<br />
contato@morula.com.br<br />
Visite o hotsite do livro em:<br />
www.morula.com.br/em<strong>foto</strong><br />
direção editorial<br />
Marianna Araujo<br />
Vitor Monteiro de Castro<br />
EDIÇÃO E PROJETO<br />
Augusto Gazir<br />
Assistente de EDIÇÃO<br />
Nathália Sarro<br />
projeto gráfico<br />
Patrícia Oliveira<br />
revisão<br />
Suzana Barbosa<br />
Tratamento de imagens<br />
Trio Studio<br />
Impressão<br />
Gráfica WalPrint<br />
Agradecimento<br />
Agradecemos a todos que colaboraram<br />
com esta publicação contando suas<br />
histórias, com depoimentos e entrevistas.<br />
Como o trabalho de Ratão Diniz, este<br />
é um livro coletivo e não seria possível<br />
sem tantas contribuições.<br />
cip-brasil. catalogação na publicação<br />
sindicato nacional dos editores de livros, rj<br />
D613e Diniz, Ratão, 1980<br />
<strong>Em</strong> Foto / Ratão Diniz. – 1. ed. – Rio de Janeiro :<br />
Mórula, 2014.<br />
176 p. ; il. ; 26 cm.<br />
ISBN 978-85-65679-26-8<br />
1. Fotografia. I. Título.<br />
14-16282 CDD: 770<br />
CDU: 77<br />
patrocínio:<br />
realização:<br />
174
Ratão Diniz é fotógrafo da agência Imagens do Povo e formado pela<br />
Escola de Fotógrafos Populares do Observatório de Favelas, no Rio de<br />
Janeiro. Morador da Maré, Ratão já contribuiu com diversas publicações<br />
e participou de exposições e projetos <strong>foto</strong>gráficos no Brasil e no exterior.<br />
<strong>Em</strong> Foto é o seu primeiro livro.<br />
175
ISBN 978856567926-8<br />
9 788565 679268<br />
PATROCÍNIO:<br />
REALIZAÇÃO: