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Regência Coral

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REGÊNCIA CORAL


<strong>Regência</strong> <strong>Coral</strong><br />

Nelson Mathias<br />

O REGENTE<br />

Qualidades<br />

A pessoa que assume a direção de um coral tem que possuir as seguintes<br />

condições naturais:<br />

- Bom ouvido musical.<br />

- Sentido rítmico preciso.<br />

- O dom de comando, autoridade.<br />

Como complemento a estes requisitos imprescindíveis, deverá ter também “gosto<br />

artístico” e muita afeição e inclinação para a música.<br />

Se estas condições são muito sólidas, o trabalho será mais eficaz.<br />

Conhecimentos Básicos<br />

Conhecimentos técnicos que o regente deverá ter para desenvolver melhor a sua<br />

tarefa:<br />

- Domínio da leitura musical.<br />

- Domínio das Claves.<br />

- Tonalidade e elementos de suas armaduras.<br />

- Conhecimentos da composição dos acordes e suas combinações.<br />

- Ideias gerais da técnica rítmica.


- Matizes e acentos.<br />

- Transposição.<br />

Compassos de combinação binária e ternária.<br />

- Piano: o suficiente para reproduzir uma linha melódica e formar acordes.<br />

Advertimos, para os que têm as qualidades naturais expostas anteriormente, a<br />

aquisição dos conhecimentos de teoria, solfejo e piano é questão de pouco tempo<br />

e, com exercícios diários de uma hora de trabalho consegue-se bons resultados.<br />

NOÇÕES DE REGÊNCIA<br />

<strong>Regência</strong> é um assunto essencialmente prático. A leitura apenas ou mesmo o<br />

aprendizado de alguns conceitos da arte de reger e coordenar, dificilmente farão<br />

um bom regente.<br />

A prática da coordenação e a orientação pessoal são de inestimável valor para um<br />

futuro regente. Assim, como conhecer um simples método de piano não faz um<br />

pianista e o conhecer da peça vocal não faz um cantor, uns poucos conselhos<br />

sobre a arte de reger podem apenas orientar aquele que assumir o cargo de<br />

regente, temporária ou permanente.<br />

O regente deve ser um exemplo para o coral, pois este refletirá como um espelho,<br />

ao ser fraseado, seu tom ou timbre vocal e até sua personalidade. Seu exemplo<br />

deve ser espiritual na interpretação; físico na sua postura, com os movimentos<br />

ligados e firmes, e intelectual no conhecimento musical.<br />

Empatia é a capacidade inconsciente pela qual somos levados a imitar os outros.<br />

Ex.: ao ouvirmos um discurso eloquente e observarmos alguém bocejar, sentimos,<br />

muitas vezes, que estamos fazendo o mesmo. Através da empatia, o regente pode<br />

inspirar muito o seu grupo a cantar fisicamente correto, desde que ele conheça a<br />

arte do canto. Por isso é muito mais importante o que ele faz na frente do coral do<br />

que o que pede para ser feito. Se ele sabe cantar, pode fazer seu grupo aprender<br />

em pouco tempo.<br />

O bom regente fala pouco e consegue muito. Seu papel é mais sugerir uma<br />

atmosfera ou caráter e um andamento apropriado para a música, controlar o<br />

volume e o fraseado, fazer ataques e arremates ou cortes. Deve desenvolver a<br />

atividade mental dos coristas e fazê-los não somente cantar, mas pensar também.<br />

Isto fará bem para a personalidade dos coristas.


Normalmente, numa execução o regente não deve cantar. Canta apenas para<br />

ensinar. Se o regente canta, ele não ouve bem os defeitos do seu grupo e está<br />

propenso a sair do ritmo. Deve usar mais força mental do que física. Quanto mais<br />

ele se move, menos poderá pensar. Deve ter sempre a ideia exata do que quer,<br />

antes de começar a reger.<br />

A aparência do regente é de grande vitalidade, em um corpo flexível e livre, como<br />

se ele estivesse cantando. Não deve, em hipótese alguma, ser tenso e duro.<br />

Os olhos do regente não podem ser mortiços. Eles são o ponto de fixação do<br />

coral. Os músculos da maçã do rosto, os zigomáticos, devem estar ativados,<br />

dando brilho aos olhos. Estes músculos estão ligados ao plexo solar, um sistema<br />

de nervos ao redor do diafragma, como um músculo mais importante do cantor, e<br />

deve, desta maneira, ser ativado pelo uso dos músculos da maçã do rosto. Testa<br />

franzida causa mortiços.<br />

GESTOS<br />

Os gestos do regente devem ser pequenos. O rosto e os olhos são mais<br />

importantes. Cada dedo deve estar numa posição diferente, como a mão de um<br />

bailarino. O punho deve ser como o de um violinista ou celista: muito firme, mas<br />

não dando socos; flexível, mas não mole. O movimento de braço deve ser livre,<br />

mas coordenado com os músculos costais, para dar firmeza do padrão e para<br />

inspirar um tom vocal produzido com os músculos costais dos cantores.<br />

PADRÕES DE COMPASSOS<br />

Os padrões de compassos não devem ser abruptos. São os seguintes:<br />

Compassos binários mais comuns:<br />

Simples: 2,2,2<br />

2 4 8<br />

Compostos: 6,6


4 8<br />

Compassos ternários mais comuns:<br />

Simples: 3,3,3<br />

2 4 8<br />

Compostos: 9,9<br />

4 8<br />

Compassos quaternários mais comuns:<br />

Simples: 4,4,4<br />

2 4 8<br />

Compostos: 12,12<br />

4 8<br />

Compassos quinários mais comuns:<br />

Simples: 5,5,5<br />

2 4 8<br />

BRAÇOS E MÃOS<br />

Nas extremidades superiores, baseia-se a técnica ritmíca-expressiva. Os braços<br />

devem estar ligeiramente afastados do corpo.<br />

Cada mão tem funções diferentes: a direita corresponde sempre em marcar o<br />

compasso;<br />

em ocasiões especiais, o instinto adverte sobre a necessidade de que a mão<br />

esquerda auxilie a direita na sua missão rítmica; a esquerda fará os gestos<br />

expressivos, com independência dos movimentos da mão direita.<br />

O antebraço e a mão esquerda devem estar situados em posição perpendiculares<br />

corpo, quando não se


exige movimentos auxiliares ao ritmo. a mão direita, para marcar o compasso,<br />

adotará uma posição parecida com a do pianista quando vais começar a tocar. O<br />

pulso deve ficar flexível. Ele tem também a missão de marcar o "LEVARE", que<br />

serve para determinar o valor metronômico de um movimento no começo de uma<br />

obra musical. Do ponto de vista funcional, é este o movimento que o regente deve<br />

dominar. Da claridade com que se expressa, depende o bom começo e a precisão<br />

rítmica da execução. É necessário praticar nos ensaios, para que se torne familiar<br />

aos componentes do coral. A técnica desta prática, tão importante para a<br />

concretização do tempo, deve ser aplicada em todos os casos em que, dentro de<br />

uma música, se apresente diversas trocas dos movimentos (interrupções do<br />

tempo, fermatas, troca de compasso e semelhantes).<br />

O "LEVARE" tem que ter o mesmo valor da unidade de tempo.<br />

A mão esquerda, para realizar as indicações expressivas, oferecerá um aspecto<br />

similar ao da mão direita. A sua diferença consistirá unicamente em que os dedos<br />

polegar e indicador formarão uma circunferência mais ou menos regular, sem<br />

pretender definir os gestos que cabe adotar a mão esquerda, para expressar<br />

matizes e acentos. Somente como orientação indicaremos os mais comuns:<br />

1. Para marcar um FF súbito, a mão se deslocará para a frente, com a palma<br />

para cima.<br />

2. Para marcar um PP súbito, o processo se realizará no sentido contrário ao<br />

anterior.<br />

3. Para regular de menor a maior intensidade, desloca-se a mão e o braço<br />

para o alto e para a frente. Paulatinamente, até alcançar um ponto máximo.<br />

4. Para regular de maior a menor intensidade, a operação será inversa ao<br />

anterior.<br />

5. Para a cadência conclusiva, em parte forte do compasso, as duas mãos<br />

perfeitamente combinadas adotarão um gesto inequívoco conclusivo.<br />

6. Para a cadência conclusiva, em parte fraca do compasso, a mão esquerda,<br />

discretamente, evitará interferir no gesto final da direita, ficando ao longo do<br />

corpo.<br />

RESPIRAÇÃO, PREPARO, ATMOSFERA E ATAQUE<br />

A respiração do regente, quando for reger, deverá ser a mesma do cantor. A<br />

respiração é dada antes do ataque, depois de a postura correta ter sido assumida.<br />

O bom regente respira para cada entrada de voz, sempre no tempo ou parte<br />

anterior ao ataque, realizando assim o seu preparo.<br />

A atmosfera ou ambiente de cada frase a ser cantada deve aparecer<br />

expressamente nos olhos do regente, no momento da respiração e do preparo<br />

dessa frase, de acordo com o espírito da letra e da música.


Em seguida, daremos algumas expressões fisionômicas para se criar atmosfera<br />

na regência, usadas também pelos cantores expressivos:<br />

Desespero Desânimo Angústia<br />

Entusiasmo Alegria Espanto<br />

Súplica Tristeza Confiança<br />

Medo Serenidade Amor<br />

Indagação Perturbação Dignidade<br />

Paz Devoção Etc...<br />

Deve-se observar que estas expressões não se mudam, de modo geral,<br />

repentinamente, Se a frase a ser cantada ou regida for: "Na dor ou na alegria eu<br />

tenho paz", a expressão deve ser de paz e não de dor. Prevalecem alegria e paz.<br />

O importante é a ideia geral.<br />

Cada atmosfera determinará um volume diferente de respiração, porque cada uma<br />

delas requer uma quantidade diferente de oxigênio. Este volume é representado<br />

por tamanhos diferentes de padrões de compasso no preparo. Conforme a<br />

velocidade e o volume da respiração tomada no preparo, será o andamento da<br />

música. A respiração lenta indica andamento lento. Respiração rápida, como<br />

alegria por exemplo, indica um andamento rápido. Uma vez estabelecido o<br />

andamento, o regente deve conservá-lo até o fim, a não ser que a música tenha<br />

indicações de mudança de andamentos.<br />

O ataque é visível no músculo externo e é dado realmente no diafragma, como se<br />

o regente estivesse cantando. Requer muita coordenação de tudo que procede,<br />

formando um todo claro e definido.<br />

ESTUDO DAS PARTITURAS<br />

O estudo da partitura corresponde aos seguintes aspectos:<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Clave, tonalidade e modalidades.<br />

Problemas de ritmo e de melodia.<br />

Caráter da obra.<br />

Matizes.<br />

Acentos.


Eventual necessidade de transposição.<br />

O regente deve estudar bem todas as músicas, trecho por trecho, antes de ensinálas;<br />

ensaiar a regência diante do espelho; reunir grupos entre professores, para<br />

estudo e troca de ideias.<br />

Ao reger, o regente deve apoiar o corpo na planta dos pés e balança-lo levemente,<br />

como se estivesse pronto para pular. Deverá pedir aos coristas que façam o<br />

mesmo. O corpo deverá estar elástico.<br />

ASPECTOS GERAIS DA REGÊNCIA CORAL<br />

O aspecto geral da atitude do regente tem que caracterizar-se pela elegância e<br />

sobriedade, fazendo somente os movimentos imprescindíveis para desenvolver o<br />

seu trabalho com eficácia. Se os ensaios são realizados minuciosamente, estes<br />

movimentos<br />

podem ser economizados até ao grau máximo. Ao contrário, se os ensaios são<br />

feitos defeituosamente ou com escassez, o regente oferecerá gestos mais<br />

grotescos, atitudes violentas, com as quais, sem o menor resultado, tentará aliviar<br />

e compensar as deficiências da preparação.<br />

É aconselhável, para adquirir gestos precisos e sóbrios, que o futuro regente<br />

estude as partituras particularmente, antes de enfrentar o coral. O CD é ótimo<br />

auxiliar para substituir a massa humana e acostumar-se a seguir a partitura em<br />

todos os seus detalhes, fazendo os gestos adequados, como se o coral estivesse<br />

presente. Este sistema o dotará de soltura e técnica de regência. A postura e a<br />

técnica convenientes serão adquiridas simultaneamente, se estes ensaios<br />

particulares forem feitos diante de um espelho de boas dimensões.<br />

Geralmente, a regência de corais "à capella" realiza -se sem batuta, se bem que,<br />

se o coral for preparar alguma obra para ser interpretada conjuntamente com um<br />

grupo instrumental, é conveniente ensaiar submetendo o coral à regência com a<br />

batuta.<br />

O regente é a cabeça e o coração do coral, que planeja e realiza. A seleção de<br />

partituras é trabalho pessoal. Requer esmero e penetração psicológica. Para que<br />

o trabalho resulte satisfatoriamente, terá presente as características do coral que<br />

tem em mãos, considerando, especialmente, a idade e cultura de seus<br />

componentes.


Feita a seleção das partituras a serem ensaiadas, o regente estudará as canções<br />

tão rigorosamente como se tivesse que interpretá-las de memória e como solista,<br />

o que permitirá fazer, com segurança, as correções necessárias. Quando a<br />

partitura contiver mais de uma voz, estudará da mesma forma as correspondentes<br />

linhas melódicas que a compõe.<br />

CONSIDERAÇÕES SOBRE INTERPRETAÇÃO<br />

A boa interpretação de uma partitura musical entende-se pela "reprodução fiel do<br />

pensamento do autor".`<br />

Para expressar as suas intenções, o compositor uma de uma série de sinais, que<br />

servem para detalhar e aclarar tudo o que se refere ao movimento e ao som.<br />

Sobre o andamento, que é um dos problemas mais sérios, gostaríamos de<br />

explicar que, sendo o metrônomo criado no Século XIX, como iremos interpretar<br />

as músicas compostas anteriormente, no andamento correto?<br />

Para reproduzir fielmente a ideia do compositor, no que se refere ao movimento,<br />

teremos que utilizar toda nossa intuição, além da pesquisa sempre constante por<br />

parte do regente, no que se refere ao período da composição. Devemos observar<br />

o seguinte: cantar repetidamente as melodias, observando as suas inflexões e seu<br />

caráter rítmicos. Com isto poderemos identificar o grau natural da velocidade.<br />

Tudo que afeta a intensidade do som e suas múltiplas possibilidades de<br />

modificação recebe o nome de MATIZES. Os acentos também estão no campo do<br />

estudo do som. Os matizes são as armas mais importantes na interpretação. Um<br />

coral que canta sempre forte e que não pode fazer pianíssimos nunca terá<br />

qualidades. Cansará os ouvintes. Os matizes darão um contraste, necessário em<br />

toda obra de arte.<br />

O domínio do som requer ensaios especiais, alguns exercícios que façam com<br />

que o coral mantenha flexibilidade necessária: a leveza.<br />

Deve-se fazer exercícios que vão de PPP até FFF. Quando se consegue o PPP<br />

(super pianíssimo), deve-se passar para o PP (pianíssimo), depois para o P<br />

(piano), para o MF (meio forte), para o F (forte), para o FF (fortíssimo) e para o<br />

FFF (super fortíssimo).<br />

Este exercício, que é muito importante, deve ser feito sob várias notas, vários sons<br />

e várias alturas. Outro exercício importante é fazer uma frase musical em vários<br />

andamentos.


Deve-se exigir do coral a atenção devida aos sinais de dinâmica que constam na<br />

partitura. Isto fará com que o grupo cresça tecnicamente na leitura de partituras.<br />

Cantar a partitura em vários andamentos, fazendo com que o grupo fique atento<br />

ao menor sinal do regente.<br />

Finalmente, o regente deve estudar bem a partitura, e, principalmente, não<br />

exagerar nos acentos. Muito cuidado com os fortíssimos, evitar os vibratos e<br />

explorar bem os pianíssimos.<br />

Não deixar que o coral tenha o péssimo hábito de só cantar FORTE, COM<br />

VIBRATOS e SOLISTAS NO MEIO DAS VOZES. Faça o grupo cantar LEVE, sem<br />

gritar, procurando fazer com que cada cantor ouça o corista ao lado.

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