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Epoc925-BR-2016-03-07

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Edição 925 I 7 de março de 2016<br />

DIRETOR GERAL Frederic Zoghaib Kachar<br />

DIRETOR DE MERCADO LEITOR Luciano Touguinha de Castro<br />

PRIMEIROPLANO<br />

DA REDAÇÃO.........................<br />

17<br />

PERSONAGEM DA SEMANA ..........<br />

DelcídiodoAmaral, um delatornoninhopetista<br />

ASEMANA EM NOTAS ................<br />

ASEMANA EM FRASES...............<br />

24<br />

EXPRESSO ...........................<br />

Empresa de Lulinha <strong>mud</strong>a-se paraprédio<br />

chique erguido pela Odebrecht em SãoPaulo<br />

EUGÊNIO BUCCI ......................<br />

Mudaromundo<br />

SUAOPINIÃO.........................<br />

NOSSA OPINIÃO......................<br />

TEMPO<br />

TEATRO DA POLÍTICA<br />

Ainvestigação sobreLula,ojulgamento<br />

de Eduardo Cunha eadenúncia<br />

de Delcídio do Amaral ...................<br />

LulaéinvestigadopelaOperaçãoLava Jato..<br />

Arepercussãodadenúncia de<br />

DelcídionogovernoDilma ...............<br />

Eduardo Cunha iráajulgamento .........<br />

14<br />

20<br />

22<br />

26<br />

28<br />

32<br />

34<br />

36<br />

44<br />

48<br />

CRÔNICAS AMERICANAS.............<br />

Avitória do pré-candidato<br />

Donald Trump na “Super Terça”<br />

expõe acrise dos republicanos<br />

ENTREVISTA .........................<br />

GeoffreyKabaservice,historiador<br />

econsultordoPartido Republicano<br />

IDEIAS<br />

DEBATES EPROVOCAÇÕES<br />

Devemos usar agrotóxicos<br />

60<br />

banidos no exterior? ...................<br />

Luis Carlos Heinzediz queouso<br />

do agrotóxico éindispensável............<br />

Antônio Carlos Valadares acredita<br />

que épreciso eliminar venenos ..........<br />

OBSERVADORDAEDUCAÇÃO ........<br />

Os livrosdehistória usados nas escolas<br />

brasileiras carregam ideologias.<br />

Éético fazeracabeça de nossosalunos?<br />

HELIO GUROVITZ.....................<br />

Oantídoto cosmopolita paraDonald Trump<br />

VIDA<br />

ÉPOCAEMAÇÃO .....................<br />

Oprimeiroranking ÉPOCA-GPTW<br />

das melhoresempresas brasileiras<br />

paraasmulheres<br />

ENTREVISTA .........................<br />

GaryBarker,fundador da ONGPromundo<br />

52<br />

56<br />

62<br />

64<br />

66<br />

68<br />

70<br />

76<br />

Diretor de Redação: João Gabriel de Lima epocadir@edglobo.com.br<br />

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6 I ÉPOCA I 7demarço de 2016<br />

34<br />

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Para se corresponder comaRedação: Endereçarcartas ao DiretordeRedação, Época. Caixa Postal<br />

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As cartas devem ser encaminhadas com assinatura, endereço etelefone do remetente. Época reservase<br />

odireitodeselecioná-las eresumi-las para publicação. Só podem ser incluídas na edição da<br />

mesma semana as cartas quechegarem àRedaçãoaté as 12 horasdaquarta-feira.<br />

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Uma democracia a<br />

caminho da maturidade<br />

Q<br />

uatro figuras importantes da política brasileiraforam<br />

protagonistas do noticiário ao longo dasemana. O<br />

presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha,<br />

tornou-se réu na Lava Jato. Num documento preliminar<br />

de delaçãopremiada, Delcídio do Amaral, um dosprincipais<br />

articuladorespetistas –foi líder do partido no Senado<br />

–, fezdenúncias graves contra apresidente<br />

Dilma Rousseff eoex-presidente<br />

Luiz Inácio Lula da Silva. E<br />

Lula éagora oficialmenteinvestigado<br />

pela Operação Lava Jato,que disparou,<br />

na sexta-feira, dia 4, aOperação<br />

Aletheia. Ofoco são as relações do<br />

ex-presidente comempreiteiras.<br />

Cunha, Delcídio, Dilma eLula<br />

vivem momentos difíceis –esuas<br />

atribulações repercutem,com maior<br />

ou menor intensidade, napolítica<br />

brasileira. Dosquatro,Lula éoúnico<br />

quenão exerce mandatoatualmente.<br />

Mesmo assim, seu depoimento tomado<br />

pela Polícia Federal após condução<br />

coercitiva foi ofato que provocou<br />

maior comoção no país. No<br />

aeroportopaulistano de Congonhas,<br />

onde Lula foi interrogado,militantes<br />

antipetistas, de amarelo, celebraram<br />

ainvestigação na Lava Jato.Emfrente<br />

àcasa do ex-presidente, nomunicípio paulista de São<br />

Bernardo do Campo, militantes petistas protestaram contraoqueconsideraram<br />

um exagerodaPolícia Federal.<br />

Lula foi presidente da República pordoismandatos. Desde<br />

aredemocratização,nos anos 1980 –ondeformava uma<br />

frente de esquerdacom políticos como FernandoHenrique<br />

Cardoso,FranciscoWefforteUlysses Guimarães –, éumlíder<br />

importantenapolítica do país. Entende-se queainvestigação<br />

sobre elegalvanize emoções.Asduas posturas extremas –a<br />

comemoração de um lado,acondenação das investigações<br />

do outro –são,noentanto, inapropriadas. Não háoque<br />

comemorar quando umlíder político importante setorna<br />

suspeitodeparticipar de um grandeesquema de corrupção.<br />

Poroutro lado,Lulaéumcidadão brasileiro como qualquer<br />

outro. Easalegações da força-tarefadaLavaJatoparainiciar<br />

SÍMBOLOAMERICANO<br />

GregoryPeckcomo<br />

Atticus Finch. Ninguém<br />

podeestar acima da lei<br />

aOperação Aletheia são pertinentes. Com osdados que os<br />

procuradores têm em mãos, um ex-presidente seria provavelmenteinvestigadoemqualquerlugar<br />

do mundo.<br />

Um bomexercício de distanciamentoéver como aimprensa<br />

internacional noticiou acondução coercitiva de<br />

Lula. Ela foi manchete nos sites dos principais veículos<br />

internacionais. O New York Times<br />

escreveu que Lula estava sendo investigadopor<br />

“sua proximidade com<br />

empresas gigantes da construção<br />

civil, que lucraram com contratos<br />

assinados com ogoverno. Lula está<br />

sendoquestionado porsuspeitas de<br />

quetaiscompanhias tenham custeado<br />

reformas numa casa de campo e<br />

num apartamento depraia usado<br />

porsua família”. Simples ecristalino.<br />

As democracias evoluemdaadolescência<br />

àmaturidade quando se<br />

tornaclaro quenenhumcidadão está<br />

acima da lei. NosEstados Unidos, o<br />

símbolo dessa transição éumpersonagem<br />

ficcional, oadvogadoAtticus<br />

Finch, protagonista do romance O<br />

soléparatodos,deHarperLee.Finch,<br />

vivido no cinema porGregory Peck,<br />

eradeumtempo em quequase todas<br />

as condenações em seu Estado –o<br />

Alabama –eram decidadãos negros. Vieram os direitos<br />

civis, ehojeosEstados Unidos nada têm em comumcom<br />

oAlabama dos anos 1900. No Brasil, ofato dedeputados<br />

irem ajulgamentopor seus malfeitos, empreiteiros corruptosiremparaacadeia<br />

eex-presidentesserem investigados<br />

mostra queademocracia brasileira podeestar acaminho<br />

da maturidade.Isso,sim, merece sercomemorado.<br />

JoãoGabriel de Lima<br />

Diretor de Redação<br />

14 I ÉPOCA I 7demarço de 2016<br />

Foto: divulgação


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PRIMEIRO<br />

PLANO<br />

DELCÍDIO DO AMARAL<br />

7demarço de 2016 I ÉPOCA I 17<br />

UM<br />

DELATOR<br />

NO NINHO<br />

PETISTA<br />

A proximidade do<br />

senador com Dilma<br />

e Lula, as duas maiores<br />

autoridades do PT,<br />

rendeu a ele bom<br />

trânsito – e, aos petistas,<br />

um enorme desgosto<br />

Foto: UesleiMarcelino/REUTERS


PERSONAGEM DA SEMANA<br />

NLeandroLoyola<br />

DEFERÊNCIA<br />

Delcídio do<br />

Amaral coma<br />

presidente Dilma<br />

Rousseff.Ela<br />

semprepedia para<br />

ele ficar um pouco<br />

mais nas reuniões<br />

oano passado, caminhando peloscorredores<br />

do Senado, osenador Delcídio doAmaral,<br />

petistadeMatoGrossodoSul,gabava-se:“Eu<br />

souumdos carasdaqui quemaisfalam com<br />

oLula. Falo com ele toda semana”. Sempre<br />

queiaaBrasília, oex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva<br />

marcavaumencontrocom Delcídio –costumava,inclusive,<br />

hospedar-senomesmo hotelondeosenador mora.Talvez<br />

por isso, em abril doano passado, quando seu segundo<br />

mandato já estava ameaçado, apresidente Dilma Rousseff<br />

escolheu Delcídio para oespinhoso cargo delíder do<br />

governonoSenado.Delcídio, queDilma conhecehámais<br />

de duas décadas, tornara-se um dosprincipais–eúnicos<br />

–contatos dapresidente noPTeno Congresso. Em um<br />

palácioondeapolíticaéintrusa,Delcídioera dospoucos<br />

frequentadores atratardotemacom Dilmacotidianamente.<br />

No ano passado, osenador alertou Dilma dos perigos<br />

de manter um relacionamento gelado com Lula. Foi ele<br />

também quem chamou aatenção da presidente para os<br />

maus-tratosdispensadospor elaaovice-presidente,Michel<br />

Temer. Nas reuniões semanais com seus ministros mais<br />

próximos,Dilma repetiaumgesto quediz muito de suadeferência<br />

ao talentopolíticodeseu ex-líder:aofinal, quando<br />

todossaíam,ela pedia para apenasDelcídiopermanecer.<br />

Na semana passada, Delcídio machucouoPTcomopoucos,<br />

justamentepor suaposiçãoprivilegiadadeinterlocutor<br />

das duas maioresautoridadesdopartido.Sóele poderia contar<br />

certas coisas.E, de acordo comarevista IstoÉ,Delcídio contou<br />

para os maioresinimigos do PT no momento–os procuradores<br />

queatuam na Operação Lava Jato,aquelaque começou<br />

como uma investigação de desvios na Petrobrasese transformou<br />

na maioriniciativadecombateàcorrupção endêmica<br />

que une governo, Congresso eempresas. De acordo com a<br />

revista, Delcídio falou após um acordo de delação premiada<br />

fechado com os procuradores, mas ainda não homologado<br />

pelo ministro Teori Zavascki, responsável no Supremo Tribunal<br />

Federal pelos processos da operação.Oapavoramento<br />

foi manifesto. Diferentementedoque temiam os senadores,<br />

Delcídio mirou no Palácio do Planalto. Acusou, segundo a<br />

revista, apresidente Dilma Rousseff eoex-presidente Luiz<br />

Inácio Lula da Silvade, entreoutrascoisas, tentar interferir no<br />

andamentodas investigações da Lava Jato (leia mais na página<br />

44) paraproteger empreiteiros acusadosdecrimes eamigos<br />

na mesma situação,comoopecuarista José Carlos Bumlai.<br />

Exatos 13 dias (sim, 13) antes começou aflanar porBrasília<br />

oespectrodoDelcídio delator.Era uma ameaça queaterrorizava<br />

políticos de todas as cores. Em 19 de fevereiro, Delcídio<br />

foi libertado. Desde novembro,ele estava preso em um quartel<br />

em Brasília, depois queuma gravação mostrousua proposta<br />

de dar fugaepagar uma mesada de R$ 50 mil ao ex-diretor<br />

da PetrobrasNestor Cerveró, caso elefosse libertado.Cerveró<br />

continua preso.Delcídio foi preso,acusado de tentar atrapalhar<br />

as investigações. Passou ao regime domiciliar.Doze<br />

quilos mais magro,mal haviatomadoobanho redentordos<br />

ex-detentos, já começavamavazar notícias de que, nos bastidores,<br />

Delcídio ameaçava colegas. Eram coisas sutis, como<br />

“semecassarem,levometadedoSenadocomigo”.Nadúvida,<br />

opresidente do Senado,Renan Calheiros, craque políticoque<br />

é, chamou truco: “É hora de oSenadoouvi-lo esaber oque<br />

eletem adizer”. Delcídiorefugou, evanesceu-se. Pediuuma<br />

licença médica de 15 dias e, na semana passada, esteve em<br />

São Paulo sobopretextoderealizar exames médicos. Mas, na<br />

quinta-feira, ofantasma do delator se materializou.<br />

As reações figadais dos petistas dão uma medida do incômodo<br />

causado por Delcídio.Apresidente Dilma Rousseff<br />

condenou “o uso abusivo devazamentos como arma<br />

política”. Mandou que seu ex-ministro da Justiça eagora<br />

advogado-geral da União,JoséEduardo Cardozo, rebatesse<br />

oque foi chamadode“suposta”delação.“Évingança”, foi o<br />

melhor argumento que Cardozo pôde usar. No raciocínio<br />

dele,Delcídio quis adesforra pornão tersidoajudado por<br />

Dilma epeloPTenquantoestevepreso.OtemorpelaapariçãodeDelcídio<br />

sempre foiopotencial de destruição que<br />

um dossenadores mais bemrelacionadosdeBrasília poderia<br />

causar.Nos dois anos de Lava Jato,alguns delatores sãoemblemáticos.Paulo<br />

RobertoCosta éummarco porter sido o<br />

primeiroacolaborar;RicardoPessôaenvolveuacampanha<br />

18 I ÉPOCA I 7demarço de 2016<br />

Foto: divulgação


Delcídio do Amaral<br />

Araiva petista<br />

destiladacontra<br />

o“Fagundes<br />

do Pantanal”vem<br />

de suaatuação no<br />

governoFernando<br />

HenriqueenaCPI<br />

dos Correios<br />

de Dilma; Fernando Baiano envolveu opresidente da<br />

Câmara, Eduardo Cunha, eBumlai, oamigodeLula;<br />

PedroBaruscoentregou11operadoresdepagamento<br />

de propina, quelevaram ao marqueteiro João Santana<br />

eaencrencas internacionais paraaPetrobras. Delcídio<br />

mostrou sercapaz de jogarDilmadaperiferia parao<br />

meio da Lava Jato; mostrou que tem conhecimento<br />

suficiente para tirar Lula da posição desuspeito de<br />

ser beneficiário das empreiteiras, com umsítio e um<br />

apartamento, para adealguém que tentou interferir<br />

no processoparaproteger um amigo.<br />

Araiva petista destilada contra Delcídio,o“Fagundes<br />

do Pantanal”, referência irônica asua semelhança como<br />

galã de telenovela, vemdelonge.Apesardocréditocom<br />

Lula eDilma, Delcídio sempre foi visto com desconfiança<br />

no PT.Ele serviu ao PSDB,comodiretor de Gás<br />

eEnergia na PetrobrasnagestãodeFernandoHenrique<br />

Cardoso.AderiuaoPTparaseeleger senadorem2002.<br />

AatuaçãocomopresidentedaCPI dosCorreios, aque<br />

desvendou oescândalo do mensalão,não ajudou em<br />

sua popularidade entre os correligionários. Em 2014,<br />

quandotentoueleger-se governador de Mato Grosso do<br />

Sul, Delcídio escondeuaestrela vermelha como pôde.<br />

Mesmo assim, conquistou Dilma efoi decisivo para<br />

aaprovação das medidas do ajuste fiscal. Em março,<br />

aproximouoentão ministro da Fazenda,Joaquim Levy,<br />

dosaliadosnoSenado. Um de seus movimentos mais<br />

importantes foi reaproximar o PMDB do governo. Foi<br />

elequemorganizou um almoço na residênciaoficial de<br />

Renan Calheiros, em maio,com opresidenteLulaea<br />

cúpuladoPMDB.Arelação se apaziguoupor um tempo.Foi<br />

assim queogoverno conseguiuque oSenado<br />

mantivesseosvetos da presidente Dilma às medidas da<br />

chamada “pauta-bomba”, queaumentariam os gastos<br />

do governoemR$64bilhões.<br />

Comodesgastedogoverno eoseu próprio, Delcídio<br />

ensaiou sair do PT,mas desistiu.Avida de petista<br />

com bom trânsito naoposição lhe rendia posição<br />

ímpar no Senado, ade único capaz de conversar,<br />

contar piadas enegociar com todos. Até asemana<br />

passada, mesmo opositores ficavam incomodados em<br />

tratar de umapossível cassação do mandatodeDelcídio.Entre<br />

as acusações da Lava Jato quedesalinham<br />

seus lisos cabelos grisalhos estão adereceber US$<br />

1,5 milhão depropina pela compra da Refinaria de<br />

Pasadena, feitapelodelator FernandoBaiano; eade<br />

receberUS$ 10 milhões de propinadaAlstom, ainda<br />

no governo FHC, feita pelo delator Nestor Cerveró.<br />

Ohomem éumpragmático, não umideológico. O<br />

mesmo pragmatismo que olevou afazer uma delação<br />

preliminar sobre oPTpodelevá-lo afalar sobre<br />

outros quesorriramcom elenestes anos todos. u<br />

7demarço de 2016 I ÉPOCA I 19


FEVEREIRO/MARÇO I 2016<br />

QUERESUMEM ASEMANA<br />

Seg Ter Qua Qui Sex Sáb Dom<br />

29 1 2 3 4 5 6<br />

OPIB vaiaofundo<br />

OPIB do Brasil caiu3,8% no ano passado,segundooIBGE divulgou<br />

na quinta-feira, dia3.Oresultadoéopiordasérie histórica iniciada<br />

em 1996. Consideradaasérie desde1962, queusava uma metodologia<br />

diferente,aeconomia só estevepiordoque agoraem1981e1990.<br />

Aqueda de 4% no consumo das famílias foiamaiordesde1996<br />

eaprimeiradesde2003. Eem2016tem mais: segundooúltimo<br />

boletimFocus, do BancoCentral, oPIB deve recuar mais 3,45%.<br />

ATÉPARECE AERA COLLOR<br />

Em %<br />

1981 1983 1988 1990 1992 2009 2015<br />

-0,06<br />

-0,1<br />

Os mísseis<br />

do ditador<br />

ACoreiadoNorte disparou na<br />

quinta-feiraseis mísseis de curto<br />

alcanceemdireção ao mardoJapão,<br />

segundoogovernodaCoreia do<br />

Sul. Oato foi interpretado como<br />

uma resposta ànovaresolução da<br />

ONU,que impôs sanções mais<br />

durascontraoregime de Kim<br />

Jong-un após os testes nucleares<br />

feitos em janeiro. Todososmísseis<br />

caíram no mar após percorrer<br />

de 100 a150 quilômetros.<br />

-0,47<br />

-4,25<br />

Fonte: IBGE<br />

-2,93<br />

Crisedos bilhões<br />

Na lista mais recentedos donos das<br />

maioresfortunasdomundo, compilada<br />

pela Forbes,apenas cincolatinoamericanos<br />

aparecem entre os 100<br />

primeiros. Omais bemcolocado éo<br />

mexicano Carlos Slim, quefoi “o maior<br />

perdedor do ano”: caiu da 2 a para a4 a<br />

posição.Entre os brasileiros, JorgePaulo<br />

Lemann apareceem19 o lugar; Joseph<br />

Safra, em 45 o ;eMarcelHerrmann<br />

Telles eCarlos AlbertoSicupira em<br />

67 o e 87 o ,respectivamente. Ohomem<br />

mais rico do mundocontinuasendo<br />

Bill Gates, comUS$ 75 bilhões.<br />

-4,35<br />

-3,8<br />

LATINO-AMERICANOS NA FORBES<br />

Carlos<br />

Slim<br />

investidormexicano<br />

Jorge Paulo<br />

Lemann<br />

cervejeiro brasileiro<br />

Joseph<br />

Safra<br />

banqueiro brasileiro<br />

Marcel<br />

Herrmann Telles<br />

investidorbrasileiro<br />

CarlosAlberto<br />

Sicupira<br />

investidorbrasileiro<br />

US$<br />

50<br />

bilhões<br />

US$<br />

28<br />

bilhões<br />

US$<br />

17<br />

bilhões<br />

US$<br />

13<br />

bilhões<br />

US$<br />

11,3<br />

bilhões<br />

LongedoRio<br />

Osecretário de Governo da<br />

prefeitura do RiodeJaneiro, Pedro<br />

PauloCarvalho,pediu ao Supremo<br />

Tribunal Federal quesua ex-mulher<br />

eaantigababá da filhadocasal<br />

sejamouvidas pela Polícia Federal<br />

em Brasília,longe do Rio,onde<br />

eleépré-candidato àprefeitura<br />

pelo PMDB.Pedro Pauloresponde<br />

poração no STF porsuspeita de<br />

agressão contra aex-mulher em<br />

2010,quandoainda eram casados.<br />

20 I ÉPOCA I 7demarço de 2016


MENOS FUMAÇA NA CHINA Homens puxam<br />

um triciclo pertodechaminésdefábricas em Shanxi, na China.<br />

Dadosmostram que opaís está reduzindo oconsumo de carvão,<br />

sua principal fontedeenergia,mas altamentepoluidora.<br />

AUNIÃO<br />

EUROPEIA<br />

destinará, nos<br />

próximostrês<br />

anos,<br />

FoiMaluf que fez,oui<br />

AFrança condenou, na quarta-feira,odeputado<br />

federal Paulo Maluf,doPPdeSão Paulo,a<br />

três anos de prisão porlavagem de dinheiro<br />

em território francês de 1996 a2005. Asoma<br />

lavada seriadeUS$ 7milhões. Asentença foi<br />

dada pela 11 a CâmaradoTribunal Criminal<br />

de Paris, quetambém condenou amulhereo<br />

filho de Maluf. Os três tiveram e 1,8 milhão<br />

confiscadospelaJustiça francesa eainda terão<br />

de pagar e 500 mil em multas. Afamília já<br />

recorreu da sentença. Informada da condenação,<br />

aProcuradoria-GeraldaRepúblicapedeagora<br />

queaaçãosejatransferida paraoBrasil.<br />

DE EUROS<br />

parabancar as<br />

necessidades<br />

humanitárias<br />

advindas da<br />

crisegerada<br />

pela chegada de<br />

mais de 1milhão<br />

de refugiados<br />

ao continente<br />

Fotos: Kevin Frayer/Getty Images, reprodução,<br />

AlexandreCassiano/Ag. OGloboeAPPhoto/Ahn Young-joon<br />

I<br />

I


QUERESUMEM ASEMANA<br />

“EmSão<br />

Paulo,<br />

parece que<br />

opúblico<br />

assiste pelo<br />

telefone”<br />

Mick Jagger,<br />

cantor dosRolling Stones, sobre<br />

ohábitodopúblicodeirashows<br />

parafilmar,emvez de assistir<br />

22 I ÉPOCA I 7demarço de 2016<br />

Fotos: Joel Ryan/Invision/AP, DennyCesare/ Ag.OGloboeBruno Poletti/Folhapress


“Não sou<br />

capaz de opinar”<br />

Gloria Pires, atriz,emsua estreia<br />

como comentarista do Oscar<br />

“Ponha uma cadeira<br />

de praia eváassistir<br />

ao remo de graça”<br />

Eduardo Paes (PMDB), prefeitodoRio de Janeiro.<br />

Em janeiro, oComitêOrganizador das Olimpíadas<br />

desistiu de fazeruma arquibancada paraoremo<br />

“Agora,nossos<br />

carros vãoentender<br />

melhor que ônibus<br />

sãomenospropensos<br />

adar passagem”<br />

Google, empresadetecnologia,aoassumir pela<br />

primeiravez aculpa porumacidentedeseu carro<br />

autônomo.Ocarroacertoualateral de um ônibus<br />

“Esse filme não<br />

éanticatólico”<br />

L’OsservatoreRomano, jornal oficial do<br />

Vaticano,aoelogiar ofilme Spotlight,que narra<br />

adescobertadeumescândalo de pedofilia<br />

na Igreja Católica,nos EstadosUnidos<br />

“Nossa produção<br />

teve de ir ao extremo<br />

sul do planeta apenas<br />

paraencontrar neve”<br />

Leonardo DiCaprio, ator que (enfim)<br />

ganhou oOscar pelofilme Oregresso. No<br />

discurso de agradecimento, ele pediuatenção<br />

ao problema do aquecimentoglobal<br />

“É hora de enfrentar<br />

aesquerdopatia<br />

eleitoral oportunista<br />

que esconde<br />

ocorporativismo<br />

do PT”<br />

DelfimNetto, economista econsultor informal<br />

do entãopresidenteLula,agora críticodoPT<br />

“Delaçãopremiada<br />

nosolhosdos outros<br />

épimenta,nos olhos<br />

delesérefresco”<br />

Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente<br />

da Câmaraeagora réunaOperação Lava Jato,<br />

ironizando os petistas ao falar sobre adelação<br />

do senador Delcídio do Amaral (PT-MS)<br />

DEDO NA CARA<br />

“Estamos acostumados<br />

a‘partido cartório’,<br />

de livrodeata,que<br />

decide ocandidato em<br />

mesa de restaurante,<br />

comvinho importado”<br />

Geraldo Alckmin (PSDB-SP),<br />

governador de SãoPaulo eapoiador de João<br />

Doria Jr., vencedor do primeiroturno da prévia<br />

paracandidato do PSDB àprefeituradacapital<br />

“O governador que joga<br />

pesado parafavorecer<br />

esse candidato éomesmo<br />

que está escondendo<br />

dados do governo”<br />

Arnaldo Madeira(PSDB-SP),<br />

secretário-chefedaCasa Civil do governo<br />

Alckmin, de 2003 e2006.Ele apoia acandidatura<br />

do vereador Andrea Matarazzo, que também<br />

disputaráosegundo turno das prévias do PSDB


PORMURILO RAMOS<br />

expresso@edglobo.com.br<br />

MUDANÇA<br />

Empresa de Lulinha<br />

trocadeendereço.<br />

Vaiparaumprédio<br />

erguido pela<br />

Odebrecht<br />

Nas alturas<br />

Onovo CEPdeLulinha<br />

N<br />

odia 26 de fevereiro, Fábio Luis Lula da Silva,oLulinha, reuniua<br />

diretoria da Gamecorp para promover a<strong>mud</strong>ança de endereço da<br />

empresa, antes confinada aumprédio semcharme na capital paulista.<br />

Aempresa, queacumula prejuízomilionário,está se <strong>mud</strong>andopara<br />

um portentoso prédio no bairro da Vila Olímpia. Ocupará quatro<br />

salas do 7 o andardoedifício construídopela... Odebrecht. “O aluguel<br />

do metroquadradodaregião éomaiscarodacidade”, diz uma<br />

vendedora. Aconstrutora pagouparte da reformausada porLula e<br />

família, incluindoLulinha, no sítio Santa Bárbara, em Atibaia.<br />

Verão do<br />

“Brahma”<br />

Lula recebeu R$ 900 mil<br />

da Cervejaria Itaipava<br />

porpalestrasem2013.<br />

Umadelas foidada em<br />

Atibaia, seureduto de<br />

descanso,emoutubro<br />

daquele ano.Oexpresidente<br />

também<br />

deuoutra palestra<br />

na cidade paulista:<br />

ganhou R$ 200 mil da<br />

Associação Brasileira<br />

de Supermercados.<br />

24 I ÉPOCA I 7demarço de 2016<br />

3, 2, 1...<br />

Adonadaagência Pepper Interativa,<br />

DanielleFonteles, está em conversas<br />

avançadas cominvestigadores<br />

parafechar um acordo de delação<br />

premiada. APepperparticipou das<br />

campanhas petistas em 2010 e2014<br />

epodeajudar tantonos trabalhos<br />

da OperaçãoAcrônimo como na<br />

Lava Jato.ParaaAcrônimo,Danielle<br />

prometeentregarinformações sobre<br />

ogovernadormineiro, Fernando<br />

Pimentel,sua mulher, Carolina de<br />

Oliveira, eoempresário Benedito<br />

de Oliveira. Na Lava Jato,ela<br />

poderia explicar ouso de recursos<br />

de caixadoisemcampanhas do<br />

PT provenientes das empreiteiras<br />

AndradeGutierrez, OASeQueiroz<br />

Galvão.Isso porque aPepperfoi<br />

passagem de dinheirousado nas<br />

duas últimas eleições nacionais.<br />

2, 1...<br />

Danielleficoumuitopróxima<br />

de um dosprincipais assessores<br />

ecoordenadores das campanhas<br />

da presidente Dilma Rousseff,<br />

Giles Azevedo.Osinvestigadores<br />

querem saber atéque ponto as<br />

informações da publicitária podem<br />

complicar avida do Planalto.<br />

Quentinha<br />

Saiu do forno ahomologação da<br />

delação premiada do ex-vereador<br />

do PT AlexandreRomano,<br />

conhecidocomoChambinho.<br />

Ele complica avida da senadora<br />

Gleisi Hoffmann (PT-PR) e do<br />

ex-ministro Paulo Bernardo.<br />

Sereno<br />

Apesar da gritaria sobrea<br />

Operação Aletheia, ojuiz<br />

federal Sergio Moro está<br />

tranquilo,tranquilo.<br />

Fotos: Rogério Cassimiro/Época(2),GregSalibian/<br />

Folhapress, Celso Pupo/Fotoarena,Bruno Pavão/<br />

Ed.GloboeRicardo Fernandes/DP/D.A Press


Com Nonato Viegas e Ricardo Della Coletta ereportagem de<br />

Daniel Haidar,Thiago Bronzatto e Vinicius Gorczeski<br />

Cachimbodapaz<br />

Opoderoso diretório do PMDB do<br />

Rio de Janeironegocia comovicepresidente,MichelTemer,emplacar<br />

oex-governador Sérgio Cabral como<br />

segundovice-presidente do partido.<br />

Crise hídrica<br />

Os deputadosfederais quemoram<br />

em apartamentos funcionais<br />

reformadosreceberam um<br />

aviso surpreendente:terão<br />

de ressarcir aCâmarados<br />

Deputadospor despesas com<br />

água. Antesera tudoliberado.<br />

Tim Tones<br />

Em tempos de proibição da<br />

doação de empresas acampanhas<br />

eleitorais,oscandidatos temem<br />

os adversários ligados às igrejas.<br />

Acham quenão faltará dinheiro<br />

aeles provenientedos fiéis.<br />

Carga pesada<br />

Ogoverno não está preocupado<br />

apenas em atrair empresas para<br />

as novasconcessões de rodovias,<br />

mas também comasempreiteiras<br />

enroladas na Lava Jato que<br />

tentam atodocustosedesfazer<br />

de lotesjáarrematados.<br />

Eradoavô<br />

do Matheus<br />

Sabe osítio Santa Bárbara, visitado<br />

pelo ex-presidente Lula mais<br />

de 100 vezesemAtibaia? Pois<br />

é. Aquelas terras pertencerama<br />

André Nachtergaele, avôdoator<br />

Matheus Nachtergaele.Ele diz<br />

terótimaslembrançasdolocal.<br />

“Colhia-se mexerica epescavase<br />

traíra”,diz comternura.Ele<br />

afirma não terpercebido queera<br />

omesmo lugarfrequentadopor<br />

Lula em razãodonome. Chamavase,segundoele,<br />

Rancho Ituí.<br />

Leia acoluna Expresso em epoca.com.br<br />

Últimas unidades?<br />

Feirão do Rio<br />

Para fazercaixa,oprefeito do<br />

RiodeJaneiro, Eduardo Paes,<br />

pretende vender 15 imóveis do<br />

município. Eles estãolocalizados<br />

nas zonas Sul, Oeste,centro<br />

eportuária.Entre eles alguns<br />

próximos aos ArcosdaLapa.<br />

Paes disse quenoano quevem<br />

outros imóveisserãopostos<br />

àvenda. Masnão porele.<br />

Sob nova direção<br />

Ogoverno espera um STFmais<br />

hostilapartirdesetembro, quando<br />

CármenLúcia assume apresidência<br />

da Corte. Aavaliaçãoéque a<br />

ministra vai adotar posturalinha<br />

dura paraimprimirestilo próprio.<br />

No gogó<br />

Depoisdesair do governo, Luís Inácio<br />

Adams planeja passar seis meses<br />

dandopalestrasparaoescritório<br />

americano Mayer Brown. Só depois<br />

vai advogarparauma banca brasileira.<br />

Quimono da lei<br />

Indicado porDilma paraoSTJ, o<br />

desembargador do RiodeJaneiro<br />

Antônio Saldanha éfaixa preta<br />

de jiu-jítsueterá de procurar<br />

uma academia em Brasíliapara<br />

continuar suandooquimono,seseu<br />

nome for aprovado nas próximas<br />

semanas pelo Congresso.Outro<br />

fanáticopeloesporte éoministro<br />

do STFLuiz Fux, comquem<br />

Saldanha já dividiuotatame.<br />

Tchau, presidente?<br />

Um grupodeconsultores do Senado<br />

elaborou um estudodetalhando os<br />

sistemas de governodecinco países<br />

parlamentaristas. As informações<br />

sobre Alemanha, Austrália,<br />

Áustria, Bélgica eCanadá serão<br />

usadas paraembasar as discussões<br />

da comissão de senadoresque<br />

elaborará uma proposta paraadotar<br />

oparlamentarismo no Brasil.<br />

Soluçãocaseira<br />

Aprincipal demanda poraluguel de<br />

carrosduranteosJogos Olímpicos<br />

será de brasileiros. Aexpectativa é de<br />

quealocação pelos estrangeiros atinja<br />

somente10% do total de automóveis.<br />

Aassociação do setorachaque a<br />

procuraseráprincipalmente de<br />

paulistas, mineiros eparanaenses. No<br />

Rio,aprevisãoéque oaumento de<br />

locação de automóveischegue a20%.<br />

7demarço de 2016 I ÉPOCA I 25


EUGÊNIOBUCCI<br />

Mudaromundo<br />

E<br />

m1990, visitei aUniversidade Humboldt, em Berlim<br />

Oriental. Omurotinha caídomenos de um anoantes,<br />

eaparte da cidadegovernada pela ditadura soviética estava<br />

praticamenteintacta. Logo nos primeiros passos dentro do<br />

prédio principal, eu vi.Nosaguão de entrada, inscrita em<br />

letras douradas, sobre opórtico de mármore em forma de<br />

arco que dáacesso aumlance de escadas, lá estava uma<br />

frasedeKarlMarx(1818-1883):“Osfilósofosselimitaram<br />

ainterpretar omundo dediversas maneiras; mas oque<br />

importa étransformá-lo”. (“Die Philosophen haben die<br />

Welt nur verschieden interpretiert; es kömmt drauf an,<br />

sie zu verändern.”) Aquela visão me marcaria para sempre.<br />

Afrase éclássica.Trata-se da 11 a das“Tesessobre Feuerbach,<br />

escritas pelo filósofo emilitante alemão nos anos 1840 do<br />

século XIX, massópublicadas mais tarde,postumamente,<br />

em 1888, graçasaotrabalho sistemático de<br />

FriedrichEngels. Em 1848, Marx eEngels<br />

MUDAR OMUNDO,<br />

PARA OS STALINISTAS,<br />

ERA PÔR FOGO NO<br />

MUNDO DOS OUTROS<br />

PARA PERPETUAR<br />

OPRÓPRIO<br />

publicaram juntos Omanifestocomunista.<br />

Eram jovens inquietos. Oprimeiro tinha<br />

30 anos de idade; osegundo, 28. Estudiosos<br />

de filosofia, tinham sede deação<br />

política. Queriam transformar omundo,<br />

como pregava a 11 a tese, e, na visão deles,<br />

transformar omundo significava fazer a<br />

revolução comunista quantoantes.<br />

Foiadupla Marx eEngelsque começou<br />

com essa história de “<strong>mud</strong>ar omundo”.<br />

Depois deles, obordão se popularizou<br />

como um apelo romântico e,noséculo XX, contagiou<br />

jovens de várias gerações. No final dos anos 1960, outra<br />

dupla famosa, LennoneMcCartney, dosBeatles, zombou<br />

discretamentedochavão,namúsica“Revolution1”, gravada<br />

no álbum Branco: Você diz que quer uma revolução/tudo<br />

bem, sabecomo é/todos nós aqui queremos <strong>mud</strong>ar omundo.<br />

(Yousay youwant arevolution/Well, youknow/Weall want<br />

to change the world.) Na letra, hoje antológica, Lennon e<br />

McCartney rejeitam ométodo destrutivo das revoluções,<br />

mas reforçam osonho de “<strong>mud</strong>ar omundo”.Você quer<br />

<strong>mud</strong>ar omundo? Tudo bem. Oproblema écomo.<br />

Eu pensava nisso enquantotentava decifrar as palavras<br />

em alemão grafadas logo acima da escadaria. Adecepção<br />

traumática legada pela mística das revoluções sanguinárias<br />

estava no fundododesapontamentoque senti. Afrase foi<br />

posta lá em 1953, em plena Guerra Fria.Tinha oaspecto<br />

de uma pichação solene, carimbada amandodaburocracia<br />

soviética, paraassinalar seudomínio tirânicosobreopensamentodaAlemanhaOrientaledetodooLesteEuropeu.<br />

Écomo seStalin ordenasse aos estudantes, professores e<br />

visitantes: “Aquiagentenão quer saber de conversafiada.<br />

Onosso negócio écombater oinimigodeclasse”. Eu bem<br />

sabia que, já naquele tempo,“<strong>mud</strong>ar omundo”,noentender<br />

dosstalinistas, erapôr fogo no mundodos outros (dos americanos)<br />

parapreservar eperpetuaropróprio (o soviético).<br />

Afrase na Universidade Humboldt era exatamente a<br />

original de Marx. Oseu sentido, porém, era ocontrário.<br />

Exatamenteocontrário.Ésimples explicar porquê.<br />

Quando Marx escreveu as Teses sobre Feuerbach, em<br />

meados doséculo XIX, estava sonhando com um futuro<br />

de luzeliberdade.Umséculo depois, quandoosburocratas<br />

do materialismo mandaram pichar afrase na universidade,<br />

as ideiasdeMarxtinhamsidocapturadas porumpassado<br />

sombrioeopressivo, porumpoder ressequido<br />

epesado. Eis porque osignificado<br />

da velha tese tinha se invertidopor inteiro.<br />

Antes, ela significava rebeldia. Agora,<br />

significava censura: queria dizer quenada<br />

que não se alinhasse com omarxismo<br />

oficial do Partido Comunista da União<br />

Soviéticaseria bemrecebidonaquela universidade.<br />

Mais ainda, queria dizer queali<br />

nãoseprestigiava opensamentolivre dos<br />

que elaboram hipóteses inéditas equestionamentosdesafiadores.<br />

Em lugardisso,<br />

só seriam admitidosostrabalhos escolares<br />

que se enquadrassem no programa teórico oficial, de<br />

acordo comadoutrinaestatal quetinha força de leisobre<br />

aimaginaçãohumana.<br />

Essa foi aminha impressão naquele lugar. Berlim<br />

Oriental estava parada no tempo. Era oretrato não da<br />

revolução queosjovensMarxeEngelsimaginavam, mas<br />

da contrarrevolução feita deobediência silenciosa.<br />

Eu pensavacomigo. Umauniversidade filiadaaumpartido<br />

político,sejaele oficial ou não,<strong>mud</strong>aalguma coisa? A<br />

filosofia quegosta tantodepolítica seriamais transformadorasesedistanciassedos<br />

slogans erefletisse criticamente<br />

sobre eles. Para <strong>mud</strong>ar omundo, épreciso entendê-lo –<br />

e, seosfilósofos se dedicassem aentendê-lo, não teriam<br />

de perder tempo em querer transformá-lo.Ouafilosofia<br />

transforma opensamentoouomundo asubjuga. u<br />

Eugênio Bucci éjornalista eprofessor da ECA-USP<br />

26 I ÉPOCA I 7demarço de 2016


Escrevapara:<br />

epoca@edglobo.com.br<br />

INVESTIGAÇÃO<br />

Em “O trio acarajé”(924/2016), ÉPOCA<br />

retratouosavanços na investigação que<br />

conecta Odebrecht,Lula eJoãoSantana<br />

Acada nova fase daOperação Lava<br />

Jato fica mais clara areal natureza<br />

dessemonstruosoesquema de corrupção.<br />

Para conseguir financiar amanutenção<br />

do poder,Lula, juntocom acúpuladoPT<br />

esua base aliada, nomeou diretores corruptosnaPetrobras,superfaturandolicitações<br />

de obras. Precisamos apoiar o<br />

avanço das investigações realizadas na<br />

operação conduzidapelojuizfederal SergioMoro,<br />

responsávelpelos processos em<br />

primeira instância.<br />

Nilton Junior,<br />

via Facebook<br />

Otriodacamaradagem nãovai descansar<br />

tão cedo. Enquanto ofioda<br />

meadaainda estiversendo puxado,trará<br />

muitas emuitas sujeiras que estão para<br />

serdescobertas.<br />

RodrigoH.Souza,<br />

Olinda, PE<br />

Retratoimpecável de mais uma formação<br />

de quadrilha na política bra-<br />

sileira. Épreciso esperar que seja feita<br />

justiça nas ruas.<br />

Luigi Dantas,<br />

via Facebook<br />

EXPECTATIVAXREALIDADE<br />

“Futebol, afábrica de ilusões”(924/2016)<br />

retratouadifícil vida dosjogadores<br />

comsaláriosabaixodeR$1.000<br />

Areportagem mostra averdadeira<br />

face do futebol brasileiro, desmitificandoalenda<br />

de queser jogadordefutebol<br />

éviver como milionário. Uma dura<br />

realidade que precisa ser repassada aos<br />

jovens quequeremseguir essa carreira.<br />

Rafael Moia Filho,<br />

Bauru, SP<br />

Avida glamorosa, quealgunspoucos<br />

jogadorestêm, cria ilusões paraquem<br />

tempouca perspectivanavida real.<br />

Aylton S. Vieira,<br />

via Twitter<br />

OMUNDOESTÁCHATO?<br />

Em “A culpa da branca Fernanda Torres”<br />

(924/2016), acolunista Ruth de Aquino<br />

falou sobrecomo um textopró-homem<br />

despertouuma iradesproporcional<br />

COMENTÁRIODASEMANA<br />

Éumbanho de água gelada saber<br />

que existem jogadores profissionais<br />

de futebol que recebem uma quantia<br />

mínima em comparação ao que<br />

vemos. Mas, no Brasil, esporte éisso”<br />

Carlos Figueira,<br />

SãoPaulo, SP<br />

Cresci em uma casa com mulheres<br />

altivas, quejamais aceitarampassivamenteopapel<br />

de vítimas esempreexigiram<br />

obásico, mas raro,tratamento igualitário.<br />

Esse tratamento igualitário, mais<br />

queumdiscurso,paramim éumvalor.<br />

Raphael Cândido da Silva,<br />

Rio de Janeiro, RJ<br />

Vocês não conseguemimaginaroque<br />

érealmente chato. Muito fácil uma<br />

mulher moderna cuspir em cima dos direitos<br />

que possui graças ao movimento<br />

feminista. Reclamam do feminismo porquenão<br />

têm consciência de quantojáforamesão<br />

reprimidas.<br />

FelipeWalz,<br />

via Facebook<br />

28 I ÉPOCA I 7demarço de 2016


Devemosaceitar ainternetgrátisdoFacebook?<br />

Em DebateseProvocações (924/2016), Demi GetschkoeNeide Oliveiraficaram em ladosopostos da questão<br />

SIM<br />

Comcerteza. Basta uma boaregulação.Ainternet<br />

éuma dádiva eninguémdeveficar<br />

de fora.<br />

Luiz Henrique Amorim,<br />

via Facebook<br />

Ainternettem de sergrátis enão importa<br />

seeles vão ganhar dinheiro. O<br />

que não pode éoconsumidor pagar caro<br />

porumserviço quepoderia serdegraça.<br />

Luiz Rangel,<br />

via Facebook<br />

Ela deve sergratuitaedelivre acesso.<br />

Do contrário,oquepodemos traduzir<br />

sobre isso é: não dê acesso àinformação<br />

para aspessoas mais pobres, senão não<br />

poderemos manipulá-las para votar em<br />

nós em um futuro próximo.<br />

Junior Fernandes,<br />

via Facebook<br />

As pessoas fazem algopensando em<br />

si egeram valor para asociedade.O<br />

Facebook, ao pensar em ampliar onúmero<br />

de usuários de seus serviços, leva internet<br />

gratuita, ou pelo menos mais barata,<br />

às pessoas quenem ao menos têm acesso<br />

àrede. Oque há de mal nisso?<br />

Thiago Santtos,<br />

via Facebook<br />

NÃO<br />

Internet de graçasignifica umamordaça<br />

na rede.Narealidade, eles querem<br />

cobrar por acesso àrede de dados.<br />

Lembrem-se de queinternetnão éFacebook.<br />

JeffersonAlves,<br />

viaFacebook<br />

Sou totalmente contra. Não existe<br />

almoço grátis, quedirá internet.<br />

Luciano Gonzaga,<br />

via Facebook<br />

Apalavra“grátis”éuma das maiores<br />

peças de marketing dahistória da<br />

humanidade usada pelas empresas.<br />

Reginaldo<br />

FerreiraCampos,<br />

via Facebook<br />

Não égrátis: eles vão ganhar de alguma<br />

outraforma eprovavelmenteserá<br />

compublicidade.Omesmo ocorre coma<br />

ferramenta de busca do Google, que na<br />

verdadeéum mercado.<br />

Mauricio Amorim Gurgel,<br />

via Facebook<br />

Se tiver, ogoverno vaicobrarimposto<br />

sobre a“internetgrátis”.<br />

MarcoSouza,<br />

via Facebook<br />

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Expresso<br />

Marcelo Odebrechtestá<br />

irritadíssimo com a...<br />

Expresso<br />

INSTAGRAM DO LEITOR<br />

@deborahmorato85venceu otema<br />

“Mulher”.Confiramaisfotos<br />

eotema da próxima edição no<br />

Instagram de ÉPOCA: @revistaepoca<br />

7demarço de 2016 I ÉPOCA I 29


Que oBrasil<br />

antigonão volte<br />

Atroca de comando noMinistério da<br />

Justiça não pode se transformar numa<br />

concessão aumpassado no qual alguns<br />

se achavam imunes ainvestigações<br />

Navéspera dacondução coercitiva do<br />

ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,<br />

oministro Celso de Mello, odecano<br />

do SupremoTribunal Federal, lembrou,<br />

em entrevista, um princípio da República.<br />

“Todos são iguais perante alei eaConstituição”,<br />

disse Mello.Nodespacho emque autorizou<br />

adeflagração da 24 a fase da Operação<br />

Lava Jato,ojuiz federal Sergio Moro também<br />

registrouque oex-presidente Lula merece ser<br />

tratado com todo orespeito, “em virtude da<br />

dignidade do cargoque ocupou (sem prejuízo<br />

do respeito devido aqualquerpessoa)”, mas não<br />

está imune ainvestigações. Oprincípio de que<br />

não deve haver nenhum cidadão acima de<br />

qualquer suspeita éantigo nas democracias<br />

mais maduras domundo. Mas ele só agora<br />

começa adeitar raízes mais fortes no Brasil.<br />

Já levamos quase30anosdeamadurecimento<br />

institucional,desdeapromulgaçãodaConstituição<br />

de 1988. Na transição parauma sociedade<br />

mais aberta, no conceito doeconomista<br />

americano Douglass C. North, premiado com<br />

oNobel de Economia de 1993, porseusestudos<br />

sobre as instituições como chave paraodesenvolvimento<br />

das nações, ainda nos deparamos,<br />

porém, comosresquíciosdeuma velhaordem<br />

em quecertas elites se julgavam acimado“império<br />

da lei”. Basta lembrar que, em2009, o<br />

próprioLula, ao sair em defesa do ex-presidente<br />

José Sarney, investigado por atos secretos<br />

no Senado, disseque seualiado no Congresso<br />

não poderia sertratado como uma “pessoa comum”.Parece<br />

que essa noção deque algumas<br />

pessoas detêm certas imunidades continua a<br />

nortear alinha de defesa do ex-presidente nas<br />

investigações da Lava Jato. Aomesmo tempo<br />

que seesquiva de dar respostas convincentes<br />

paraasevidências quesurgemcontraele,Lula<br />

se declara“ultrajado”, “ofendido”, “indignado”<br />

por ser alvo de investigações.<br />

Énesse contexto de transição parao“império<br />

da lei”,emque as instituições tomam crescentemente<br />

decisões sem seguiar pela identidade<br />

dosatores, queganha importância fundamental<br />

atroca de comando noMinistério daJustiça,<br />

ocorrida na semana passada. Oantigo ministro,<br />

José Eduardo Cardozo, transferido para a<br />

Advocacia-GeraldaUnião,pareceter caídopelas<br />

razões erradas. Suasubstituição pelo ex-pro-<br />

32 I ÉPOCA I 7demarço de 2016


curador da Justiça da Bahia Wellington Silvafoi<br />

precedida de uma série de recriminaçõesàatuação<br />

de Cardozopor partedeseguidores do expresidente<br />

Lula edemilitantes do PT (na sextafeira,<br />

umajuíza federal de Brasília, Solange Salgado,apedidodoDEM,<br />

concedeu liminar que<br />

suspendeuanomeação de Silva).Elesacusavam<br />

Cardozodedeixar correr soltoasinvestigações<br />

da Polícia Federal na Lava Jato.<br />

Como escreveu,nasemana passada, osociólogo<br />

Claudio Beato, especialista em segurança<br />

pública da Universidade Federal deMinas Gerais<br />

(UFMG), aideiadeque oministro da Justiça<br />

possa controlar investigações criminais está<br />

baseada numa série de equívocos, alguns de<br />

natureza ideológica infantil, outros de desconhecimento<br />

decomo devem funcionar as instituições.“Acredita-se<br />

quequemestá no poder<br />

podetudo, principalmenteimpedir queasinstituições<br />

funcionemcontra os interesses daqueles<br />

que controlam os cargos”, escreveu Beato.<br />

“Essa lógica retroage aumBrasil queainda persiste,<br />

mas que se referencia em décadas passadas.”Indo<br />

mais longe, poderia se dizer que é<br />

uma lógica quetem raízes na própriaformação<br />

da sociedade brasileira, marcada pela escravidão<br />

epor uma forte tradição autoritária, em que as<br />

elites políticas tinham horror àregra da leieao<br />

controle democráticodoEstado.Segundoessa<br />

visão retrógrada, tanto Lula quantoSarneycabem<br />

no rótulo de “elites políticas”.<br />

Na batalhacontraesse Brasil profundo,vem<br />

emergindouma nova geraçãodepoliciais,procuradores<br />

ejuízes, formada no espírito republicano<br />

da Constituição de 1988,que lhes concedeu<br />

autonomia para atuar em defesa dos<br />

interesses coletivos dasociedade.Como fruto<br />

também da modernização da Justiça, doMinistério<br />

PúblicoedaPolíciaFederal, essa nova<br />

geração éprofissionalmente bem equipada e<br />

preparadaparasedesincumbir de suamissão.<br />

Atuando deforma coordenada, sem que uma<br />

instituição se sobreponha aoutra, eles transformaram<br />

aLavaJatonum marco que, expandido<br />

para todo osistema judicial, pode revolucionaraJustiça<br />

eaculturapolítica brasileira.<br />

Espera-se queonovoministro da Justiçacompreenda<br />

esse processoenão ceda às tentações de<br />

um Brasil antigo que ainda teima em reagir ao<br />

espíritorepublicano da Constituição de 1988. u<br />

TROCA DE<br />

GUARDA<br />

JoséEduardo<br />

Cardozo (à esq.)<br />

passa oMinistério<br />

da Justiça para<br />

Wellington Silva.<br />

OBrasil vive um<br />

amadurecimento<br />

institucional. Que<br />

continue assim<br />

Foto: Adriano Machado/Reuters<br />

7demarço de 2016 I ÉPOCA I 33


TEMPO<br />

TEATRO<br />

DA POLÍTICA<br />

Em época de vastas emoçõesepensamentos imperfeitos,abusca da verdade é<br />

JoãoGabriel de Lima<br />

24 a fasedaLavaJatofoi desencadeada na sexta-feira,<br />

dia 4.AOperação Aletheia,comobatizaram os policiaisfederais,<br />

tempor objetivo investigar arelação<br />

do ex-presidente Luiz InácioLula da Silvacom empreiteiras<br />

envolvidasnopetrolão. AaçãodaPFfoi o<br />

momentomaisdramático de umasemana tensa. Na<br />

véspera, os ministros doSupremo Tribunal Federal<br />

haviam aceitado,por unanimidade,adenúnciadaProcuradoria-Geral<br />

daRepública contra opresidente da Câmara,<br />

Eduardo Cunha (leia mais àpágina 48).Cunha agora será<br />

julgado por corrupção elavagem de dinheiro. No mesmo<br />

dia, foi divulgada uma proposta de delação premiada do<br />

senador Delcídio doAmaral. No documento preliminar,<br />

ele faz acusações graves àpresidente Dilma Rousseff e ao<br />

ex-presidente Lula (leia mais apartirdapágina 44).<br />

Adelação de Delcídio atirou aLava Jato nocolo do<br />

Planalto, eojulgamento deEduardo Cunha terá óbvias<br />

repercussões sobreapauta do Congresso, dominada por<br />

seu presidente. Nada se comparou, noentanto, àcomoção<br />

emtorno do depoimento de Lula –que, depois de<br />

responder àPolícia Federal, fez críticas àinvestigação.<br />

Preferiu desqualificar os procedimentos daJustiça adar<br />

as respostasque opaísespera.<br />

Para ademocracia, num momento como este, éimpor-


omais importante. Vale para Cunha. Vale para Dilma. Evale para Lula<br />

tante queabusca da verdade–os fatos –prevaleça sobre as<br />

paixõespartidárias.Vale paraCunha.Vale para Dilma.Evale<br />

paraLula.Ospontoslevantados pelos procuradores da Lava<br />

Jato dariam motivoparainvestigaçãoemqualquer lugar do<br />

planeta.Ascinco maiores empreiteiras dopetrolão, esquema<br />

de corrupção que sangrou aPetrobras,são também as<br />

cincomaioresdoadorasdoInstitutoLula eascinco maiores<br />

clientes das palestrasdoex-presidente.Duasdelas patrocinaram<br />

reformas num sítio frequentado pelo ex-presidente<br />

enum apartamentodepraia.Osdoisimóveis,suspeita aPF,<br />

seriam propriedadeoculta do ex-presidente.As investigações<br />

dirão se Lula éinocenteou, como suspeitamosprocuradores,<br />

temrelações maisprofundas comasraízes do petrolão.<br />

Ainda há muita coisa aser investigada. Lula écitado,por<br />

exemplo,naproposta de delação premiada do ex-deputado<br />

PedroCorrêa,queÉPOCA revela comexclusividade (leia mais<br />

apartirdapágina 52).Aspesquisas mostramapoio majoritário<br />

da população àLavaJatoeàbusca da verdade. Enquantoisso,<br />

apopularidade de Lula cai àmedida que se aprofundam as<br />

investigações sobreele. Sinaldos tempos. Há uma década, era<br />

impensável quepolíticos eempreiteiros poderosos pagassem<br />

porcrimes de corrupção. Isso hoje ocorre –eamaiorparte dos<br />

brasileiros aprova. Vale,comonunca, obordão queoPT de<br />

Lula,no passado,elegeucomoslogan:“Nunca antes nestepaís”.<br />

Fotos: Fernando Donasci/Ag.OGlobo, UesleiMarcelino/<br />

Reuters, Andressa Anholete/FramePhoto/Ag.OGlobo


TEATRO DA POLÍTICA<br />

Ainvestigação sobre oex-presidente Lula não éuma<br />

questão política. Aforça-tarefa acumuloususpeitas<br />

legítimas, eosfatos precisam serapurados com rigor<br />

Daniel Haidar, FilipeCoutinho e Thiago Bronzatto<br />

as últimas três décadas, oexpresidente<br />

Luiz Inácio Lula da<br />

Silva seacostumou àcompanhia<br />

de agentes daPolícia Federal<br />

aseu lado,comoseguranças<br />

em campanhas ou em seus<br />

oito anos naPresidência. Na<br />

sexta-feira,dia 4, às 6horas da<br />

manhã, um Lula de agasalho abriu a<br />

portadeseu apartamentoemSão Bernardo<br />

do Campoparapoliciaisfederais.<br />

Um ex-presidente –servidor público<br />

número um –recebeu servidores<br />

públicos quecumpriam um mandado<br />

de busca eapreensão expedido pelo<br />

juiz Sergio Moro. A ex-primeiradama<br />

Marisa Letícia atendeuointerfone<br />

da cobertura docasal, no Edifício<br />

GreenHill, eautorizou asubida de dez<br />

agentes, que chegaram emquatro carros<br />

descaracterizados, para não gerar<br />

suspeitas. Osinvestigadores tiveram<br />

uma surpresa: oapartamento vizinho,<br />

o121, estava interligadoaolar dosLulas<br />

da Silva. Lula anexouoimóvelpara<br />

acomodar parte de suaequipe. Abusca<br />

foi estendida atoda apropriedade. Os<br />

policiais cumpriramcom tranquilidade<br />

aetapa mais explosiva da Operação<br />

Lava Jato até aqui, a 24 a fase, batizada<br />

de Aletheia –“verdade” em grego. Saíramdelácom<br />

documentos ecom Lula,<br />

queembarcouemumMitsubishi Pajero<br />

preto, blindado, sem identificação<br />

ostensiva da Polícia Federal, para um<br />

depoimento noaeroporto de Congonhas<br />

porvolta das 8horas.<br />

Atrilha queaPolícia Federal percorreu<br />

até aporta de Lula foi construída<br />

ao longodas 23 fases anterioresdaLava<br />

Jato. OMinistério Público eaPolícia<br />

Federal desenharam com minúcia o<br />

caminho que levou ao ex-presidente,<br />

para que ninguém questionasse ouso<br />

de atalhos políticos ou ideológicos. Em<br />

dois anos de Lava Jato, foram-se acumulandoevidências<br />

de queodesvio de<br />

dinheiro daPetrobras beneficiava empreiteiras,<br />

funcionários epolíticos. A<br />

cúspidepolítica está na cúpula dospartidos<br />

dabase dogoverno, sobretudo<br />

PT,PMDB ePP. “O ex-presidente Lula,<br />

além de líder partidário,era oresponsável<br />

final pela decisão de quem seriam<br />

os diretores da Petrobras efoi um dos<br />

principais beneficiários dos delitos”,<br />

afirmam os procuradores do Ministério<br />

PúblicoFederal no pedidoque fizeram<br />

àJustiça. “Considerando os dados colhidos<br />

no âmbito daOperação Lava<br />

Jato,háelementos de provadeque Lula<br />

tinha ciência do esquema criminoso<br />

engendrado em desfavordaPetrobras,<br />

etambém de que recebeu, direta eindiretamente,<br />

vantagens indevidas decorrentesdessa<br />

estruturadelituosa.” s<br />

I<br />

I<br />

Foto: Fernando Donasci/Ag.OGlobo


SURPRESO<br />

Oex-presidente<br />

Luiz Inácio Lula<br />

da Silva. “Eu me<br />

senti como um<br />

prisioneiro”,<br />

disse após ser<br />

levado pela<br />

Polícia Federal<br />

00 de janeiro de2015 I ÉPOCA I 37


TEATRO DA POLÍTICA<br />

Lula éinvestigado naLava Jato em<br />

duas frentes principais. Uma éaque<br />

apuraseoInstituto Lula eaLILS, empresa<br />

montada porele parareceber por<br />

palestras ministradas em vários países<br />

epara diversas corporações, foram<br />

abastecidos com dinheiro desviado da<br />

Petrobras por seis empreiteiras. Entre<br />

2011 e2014, Camargo Corrêa, OAS,<br />

Odebrecht, AndradeGutierrez, Queiroz<br />

Galvão eUTC, enroladas no petrolão,<br />

entregaramR$20,7 milhõesdos R$ 35<br />

milhões queentraramnocaixa do Instituto<br />

Lula. Na LILS, foram R$ 10 milhões<br />

dosR$21milhões. Esse curso de<br />

dinheiroenfraquece aargumentação de<br />

Lula sobre alegitimidade de sua atuação<br />

como palestrante, especialmente<br />

quandoseobservaofluxodesaída dos<br />

recursos. Ainvestigação mostra que o<br />

Instituto Lula eaLILS pagaram “pessoas<br />

vinculadas ao PT”.<br />

OMinistério Público Federal apresentou<br />

uma coleção de elementos. Fez<br />

uma devassa nas contas doInstituto<br />

Lula edaempresa de palestras, além de<br />

quebrar ossigilos fiscais bancários. O<br />

resultado dessa investigação mostra um<br />

canal de dinheirovindodas empreiteirasdopetrolão.SegundooMPF,não<br />

é<br />

crime Lula proferir palestras. “O problemasurgequandoháindicativos<br />

ou<br />

provas de queasdoações, os contratos<br />

eosserviços foram usadosparaesconder<br />

anatureza real de pagamentos de<br />

propina”, diz odocumento.“A suspeita,<br />

fundada, agora, éque as supostas palestras<br />

edoações possam ter sido usadas<br />

como justificativas formais para<br />

pagamentos de vantagens indevidas”,<br />

escreveu aforça-tarefa.<br />

Outros R$ 9,3 milhões vieram das<br />

palestras acertadas pela LILS. ALava<br />

Jato, contudo, descobriu indícios de<br />

fraude nascontrataçõesdos serviços de<br />

Lula.Em1 o de novembro de 2013,aempresa<br />

deLula eaOAS assinaram contratos<br />

de US$200 milparauma palestra<br />

no Chile, no fim daquelemês.Não havia<br />

detalhamentosdoque seriaatalpalestra.<br />

ALava Jato interceptou oarquivo<br />

da minuta do contrato criada um mês<br />

depois da talpalestra. “Note-se queembora<br />

sejam aspalestras realizadas no<br />

exterior, era de esperar que os citados<br />

eventos fossem noticiados dentro do<br />

Há indícios, segundo oMinistério Público, de que oex-presidente<br />

recebeu R$ 34,5milhões, em dinheiroouvantagens, de<br />

empresas envolvidas no esquemadecorrupçãonaPetrobras<br />

OInstitutoLula eaLILSPalestras receberam R$ 30 milhões em dinheirodas<br />

construtoras investigadas na Lava Jato,emdoações epagamentopor palestras:<br />

Camargo Corrêa,OAS,Odebrecht,Queiroz Galvão,UTC eAndradeGutierrez<br />

INSTITUTOLULA<br />

De quase R$ 35 milhões recebidos em<br />

doações, mais de R$ 20 milhões foram<br />

pagos pelasconstrutoras envolvidas no<br />

petrolão. OInstitutoainda pagou mais<br />

de R$ 1milhão àG4Entretenimento e<br />

TecnologiaDigital. Um dossóciosdaG4é<br />

Lulinha,filhodeLula. Outro éFernandoBittar,<br />

oficialmente um dos donos do sítiodeAtibaia<br />

LILSPALESTRAS<br />

As cincoempreiteiras<br />

envolvidasnaLavaJato<br />

pagaram R$ 10 milhões<br />

porpalestrasdeLula.<br />

Équase metade dos<br />

R$ 21 milhões queaLILS<br />

faturoucom palestras para<br />

cercade40empresas<br />

Há evidências de queLula recebeupelomenos R$ 4,5milhões em vantagens<br />

das construtoras investigadas na Lava Jato,por meio de obrasemobília<br />

de um apartamentotríplexemGuarujá edeumsítio em Atibaia<br />

SÍTIO EM ATIBAIA (SP)<br />

As apuraçõesindicam que o<br />

ex-presidenteLula adquiriu, com<br />

laranjas,dois sítiosemAtibaia,por<br />

R$ 1,5milhão. As duas propriedades<br />

do sítio Santa Bárbara, vizinhas,foram<br />

compradas no mesmo dia.Oficialmente,<br />

elas pertencemaos empresáriosJonas<br />

Suassuna eFernando Bittar.Jonas e<br />

Fernando sãosóciosdeLulinha,filho<br />

de Lula,naG4. Opecuarista José Carlos<br />

Bumlai easconstrutoras Odebrecht eOAS,<br />

beneficiadospela corrupçãonaPetrobras,<br />

gastaramnoterreno R$ 770 mil –sem<br />

justificativaeconômica lícita paraadespesa<br />

TRÍPLEXEMGUARUJÁ (SP)<br />

Há evidências de que o<br />

ex-presidenterecebeu<br />

indiretamenteaomenos<br />

R$ 1milhão da OAS, em 2014,<br />

em reformas emóveis de luxo<br />

no apartamento164-A do<br />

Condomínio Solaris.Opresidente<br />

da construtora, LéoPinheiro<br />

(fotoacima),estevediretamente<br />

envolvido nas melhorias no tríplex.<br />

OMPF suspeita que as obras<br />

“constituam propinas decorrentes<br />

do favorecimentoilícitodaOAS<br />

no esquema da Petrobras”<br />

TRANSPORTEEGUARDADEOBJETOS PESSOAIS<br />

OMPF suspeita que aOAS gastou R$ 1,3milhão, de 2011 a2016, comtransporte<br />

edepósitodeitens retirados do Palácio do Planalto, ao fim do mandato do expresidente.<br />

“Nesse contrato, seu real objeto foiescondido,falsificando-se odocumento<br />

paradele constar que se tratavade‘armazenagem de materiais de escritório e<br />

mobiliário corporativodepropriedade da construtoraOAS Ltda.’”, afirmaanota<br />

38 IÉPOCA I7demarço de 2016 Fotos: Clayton de Souza/<br />

EstadãoConteúdo ereprodução(2)


GrupoOAS,especialmente aseusaltos<br />

executivos, oque evidentemente não<br />

ocorreu. Apartirdetaisdepoimentos,<br />

reforça-se a hipótese de que a LILS possa<br />

ter sido usada para dissimular o recebimento<br />

devantagens indevidas.”<br />

Estranhamente, quem negociava em<br />

nome de Lula era umfuncionário do<br />

Instituto, enão da LILS.Situaçãosimilaraconteceu<br />

comaOdebrecht.OInstituto<br />

Lula pediuaprovação da empreiteira<br />

para aprovar uma nota fiscal de<br />

serviços que játinham sido prestados,<br />

oque “denota seu provável caráter de<br />

subterfúgio para orepasse de valores<br />

indevidos”. “Taltese resta ainda mais<br />

evidente ao se considerar queodestinatáriodamensagem,Alexandrino<br />

Alencar,<br />

não era responsável pelo setor financeiro<br />

da empresa.”Alexandrino era<br />

ohomem da Odebrechtdestacado para<br />

fazer, juntocom Lula,lobbynoexterior<br />

em favor da construtora, de acordo com<br />

as suspeitasdoMinistérioPúblico.<br />

As palestrassão um problema.“Temos<br />

palestras (de Lula) no exterior<br />

(financiadaspor empresas envolvidas em<br />

desvios da Petrobras),indícios de obras<br />

CERCO<br />

Carros da<br />

Polícia Federal<br />

em frente ao<br />

prédio de Lula.<br />

Há indícios<br />

de quehouve<br />

vazamento da<br />

operação<br />

no exterior no qual poderiahaver tráfico<br />

deinfluência, tudo sob investigação”,<br />

disse oprocurador Carlos Fernando<br />

dos Santos Lima. Emabril do ano<br />

passado,ÉPOCA revelou queoMinistério<br />

PúblicoFederal em Brasíliainvestigava<br />

umasuspeitadeque as palestras<br />

de Lula eram, na verdade, etapa de um<br />

trabalho de tráfico de influência em<br />

favor daOdebrecht. De acordo com a<br />

investigação, Lula ésuspeito deatuar<br />

em favor daOdebrecht em países da<br />

América Latina edaÁfrica paraajudar<br />

aobter obras e,depois, empréstimos<br />

do BNDES (BancoNacional de Desenvolvimento<br />

Econômico eSocial) para<br />

esses projetos. Recentemente, os procuradores<br />

passaram asuspeitar que,<br />

quando Lula atuava, os empréstimos<br />

do banco para aOdebrecht saíam<br />

mais rápido. Depois, Lula recebia, da<br />

Odebrecht, por palestras realizadas<br />

nesses locais. Segundo oMinistério<br />

Público, Lula recebeu R$7milhões.<br />

Agora, aLavaJatotambém vai investigaressa<br />

atuação do ex-presidente.<br />

Aoperação suspeita ainda que as<br />

doações, quedeveriambancar as atividades<br />

doInstituto, podem ter servido<br />

para enriquecer osfamiliares do expresidente.SegundooMPF,“de<br />

longe”<br />

oprincipal destino do dinheiro do Instituto<br />

Lula foi aempresa G4. Os donos<br />

são Fábio Luís Lula da Silva, oLulinha,<br />

eFernandoBittar,que aparecenopapel<br />

como dono do tal sítio de Atibaia. AG4,<br />

quecuida de tecnologiadainformação,<br />

recebeu R$1.349.446,54 do Instituto<br />

Lula entre2012 e2014. Isso émais que<br />

osomatório dos principais assessores<br />

do ex-presidente.Por queuma entidade<br />

semfins lucrativos precisa de tantos<br />

serviços de informática do filho do presidente<br />

dessa entidade?<br />

Aoutra frente de investigação olha<br />

paraosimóveis de Lula reformadospela s<br />

7demarço de 2016 IÉPOCA I39


TEATRO DA POLÍTICA<br />

ABATIDO<br />

Lula sai do depoimento<br />

no aeroporto de<br />

Congonhas. Os<br />

investigadores querem<br />

saber sobresuas<br />

palestras no exterior<br />

OASepela Odebrecht. De acordo com<br />

os procuradores, as evidências indicam<br />

queLularecebeu,em2014,“pelo menos<br />

R$ 1milhão, sem aparente justificativa<br />

econômica lícita, da OAS, por meio de<br />

reformas emóveisdeluxoimplantados<br />

no apartamento tipo tríplex, número<br />

164-A,doCondomínio Solaris, em Guarujá”.Lula<br />

sustenta que oapartamento<br />

não éseu ou de suafamília. Masháprovasdeque<br />

isso podenão serverdade. Há<br />

porteiros, engenheiros edirigentes da<br />

OASdizendo quetudooque foi feito no<br />

apartamentofoi emnomedoex-presidente<br />

edesua mulher,Marisa, também<br />

alvo da Aletheia.Háfotos, reveladas na<br />

quinta-feira pelo Jornal Nacional, de<br />

Lula dentrodotríplexconversandocom<br />

Léo Pinheiro, presidente da empreiteira.<br />

Há testemunhos de que dona Marisa<br />

supervisionou aobra. Eháprovas de que<br />

aOAS pagou R$ 750 mil pela reforma<br />

do imóvel eoutrosR$320 mil para mobiliar<br />

acozinha eosdormitórios. Lula<br />

afirmaque oapartamentonão éseu. Os<br />

procuradores da República expõem de<br />

maneira cristalina qual éoreal problema<br />

em Lula ter umtríplex reformado pela<br />

OASenão admitir isso:“Asuspeita é de<br />

que areforma eosmóveis constituem<br />

propinas decorrentesdofavorecimento<br />

ilícitodaOAS no esquemadaPetrobras,<br />

empresa essa cujos executivos já foram<br />

condenados por corrupção elavagem<br />

(dedinheiro) na Lava Jato”.<br />

Segundo oMinistério Público, as<br />

apurações mostram queLula comprou,<br />

em 2010, dois sítios emAtibaia, “mediante<br />

interpostas pessoas” –ouseja,<br />

laranjas. Elessão JonasSuassuna eFernando<br />

Bittar, sócios oficiais nas propriedades,<br />

queforam unificadas, esócios na<br />

Gamecorp de Fábio Luís Lula da Silva, o<br />

Lulinha, também alvo da Aletheia. O<br />

valordecomprafoi de R$ 1,5milhão.A<br />

investigação descobriu ume-mail do<br />

advogado eamigodeLulaRoberto Teixeira<br />

informando como distribuiria a<br />

propriedadedoimóvel.“O presentecaso<br />

abarca elementosque indicam ocultação<br />

patrimonial porparte de Lula esua família.”<br />

Alémdisso, há provas de queLula<br />

recebeu, tambémnaforma de reformas<br />

emóveis para osítio Santa Bárbara, ao<br />

menos R$ 770 mildaOdebrecht, da OAS<br />

edeJosé Carlos Bumlai, opecuarista<br />

presona 21 a fase da Lava Jato.OMinistério<br />

Públicoapontaainda aaltafrequência<br />

da ida dos seguranças presidenciais<br />

para Atibaia, como ÉPOCA revelou.<br />

“Ora, setais servidores apenas realizavamnesse<br />

período asegurança pessoal<br />

etransporte de Lula edesua família, é<br />

40 IÉPOCA I7demarço de 2016 Foto: Marcos Bizzotto/RawImage/ Ag.OGlobo


possível inferir queelesfrequentaram o<br />

sítiodeAtibaia, como verdadeirosproprietários,<br />

enão como merosvisitantes<br />

de ‘amigos’.”Surgiram, ainda,provas de<br />

queaOAS pagou R$ 1,3 milhão porcinco<br />

anos de armazenagemdeitens retirados<br />

doPalácio do Planalto. Quem negociou<br />

abenesse foi Paulo Okamotto,<br />

presidente do Instituto Lula desdeofim<br />

de 2011 esócio de Lula na LILS.<br />

Os agentes daPolícia Federal que<br />

atuaramnaOperaçãoAletheia levaram<br />

Lula para depor noaeroporto de Congonhas,emSão<br />

Paulo. Em suaordem de<br />

condução coercitiva –quando apessoa<br />

élevadaparadepor àforça –,ojuiz SergioMoroproibiu<br />

ouso de algemas ou a<br />

filmagem dotransporte de Lula. Mas<br />

deixou claro: “Embora oex-presidente<br />

mereça todo orespeito, em virtude da<br />

dignidade docargo que ocupou (sem<br />

prejuízo dorespeito devido aqualquer<br />

pessoa),isso não significa queestáimune<br />

àinvestigação, já quepresentes justificativas<br />

para tanto”, escreveu Moro.<br />

Lula,portanto, não estará imune àLava<br />

Jato.Aosair, depoisdequasequatro horas,<br />

Lula fez oque sabe fazer bem. Foi<br />

direto para odiretório nacional do PT<br />

e, em meio aapoiadores, fezumdiscurso<br />

indignado, noqual dividiu oBrasil<br />

em dois, falou de preconceitoeconclamou<br />

opartido aseunir. “Eu me senti<br />

um prisioneiro”, disse Lula, cercado de<br />

apoiadores,ostentando aestrela do PT<br />

do lado esquerdodopeito eaindignação<br />

na vermelhidão do rosto. “Moro não<br />

precisaria ter mandado uma coerção a<br />

minha casa, àcasados meus filhos...Era<br />

só terconvidado.”Lulasónão explicou<br />

nada quepudesseesclarecerasdúvidas<br />

sobre as palestras, sua relação com as<br />

empreiteiras, otríplexeosítio.“Eu acho<br />

queeumerecia um poucomais de respeito.<br />

(...) Eufui melhor que todos os<br />

outros presidentesdestepaís.”<br />

Lula recorreaoconforto de seupassado,<br />

onde repousa uma trajetória de<br />

vida admirável,demigrantepobre que<br />

ascendeucomometalúrgico, fundou um<br />

partido político einsistiu por quatro<br />

eleições até chegar aopoder, em2002.<br />

Enquanto esteve nopoder, eem parte<br />

graças areformas realizadas no governo<br />

anterior, Lula conduziuumprocesso de<br />

inclusão social inéditonoBrasil.Emsua<br />

gestão, oBrasil conseguiu reduzir de<br />

forma significativa amiséria, elevou milhões<br />

depessoas dapobreza àclasse<br />

média eampliou maisoacesso àeducação,áreaque<br />

marcaraagestão do professor<br />

Fernando Henrique Cardoso. O<br />

mensalão,embrião do petrolão de hoje, s<br />

7demarço de 2016 IÉPOCA I41


TEATRO DA POLÍTICA<br />

foi aprimeiramancha em suabiografia.<br />

Mesmo assim, comaajuda do marqueteiroJoão<br />

Santana edobom desempenho<br />

da economia, Lula conquistou seu<br />

segundomandato,duranteoqualatingiu<br />

níveis inéditos de popularidade e<br />

conseguiuaté mesmo eleger adesconhecida<br />

Dilma Rousseff. Deixou oPalácio<br />

do Planaltocom uma aprovaçãopopular<br />

recorde de87%. Como disse na<br />

sexta-feira, Lula acreditou que, depois<br />

disso, estaria imuneacobranças. Masa<br />

realidade <strong>mud</strong>ou. Ofato deaPolícia<br />

Federal terlevadoLula, uma ex-autoridade<br />

emblemática, sobordem da Justiça,<br />

devido auma investigação do Ministério<br />

Público, mostra que oBrasil<br />

começa aser um país onde todos, sem<br />

exceção,estão sujeitos àmesma lei.<br />

As reações ao choque diantedaimagem<br />

de um ex-presidente do tamanho<br />

de Lula sendo levado por agentes da<br />

Polícia Federal foram imediatas epassionais.<br />

Dirigentes petistas considerarama24<br />

a fase da OperaçãoLavaJato um<br />

espetáculo político. Pelas redes sociais,<br />

oInstituto Lula publicou uma nota de<br />

repúdio ao que chamou de “violência<br />

contra Lula”–no texto daentidade, a<br />

expressão “nadajustifica” apareceu cinco<br />

vezes. Nas palavras do presidente<br />

nacional do PT,Rui Falcão, “não se trata<br />

de combater acorrupção, mas simplesmentedeatingir<br />

oPT, opresidente<br />

Lula eogoverno da presidente Dilma”.<br />

No final dodia, apresidente Dilma fez<br />

um pronunciamento. Dedicou apenas<br />

um minuto e50segundos, dos 11minutosdediscurso,aoapoio<br />

ao ex-presidente.<br />

“Quero manifestar meu mais<br />

absolutoinconformismo comofato de<br />

oex-presidente Lula,que porváriasvezes<br />

compareceu de forma voluntária<br />

paraprestar esclarecimentos perante as<br />

autoridades competentes, esteja agora<br />

submetido auma desnecessária condução<br />

coercitiva para prestar mais um<br />

depoimento”, afirmou.“No ambiente<br />

republicano edemocrático, oprotagonismodaConstituição<br />

sobaorientação<br />

do STF constitui importantesalvaguarda.<br />

Segundo entendimento denossa<br />

Suprema Corte, orespeito aos direitos<br />

individuais passa nas investigações pela<br />

adoção de medidas proporcionais, que<br />

jamaisimpliquememprovidênciasmais<br />

AS SUSPEITAS<br />

SOBRE LULA<br />

Todososcasos<br />

que envolvem o<br />

presidenteestão<br />

sobinvestigação<br />

Na operação na sexta-feira, dia4,osprocuradores<br />

da Lava Jato também buscam provas para<br />

ainvestigação sobretráficodeinfluência. Os<br />

procuradores do NúcleodeCombateàCorrupção<br />

em Brasília investigamseLula atuou em favor<br />

da Odebrecht em países da América Latina e<br />

da África,conforme revelou ÉPOCA, paraobter<br />

obras eempréstimosnoBNDES.Osprocuradores<br />

detectaram queaOdebrecht bancavapalestras<br />

de Lula em países onde tinha interessee,depois,<br />

conseguia empréstimos no banco oficial paraesses<br />

projetos, em velocidade mais rápida que onormal.<br />

Há suspeita de queLularecebeuR$7milhões<br />

Aforça-tarefa da<br />

Operação Lava Jato<br />

investiga se os valores<br />

queLula recebeu<br />

porsua empresa de<br />

palestras,aLILS, e<br />

pelo InstitutoLula,<br />

das empreiteiras<br />

Odebrecht,OAS,<br />

AndradeGutierrez,<br />

QueirozGalvão eUTC<br />

são, na verdade, propina<br />

vindadopetrolão<br />

42 IÉPOCA I7demarço de 2016


Os procuradores afirmam<br />

que Lula podeter sido<br />

beneficiado por, pelo menos,<br />

R$ 4,5milhões do petrolão<br />

pelas reformas ecompra de<br />

móveis para oapartamento<br />

tríplex no Guarujáeo<br />

sítio em Atibaia,além da<br />

armazenagem de bens de<br />

Lula poruma transportadora<br />

OMinistérioPúblicoafirma<br />

queocorreu pagamento<br />

de propina “paraparente<br />

do ex-presidente”por um<br />

contratoentre ogrupo<br />

Schahin eaPetrobras.<br />

OSchahinganhou o<br />

contratoemtroca de um<br />

empréstimoparaoPT<br />

Um dosfilhos de Lula,Luís Cláudio Lula da<br />

Silva, éinvestigadoemoutra operação da<br />

Polícia Federal, aZelotes, porenvolvimento<br />

em um esquema de vendademedidas<br />

provisórias.Hásuspeita de fraude no<br />

Conselho AdministrativodeRecursos<br />

Fiscais,com prejuízo de cercadeaté R$<br />

19 bilhões, para reverter ou anular multas<br />

tributárias aplicadas pelo governo<br />

Em sua delaçãopremiada,<br />

segundoarevista IstoÉ,osenador<br />

DelcídiodoAmaral (PT-MS)<br />

acusa Lula de termandado<br />

comprarosilêncio do ex-diretor<br />

da PetrobrasNestorCerveró, que<br />

foipreso por envolvimento no<br />

petrolão. Aintençãoéevitar que<br />

eledenunciasseopecuarista José<br />

CarlosBumlai, amigo de Lula<br />

fortes, ou seja, mais gravosas, do que<br />

aquelasnecessárias paraoesclarecimento<br />

dosfatos.”Notempo restante,Dilma<br />

apenas rebateu as acusações feitas pelo<br />

senador Delcídio do Amaral sobre seu<br />

envolvimentonoescândalo de Pasadena<br />

(leiaareportagem na página 44).<br />

AOperação Aletheia buscou não<br />

apenas Lula, mas os que ocercam. Os<br />

agentesseguiramemcarrosoficiais ainda<br />

de madrugadaparacumprir44mandados–33de<br />

buscaeapreensão e11de<br />

condução coercitiva–emtrês Estados:<br />

São Paulo,Bahia eRio de Janeiro. Dos<br />

55 alvos (entre pessoas físicas ejurídicas),<br />

há cincofamiliares de Lula: amulher<br />

dele, Marisa Letícia,osfilhosMarcosCláudio,<br />

Fábio Luís eSandroLuís e<br />

anoraMarlene Araújo.Comonão havia<br />

um mandado para ela, donaMarisanão<br />

seguiu com Lula. Foi uma operação<br />

atípica, cercadademaiorsegurança. Foram<br />

30auditores fiscais e200 policiais<br />

federais, inclusive integrantes da força<br />

tática da PF,acionados devidoàpossibilidade<br />

de precisar contornar aglomerações<br />

de pessoas, como aconteceu em<br />

frente ao prédio de Lula.<br />

Na casa de Lula, os policiais já perceberamque<br />

haviaalgoincomum. Lula não<br />

foi acordadopelos agentes: seus seguranças<br />

chegaram basicamente aomesmo<br />

tempo que os homens da PF.Háuma<br />

semana, aequipe doex-presidente passouater<br />

uma movimentação de horários<br />

diferente,entrandomais cedo queonormal.<br />

Atranquilidade reforça asuspeita<br />

de vazamento de informações sobre a<br />

operação.Ovazamento ficou mais claro<br />

na visita dospoliciaisàsededoInstituto<br />

Lula, no bairro do Ipiranga. Policiaisforamaolocal<br />

parabuscar documentos e<br />

computadoresque indicassemprovas do<br />

relacionamentodeLula comempreiteiraseosimóveis<br />

investigados. Masforam<br />

surpreendidos. “O Instituto foi ‘limpo’<br />

antes das buscas. Alguém se precaveu,<br />

escondendo oque podia”, dizuma fonte<br />

comacesso às investigações. Nãoforam<br />

encontradoscomputadores edocumentos<br />

impressos no cumprimentodomandado<br />

de busca eapreensão no local. u<br />

Com Alana Rizzo, AlineRibeiro,<br />

AnaClara Costa, Thais Lazzeri,<br />

Vinicius Gorczeski e Zé Enrico Teixeira<br />

7demarço de 2016 IÉPOCA I43


TEATRO DA POLÍTICA<br />

Aproposta de<br />

delaçãopremiada<br />

de Delcídio do Amaral<br />

éumataque ao PT<br />

vindo dasentranhas<br />

do próprio PT<br />

FilipeCoutinho e Talita Fernandes<br />

mnovo tipo de agonia começou<br />

na quinta-feira passada para o<br />

governo Dilma Rousseff –uma<br />

gestão emparedada entre aparalisia<br />

política, acrise econômica<br />

easacusações de corrupção. Onovo<br />

motivodeagonia éosenador Delcídio<br />

do Amaral, do PT de Mato Grosso do<br />

Sul, ex-líder do governonoSenado, ter<br />

aceitadocolaborar comasinvestigações<br />

do Ministério Público eda Polícia Federal.<br />

Na semana passada, começaram<br />

asurgir versões do conteúdodadelação<br />

premiada do senadorpetista.<br />

Delcídio foi preso em flagrante em<br />

novembro. Uma gravação mostrava o<br />

senador petista arquitetandoafuga do<br />

ex-diretor da Petrobras eamigo Nestor<br />

Cerveró (o ex-executivo está preso<br />

desde janeiro de 2015, por participar<br />

do esquema que lesava aestatal ebeneficiava<br />

oPT).Delcídio se considerou<br />

abandonado pelo PTnos últimos meses<br />

efez jogo duplo.Para oseleitores e<br />

seupartido,jurou inocênciaedisse que<br />

não tinha nenhuma contribuição adar<br />

àinvestigação. Ao mesmo tempo, conversava<br />

com aProcuradoria-Geral da<br />

República sobreuma delaçãopremiada.<br />

Na quinta-feira, tornaram-se públicos<br />

na revista IstoÉ trechos de texto da versão<br />

preliminar da delação premiada de<br />

Delcídio (leia oquadronapágina 46).<br />

Segundo orelato, as acusações de<br />

Delcídio contra Dilma incluem tentativas<br />

de influenciar aJustiça para soltar<br />

empresários presos, principalmente<br />

Marcelo Odebrecht, eanuência com a<br />

compra lesiva àPetrobras da refinaria<br />

americana de Pasadena, em 2006. Outra<br />

acusação éque acampanha de Dilma<br />

em 2010 recebeudinheiroilegalmente,<br />

por meio de contratos falsos de prestação<br />

de serviços. Orelato atribui a<br />

Delcídio também acusações contra o<br />

ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva<br />

eoministro do Superior Tribunal de<br />

Justiça (STJ) Marcelo Navarro. Delcídio<br />

afirmou não reconhecer ostextos<br />

divulgados.“Jamais falei comosenador<br />

aesse respeito”, disse Dilma, na sextafeira,<br />

dia 4, àtarde.“Nessa hipotética<br />

delação,osenador Delcídio do Amaral<br />

teria afirmado que meu governo teria<br />

feito gestões junto aoPoder Judiciário<br />

para<strong>mud</strong>ar os rumos da Operação Lava<br />

Jato.(...) Em nota, opresidente da Suprema<br />

Corte desmentiu essa absurda<br />

questão”, afirmou apresidente.<br />

Oministro da Casa Civil, Jaques<br />

Wagner, foi alertado na manhã da<br />

quinta-feira sobre as acusações. Ligou<br />

para osministros Edinho Silva (Comunicação<br />

Social) eRicardo Berzoini<br />

(Secretaria de Governo). Os três ministros<br />

sereuniram com Dilma eseu<br />

assessor especial Giles Azevedo.“Um<br />

mentiroso”, diziaJaques, em referência<br />

ao ex-líder do governo. Houve quem<br />

defendesse na reunião que não fosse<br />

elevado otom contra Delcídio, um<br />

petista graduado,frequentador do Palácio<br />

do Planalto. Outros ponderaram<br />

que aresposta tinha de ser dura, para<br />

afastar qualqueracusação quepossa incriminar<br />

apresidente.Minutos depois,<br />

Dilma deu posse ao novo ministro da<br />

Justiça, Wellington Lima eSilva. Ao término<br />

da cerimônia, Wagner eassessores<br />

da Secretaria de Comunicação levaram<br />

areportagem aDilma. Andandodeum<br />

lado para ooutro, apresidente soltou<br />

alguns xingamentos epalavrões.<br />

Ao lerotexto comasacusações atribuídas<br />

aDelcídio, apresidente passou<br />

aapontar trechos, pedindo que fossemdesmentidos<br />

na resposta queseria<br />

dada pelo Palácio do Planalto. “É um<br />

mentiroso”, dizia.“Isso aqui? Nunca<br />

estive com ele nos jardins do Alvorada”,<br />

questionava. Apontava para um<br />

trecho em que Delcídio afirmava ter<br />

ouvido um pedidodapresidente,para<br />

que ele falasse com onovo ministro<br />

do STJ afimdepedir que ele soltasse<br />

os empreiteiros Marcelo Odebrecht e<br />

Otávio Marques deAzevedo, daAndrade<br />

Gutierrez. Segundo odelator,a<br />

conversa teria sedado nos jardins do<br />

Palácio da Alvorada. AJosé Eduardo<br />

Cardozo, que acabava de deixar o s<br />

I<br />

I


AGONIA<br />

Dilma Rousseff no<br />

Palácio do Planalto.<br />

Um governo já em<br />

frangalhos agora<br />

sofretambém com<br />

acusações de um<br />

petista graúdo<br />

Foto: Fernando Donasci/Ag.OGlobo<br />

I<br />

I


TEATRO DA POLÍTICA<br />

OQUE DIZDELCÍDIO – EOQUE R<br />

Confiraoque éversãoeoque éfato,até omomento, na<br />

DELCÍDIO<br />

DO AMARAL<br />

Senador<br />

(PT-MS),<br />

presodesde<br />

novembro<br />

MENSALÃO<br />

[ACUSAÇÃO]•No governo Lula, em<br />

2005,oentão ministrodaFazenda,Antonio<br />

Palocci, comprou osilêncio do publicitário<br />

Marcos ValérionaCPI dosCorreios<br />

LAVA JATO | PETR<br />

[FATO]•Conversoucom Navarroantes<br />

de ele sernomeado ministrodoSTJ<br />

[ACUSAÇÕES]•Dilma tentou<br />

interferir na Lava Jato,aonomear como<br />

ministrodoSTJ MarceloNavarro<br />

• Dilma já tentarainterferir na<br />

Lava Jato duas vezes antes<br />

DILMA<br />

ROUSSEFF<br />

Presidente<br />

da República<br />

[FATO]•Nomeou paraoSTJ,<br />

em setembro, Marcelo Navarro.<br />

Em dezembro, ele votoupela<br />

soltura de Odebrecht<br />

[DEFESA]•Negaconhecimento<br />

de que oprocesso de compra<br />

da refinaria de Pasadena<br />

LUIZ INÁCIO<br />

LULA DA<br />

SILVA<br />

Ex-presidente<br />

da República<br />

[DEFESA]•Negaparticipação em<br />

qualquer ilegalidade.“Oex-presidente<br />

Lula jamais participou, direta ou<br />

indiretamente, de qualquer ilegalidade,<br />

antes, duranteoudepoisdeseu governo”,<br />

afirma nota divulgadapelo InstitutoLula<br />

[FATO]•Na semana passada,aPF<br />

tomoudepoimentodoex-presidente<br />

porque há suspeitasdeque ele se<br />

beneficioudecontatoscom fornecedoras<br />

da Petrobras. Masnão há sinal, atéagora,<br />

de que Delcídio tenhafalado sobreisso<br />

MARCELO<br />

NAVARRO<br />

Ministro do<br />

Superior<br />

Tribunal de<br />

Justiça(STJ)<br />

[FATO]•Conversou comDelcídio<br />

antes de sernomeado ministro do<br />

STJ. Foinomeado porDilma. Ao<br />

entrar no STJ, adotou onome Ribeiro<br />

Dantas.Emdezembro, no STJ,<br />

votoupela solturadeOdebrecht<br />

Ministério da Justiça, Dilma ordenou<br />

um pronunciamento àimprensa. “Vá<br />

lá emostre queissonão se sustenta em<br />

pé”,disse apetista. Não ébem assim.<br />

Há elementos dainvestigação que<br />

colocam sob suspeita acampanha da<br />

presidente,aoassociá-laàsempreiteirassuspeitas<br />

de fraudecontra aPetrobras.<br />

Um celular de Marcelo Odebrecht<br />

apreendido pela Lava Jato continha a<br />

seguinte anotação: “Dizer do risco<br />

cta suíça chegar campanha dela?”. A<br />

Odebrecht mantinha mesmo contas<br />

secretas na Suíça.<br />

De acordo com orelato tornado<br />

público nasemana passada, Delcídio<br />

destacou opapel de Navarro, do STJ,<br />

eoacusou de aceitar amissão dada<br />

por Dilma,delibertar os empresários<br />

Odebrecht e Azevedo. Navarro foi<br />

nomeado para oSTJ em setembro e<br />

realmente votouafavordeOdebrecht,<br />

em novembro. Foi voto vencido, eo<br />

empresário continuapreso.<br />

No STJ, Navarrotomou umamedida<br />

curiosa assim queentrou. Abandonou<br />

onomeque usava como desembargadorepediu<br />

para seridentificadocomo<br />

Ribeiro Dantas –osdois sobrenomes<br />

quenão usava. Assim, RibeiroDantas,<br />

no STJ, votou afavor de Odebrecht e<br />

usoucomoargumento queagravidade<br />

dos crimes sob investigação –desvio<br />

46 I ÉPOCA I 7demarço de 2016


ESPONDEM OS ENVOLVIDOS<br />

colaboração do senador petista comosinvestigadores<br />

OBRAS | PETROLÃO PRIMEIRACAMPANHADE DILMA ZELOTES | CARF<br />

• Lula ordenou opagamento de<br />

mesada ao ex-diretor da Petrobras<br />

Nestor Cerveró,paraevitar que ele<br />

aceitassefazer uma delaçãopremiada<br />

• Navarroaceitou ocompromisso<br />

comogoverno de,noSTJ,votar pela<br />

solturados empresáriosMarcelo<br />

Odebrecht eOtávio de Azevedo<br />

[ACUSAÇÃO]•Acampanha de Dilma de<br />

2010 recebeudinheirodooperador Adir<br />

Assad, pormeio de contratosfalsos de<br />

prestaçãodeserviços comvárias empresas<br />

[ACUSAÇÃO]•Lula pediu aDelcídio que<br />

evitasseaconvocaçãodolobista Mauro<br />

Marcondesparadepor na CPI do Conselho<br />

AdministrativodeRecursos Fiscais,que<br />

investigavaavenda de decisões tributárias<br />

favoráveis agrandes contribuintes no<br />

Carf, órgãodoMinistério da Fazenda<br />

seria danoso àPetrobras<br />

• Negater interferido na Operação<br />

Lava Jato eter intercedido<br />

poralvos da investigação<br />

• Negater se reunido comDelcídio<br />

nosjardins do Palácio da Alvorada<br />

• Negater tratadocom Delcídio<br />

sobreanomeaçãodeNavarro<br />

[DEFESA]•Acampanha de<br />

2010 trabalhou só com doações<br />

declaradas elegais,afirmam a<br />

presidenteeoPT<br />

[DEFESA]•Negaparticipação em<br />

qualquer ilegalidade.“Oex-presidente<br />

Lula jamais participou, direta ou<br />

indiretamente, de qualquer ilegalidade,<br />

antes,duranteoudepoisdeseu governo”,<br />

afirma nota divulgadapelo InstitutoLula<br />

[DEFESA] •Negater conversado com<br />

Delcídio sobreosréus do petrolão<br />

de bilhões de reais de uma empresa<br />

estatal econluio com políticos –não<br />

eramotivoparamantê-lo preso.Oministro<br />

usouainda como justificativao<br />

fato de aOdebrecht não precisar de<br />

seu presidente para cometer crimes,<br />

uma lógica que seaplica aqualquer<br />

chefe de quadrilha. Quando desembargador,<br />

Navarro foi maisrigoroso ao<br />

interpretar periculosidade. Em 2006,<br />

votou pela prisão de um suspeito de<br />

fraudeemcódigos de barradeboletos,<br />

adespeito de oacusadoser réu primário,<br />

ter emprego eresidênciafixa.<br />

Navarro admite ter se encontrado<br />

com Delcídio antes de receber a<br />

nomeação,mas refuta ter conversado<br />

comele sobreosréus do petrolão.Seus<br />

colegasdeSTJ cobram, porenquanto<br />

informalmente, queele seja investigado<br />

pelo Conselho Nacional de Justiça.<br />

Opresidente do STJ,FranciscoFalcão,<br />

nega quetenha havido qualquerpressão<br />

do governo sobre oSTJ.<br />

Adelação de Delcídiopassará ainda<br />

pelo crivo doSupremo Tribunal Federal,<br />

afim de serhomologada, edos<br />

investigadores, para que se verifique<br />

apoio emprovas. Dependendo dos<br />

desdobramentos, ogoverno Dilma,<br />

que jánão tem poucos inimigos, terá<br />

de enfrentar mais um –eestesurgido<br />

nas entranhas dopróprio governo. u<br />

7demarço de 2016 I ÉPOCA I 47


TEATRO DA POLÍTICA<br />

Opresidente da Câmara<br />

sofre dupladerrota–<br />

oSupremo aceita denúncia<br />

contraele eoConselho<br />

de Éticaabreprocesso para<br />

acassação de seu mandato<br />

Talita Fernandes<br />

mumintervalodemenos de 24 horas,Eduardo<br />

Cunha sofreu na última<br />

semana suas duas maioresderrotas<br />

desdeque assumiuapresidência da<br />

Câmarados Deputados, em fevereiro<br />

de 2015. Na madrugada daquartafeira,<br />

dia 2, oConselho de Ética finalmente<br />

deu prosseguimento aoprocesso<br />

de cassação de Cunha. No mesmo dia,<br />

oSupremo Tribunal Federal (STF) formou<br />

maioria, comvotodeseisministros,<br />

afavordaaceitação da denúncia contra o<br />

parlamentar na Lava Jato.Naquinta-feira,<br />

adecisão de transformar opresidente da<br />

Câmara emréu, por envolvimento no<br />

escândalo do petrolão, foi confirmada<br />

pela unanimidade dosministros. Cunha<br />

éacusado por corrupção elavagem de<br />

dinheiro, edereceber propina no Brasil<br />

enoexterior (leia na página 50).<br />

Aindaque orecebimento da denúncia<br />

já fosse esperadonoCongresso–epelo<br />

próprioCunha –,parlamentares começaram<br />

aver,apartirdadecisão unânime,<br />

apossibilidadedeuma viamais rápida<br />

paraoandamentodos processos contra<br />

ele tanto na Câmara quanto noSupremo.Asucessão<br />

de derrotas expõeatrajetória<br />

declinante do ex-todo-poderoso<br />

presidente da Câmara. Ao sertransportado<br />

da condiçãodeinvestigadoparaa<br />

de réu, Cunha torna-se umalvo mais<br />

vulnerável. Até aação proposta pelo<br />

procurador-geral da República, Rodrigo<br />

Janot, que pediu,nofimde2015,o<br />

afastamento de Cunha da presidência<br />

da Câmara edo exercício do mandato,<br />

pela acusação de queele usa ocargo em<br />

benefício próprio, pode agora vingar.<br />

Ainda não há data para que opedido<br />

seja colocado na pauta de votação do<br />

Supremoe,nos bastidores, os ministros<br />

não chegaram aum consenso sobre a<br />

viabilidadedopedidodaProcuradoria-<br />

GeraldaRepública (PGR).<br />

Ao se pronunciar sobre adecisão do<br />

STF,Cunha voltou aadotar aestratégia<br />

do ataque como melhordefesa eprovocou<br />

ospetistas. “Delação premiada nos<br />

olhos dos outros épimenta; nos olhos<br />

deles érefresco”,afirmou. “O PT não é<br />

coerente.Paraatacar os outros,aquilo que<br />

eletenta usar parasedefender não vale.”<br />

Oturbilhãopolíticotorna imprevisívelqualquer<br />

prognósticosobre ofuturo<br />

de Cunha. De um lado, aevolução do<br />

processo implica menos apoio para o<br />

presidente da Câmara e,com isso,menos<br />

chances de ele articular ofensivas<br />

contra ogoverno. Porém, afragilidade<br />

em queoPlanaltoeoPTseencontram e<br />

os desdobramentos da Lava Jato podem<br />

inverter ojogooutra vez.<br />

Ogoverno comemora cada derrota de<br />

Cunha –mas, ironicamente,seu afastamentodocargonão<br />

pareceamelhorsaída<br />

paraoPlanalto. Dilma Rousseff temuma<br />

série de projetos pendentesnoCongresso<br />

–paraque aeconomia do país possa sair<br />

da UTI –que dependem de uma decisão<br />

de Cunha paraque sejamvotadospelos<br />

deputados. No melhordos cenários para<br />

oPlanalto, Cunha permanece no cargo,<br />

mas enfraquecidoecom poucoapoio dos<br />

deputados. Nessa situação,Cunha poderiamostrarmaioraberturaparaodiálogo<br />

eceder em eventuaisnegociações futuras<br />

comogoverno.Ogovernoacredita,também,<br />

que apermanência de Cunha na<br />

presidência da Câmara éumobstáculo<br />

para oandamento doprocesso de impeachment<br />

de Dilma, cuja legitimidade<br />

podeser mais facilmentequestionada ao<br />

serconduzidopor um réu no STF.<br />

Na sessão do Supremonaquarta-feira,<br />

chamou aatenção que cinco ministros<br />

resolveramantecipar seuvotoafavor da<br />

aceitação da denúncia contra Cunha –<br />

mesmodepoisqueopresidentedaCorte,s


Foto: Fernando Donasci/Ag.OGlobo<br />

OCARGO COMO<br />

TRINCHEIRA<br />

Opresidente da<br />

Câmara, Eduardo<br />

Cunha.Apesar<br />

da decisão do<br />

Supremo Tribunal<br />

Federal, ele não<br />

vaideixar ocargo


TEATRO DA POLÍTICA<br />

Ricardo Lewandowski, decidiu encerrá-la<br />

após aleituradovotodoministro<br />

TeoriZavascki, devido ao horário avançado.Após<br />

amanifestação do relator,a<br />

ministra Cármen Lúciapediu apalavra<br />

eantecipou seuvoto, queacompanhou<br />

Zavascki. Omesmo movimentofoi feito<br />

pelosministrosMarco Aurélio Mello,<br />

Rosa Weber, Luís Roberto Barroso e<br />

Edson Fachin. Na retomada do julgamento,<br />

na tarde de quinta-feira, votaram<br />

pela abertura da ação penal de Cunha os<br />

ministros Dias Toffoli,Gilmar Mendes,<br />

Celso de MelloeRicardo Lewandowski.<br />

Oministro Luiz Fuxnão compareceu às<br />

sessões porestar em viagemaPortugal,<br />

onde participava de um seminário.<br />

Os ministros decidiram que Cunha<br />

deve responder auma ação penal pela<br />

acusação dos crimes de lavagem de dinheiro<br />

ecorrupção passiva. OTribunal<br />

viu indícios de que Cunha se valeu do<br />

mandato de deputado federal para cobrar<br />

orecebimentodeUS$ 5milhões em<br />

propina. Comadecisão,Cunha tornouse<br />

oprimeiro parlamentar avirar réu<br />

no escândalo do petrolãopelas mãos do<br />

Supremo.AProcuradoria-GeraldaRepúblicajáofereceu<br />

também denúncia contra<br />

os deputadosVander Loubet (PT-MS),<br />

Arthur Lira(PP-AL) eossenadores FernandoCollor(PTB-AL)<br />

eBeneditoLira<br />

(PP-AL),mas nenhum doscasos foi ainda<br />

apreciado pelos ministrosdoSupremo.<br />

Além de Cunha, aex-deputada federal<br />

Solange Almeida (PMDB-RJ),<br />

atual prefeita de Rio Bonito,noEstado<br />

do Rio deJaneiro, também se tornou<br />

DESTRAVOU<br />

Avotação do<br />

Conselho de Ética da<br />

Câmaraque abriu<br />

processo contra<br />

Eduardo Cunha.O<br />

presidente do<br />

Conselho deu ovoto<br />

de minerva<br />

AVIDADIFÍCIL<br />

DE EDUARDOCUNHA<br />

Ele éoprimeiropresidente<br />

da Câmararéu no Supremo<br />

Tribunal Federal ealvodeum<br />

processo no Conselho de Ética<br />

AS ACUSAÇÕES<br />

Propina de navios-sonda<br />

Cunha éacusadodecobrarUS$ 5<br />

milhões do lobista JúlioCamargo,<br />

da Toyo Setal, para nãoatrapalhar<br />

um contrato de fornecimento de<br />

navios-sonda para aPetrobras<br />

Contas no exterior<br />

Cunha éacusadodereceber1,3 milhão<br />

de francos suíços em propinaspara<br />

intermediarcontratosdeexploração<br />

de petróleo da PetrobrasemBenin, na<br />

África.Osdepósitos teriam sido pagos<br />

pelo lobistadoPMDB João Augusto<br />

Henriques em contas na Suíça<br />

ré na ação penal. Segundo adenúncia<br />

do Ministério Público Federal, Solange<br />

foi aautoradedoisrequerimentos que<br />

foram usados por Cunha para pressionar<br />

aSamsung Heavy Industries alhe<br />

pagar uma propinadepelomenos US$<br />

5milhões,referentesacontratos de um<br />

navio-sonda firmado entreaSamsung e<br />

aPetrobras. Os pagamentos,segundoa<br />

Procuradoria-GeraldaRepública,foram<br />

feitos porintermédio do lobista edelator<br />

FernandoSoares, oFernandoBaiano.<br />

Integrantes do Grupo deTrabalho<br />

da PGR queatuanaLavaJatoacompanharamasessãodaquarta-feiranoSTF.<br />

Normalmente, apenas oprocuradorgeral,<br />

RodrigoJanot, ou um representante<br />

seuacompanha asessão. Ao deixar o<br />

STF na quinta-feira, Janot afirmou:“Foi<br />

ótimo. Foiaprimeiradenúncia da Lava<br />

Jato recebida pelo STF”.<br />

No julgamento, odecano da Corte,<br />

ministro Celso de Mello, reproduziu<br />

parte de um de seus votos no caso do<br />

mensalão, oesquema de compra de<br />

apoio político no Congresso durante o<br />

governo Lula.Deacordo com oministro,<br />

opetrolão revela episódios criminosos<br />

que“sãovasto paineldeassaltoe<br />

mostram acaptura doEstado”. Ocaso<br />

do mensalãofoi lembrado também por<br />

GilmarMendes, queafirmou queaLava<br />

Jato éomaiorfilhotedomensalão (leia<br />

mais sobrearelaçãoentre aLavaJatoeo<br />

mensalão apartirdapágina 42).<br />

Logo após o julgamento, Cunha<br />

manteve-se impassível em sua decisão<br />

de permanecernapresidência da Câmara,mesmo<br />

na condição de réu.Emrelação<br />

àdecisão do Conselho de Ética de<br />

abrirprocesso comvistas asua cassação,<br />

Cunha disse quevai apresentar recurso à<br />

Comissão de Constituição eJustiça, hoje<br />

comandada porumdeseusaliados,odeputado<br />

Arthur Lira, também investigado<br />

pela Lava Jato.Cunha alega queoresultado<br />

do Conselho de Éticanão éválido,<br />

já quefoi decididopelovotodeminerva<br />

do presidente da comissão,odeputado<br />

José Carlos Araújo (ex-PSD eatual PR,<br />

da Bahia). Cunha diz que aatuação de<br />

Araújo no Conselho de Ética suscitou<br />

acusações de suspeiçãoque estãopendentesdeapreciação.Épossível<br />

queanovela<br />

da cassação de Cunha, quesearrasta por<br />

meses, tenha ainda alguns capítulos. u<br />

50 I ÉPOCA I 7demarço de 2016<br />

Foto: Lucio Bernardo Jr


TEATRO DA POLÍTICA<br />

Oex-presidente do PP Pedro<br />

Corrêa, presonaLavaJato,<br />

negocia umadelação destinada<br />

aexplodir aRepública –o<br />

foco principal sãoepisódios<br />

envolvendo oex-presidente Lula<br />

Thiago Bronzatto e Talita Fernandes<br />

mseu pedidodebusca eapreensão<br />

para a24 a fase da Operação Lava<br />

Jato, osprocuradores da forçatarefa<br />

expuseram aanatomia do<br />

petrolão: “A estrutura criminosa<br />

perdurou por, pelo menos, uma década.<br />

Nesse arranjo,ospartidoseaspessoas<br />

que estavam no governo federal, dentreelasLula,<br />

ocuparam posição central<br />

em relação aentidadeseindivíduos que<br />

diretamentesebeneficiaram do esquema”.<br />

Os investigadores ainda reforçam<br />

que acorrupção só se alastrou devido<br />

a“vinculação de legendas políticas que<br />

compunham abase aliada do governo<br />

federal”.Umexemplo disso,destacado<br />

pelo próprio Ministério Público Federal,<br />

éoex-deputado Pedro Corrêa,<br />

ex-presidente do Partido Progressista<br />

(PP) epreso na Lava Jato há quase um<br />

ano.Ele eraoresponsável porgarantir<br />

asustentação de seu partido ao governo.<br />

Emtroca, recebia aspropinas geradas<br />

apartir dos contratos fechados<br />

na diretoria de abastecimento daPetrobras,<br />

comandada pelo delator Paulo<br />

Roberto Costa. Aos 68 anos de idade,<br />

Pedro Corrêa, que teve seis mandatos<br />

no Congresso desde adécada de 1970<br />

efoi condenado nomensalão,sabe de<br />

muita coisa. Testemunhou episódios<br />

marcantes da história da República,<br />

do general João Figueiredo aDilma<br />

Rousseff. Ecom base em suas próprias<br />

experiências, relatadas em primeira<br />

pessoa, ele avança em sua negociação<br />

de delação premiada, que está prestes<br />

aser assinada. De acordo com oexparlamentar,Lulasabia<br />

da existência do<br />

petrolãoesabia da função exercida no<br />

esquema pelo ex-diretor da Petrobras<br />

Paulo RobertoCosta.<br />

Dos 73capítulos edos mais de<br />

130 agentes políticos citados naproposta<br />

de delação premiada de Pedro<br />

Corrêa, opersonagem principal éo<br />

ex-presidente, segundo investigadores<br />

ouvidos por ÉPOCA.Aprincípio,<br />

Pedro Corrêa ofereceu aos investigadorescontarcincoepisódios<br />

comprometedores<br />

envolvendo Lula –que, no<br />

finaldas contas, tornaram-seumúnico<br />

tópico. Foigraçasaessetópicoque os<br />

procuradores da Lava Jato decidiram<br />

aceitar acolaboraçãodeCorrêa. Nele,<br />

há diversos relatosdeencontros realizados<br />

entreCorrêaeLula.Num deles,<br />

oPPcobra mais espaço no esquema<br />

de propina da Petrobras. Lula,segundo<br />

Corrêa, teria dito que “Paulinho”,<br />

apelido de Paulo Roberto, indicado<br />

pelo ex-presidente para adiretoria de<br />

abastecimento da estatal, feudo divi-<br />

I<br />

I<br />

Foto: Sergio Lima/Folhapress


PASSADO<br />

Oex-deputado<br />

PedroCorrêa,<br />

preso na Lava<br />

Jato. Sua<br />

proposta de<br />

delaçãoparece<br />

um livro de<br />

memórias<br />

dido entre PP ePT, estava atendendo<br />

bemopartido da base aliada.<br />

Em outra passagem,Corrêa relata o<br />

queseria uma interferênciadiretadeLula<br />

na Petrobras. Segundo oex-deputado,<br />

entre2010 e2011, ele eseu colega de partido<br />

João Pizzolatti foram aoescritório<br />

do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh,<br />

petista históricoepróximo aLula.Quando<br />

chegaram lá, numa tarde durante a<br />

semana, encontraram MarcosValério e<br />

um empresário,doqual odelator não se<br />

recordaonome. Greenhalgh,Valérioeo<br />

empresário queriam que Pedro Corrêa<br />

ePizzolatti osajudassem afechar uma<br />

operação de compra evenda de petróleocom<br />

aáreadaPetrobras comandada<br />

porPaulo RobertoCosta. De acordo com<br />

Corrêa, onegócio geraria um lucroalto<br />

–e,portanto, oPPresolveu abocanhar<br />

uma fatia do dinheiro. Após aconversa,<br />

Corrêa ePizzolattiforam falar comPaulo<br />

Roberto Costa, que recusou fechar<br />

contrato, porque oempresário não<br />

tinha uma boa fama dentro daPetrobras.Alguns<br />

meses depois, aoperação<br />

foi feita. De acordo com oex-presidente<br />

do PP, Lula interferiu para que<br />

atransação saísse. Apartirdadelação,<br />

oMinistério Público investigará para<br />

onde foram os pixulecos do negócio.<br />

Oembrião do esquema do petrolão,<br />

segundo Corrêa, era omensalão.<br />

No anexo 2,Pedro Corrêa conta que,<br />

em meadosde2004, aDinamo Distribuidora<br />

dePetróleo depositou R$1,7<br />

milhão na contabancáriada2SParticipações,<br />

do operador Marcos Valério.<br />

Quando orepasse veio àtona, aexplicação<br />

dada pela Dinamo era que a<br />

empresa tinha comprado 25 títulos da<br />

Eletrobras paraquitar dívidas tributá-<br />

rias com ogoverno federal, operação<br />

intermediada por Valério. No entanto,Corrêa<br />

afirma emsua proposta de<br />

delação que ovalor de R$ 1,7 milhão<br />

era adevolução aMarcos Valério de<br />

um adiantamento –adiantamento de<br />

propina paga nomensalão.Emtroca,<br />

aDinamo faturava com um contrato<br />

comaPetrobras paradistribuir45milhões<br />

de litrosdeálcoolanidroque estariaminfectadoseseriam<br />

redestilados<br />

paravoltar ao mercado. “O petrolãoe<br />

omensalão são amesma coisa”,afirma<br />

oex-presidente do PP em suaproposta<br />

de delação.“Desde 2004, opetrolão<br />

financiava omensalão. Apessoa<br />

responsável para pedir àDinamo que<br />

fizesse odepósitonaconta da empresa<br />

de Marcos Valério foi oex-assessor do<br />

PP João Cláudio Genu –aolado José<br />

Janene, morto em2010.<br />

s<br />

I<br />

I


TEATRO DA POLÍTICA<br />

Essa não éaprimeira vez que a2S,<br />

de Marcos Valério, famoso operador do<br />

mensalão,apareceligadaaoPetrolão. No<br />

ano passado, foi encontrado no escritório<br />

deMeire Poza, ex-contadora do<br />

doleiroAlberto Youssef, um contrato de<br />

umaoperação de empréstimo no valor<br />

de R$ 6milhões, firmado entrea2SParticipações<br />

eaExpressoNovaSantoAndré,deRonan<br />

MariaPinto –empresário<br />

que ficou famoso no escândalo de corrupção<br />

desvendado àépocadamorte do<br />

prefeito Celso Daniel, de Santo André.<br />

De acordo com depoimento deValério<br />

ao Ministério Público, em 2012, Ronan<br />

MariaPinto ameaçourelacionar Lula e<br />

os ex-ministrosGilberto Carvalho eJosé<br />

Dirceu com amorte do ex-prefeito de<br />

Santo André –erecebeu R$6milhões<br />

paraficarcalado.InvestigadoresdaLava<br />

Jato apuram se esse dinheiro teve origem<br />

num contrato de empréstimo tomado<br />

pelo pecuaristaJoséCarlosBumlai,amigo<br />

do ex-presidente epreso na Lava Jato,<br />

com oBanco Schahin. Bumlai assume<br />

apenas que tomou ofinanciamento da<br />

instituiçãofinanceira amandodoPT. A<br />

história já ébem conhecida –eémais<br />

um indício de queopetrolãoeomensalão<br />

podem estar umbilicalmenteligados.<br />

De acordo com investigadores que<br />

tiveram acesso àproposta de delação<br />

de PedroCorrêa, os relatos são bastante<br />

detalhados–eimpressionam pela capacidade<br />

de memória do ex-parlamentar.<br />

Diferentementedeoutrascolaborações,o<br />

ex-presidente do PP não apresenta provas<br />

robustas,extratosbancários,mas faz uma<br />

verdadeiracrônica da política brasileira,<br />

apontando irregularidades efalcatruas<br />

em diversos períodos dahistória e em<br />

distintos partidos. Há desde líderes de<br />

partidosnoCongressoaex-presidentes.<br />

Pelo volume de informações, ogrupo de<br />

trabalho dosprocuradores da Lava Jato,<br />

em Brasília, gastou quase seis meses para<br />

chegar auma resolução de acordo final.<br />

Ficou combinado quenos próximos dias<br />

adelação deverá ser, enfim,assinada. Ficoucombinado,<br />

aprincípio,que Corrêa<br />

pagaria uma multa de quase R$ 5milhões<br />

–eblindaria seus filhos, entreeles adeputada<br />

Aline Corrêa, de qualqueracusação.Nesse<br />

acordo,ainda foi negociada a<br />

redução de suapenanas duas condenações<br />

–adoPetrolão eado mensalão. Em<br />

FUTURO<br />

Opublicitário<br />

MarcosValério,<br />

preso no mensalão,<br />

eocomprovante<br />

de pagamentoaele<br />

(no destaque).Seu<br />

advogado diz que<br />

Valério quer fazer<br />

delaçãopremiada<br />

2012, Pedro Corrêa foi condenado pelo<br />

SupremoTribunal Federal no mensalão<br />

aseteanos edoismeses de prisão,além<br />

de multa de R$ 1,1milhão, porlavagem<br />

de dinheiroecorrupção.Noano passado,<br />

oex-deputado foi sentenciado na Lava<br />

Jato acumprir20anos esetemeses atrás<br />

das grades, novamente por corrupção<br />

elavagem de dinheiro. Conhecedor da<br />

história do mensalão,Pedro Corrêa não<br />

quis acabar tendoomesmo desfecho que<br />

MarcosValério. Resolveu contar tudo o<br />

quesabe.Eoquesabepodeser uma nova<br />

dinamiteaexplodir aRepública –e, em<br />

particular,oex-presidente Lula.<br />

Procurado, oex-presidente Lula,por<br />

meio de sua assessoria de imprensa,<br />

afirmou que“nãocomenta supostas delações<br />

erepudia ojornalismo feito por<br />

vazamentos ilegais”. Adefesa de Pedro<br />

Corrêa não quis comentar.Oadvogado<br />

Marcelo Leonardo, que representa<br />

Marcos ValérionaJustiça, disse quenão<br />

vai comentar, porque não teve acesso<br />

ao conteúdo dadelação.Ocriminalista<br />

ainda diz queseu clienteestá dispostoa<br />

negociar um acordo de delação com os<br />

investigadores da Lava Jato.João Pizzolattinão<br />

foi localizado pela reportagem.<br />

ÉPOCA deixou recado no escritório do<br />

advogado Luiz Eduardo Greenhalgh,<br />

mas não obteve retorno.<br />

u<br />

54 IÉPOCA I7demarço de 2016 Foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press


ENTREVISTA<br />

GEOFFREY KABASERVICE<br />

“Estaéaeleição<br />

da raiva”<br />

Ohistoriador econsultor do PartidoRepublicano dizque<br />

aascensãoinédita de Donald Trumpémovidapeloódio do<br />

americanomédio contra osistema político dosEstadosUnidos<br />

RodrigoTurrer<br />

Desdeque escreveu seulivro Rule and ruin (Governar<br />

earruinar, sem tradução para oportuguês),<br />

em 2011, ohistoriador, sociólogo econsultor do<br />

PartidoRepublicano Geoffrey Kabaservicealertava parao<br />

perigo da ascensão dos radicais eapaulatina diminuição<br />

da influência dos republicanos moderados. Oresultado<br />

do processo, segundoele, éacadavez mais próxima confirmação<br />

de Donald Trump, grande vitorioso das primárias<br />

disputadas na “Super Terça” da semana passada, como<br />

candidato àPresidência dos Estados Unidos. “Há muitos<br />

elementos nacultura conservadora contra ahierarquia,<br />

contra atradição, contra as instituições. Trump seaproveita<br />

disso”, dizKabaservice.“Trump éuma ameaça parao<br />

sistemapolíticoamericano,porqueésua antítese. Ele fere<br />

anoção de freiosecontrapesosdaRepública.”<br />

ÉPOCA –Como Donald Trump chegoutão longe?<br />

GeoffreyKabaservice–Essaperguntatem aresposta embutida.<br />

PorTrump serumcandidato tão poucoplausível,ninguém<br />

olevou asério.Por ninguém terlevadoTrump asério,<br />

elechegoutão longe. Nenhum republicano tinhauma estratégiaparacombatê-lo.DeUS$<br />

400milhões gastos compropagandas<br />

nas primárias, apenas 4% foramgastos comanúncios<br />

anti-Trump. Oerro da cúpula do Partido Republicano foi<br />

não fazer oque Ronald Reagan fez: conciliarconservadores<br />

radicais emoderados. Eles não tentaram preservar espaço<br />

paraosmoderados. Donald Trump está se aproveitando do<br />

quejáexistia. Ele não tornou as pessoas cínicas em relação<br />

ao governo. Elas já eram cínicas. Só estavam esperandopelo<br />

salvadordapátria. Trump se embalou como um.<br />

ÉPOCA –Por que os americanos querem um salvador?<br />

Kabaservice–Há muitos elementosnaculturaconservadora<br />

contra ahierarquia, contra atradição,contra as instituições.<br />

Trump se aproveita disso. Também está se aproveitando do<br />

alvorecerdeumsentimentoantipolíticomuito forte,surgido<br />

dos tempos difíceis que aclasse média americana enfrenta<br />

desde2008.Acrise financeira fezamaioria da classe média<br />

perder dinheiroousuas casas.Aspessoasviram issocomo<br />

resultado de manobraseartimanhas de Wall Street.Viram os<br />

responsáveispelacrise –grandes executivos ebanqueiros–<br />

sersocorridospor Washington esair impunes. As pesquisas<br />

mostramque as duas únicas instituições em queosamericanos<br />

confiam sãoasForças Armadas eapolícia.Amenos<br />

confiável éoCongresso–atrásdevendedoresdecarros.<br />

ÉPOCA –Éaraivaque fazaspessoas votarem em Trump?<br />

Kabaservice–Estaéaeleiçãodaraiva,sem dúvida.Háalguns<br />

ideais muito enraizados nos Estados Unidos que passam<br />

de geraçãoparageração. Oprincipaléosonho americano.<br />

Hoje, aspessoas perderam aperspectiva de viver osonho<br />

americano.Aspessoas quemaisaproveitaram dessesonho,<br />

dosanos 1950 até os anos2000, foram justamente as quemais<br />

sofreram comacrise: aclasse média operária,principalmente<br />

os brancos. Há um sentimentoreal, genuíno, de temorcom<br />

aperda de empregos, de casasededinheiro. São 90 milhões<br />

de americanos que não reconhecem mais opaís onde vivem.<br />

Há um medo econômico, mas também de perder a<br />

identidade cultural. Épor isso que aimigração setornou<br />

uma questão intolerável para essas pessoas. Elassentemque<br />

estão perdendo os postos privilegiados queumdia tiveram. s<br />

56 I ÉPOCA I 7demarço de 2016<br />

Foto: divulgação


PERPLEXO<br />

O historiador<br />

Geoffrey<br />

Kabaservice, em<br />

Washington. Para<br />

ele, nunca houve<br />

ninguém como<br />

Donald Trump na<br />

política americana


ENTREVISTA<br />

Geoffrey Kabaservice<br />

Mesmo as estrelas da economia de tecnologia americana<br />

causamrevolta entreessaclasse média branca operária.Elas<br />

se sentem traídas,porqueaera de ourofoi embora eospolíticos<br />

não se enfileiraram para defendê-las.Perderam afé<br />

nas instituições políticas americanas enos dois partidos e<br />

elegeram aChina eosimigrantes como bode expiatório.<br />

Eisoambienteperfeitoparaodiscurso de ódio de Trump.<br />

ÉPOCA –Quais os riscosdodiscursodeTrump?<br />

Kabaservice–Trump não éocandidatomais conservador<br />

na disputa. TedCruz éesse candidato: oriundo das bases<br />

do TeaParty,ultrarreligioso,afavordoEstado mínimo. Em<br />

alguns aspectos, Trumpéheterodoxo etomaposições que<br />

um republicano típico não tomaria. Ele promete reduzir<br />

impostos para aclasse média ecriar pacotes deestímulo<br />

econômicoparatrazerdevolta empresas paraopaís. Trump<br />

não éumrepublicano, éum populista. Esua retórica é<br />

semelhanteàdeumcaudilho,notom,napostura, na ausência<br />

de detalhes sobre propostas, na crença de quesóter<br />

uma pessoaforte no comandodogoverno resolverá tudo.<br />

Trump éuma ameaça paratodoosistemapolítico americano,porqueésua<br />

antítese. Ele fereanoção<br />

de freiosecontrapesos da República.<br />

ÉPOCA –Éimpossível pararTrump?<br />

Kabaservice–Nas primárias, não me parece<br />

possívelpará-lo.Ele temumnúmero<br />

significativo de delegados. Ainda hácompetição,<br />

mas éimprovável queele perca. Na<br />

eleição nacional, num embate de Trump<br />

com Hillary, será diferente. Hillary tem<br />

apoio incondicional do partido. Mesmo<br />

apoiadores de (Bernie) Sanders vão votar<br />

em Hillarynaeleição geral. Trump, ao contrário,<br />

não vem denenhuma das facções<br />

do Partido Republicano. Acúpula republicana tem medo<br />

dele,eaté os conservadores não gostam dele. Robert Kagan<br />

(umideólogodoPartido Republicano) chegou adizer quevai<br />

apoiar Hillary seTrump for nomeado.Por outro lado, os<br />

Estados Unidos nunca viram nada como Trump em sua<br />

história. Ele éumfenômeno inédito. Há tantas pessoas com<br />

ódio do establishment, de instituições tradicionais, do jeito<br />

tradicional de fazerpolítica, quenão se sabeaocerto qual o<br />

peso queisso terá nas eleições. Muitos podem decidir votar<br />

em Trumpporqueele está decididoaimplodirWashington<br />

–emuitos americanos querem isso.<br />

ÉPOCA –Emseu livro, osenhor narraaguerracivil entre<br />

moderados eradicais no Partido Republicano.Essa guerra<br />

respinganaeleiçãoatual?<br />

Kabaservice–Sim, semdúvida.Hámuitos moderadosque<br />

restaram no PartidoRepublicano.Temos hoje uma largaparcela<br />

de políticosque não se declaram moderados, mas acreditam<br />

queomelhorcaminhoparaosrepublicanos égovernar,<br />

dialogar enão impedir os outros de governar.Não éocaso de<br />

TedCruznem de Donald Trump.Namaiorparte da história do<br />

Trumpnão é um<br />

republicano, ele<br />

éumpopulista.<br />

Esua retórica<br />

ésemelhante à<br />

de um caudilho”<br />

partido,houve uma lutaentre as facções moderadaeconservadora.Eos<br />

radicais sempre acreditaramque tinham de implodir<br />

ogoverno.Nuncaestiveram tão pertodisso como agora.<br />

ÉPOCA –Épossívelcomparar omomento atual com1964,<br />

quandooultraconservador BarryGoldwater foinomeado<br />

candidatorepublicano,desafiouacúpula do partidoerefundou<br />

oconservadorismo americano?<br />

Kabaservice–Oque preocupa acúpula do Partido Republicano<br />

eseusprincipaislíderes éque anomeaçãodeDonald<br />

Trump repita aquela dramática convenção partidária em que<br />

Goldwater conseguiuanomeação,em1964. Goldwater tinha<br />

apoio de diversos conservadores fanáticos, apaixonados por<br />

suas propostas em plena efervescência das guerras culturais<br />

americanas,por eleincorporarsentimentos religiosos ederaça<br />

que eles acreditavam ser abase republicana. Mas, na eleição<br />

geral, elenão tinha apelo. Quando perdeu paraLyndonJohnsondeforma<br />

avassaladora na eleiçãonacional, ele levoupara<br />

oburacoopartido. Os republicanos perderam vários senadores,<br />

governadores ecentenas de legisladores locais. Poranos, o<br />

PartidoRepublicano ficou obscurecido. As pessoas esquecem,<br />

mas oPartido Republicano eraopartido dos<br />

negros até os anos 1960,opartido de Lincoln.<br />

Ao contrário da maioriadeseuscolegas republicanos,<br />

Goldwater votoucontraaLei de<br />

Direitos Civis paraosnegrosde1964. Ao se<br />

tornar candidatoapresidente pelosrepublicanos,<br />

Goldwater rompeu olaçodopartido<br />

comosnegros.Coma<strong>mud</strong>ança demográfica<br />

dosEstados Unidos,oaumento de hispânicos<br />

eaimportância do votodeles,com mais de 13<br />

milhõesdeeleitores, Trump podeser paraa<br />

relação doslatinos com os republicanos oque<br />

foi adeGoldwater comosnegrosem1964.<br />

ÉPOCA –Nodiscursodevitória depois da “SuperTerça”,<br />

Trumpprometeu diálogoenegociação. Ele dá sinaisdeque<br />

vaisuavizarodiscurso?<br />

Kabaservice–Trump não éRonaldReagan.Reagan uniu o<br />

partido,enquantoTrump odivide. Reagan fezoPartido Republicanoexpandirsua<br />

base de eleitores.Adúvida éseTrump é<br />

capaz de ampliar abaserepublicana como Reagan fez,atraindo<br />

votosaté mesmodedemocratas –aclassemédia branca operária<br />

quevota nosdemocratas. Acho queTrump não éforte o<br />

suficiente paraisso.Mas eleétão imprevisível quetudopode<br />

acontecer. Esuavizar odiscursoéoprimeiro passo paratentar<br />

serumcandidatocom apelo nacional.Talvez esse seja omelhor<br />

caminho paraderrotarHillary. Oproblemaéqueaprimeiraimpressão<br />

tendeaser duradoura.Muitaspessoasnão vãoconseguir<br />

superaraimagemque Trump passou nosprimeiros seis meses<br />

de campanha: a de um racista nacionalista, comtendências<br />

autoritárias. Além disso,muitos de seus eleitoresparecem ser<br />

monotemáticos: anti-imigração. Será difícil paraele <strong>mud</strong>ar de<br />

ideia etirar essa questão da imigraçãodeseu discurso.Por maior<br />

quesejaahabilidadedeTrump em se reinventar, descolar-se da<br />

imagem inicial queele criou será impossível.<br />

u<br />

58 I ÉPOCA I 7demarço de 2016


neste momento, o que toda<br />

marca precisa é de uma vitrine<br />

do tamanho do brasil.<br />

milhões<br />

Fontes: Kantar Ibope Media -MwTelereport -PnT (Painel nacional de Televisão) -Universo Base Atlas de Cobertura Globo Fev’16. Critério ranking: 1º bim’16.<br />

não considerados programas políticos, religiosos eeventos esportivos. Critério alcance: reach %-alcance médio diário Fev’16. Valores arredondados.<br />

a globo fala com 97 milhões de pessoas por dia.<br />

ou com quantas você precisar falar.<br />

Vamos conversar sobre oportunidades,<br />

visibilidade e construção de marca.<br />

A Globo fala com 97milhões de pessoas<br />

por dia. Ela é formada por 124<br />

exibidoras no país, o que significa<br />

falar com todos os sotaques e oferecer<br />

as mais diversas oportunidades<br />

de negócios. São intervalos, eventos,<br />

telejornais e programas locais<br />

e regionais que acompanham<br />

o desenvolvimento da publicidade<br />

e dos talentos por todo o Brasil.<br />

Dos 30 programas mais vistos<br />

na televisão brasileira, todos são<br />

da Globo. E além disso,100% das<br />

novelas, dos reality shows, dos filmes,<br />

dos programas esportivos e de<br />

auditório da Globo são líderes<br />

absolutos de audiência, pela manhã,<br />

à tarde e no horário nobre, de 2ª<br />

a domingo. Isso mostra o engajamento<br />

e a preferência do telespectador<br />

brasileiro por um conteúdo<br />

de qualidade e com credibilidade.<br />

o que você quer falar, a gente faz o brasil saber.


REVIRAVOLTA<br />

Aapresentadora<br />

Bela Gil. Seus<br />

seguidores nas<br />

redes <strong>mud</strong>aram<br />

oresultado de<br />

consulta da Anvisa<br />

60 I ÉPOCA I 00 de janeiro de2015


IDEIAS<br />

DEBATES<br />

EPROVOCAÇÕES<br />

DEVEMOSUSAR<br />

AGROTÓXICOS<br />

BANIDOS<br />

NO EXTERIOR?<br />

Emseu programa de culinária na<br />

TV enainternet, aapresentadora<br />

BelaGil propõe trocas inusitadas,<br />

como grelhar fatia de melancia<br />

no lugar depicanha. Nem sempre os<br />

convidados aoprograma pedem para<br />

repetir oprato, mas Bela ganhou seguidores<br />

entreadeptos da alimentação<br />

saudável. NoFacebook, eles somam<br />

mais de 580 mil. No último dia 25, Bela<br />

convocou seu exército aparticipar de<br />

uma consulta pública feita na internet<br />

pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária<br />

(Anvisa):“A Anvisa encerrahoje<br />

achamada pública paravotação afavor<br />

ou contra asuspensão do agrotóxico<br />

carbofurano.Aproibição está perdendo!<br />

Precisamos nos mobilizar!”, escreveu<br />

narede social. Bela conseguiu viraroresultado.Aproibição,que<br />

estava<br />

perdendo com29% dosvotos, ganhou<br />

com69%.“O públicodas minhas páginas<br />

em redessociais está buscando um<br />

tipo de <strong>mud</strong>ança, um mundo melhor,<br />

uma alimentação mais orgânica, sem<br />

veneno”, disseBelaaÉPOCA. “Atribuo<br />

essa reviravolta, essa conquista aeles.”<br />

Após aconsulta popular, umcolegiado<br />

da Anvisa vai debater se suspende,<br />

OSenadoeaAnvisa<br />

–eachefBela Gil–<br />

discutem aproibição<br />

de defensivos usados<br />

largamentenoBrasil,<br />

masproibidos lá fora,<br />

por risco de câncer<br />

Marcelo Moura, com Beatriz Morrone<br />

mantém ou proíbeocarbofurano.Não<br />

há prazoparadecidir.<br />

OBrasil éomaior consumidor de<br />

agrotóxicos do mundo. Em parte, por<br />

serosegundomaiorprodutordegrãos.<br />

Em parte, por ter uma legislação permissiva.<br />

Mais da metade dosdefensivos<br />

agrícolasaplicados no paísestá proibida<br />

ou na Europa ou nos Estados Unidos. Ao<br />

permitir agrotóxicos banidos no exterior,comoocarbofurano,oBrasil<br />

consegue<br />

produzircomida mais barata egerarmais<br />

empregos.Segundoogoverno<br />

federal,em2014 oagronegóciorendeu<br />

ao país R$ 1,1 trilhão,ou23% do Produto<br />

Interno Bruto (PIB).Aomesmo<br />

tempo, impõe um risco maior àsaúde<br />

de trabalhadoresruraiseconsumidores.<br />

“O modelo de cultivo com ointensivo<br />

uso de agrotóxicos geragrandes malefícios,comopoluição<br />

ambiental eintoxicação<br />

de trabalhadores edapopulação<br />

em geral”, diz um relatório divulgado<br />

pelo InstitutoNacional de Câncer (Inca)<br />

contra ouso de agrotóxicos. Segundo<br />

oInca, entreosefeitos associadosàexposição<br />

crônica aingredientes ativos de<br />

agrotóxicos estão infertilidade, abortos,<br />

malformações, efeitos sobre osistema<br />

imune ecâncer.“Omundo precisa se<br />

alimentar, mesmo que correndo operigo<br />

de ingerir alguma quantidade de<br />

veneno. Mas, noBrasil, oveneno está<br />

na mesa. Nosso consumo de agrotóxicos<br />

per capita éde5quilos por ano”,<br />

diz aÉPOCA osenador Antônio Carlos<br />

Valadares (PSB-SE) (leia mais àpágina<br />

64).Valadares éautor do ProjetodeLei<br />

n o 541/2015, que pede aproibição no<br />

Brasil de agrotóxicosproibidos no exterior,comoglifosatoecarbofurano,bem<br />

como apulverização aérea de plantações.<br />

“Não hácondição de fazer agricultura<br />

no Brasil se banirmos esses produtos”,<br />

diz osenador Blairo Maggi(PR-MT).<br />

Foto: Daryan Dornelles/Edições GloboCondé Nast<br />

7demarço de 2016 I ÉPOCA I 61


DEBATESEPROVOCAÇÕES<br />

SIM<br />

“É muito melhor comer isso do que<br />

passarfome.ComoEstadosUnidos e<br />

Brasiltêm climadiferente, oagrotóxico<br />

dispensável lá pode sernecessário aqui”<br />

Beatriz Morrone<br />

ÉPOCA –Por que devemosusar no Brasil agrotóxicos<br />

banidos no exterior?<br />

Luis Carlos Heinze–Temos de ver otipo de<br />

agricultura que cada país tem, se ésemelhante<br />

anossa. OBrasil cultiva soja, milho, arroz.<br />

Europeus eamericanos não têm oclima tropical<br />

que temos aqui. OCerrado brasileiro é<br />

uma potência de produção de alimentosparao<br />

mundoe,peloclima,tem uma exigência maior<br />

de fertilizantes edefensivos. Não éporque é<br />

proibido lá quenão posso usar aqui.<br />

ÉPOCA –Não épossível fazeruma agricultura<br />

orgânica,sem usar tantos defensivos?<br />

Heinze –Não sou contra aagricultura orgânica.<br />

Sou engenheiro-agrônomo. Banir essas<br />

substâncias vai aumentar muito ocusto para<br />

combater pragas.Comovocêvai plantar 5milhões<br />

dehectares no Rio Grande doSul capinando<br />

àmão, sem usar agroquímicos? Éhumanamente<br />

impossível. Éumabsurdo essas<br />

pessoas pensarem que vão fazer agricultura<br />

orgânica dessa forma. Aagriculturafoi oúnico<br />

setorque nãodesempregouem2015 –ano que<br />

registrou 1,7 milhão de desempregados. Essas<br />

pessoas trabalharão onde?<br />

ÉPOCA –OsEstados Unidos eaEuropa proibiramagrotóxicos<br />

permitidos no Brasil, mas não<br />

pararam de comprar nossos produtos agrícolas.Esses<br />

alimentos sãoseguros?<br />

Heinze–As relações entre consumo de substâncias<br />

erisco decâncer são todas analisadas<br />

aqui. AAnvisa éextremamentecriteriosa. Não<br />

vai liberar umproduto potencialmente cancerígeno.<br />

Drogas usadas para fabricar medicamentos<br />

também são usadas para fabricar defensivos.<br />

Oque mata éadose. Sevocê tomar<br />

álcool demais, pode ter problemas. Ao mesmo<br />

tempo, um cálicedevinho éaté medicinal.<br />

ÉPOCA –AAnvisaéum foro mais adequado<br />

que oCongresso para proibir ouautorizar<br />

substâncias?<br />

Heinze –Sim, aAnvisa éumforo adequado.<br />

AmesmaAnvisaque liberadefensivoséaque<br />

libera vacina emedicamentos. Então, no Brasil<br />

nada presta? Nenhum remédio, adubo ou<br />

defensivo? Temos de confiar. Essa éalegislação<br />

que temos. Eutrabalho para simplificar<br />

essa legislação enos assemelhar aoutros países,<br />

nossos concorrentes. No Brasil, defensivossão<br />

maiscaros. Quandovou concorrer no<br />

mercado internacional, onde cada produto<br />

tem umpreço só, ninguém me paga amais<br />

porque meu defensivo, meu transporte, meu<br />

fertilizante ou as minhas leis trabalhistas são<br />

maiscustosos.Oprodutor perde.<br />

ÉPOCA –Ouso intensivodedefensivospode<br />

baratear opreço dos alimentos,mas traz custos<br />

para osistema de saúde.Não éumbarato<br />

que sai caro?<br />

Heinze–OBrasilera importadordealimentos<br />

nos anos 1970.Hoje,éexportador.Opreço da<br />

cesta básica caiupraticamente20%.Omiserávelque<br />

ganhaR$700 pormês vai comercomo?<br />

Émuitomelhorcomer issodoque não comer<br />

nada epassar fome. Eu não odeio osorgânicos,<br />

masaagriculturaéoúnico setorque está<br />

salvando opaís. Tem de pensar no Brasil que<br />

está dandocerto.<br />

Luis Carlos Heinze<br />

(PP-RS)<br />

éengenheiro-agrônomo<br />

edeputado federal da<br />

bancada ruralista<br />

62 I ÉPOCA I 7demarço de 2016<br />

Foto: NBASTIAN.COM


DEBATESEPROVOCAÇÕES<br />

NÃO<br />

“O Brasiléomaior consumidor<br />

mundial de agrotóxicos. Isso barateia<br />

acomida,mas aumenta os custos da<br />

saúde. Precisamoseliminar venenos”<br />

Marcelo Moura<br />

ÉPOCA –Por que nãodevemos usar agrotóxicosbanidos<br />

no exterior?<br />

Antônio Carlos Valadares – Oideal seriaadotar<br />

noBrasil as proibições válidas nos Estados<br />

Unidos enaUnião Europeia. Desde 2009, somos<br />

omaior consumidormundialdeagrotóxicos.<br />

Quero colocar em debate essa questão,mas<br />

nemtodos querem. Para relatordomeu projeto,<br />

indicaram osenador Blairo Maggi. Você sabe<br />

que ele tem posição definida. Pedi que agente<br />

ao menos ouvisse os interessados, daparte do<br />

agronegócio edaparte da saúde.<br />

ÉPOCA –Oque dizem os órgãos de Saúde?<br />

Valadares–No ano passado,oInstitutoNacional<br />

deCâncer (Inca) publicou um documento<br />

chamado “Posicionamento público arespeito<br />

do usodeagrotóxicos”. Lá,eles dizem queaexposição<br />

crônica aagrotóxicos está ligada ainfertilidade,<br />

impotência, abortos, malformações,<br />

neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitossobre<br />

osistemaimune ecâncer.Eunasci em<br />

Simão Dias,uma cidadeagrícola no Sergipe. Vi<br />

várias pessoasmorrerdecâncer.<br />

ÉPOCA –Como proibir agrotóxicos, se 70% da<br />

produção agrícolabrasileira depende deles?<br />

Valadares–Devemos privilegiar aagricultura<br />

orgânica. Em muitos lugares, elaestá invadindo<br />

os campos. Aqui, opoder econômico demultinacionais,<br />

mais anecessidade deprodução<br />

agrícola intensiva do agronegócio, nos contrapõe.<br />

Umsenador na comissão disse que eu<br />

quero parar oagronegócio. Não éessa minha<br />

intenção. Oagronegócio impulsiona aeconomia,<br />

geraempregos. Reconheço que, se não fosse<br />

aagricultura, asituação econômica dopaís<br />

seria muito pior. Defendo aagricultura, mas<br />

defendo também oser humano. Eunão sou<br />

radical. Acho que atransformação precisa de<br />

um prazo para adaptação. Quero dar um prazo<br />

paraoagronegócio resolveressa questão. Da<br />

substituição gradativa àeliminação total. Nosso<br />

agronegócio émuitobem-sucedidonaparte<br />

da produtividade.Eliminar venenos deveriaser<br />

prioridade também. Não será de um dia para<br />

outro, mas precisamos começar.<br />

ÉPOCA –Aagriculturaorgânica produz alimentos<br />

mais saudáveis,aumcustomaior. Ao<br />

encarecer, elessetornam inacessíveis para<br />

que parcela da população?<br />

Valadares –Omundo precisa sealimentar,<br />

mesmo que correndo operigo deconsumir<br />

alguma quantidade deveneno. Mas, no Brasil,<br />

oveneno está na mesa. Isso traz outros custos.<br />

Quanto perdemos quando tanta gente morre?<br />

Gastamos tanto para tratar ocâncer, quando o<br />

melhor seriagastar paraele nemacontecer.<br />

ÉPOCA –AAnvisaéum foro maisadequado<br />

que oCongresso paraproibirsubstâncias?<br />

Valadares–As reuniões de uma casa legislativa<br />

são transmitidas pela TV.Atraem atenções.<br />

Quemsabe, podehaver uma contenção voluntária<br />

do uso dealgum agrotóxico. Quem sabe,<br />

aAnvisa pode sesentir pressionada aproibir.<br />

Oagronegócio éresponsável por tanta arrecadação,<br />

tantos empregos. AAnvisa épequena,<br />

diantedetantos interesses. Como representante<br />

do povo,oSenado pode propor aproibição<br />

semmedos. Temodever de fazer isso.<br />

Antônio Carlos<br />

Valadares (PSB-SE)<br />

ésenador,autor do<br />

ProjetodeLei n o<br />

541/2015,pela proibição<br />

de agrotóxicos<br />

64 I ÉPOCA I 7demarço de 2016<br />

Foto: Ivaldo Cavalcante/FuturaPress


OBSERVADORDAEDUCAÇÃO<br />

Éético fazeracabeça<br />

de nossos alunos?<br />

Alguns doslivrosdehistória mais usadosnas escolas<br />

brasileirascarregam na ideologia, que divideomundo<br />

entre os capitalistas malvadoseos heróis da resistência<br />

Fernando L. Schüler<br />

édoutor em filosofia<br />

(UFRGS)eprofessor<br />

do Insper.Étitular<br />

da cátedraInsper<br />

PalavraAbertaecurador<br />

do ProjetoFronteiras<br />

do Pensamento<br />

Fernando L. Schüler<br />

Asaulas voltaram, porestas semanas, edeciditirar<br />

alimpouma velhaquestão: há<br />

ou não doutrinação ideológica em nossos<br />

livros didáticos? Para responder àpergunta,<br />

analisei alguns doslivrosdehistória esociologia<br />

mais adotados nopaís. Entre osdez livros que<br />

analisei, não encontrei, infelizmente, nenhum<br />

“pluralista”ouparticularmentecuidadoso ao tratar<br />

de temas de natureza política ou econômica.<br />

Oviés político surge norecorte dos fatos, na<br />

seleção das imagens, nas indicaçõesdeleitura, de<br />

filmes edelinksculturais.Acoisa toda operaàmoda<br />

Star wars:olado negrodaforça éa“globalização<br />

neoliberal”.Oladobom éa“resistência”doFórum<br />

Social Mundial,de PortoAlegre,edos“movimentos<br />

sociais”.NoBrasil contemporâneo,FernandoHenriqueCardoso<br />

éDarthVader, Lula éLukeSkywalker.<br />

No livro Estudosdehistória,daEditora FTD,<br />

porexemplo,nossos alunos aprenderão queFernando<br />

Henrique eraneoliberal (apesarde“tentar<br />

negar”) eseguiu acartilha de Collor de Mello;<br />

eque os “resultados dessas políticas foram desastrosos”.<br />

Emsua época, havia“denúncias de<br />

subornos,favorecimentos ecorrupção”por todos<br />

os lados, mas “poucoseinvestigou”.<br />

Nossos adolescentes saberão que“as privatizações<br />

produziram desemprego”eque opaís<br />

assistia ao aumento da violênciaurbana edaconcentração<br />

de renda eà“diminuição dosinvestimentos”.<br />

Eque, dequebra, oMST pressionava<br />

pela reformaagrária,“semsucesso”.<br />

Na página seguinte,aluz. Ilustrado comodecalque<br />

vermelho da campanha“LulaRedeBrasil<br />

Popular”,otextoensina que, em 2002,“pelaprimeiravez”no<br />

país, alguém que“não eradaelite”<br />

éeleitopresidente.Eque, graçasà“política social<br />

do governoLula”,20milhões de pessoas saíram<br />

da miséria. Isso tudo fez aeconomia crescer e<br />

“telefones celulares, eletrodomésticos sofisticados<br />

ecomputadores passaramafazer parte do cotidiano<br />

de milhõesdepessoas, queantes estavam<br />

àmargem desse perfildeconsumo”.<br />

Na leitura seguinte, dolivro História geral e<br />

do Brasil, daEditora Spicione, oquadro era o<br />

mesmo. OPSDB éum partido “supostamente<br />

éticoeideológico” eosanos de FernandoHenrique<br />

são ocão da peste. Foram tempos dedesemprego<br />

crescente, de“compromissos com as<br />

finançasinternacionais”, em que“ocrime organizado<br />

expandiu-se em tornodotráficodedrogas,<br />

convertendo-se em poder paralelo nas favelas”.<br />

Com ogoverno Lula, tudo <strong>mud</strong>a, ainda que<br />

com alguns senões. Numa curiosa aula de economia,<br />

os autorestentamexplicarpor quea“expansão<br />

econômica”foi“limitada”: pela adoção de<br />

uma“política amigável aosinteresses estrangeiros,<br />

simbolizada pela liberdade ao capital especulativo”;<br />

pela“manutenção,até 2005, dosacordos com<br />

oFMI” edos “pagamentos da dívida externa”.<br />

Olivro História conecte,daEditoraSaraiva, segueomesmo<br />

roteiro. Ogoverno FernandoHenriqueé“neoliberal”.Privatizou“a<br />

maioriadas empresas<br />

estatais”eos US$ 30 bilhões arrecadados<br />

“não foram investidos em saúdeeeducação,mas<br />

em lucros aos investidores eespeculadores, com<br />

altas taxas de juros”.Afrase mais curiosa vem no<br />

final: em seusegundomandato, FernandoHenriquenão<br />

fez“nenhumareforma” nemtomou“nenhuma<br />

medida importante”.Imaginei opresidente<br />

deitado em uma rede,enquantoopaís aprovava<br />

aLei de Responsabilidade Fiscal (2000), ofator<br />

previdenciário (1999) ou oBolsa Escola (2001).<br />

66 I ÉPOCA I 7demarço de 2016


No livro História para oensino médio, da<br />

Atual Editora, écurioso otratamento dado<br />

ao “mensalão”. Nossos alunos saberão apenas<br />

que houve “denúncias de corrupção” contra o<br />

governoLula, incluindo-se um caso conhecido<br />

como mensalão,“amplamente explorado pela<br />

imprensa liberal de oposiçãoaopetismo”.<br />

Sobre a América Latina, nossos alunos aprenderão<br />

que o Paraguai foi excluído do Mercosul<br />

em 2012, por causa do “golpe de Estado” que tiroudopoder<br />

FernandoLugo. Saberãoque, com<br />

aeleição de Hugo Chávez, aVenezuelatorna-se<br />

o“centro de contestação àpolítica de globalização<br />

capitalista liderada pelos Estados Unidos”.<br />

Que “a classe média easelites conservadoras”<br />

não aceitaramastransformações produzidaspelo<br />

chavismo,mas queocomandante“conseguiu se<br />

consolidar”.Sobre asituação econômica daVenezuela,<br />

alguma informação?Algumdadocrítico<br />

paradar uma equilibrada epermitiraos alunos<br />

queformemuma opinião? Nada.<br />

Curioso éotratamentodadoàsditaduras na<br />

América Latina. Para os casos da Argentina, UruguaieChile,<br />

um capítulo(merecido) mostrando<br />

os horrores do autoritarismo eseus heróis: extratos<br />

de As veias abertas daAmérica Latina, de<br />

Eduardo Galeano; as mães da Praça de Maio, na<br />

Argentina; omúsicoVictorJara, executadopelo<br />

regime de Pinochet. Tudo perfeito.<br />

Quando, porém, se trata de Cuba,aconversa<br />

éinteiramente diferente.Aúnica ditadura que<br />

aparece éadeFulgêncio Batista. Em vez defilmes<br />

como Antes doanoitecer,sobre arepressão<br />

ao escritor homossexual ReynaldoArenas, nossos<br />

estudantes são orientados aassistir aDiários de<br />

motocicleta, Che e Personal Che.<br />

As restrições do castrismo à“liberdade de pensamento”surgem<br />

como“contradições”darevolução.Alguma<br />

palavra sobre os balseros cubanos?<br />

Alguma fotografia, sugestão de filme ou“link cultural”?<br />

Alguma coisa sobre oparedón cubano?<br />

Alguma coisa sobreYoani Sánchez ou as Damas<br />

de Branco? Zero.Nossos estudantes não terão essas<br />

informações paraproduzir seupróprio juízo.<br />

Éprecisamenteisso que se chama ideologização.<br />

Adoutrinação torna-se ainda mais aguda<br />

quando passamos para os manuais de sociologia.<br />

Em plenaera das sociedades de rede,darevoluçãomaker,daexplosãodos<br />

coworkingseda<br />

economia colaborativa, nossos jovens aprendem<br />

uma rudimentar visão binária demundo, feita<br />

de capitalistas malvados versus heróis da “resistência”.<br />

Em vez deencarar oséculo XXI esuas<br />

incríveisperspectivas, sãoconduzidosdevoltaà<br />

Manchester do séculoXIX.<br />

Superar esse problema não éuma tarefa trivial.<br />

Há um “mercado”deprodutores de livros<br />

didáticos bem estabelecido nopaís,agindo sob<br />

ainércia denossas editoras eapassividade de<br />

pais,professores eautoridadesdeeducação.Sob<br />

oargumentomalandro de que“tudoéideologia”,<br />

essas pessoas prejudicam odesenvolvimento do<br />

espírito crítico denossos alunos. Ecom isso<br />

fazem muitomal àeducação brasileira. u<br />

CAMINHADA<br />

CONTRA<br />

ADITADURA<br />

As Damas de<br />

Branco, em Cuba.<br />

Omovimento reúne<br />

esposas emães de<br />

presos políticos<br />

de Fidel Castro.<br />

Os problemas<br />

cubanosnão<br />

constam em alguns<br />

livros adotados<br />

nas escolas<br />

Foto: EFE/Enrique de la Osa<br />

7demarço de 2016 I ÉPOCA I 67


HELIOGUROVITZ<br />

Oantídotocosmopolita<br />

para Donald Trump<br />

A<br />

marchairresistíveldobilionário Donald Trump rumo<br />

àcandidatura republicana àPresidência dos Estados<br />

Unidos temdeixado omundoperplexo. Trump venceu de<br />

lavada as prévias da terça-feirapassadaecaminha impávido<br />

para aindicação na Convenção Nacional, em julho. Sua<br />

campanha populista está baseada em agradar aos instintos<br />

mais vis dapopulação. Sua base eleitoral, dispersa na<br />

sociedade,éformada poruma misturados frustradospela<br />

situação econômica com osamedrontados pela ascensão<br />

social de novosgruposétnicos.Oslogan de Trump –“Torne<br />

aAmérica grande denovo” –tem um alvo declarado: os<br />

imigrantes. Mais uma vez, são eles obode expiatório para<br />

as angústias do cidadão.Basta, pela solução de<br />

Trump para osdramas americanos, erguer um<br />

muro na fronteira com oMéxico ou impedir a<br />

entrada demuçulmanos no país. Questionado<br />

sobreoapoio recebido de DavidDuke, um líder<br />

da Ku Klux Klan vinculado aneonazistas,Trump<br />

desconversou, disse que não oconhecia –fato<br />

desmentidopor uma crítica quefizera aDuke no<br />

passado. Não foi nemaprimeiramentira nemo<br />

LIVRO DA SEMANA<br />

Alebrecom<br />

olhosdeâmbar<br />

Edmund de Waal<br />

Intrínseca<br />

2011<br />

320 páginas<br />

R$ 40<br />

primeirovolta-facedeTrump.OapoiodeDuke<br />

tem umsentido maior, porque aascensão de<br />

Trump lembra adeAdolf Hitler nos anos 1930.<br />

OslogandeTrump bempoderia ser“America<br />

über alles” (“América acimadetudo”,parafraseando<br />

ohino alemão). Aproposta do muro<br />

paradeter os mexicanos trazàmemória as leis<br />

de Nurembergue eadeportação.Trump também<br />

falou em banir uma fé religiosa –emvez dos<br />

judeus, os muçulmanos. Seuataque aos imigrantes reproduz<br />

discursos chauvinistas infelizmente tão frequentes no<br />

mundo. Pouco importa que osEstados Unidos sejam um<br />

país formado por imigrantes, cuja força deriva dacapacidade<br />

de extrair omelhordevárias culturas. Poucoimporta<br />

que, como lembrouocomedianteSteve Gerben numvídeo,<br />

abrir asfronteiras para imigrantes seja uma das medidas<br />

mais eficazes paraimpulsionar aeconomia. Poucoimporta<br />

que aprópria família de Trump,cujo sobrenome original<br />

eraDrumpf, tenha imigrado da Alemanha no século XIX.<br />

Pouco importa, como lembrou outro comediante, John<br />

Oliver,que todo poder,riqueza esucesso que emanam da<br />

marca Trump não passemdemarketing.Quandooobjetivo<br />

éfalar ao ódio popular,ahistória do nazismo ensina areceita:<br />

mentir,agredir,roubar eexterminar. Trump,até agora,<br />

se limitou ao primeiropasso.Mas suaretórica éfamiliar.<br />

Qualquerfamília afetadapeloódioaos imigrantesaconhece<br />

bem. As históriassão sempre muitoparecidas. “Viktor tem<br />

apenas uma mala.Está comomesmo ternoque Elisabethoviu<br />

usandoquando foram àestação de trem em Viena. Elarepara<br />

que, na corrente de seurelógio de bolso, eleaindalevaachave<br />

da estante de suabiblioteca. Eleéumemigrado.Sua terra de<br />

DichtereDenker, poetas epensadores,transformou-se na terra<br />

dosRichter eHenker, juízes ecarrascos.”Éassim queoinglês<br />

Edmund deWaal descreve,na pequenaobra-prima Alebre com<br />

olhos de âmbar,omomentoemque suaavó Elisabethrecebeu<br />

no aeroporto de Croydon, pertodeLondres,opai dela,Viktor,<br />

depois da fugadaViena tomada pelo nazismo. Eraaisso que se<br />

viareduzido oherdeirodeuma das maioresfortunaseuropeias.<br />

De<br />

Waal, filho de um pastor anglicano, criado como<br />

protestante,narra no livroasagadeseusancestrais,<br />

afamília Ephrussi, judeus originários da aldeia de<br />

Berdichev, na Ucrânia, queenriqueceramnoPorto<br />

de Odessa efundaram uma dinastiadebanqueiros<br />

queseespalhou porParis, Londres eViena.<br />

Ofiocondutordahistória éuma coleção de 264<br />

miniaturas japonesas emmadeira oumarfim, ou<br />

netsuquês,compradaemParis no século XIXpelo<br />

primo de Viktor,Charles Ephrussi, odândi inspirador<br />

do personagemSwann,deMarcelProust. A<br />

coleçãofoi transportada paraViena, salva poruma<br />

criada da pilhagem nazista, levada em seguida para<br />

aInglaterra,enfim resgatada porDeWaal na casa<br />

de seu tio-avô Iggie, que se <strong>mud</strong>ara para Tóquio.<br />

“Charles morreu russo em Paris. Viktor achava<br />

errado efoi um russo em Vienapor 50 anos, depois<br />

austríaco,depoiscidadão do Reich, depois apátrida.<br />

Elisabethmanteveacidadania holandesa na Inglaterra por<br />

50 anos. EIggie era austríaco, depois americano eenfim<br />

um austríaco morando noJapão”, escreve DeWaal. “Isso<br />

me faz pensar no que significa pertencer aalgum lugar.”<br />

Em comparação com amaioria dos imigrantes, afamília<br />

Ephrussi teve condições financeiras privilegiadas. Masnão<br />

diferia deles na busca por uma nova vida num lugar mais<br />

acolhedor.Anarrativa de De Waal emociona não apenas<br />

pela herança comovente transportada nos netsuquês. Ela<br />

traz, no âmago, omelhorantídotoparaochauvinismo de<br />

Trump: oolhar cosmopolita epoliglota daqueles quesabem<br />

que vivemos num mundo pequeno demais para nos preocupar<br />

comondenascemos edeondeviemos–quandoo<br />

mais importante éparaondevamos.<br />

u<br />

Helio Gurovitz éjornalista hgurovitz@edglobo.com.br (e-mail)<br />

@gurovitz (Twitter) http://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/ (web)<br />

68 I ÉPOCA I 7demarço de 2016


VIDA<br />

ÉPOCA<br />

EM AÇÃO<br />

Os obstáculos ao<br />

avanço feminino nas<br />

chefias tornam-se<br />

mais sutis. Entenda<br />

as estratégias das<br />

executivas em<br />

empresas que vêm<br />

abraçando a<strong>mud</strong>ança<br />

Graziele Oliveira<br />

ão épreciso isso de apoiar asmulheres.<br />

Já há bastante mulher na<br />

empresa. Você não está nesse cargo?”MariaEduarda<br />

Kertész, presidente<br />

da Johnson&JohnsonConsumo<br />

do Brasil, já deparou algumasvezes com<br />

variaçõesdesse tipo de,digamos, raciocínio,aoproporampliar<br />

as políticas de<br />

igualdade de gênero einclusão de mulheresnacompanhia.<br />

Aadministradora<br />

Maria Eduarda, ou Duda, comanda a<br />

empresa desde 2011. Celebra osavanços,<br />

assim como percebe as lacunas.<br />

Na Johnson &Johnson hoje, 47% dos<br />

cargos de chefia estão com mulheres.<br />

Umarealidademuito melhorque amédia<br />

do mercado–essa fatia varia de 8%<br />

a15%, adepender da pesquisa. “Estou<br />

na presidência, mas, entre aspessoas<br />

listadas como possíveissucessores, não<br />

há nenhuma mulhercandidata. As <strong>mud</strong>anças<br />

emandamento hoje talvez não<br />

continuem, se não fizermos algo para<br />

garantir isso”, diz comvoz firme aexecutiva<br />

baiana de 42 anos.<br />

Não énecessário ser mulher para<br />

brigar no trabalho por equilíbrio de s<br />

Foto: Gabriel Rinaldi/ÉPOCA


DiretoradeRHda<br />

farmacêutica Genzyme<br />

Já promoveugrávidas<br />

Ocontrole da carreira<br />

da mulher tem de<br />

estar na mãodela.<br />

Aempresatem de<br />

criarpolíticas que<br />

abram oportunidades”<br />

I<br />

I


ÉPOCAEMAÇÃO<br />

oportunidades entre os sexos (como<br />

explica opesquisador eativista Gary<br />

Barker na página 76). Mas executivas<br />

em posições estratégicas percebem<br />

como são frágeis os avanços ecomo a<br />

resistência à<strong>mud</strong>ança assume novas<br />

formas, mais sutis, onde osexismotosco<br />

eescancaradojánão encontra lugar.<br />

Ocenário de inclusão ainda incompletaaparecemesmo<br />

naslistasdeótimos<br />

ambientes de trabalho,comoaorganizada<br />

pela consultoria Great Place to<br />

Work (GPTW),emparceriacom ÉPOCA.<br />

Porisso,neste ano,pelaprimeiravez, o<br />

GPTW fezumestudodedicado ao tema.<br />

Entre as mais de 1.400 organizações que<br />

avalia, aconsultoria destaca, regularmente,<br />

as 135 melhores. Nesse grupo já<br />

seleto,oGPTWencontrou as 20 melhoresparamulheres<br />

(leia alista na página<br />

75). Elas serão homenageadas no Dia<br />

Internacional da Mulher, 8demarço,<br />

em São Paulo. Oevento éorganizado<br />

em parceria com aONG Movimento<br />

Mulher360 eaONUMulheres.“Aigualdade<br />

de oportunidades entrehomens e<br />

mulheresseimpôs como um tema para<br />

toda asociedade.Ainda estamos atrasados,<br />

mas vejo um movimentocrescente,<br />

queestá sendopercebido pelos empresários”,<br />

diz Mariana Tolovi, integrante<br />

do conselho do GPTWelíder do comitê<br />

de gênero da consultoria.<br />

O movimento é percebido, mas<br />

nemsempreabraçado semresistência.<br />

Duda, da Johnson &Johnson, conta<br />

que, ao tratar desses temas com homens,<br />

no competitivo mundodos altos<br />

executivos, écomum que eles fiquem<br />

incomodados esesintam ameaçados.<br />

Muitos dizem queaempresa está protegendo<br />

asmulheres equestionam<br />

quem vaiprotegê-los. Aresistênciavem<br />

em formas variadas, às vezes mais, às<br />

vezes menos sutis. Em conversas mais<br />

duras, ela já lembrouaexecutivosque<br />

eles têm filhas eque deveriam se preocupar<br />

comomercado de trabalho que<br />

elas encontrarão.Diz-se inconformada<br />

comaquantidade de mulherescapazes<br />

quedesistemdacarreirapor não verem<br />

como conciliar família etrabalho, num<br />

ambienteprofissional queexija grande<br />

dedicação ealto desempenho (leia o<br />

quadrodapágina 74 sobreodesestímulo<br />

às mulheres).“Na minha posição,sinto-<br />

Presidente da<br />

Johnson &Johnson<br />

Consumo do Brasil<br />

Quer mulheres na disputa<br />

parasua sucessão<br />

As <strong>mud</strong>anças em<br />

andamentohoje<br />

talvez nãocontinuem,<br />

se nãofizermos algo<br />

paragarantir isso”<br />

72 I ÉPOCA I 7demarço de 2016


MELHORA MINÚSCULA<br />

Aparcela de mulheres aumentou<br />

nas Diretorias ecaiunos Conselhos.<br />

Em ambos,continua muito baixa<br />

Em %<br />

Conselheiras<br />

Presidentes do Conselho<br />

9,8<br />

4,2<br />

4,0<br />

0,7<br />

2003<br />

Diretoras<br />

Executivas-chefes<br />

8,1<br />

5,8<br />

3,9<br />

1,7<br />

*Dados de837 companhias abertas. Aamostravariou ao longodoperíodo<br />

Fontes: FEA-USP eDireitoGV-SP/FGV<br />

me obrigada aestimular as mulheres<br />

apensar em seguiromesmo caminho<br />

que eu e a ajudar para que esse caminho<br />

não seja tão sofrido”, afirma,<br />

numa sala decorada comfotos grandes<br />

dela com osfilhos. Éaprimeira coisa<br />

que sevêaoentrar.<br />

Aempresa, como omercado em geral,<br />

precisa avançar mais.Não porcaridade,não<br />

poruma questão de imagem,<br />

nem porque asmulheres sejam mais<br />

competentes que os homens. Mas por<br />

uma questão de aproveitar ao máximo<br />

os recursos humanos àdisposiçãonasociedade,paraque<br />

asociedade como um<br />

todo prospere. “A <strong>mud</strong>ança seespalha.<br />

Das empresas quelideram aevolução se<br />

difundeparaasfornecedoras delas”, diz<br />

MargarethGoldenberg,doMovimento<br />

Mulher 360. Hámais gente com nível<br />

superior entreasmulheres (12,5%) do<br />

que entre os homens (9,9%). Grupos<br />

commaiordiversidadepercebemmais<br />

facilmente<strong>mud</strong>anças no mercadoeno<br />

cenário, esão mais refratários àcorrupção.<br />

Uma pesquisa daconsultoria<br />

McKinseynaAmérica Latina descobriu<br />

queempresas comaomenos umamulherentre<br />

os principais executivos apresentam<br />

retorno, na média, 44% maior<br />

Aparticipaçãofeminina no<br />

comando dasempresas émínima<br />

7,5 7,7<br />

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012<br />

7,4<br />

6,7<br />

2,9<br />

2,3<br />

4,1<br />

3,7<br />

7,7<br />

7,5<br />

4,1<br />

3,7<br />

que aquelas que não têm mulher nenhuma.“Não<br />

éque colocar mulheres na<br />

diretoria aumenteolucrodaempresa”,<br />

diz Regina Madalozzo, Ph.D.emeconomia<br />

pela Universidade de Illinois, nos<br />

Estados Unidos, eprofessora na escola<br />

de negócios Insper.“Masaempresa que<br />

cria apossibilidade de amulhersubir de<br />

forma competitiva está criandosistemas<br />

quepermitem maior lucratividade.” Ao<br />

fazer isso,acompanhia passaaselecionar<br />

as melhores pessoas. Empresas sexistasdevem<br />

redobrar aatenção: provavelmente<br />

também discriminam outros<br />

grupos que não se encaixem no perfil<br />

habitual de chefe.<br />

Diante dapequena participação de<br />

mulheres nos cargos de chefia, um argumento<br />

defensivo muito comum é<br />

que hápoucas candidatas preparadas<br />

para assumir aresponsabilidade A ou<br />

B. Duda quer empurraresses números<br />

para cima, desde ládebaixo, na universidade.Trabalha<br />

na criação de uma<br />

parceriacom oInstituto Tecnológico de<br />

Aeronáutica (ITA), uma das melhores<br />

universidades dopaís, para contribuir<br />

com oaumento donúmero de alunas<br />

em cursos de ciências, tecnologia, engenharia<br />

ematemática.<br />

Ela não éaúnica aenfrentaroargumentodafalta<br />

de mulheres candidatas.<br />

Vanessa Lobato, vice-presidente de recursos<br />

humanosdoBancoSantander,<br />

ouve frequentemente dos outros gestoresnaempresa<br />

quehápoucas profissionaisqualificadas<br />

no mercado, aptas<br />

aassumir um cargo qualquer.Issopoderia<br />

servir de desculpa para nãohaver<br />

mulher nenhuma numa determinada<br />

seleção –seVanessa não brigasse.“Não<br />

éporquehápoucasque elas não estarão<br />

na seleção. Há poucas? Quero ver<br />

as poucasque há”, dizaexecutiva de 47<br />

anos, com sotaque de Belo Horizonte<br />

eritmo de quem se acostumou aencurtar<br />

problemas ejáacoplarsoluções<br />

nummesmo fôlego.<br />

Para discutir otema com colegas<br />

mais renitentes, elaadotouuma tática<br />

peculiar:usa números.“Mostro quea<br />

curva de produtividade das mulheres<br />

étão boa quanto ados homens. Elas<br />

mostram que competência edesempenho<br />

independem do gênero”, diz<br />

aadministradora –Vanessa não fez<br />

carreira emrecursos humanos, não<br />

se graduou em psicologia (formação<br />

comumemsua área) ecurte umaplanilha.<br />

Atática de recorrer aos dados<br />

de produtividade éobjetiva eparece<br />

ter sentido num banco. Mas tem riscos.<br />

Uma leva demulheres pode ter<br />

desempenho pior que outra. Não deveriaser<br />

preciso provar aigualdade de<br />

competência entre ossexos. Mesmo<br />

assim, vem funcionando.<br />

Hoje, 33% dos cargos de chefia no<br />

bancoestão commulheres. Um programa<br />

de apoio aofuncionário,24horas<br />

pordia,tem papel importantenisso.O<br />

sistema oferece atendimento empsicologia,<br />

nutrição, assistência social e<br />

educação física. Foi pensado para todos<br />

osfuncionários. Mas asmulheres<br />

ousam muitomaisintensamente. Em<br />

2015, dos 182 mil atendimentos, 154<br />

mil foram de mulheres, boaparte grávidas<br />

emães.Oatendimentoérápido,<br />

fácil econfidencial. Eajuda obanco a<br />

reterboasprofissionais.<br />

Vanessa entrou no Santander em<br />

1999, como superintendente regional<br />

paraMinas Gerais,Goiás,Distrito FederaleNordeste,afimdeconduziraexpansãodobanco,<br />

entãonovatonoBrasil. s<br />

Foto: Gabriel Rinaldi/ÉPOCA<br />

7demarço de 2016 I ÉPOCA I 73


ÉPOCAEMAÇÃO<br />

Já tinha três filhos, oque exigia muita<br />

disciplina, afimdedar conta de tudo.<br />

Arotina pesada deviagens daquele<br />

período afez ter certeza: não se pode<br />

presumir nunca queavida pessoal atrapalhará<br />

uma mulher. Se surgir oportunidade<br />

de promoção euma mulherfor<br />

amais indicada, não há porque outros<br />

ficarem pensandonadecisão quecompete<br />

aela. “Não tem por que ficar se<br />

questionando se amulher vai aceitar<br />

ou não.Pergunteparaela!”,diz.<br />

Essasegurançatodadeque afórmula<br />

dá certonão caiu do céu.Antesdechegar<br />

abons resultados, Vanessa questionou<br />

seumododechefiar.Estaria sendo“ela”<br />

demais eparecida de menoscom os modelos<br />

dechefes –homens –que tivera?<br />

Eram modelos de chefiar vistos como<br />

bem-sucedidos.“Em algunsmomentos,<br />

vacilei. Masdepoistiveresultadospositivosedecidiprosseguir<br />

assim”, afirma.<br />

Vanessa se beneficia de umacultura de<br />

flexibilidade que vem ajudando acriar.<br />

Numa vez emque fui entrevistá-la na<br />

sede do banco, ela haviasaído no meio<br />

do expediente, afimderesolverumproblemapessoal.<br />

Nesse dia, eu aouvipor<br />

telefone, da sede do banco. Mesmo num<br />

cenário futuro emque mulheres ehomens<br />

dividampor igualasresponsabilidades<br />

comosfilhos eacasa,flexibilidade<br />

será um fator crucial adistinguir boas<br />

empresaseatrairbonsprofissionais.<br />

Alguns casos servem como exemplos<br />

extremos. Rosilane Purceti,diretora de<br />

RH da Sanofi, grupo aoqual pertence<br />

afarmacêutica Genzyme, tem gêmeos<br />

de 8anos de idade.Aceitou apromoção<br />

paraocargoatualquandoosmeninos<br />

estavam com 5anos, num momento<br />

em que ainda exigiam muita atenção,<br />

eaté agora obalanço entre trabalho e<br />

família temdadocerto.Oexemplo deu<br />

frutos. Rosi, como prefereser chamada,<br />

já promoveu duas grávidas para posições<br />

de chefia. Afimdefazer as promoções<br />

corretas, quenão significassem<br />

riscoexcessivo paraaempresa, suicídio<br />

profissional paraamulher ou uma experiência<br />

de maternidade ruim paraela<br />

eobebê, foidefinidoumprocedimento<br />

simples eindispensável:conversar muito<br />

comelas esaber oque elas queriam.<br />

Na Genzyme, as mulheres ocupam<br />

50% doscargos de chefia ehámetas de<br />

COMO MATARAMBIÇÕES<br />

No início da carreira, as mulheres têmambiçãoaomenos<br />

igual àdos homens.Emdoisanos,asempresasasdesanimam<br />

56<br />

Vice-presidente<br />

de RH da Coca-Cola<br />

Nãoquerque elas<br />

desistam ao ter filhos<br />

Eu adoraria termais<br />

candidatas grávidas,<br />

porque éumchoque<br />

de realidadeemquem<br />

ainda precisa”<br />

Mulheres<br />

43<br />

34<br />

34<br />

35<br />

Homens<br />

Pesquisacom 1.009 profissionais americanosfeita em março de 2014<br />

Fonte: Bain &Company<br />

Gostaria de<br />

chegar àcúpula<br />

16<br />

PROFISSIONAIS<br />

NOVATOS<br />

COM MAIS DE DOIS<br />

ANOS DE EMPRESA<br />

CHEFES<br />

EXPERIENTES<br />

Acredita que<br />

chegaráàcúpula<br />

13<br />

27<br />

25<br />

28<br />

29<br />

55<br />

74 I ÉPOCA I 7demarço de 2016


inclusão.Mãespodem viajar atrabalho<br />

comobebêemfase de amamentação e<br />

um acompanhantecom parte das despesas<br />

pagas pela empresa. Quando os<br />

gêmeos eram pequenos, Rosi os levava<br />

em viagens, mas pagava dopróprio<br />

bolso.“Estamos dizendo às mulheres<br />

que asportas doelevador estão abertas”,<br />

diz aexecutiva numa conversa no<br />

aeroporto deCongonhas, horas antes<br />

de partiremmais uma viagem de trabalho.<br />

Hoje, Rosi, como Vanessa, éa<br />

imagem da segurança.Mas já precisou<br />

tomar decisões difíceis, comresultados<br />

paraládeincertos.<br />

Há nove anos, quando engravidou<br />

dos gêmeos, abriu mão de uma promoção<br />

edapossibilidade de trabalhar<br />

no exterior, para poder se dedicar aos<br />

filhos.Adecisão valeu durante osprimeiros<br />

quatro anos das crianças. Rosi<br />

diz tersidoconsultadapelaempresa, se<br />

aceitariaounão ocargo,etertomadoa<br />

decisão que considerou melhor para<br />

ela. “Não fiz aescolha com base nas<br />

opções que aempresa me deu, que forambastante<br />

interessantes. Fizaescolha<br />

combase na minha preferênciapessoal.<br />

Queriaestar em minha casaàs6datarde<br />

todososdias, pois teriadoisbebês”, diz.<br />

Rosi admiteque assumiuumgranderisco<br />

esequestionou sobre oque faria para<br />

conseguir novas oportunidades. “Lidei<br />

comoriscoaodizer não parauma carreirainternacional,<br />

mas paramim também<br />

seria umsucesso conseguir lidar<br />

com osgêmeos”, afirma.Aescolha de<br />

Rosi foi dela,ede maisninguém.Mas incomoda<br />

quesejamuito maisdifícil ouvir<br />

angústiaparecida de executivos homens.<br />

Quantos deles rejeitam oportunidades<br />

porestar prestes a se tornar pais?<br />

Numcenário de igualdade de gênero<br />

dentroeforadas empresas, mulherese<br />

homens deveriam enfrentar as mesmas<br />

questões, ao pensar no balanço entre<br />

carreira evida pessoal. “A maioria das<br />

empresas ainda não tem consciência<br />

desse viés. Uma boa empresa oferece<br />

espaço paraque amulherpossa propor<br />

coisas novas. Eamulher precisa assumir<br />

papel de protagonista na <strong>mud</strong>ança”,<br />

diz aconsultora Luciana Batista, sócia<br />

da Bain &Company eespecialista em<br />

questões de gênero ediversidade no<br />

ambientedetrabalho.<br />

AS MELHORESPARA ELASNOGPTW<br />

Entreas135 organizações com<br />

melhores ambientes de trabalho,<br />

20 se destacam ao tratar as mulheres<br />

Cargosdechefia commulheres –em%<br />

Apresidente émulher<br />

Apetit<br />

46,2<br />

AstraZeneca do Brasil 39,2<br />

Bristol-MyersSquibb<br />

50,0<br />

Consórcio Luiza<br />

40,0<br />

CulturaInglesa | BH<br />

62,5<br />

CulturaInglesa|RJ,DF, GO,ESeRS 50,0<br />

Ford Credit Brasil<br />

39,1<br />

Genzyme<br />

42,1<br />

Laboratório Leme<br />

50,0<br />

Laboratório Sabin<br />

66,7<br />

Losango<br />

39,1<br />

MercadinhosSão Luiz 44,4<br />

RenaissanceSão Paulo Hotel 42,9<br />

Sesc | RS<br />

60,0<br />

Teleperformance<br />

50,9<br />

ThoughtWorksBrasil|RS 60,0<br />

UMA<br />

53,9<br />

UniBH<br />

66,7<br />

Zambon<br />

60,0<br />

Zodiac|RS 47,8<br />

Pesquisacom 1.454organizações atuantes no Brasil<br />

Fonte: GPTW<br />

Muitas companhias não percebem<br />

essas distorções ou vieses, como diz<br />

Luciana, porque modelos mentais arraigados<br />

eapego ao quejáéfamiliar são<br />

forças poderosas, aagir para que tudo<br />

fique como está. Podem se instalar até<br />

em mentes privilegiadas de mulheres<br />

executivas. Raíssa Lumack, vice-presidente<br />

de RH da Coca-Cola, hoje com<br />

52 anos, era umcaso assim. Osucesso<br />

como executivafez comque elademorasse<br />

aentender aimportância de políticas<br />

de igualdade de oportunidades.<br />

“A primeiravez quemedefrontei como<br />

assuntofoi em 1998, quandoera gerente<br />

de desenvolvimentodetreinamento<br />

na Xerox, uma líder em diversidade”,<br />

diz (desde 2010, aXerox épresidida<br />

porUrsula Burns. Éaprimeiraeainda<br />

única empresa da lista das 500 maioresdarevista<br />

Fortune aser comandada<br />

por uma mulher negra). Sua segunda<br />

passagem pela Coca-Cola começou em<br />

2010, três anos depois de aempresa iniciar<br />

uma política globaldediversidade.<br />

Raíssaafirma queela eoutrasmulheres<br />

não gostavam da ideiadeacompanhia<br />

fazer algo só paraelas. “O pensamento<br />

era: se sou tão boaquantoumhomem,<br />

porque preciso de um impulso adicional?”,<br />

afirma. As executivas receavam<br />

também que as ações pudessem criar<br />

má vontade entreoscolegashomens.<br />

Sem poder escapar de uma política<br />

adotada pela companhia, Raíssaseaprofundounotema.<br />

Compreendeuque não<br />

se tratava de privilégio para asmulheres,<br />

esim de oferecer condições iguais.<br />

Desde 2013, afatia de cargos de chefia<br />

commulherespassou de 23% para30%.<br />

“Hoje, eu me sintoresponsável porinfluenciaraorganização,<br />

paracontinuar<br />

dando atenção ao tema –que não será<br />

resolvido em um ou dois anos”, diz a<br />

executiva. “Eugostariadeter mais candidatas<br />

grávidas, para dar esse choque<br />

de realidade em quem ainda precisa.”<br />

Raíssa seorgulha, hoje, de manter<br />

uma agenda pessoal extremamente<br />

agitada, com bom espaço para família<br />

eamigos. Ela persegue omesmo para<br />

todos os funcionários da empresa.<br />

Orgulha-se das jornadas que faz com<br />

jovens funcionárias da Coca-Cola,<br />

quando convida especialistas que dão<br />

palestras sobre temas relacionados ao<br />

universofeminino eàcarreira.“Elas estão<br />

na idade de casar eter oprimeiro<br />

filho. Équando aparcela de mulheres<br />

avançando nacarreira começa acair”,<br />

afirma. Aação,merecedoradeelogios,<br />

ainda évoltada só para asfuncionárias,<br />

embora Raíssa saiba queodebate<br />

precisa incluir os homens. A<strong>mud</strong>ança<br />

será muito mais lenta do que poderia,<br />

se odesbalanço de poder entre os sexos<br />

for vistopeloângulo errado,como um<br />

problema das mulheres, enão como o<br />

queele realmenteé:umproblema para<br />

toda asociedade.<br />

u<br />

Com Paula Soprana<br />

Foto: Daryan Dornelles/ÉPOCA<br />

7demarço de 2016 I ÉPOCA I 75


ENTREVISTA<br />

GARYBARKER<br />

“A licença-paternidadeajuda<br />

amulherachegaraotopo”<br />

Oespecialista em políticaspúblicaslembraque diversidade<br />

traz lucro. Esugereaempresários egovernantes<br />

queajudem os homens acuidardos filhoseda casa<br />

Paula Soprana<br />

NoBrasil, as mulherestêm acesso àeducação igual<br />

aos homens esão maioria entre os graduandos.<br />

Apesar disso,elasocupam só 15% da alta liderança<br />

nos milhares de empresas deporte médio no país, segundo<br />

aconsultoria britânica Grant Thornton.Aparcela<br />

das mulheres cai para 8%entre companhias maiores, de<br />

capital aberto,segundoaFundação Getulio Vargas. E, entre<br />

os 100 diretores presidentesdas 100 maioresempresas do<br />

país, haviaapenas duas mulheresem2015, segundooAnuário<br />

Época NEGÓCIOS.Oquecausa adesproporção? Fatores<br />

difíceis de <strong>mud</strong>ar, segundo oamericano Gary Barker,<br />

ph.D.emeducação de crianças eadolescentes, especialista<br />

em políticas públicas efundador daONG humanitária<br />

Promundo. Barker lista, entre esses fatores, acultura corporativa<br />

antiquadaeadivisão desigual de responsabilidadescom<br />

os filhos eacasa. Comapoio das Nações Unidas,<br />

oespecialista criou iniciativas variadas paraenvolver meninos,<br />

rapazes ehomensnacausa da paridade de gênero.<br />

ÉPOCA –Por que étão difícil paraasmulheres chegarem<br />

ao topo das empresas?<br />

Gary Barker – Por causa da norma nos locais de trabalho.<br />

Alógica de competição ainda se baseia num antigo<br />

modelo masculino de sociabilização, o“old boys club”,<br />

como dizemos em inglês, ao estilo Madmen (série de TV<br />

ambientadaemuma agênciadepublicidadenos anos 1960):<br />

“Dois martínis para oalmoço, ninguém volta para casa<br />

(depois do trabalho)”. Essa cultura assumiu novas faces,<br />

mas ainda existe aideia do clube masculino.Isso se relaciona<br />

comumsegundoponto,ocuidado.Emtodoomundo,<br />

as mulheresdedicam, em média, quase cincohoras pordia<br />

ao cuidado da casa oudos filhos. Os homens dedicam a<br />

metade dessetempo.Mesmoque ele dê banho nas crianças,faça<br />

acomidaeasleveparaaescola, muitasmulheres<br />

ainda têm na cabeça eemseu espaço social que ocuidado<br />

éresponsabilidade delas. Essas duas questões levam à<br />

terceira, afalta depolíticas de flexibilidade notrabalho.<br />

Há quem trabalhe de 50 a60horas por semana para se<br />

tornar líder na organização.Comocomeçaraaceitarque<br />

essafuncionária ou funcionáriotinham uma vida (fora da<br />

organização)?Que ela ou ele tenhamfilhos ou pais idosos<br />

paracuidar? Precisamos de políticas quereconheçam que<br />

somos sereshumanos alémdefuncionários.Afaltadessas<br />

políticas punemuitomais amulher.<br />

ÉPOCA –Isso se aplica àmulher que decide nãoter filhos?<br />

Oque aimpededechegar ao topo?<br />

Barker – Ela ainda enfrenta oclube masculino.Mesmo que<br />

não tenha o“segundo cargo” ao chegar em casa, ainda é<br />

vista na empresa como alguém que“não tem omesmo<br />

estilo masculino quenós”, que“não éagressivaosuficiente”,<br />

“que terá filhos”, “que há de casar em algum momento”.É<br />

muito mais comum nas gerações mais jovens, em várias<br />

partes domundo, que homens emulheres consigam ter<br />

relações de amizade eigualdade,eque isso não passe por<br />

algo potencialmente sexual. No entanto, há osexismo da<br />

“geração Madmen”, queainda temmuita gentenopoder.<br />

ÉPOCA –Qual éobenefício do equilíbrio de gênero no<br />

comando das empresas?<br />

s<br />

76 I ÉPOCA I 7demarço de 2016<br />

Foto: divulgação


AJAM!<br />

GaryBarker,ativista<br />

da igualdade.Ele<br />

recomenda acada<br />

homem que “levante<br />

otraseiro”,divida as<br />

tarefas ecombata o<br />

sexismo no trabalho<br />

7demarço de 2016 I ÉPOCA I 77


ENTREVISTA<br />

Gary Barker<br />

Barker–Adiversidade éprodutivaemqualquer empresa.<br />

As pesquisas mostram que as empresas que favorecem a<br />

liderança feminina têm lucro. Se você não aproveita o<br />

mercado feminino de mão de obra,está amarrando metade<br />

de seucorpo.Qualquer empresa quediz “abraçamos<br />

adiversidade, criamos condições”quasesemprevêlucro.<br />

Um local de trabalho adequado tem mulheres, homens,<br />

homossexuais,heterossexuais ediferentesetnias.<br />

ÉPOCA –Amulher éconsideradamais avessa ariscos.<br />

Isso atrapalha?<br />

Barker – Há quem aindapense queamulherémenos propensa<br />

acorrerriscos, menos ousada. Eramuitocomum a<br />

ideia de tentar mantê­la perto decasa, uma cultura que é<br />

reforçada ainda hoje, com mensagens diárias dos pais de<br />

“cuidado, menina!”, enquanto omenino éestimulado a<br />

correr em frente eaganhar sempre.Estou falando deestereótipos.<br />

Se você perguntar aumhomem queserápai o<br />

queele pensa sobrecriar um menino ou uma menina, ele<br />

responderáque protegeráafilha, porque omundotentará<br />

se aproveitar dela de alguma forma, eincentivaráomenino<br />

acorrer riscos. Apostura é:ele (o filho)<br />

vai conquistar omundo, ela (a filha) vai<br />

conquistar um cara.<br />

ÉPOCA –Que medidas sãoeficazes para<br />

que as mulheres cheguem ao topo?<br />

Barker – Épreciso criar mecanismos de<br />

licença­paternidade ematernidade que<br />

permitam que mulher ehomem tenham<br />

tempo. Para que, quando nasce umfilho,<br />

se crie um padrão em queambos cuidem<br />

dele. Oideal seriaquatro mesesparacada<br />

um, 100% pagos enão transferíveis. Também<br />

são eficazes políticas de flexibilidade<br />

de horáriodetrabalho e<strong>mud</strong>anças na culturadaempresa<br />

que valorizem ocuidado eoreconhecimento davida privada<br />

do empregado. Essas <strong>mud</strong>anças vêm de cima.<br />

ÉPOCA –Como aempresa sebeneficia de um custo<br />

adicional, alicença-paternidade?<br />

Barker – Várias pesquisas nos Estados Unidos ena Europa<br />

sugerem que, quando ocasal tem acesso às licenças de<br />

paternidade ematernidade, ambos se sentem mais engajados<br />

com oempregador, se sentem apoiados. Écomo se<br />

ochefe dissesse“eu invisto emvocê ena família que você<br />

está formando”.Éuma questão de lealdade.Oempregador<br />

reconhece queseu funcionário temvida foradotrabalho,é<br />

uma humanização.Algumas pesquisas da Suécia mostram<br />

que, quando oferecem alicença etempo flexível –como<br />

trabalhar seis horaspor dia em vezdeoito, porque épreciso<br />

cuidar do filho –, oprofissional torna­se mais produtivo.<br />

ÉPOCA –Qualpaís usa bemalicença-paternidade?<br />

Barker – AIslândia éopaís campeão no uso de licençapaternidade<br />

ematernidade.Oshomens tiram, em média,<br />

Ao aproveitaramão<br />

de obra feminina<br />

no mesmonível<br />

queamasculina,<br />

você cria um<br />

motor econômico”<br />

de 90 a100 dias depois de ser pais. De dias laborais, isso<br />

vira de quatro acincomeses. Essa política existehámais de<br />

20 anos na Suécia, na Noruegaena Islândia. Éamelhora<br />

adotar em países commercado de trabalho desenvolvido.<br />

ÉPOCA –Como aplicar essa política num país grande e<br />

subdesenvolvido,como oBrasil?<br />

Barker – OBrasil segue um pouco essa linha (de reconhecerdireitosebenefícios<br />

trabalhistas),mas não será possível<br />

permanecerdandoapenasquatro meses de licençaparaa<br />

mulher, se agente acredita que ohomem deve cuidar de<br />

50% das tarefas domésticas. Agente vaiter de darlicençapaternidade<br />

de quatro mesestambém.<br />

ÉPOCA –Mesmo quem nãotem filhostem medo de perder<br />

oemprego. Como tornar alicença-paternidade viável,<br />

em um mercado instável?<br />

Barker– No início, os homens terão medo ou resistência. Cabe<br />

ao empregadoreaoEstadodeixá­los seguros, incentivá­losa<br />

cuidar dosfilhos.Aeconomia (estáveledesenvolvida) dospaíses<br />

escandinavososajuda, mas éprecisolembrar queessa medida<br />

libera omercado feminino de formapoderosa.AIslândia<br />

éumpaísde300 milhabitantes,<br />

mas aumentou alicença­maternidadeepaternidadedurante<br />

uma recessão,em2007 e2008.<br />

Quando você aproveitaopotencialdamão<br />

de obra feminina no mesmo nívelemque<br />

amasculina, cria um motordecrescimento<br />

econômico. Esperaromomentoideal parao<br />

Brasilécriar uma desculpa paranão abraçar<br />

uma <strong>mud</strong>ançaafavor da igualdade.Talvez<br />

não amanhã,mas em dezanos,ela (a <strong>mud</strong>ança)<br />

dá retorno em forma de lucroesepaga.<br />

ÉPOCA –Como os homens podem se engajar<br />

comaparidade nas organizações além do discurso?<br />

Barker – Levantandootraseirodacadeiraefazendo otrabalho<br />

do dia adia.Fazendo alimpeza, cuidandodos filhos<br />

eentendendo que ele não éumajudante, éumpai. Um<br />

doscaminhos mais fáceis éodocuidado.Muitos homens<br />

acreditam na igualdade,mas ficam quietos, cúmplices, ao<br />

escutar comentários sexistas. Os homens têm de se posicionar.Vale<br />

omesmo comassédio sexual –ohomem muitas<br />

vezesnão se mete,mas épreciso questionar isso.Isso custa<br />

muito. Partedenosso trabalho équebrar osilêncio.<br />

ÉPOCA –Odebate sobrebalançodegênero ainda está<br />

num nível básicodemais?<br />

Barker – Damos um passo para afrente, dois para trás. O<br />

foco das mulheresnaliderança éopasso àfrente. Masainda<br />

estamos presos na ideia de queoshomenssão apenas trabalhadores,<br />

enão cuidadores. Ohomem tem de participar<br />

do avanço nos direitos das mulheres. Precisa participar<br />

ativamentedessa revolução.<br />

u<br />

Com RodrigoCapelo<br />

78 I ÉPOCA I 7demarço de 2016


unoastuto@edglobo.com.br<br />

O que é que<br />

a baian<br />

ana tem?<br />

A voz é doce, calma. O sotaque baiano<br />

é leve. Assim é Marina Nery, modelo<br />

internacional de sucesso e estreante na TV.<br />

Aos 21 anos, ela é uma das protagonistas<br />

da próxima novela das 9, Velho Chico, que<br />

estreia no dia 14. Aos 16, a soteropolitana<br />

estava em Paris – sem falar francês nem<br />

inglês –, trabalhando para marcas como<br />

Dior, Marc Jacobs e Dolce & Gabbana. “A<br />

moda surgiu tão repentinamente em minha<br />

vida quanto a atuação”, diz ela, convidada<br />

pelo diretor Luiz Fernando Carvalho<br />

para interpretar Leonor, par romântico<br />

de Rodrigo Santoro na primeira fase da<br />

trama. “A fama nunca foi um objetivo. O<br />

Luiz Fernando viu uma foto e um vídeo de<br />

uma campanha minha, me ligou, disse que<br />

eu tinha os olhos da personagem e fez o<br />

convite. Só topei depois de muita conversa”,<br />

afirma, do alto de seus 1,80 metro. Solteira,<br />

ela comenta as cenas quentes com Santoro:<br />

“É tudo muito técnico. Queremos passar o<br />

clima de romance, mas nada além disso”.<br />

Pronta paraassustar<br />

Inspiradanas vilãs dosdesenhos da Disney, Totia<br />

Meireles promete quevai assustar muitas crianças<br />

comsua performancenapeledadiabólica madrasta de<br />

Cinderella, no musical queestreia em SãoPaulo,nodia<br />

11. “Quero que elasfiquem comraiva de mim”, avisa.<br />

Aatriz foichamadaàspressas parasubstituir Cássia<br />

Kis, que, juntocom odiretor Ulysses Cruz, deixou a<br />

montagem, há um mês, porcausa de desentendimentos<br />

comaprodução.Com isso,Totia teve apenas duas<br />

semanas paraensaiar,agora sob abatuta de Claudio<br />

Botelho eCharles Möeller.“Eles me chamaram, e eu<br />

já estava doida parafazer um musical infantil. Meus<br />

netos, Santiago ePilar,vão ver. Fareiparaeles.”<br />

Fotos: Caiuá Franco/TV Globo, LuizaChataignier,<br />

Nicole Heiniger,JoãoMiguelJr/TV GloboeLeo Aversa


Com Acyr MéraJúnior e Guilherme Scarpa<br />

Vaiter bolo<br />

SthefanyBrito voltaàTVnodia 11, cobrindo alicença-maternidade<br />

de Fernanda Rodrigues no programa Fazendo afesta,atração do<br />

GNT queacompanha omundodas festas infantis. “É uma volta ao<br />

passado,játrabalheicom opúblicomirim e, inclusive,fizminha<br />

estreia aos 12 anos em uma novela infantil. Também apresentei o TV<br />

Globinho”, dizela. Sthefanyconta quetem se surpreendido coma<br />

espontaneidadedagarotada. “Em novela, étudomuitoensaiado.Mas,<br />

ao entrevistar uma criança, tudopodeacontecer.” Alguma previsão<br />

de encomendar um bebêcom onamorado,oempresáriocarioca<br />

Igor Raschkovsky? “Agora, lidandodiariamentecom criança, tenho<br />

me perguntado oque falta paraengravidar.Não queremos esperar<br />

muito, não. Planejamos parabreve,quemsabenoano quevem.”<br />

Duplo aniversário<br />

No ano em quecompleta 35 anos de<br />

idade e 20 de carreira, atop Alessandra<br />

Ambrósio avisa quenem pensa em<br />

aposentadoria. “Há dois anos, criei<br />

minha própriamarca, mas éuma<br />

extensão de minha carreira, não<br />

querotrocar uma pela outra. Tenho<br />

muitos contratosevoucontinuar<br />

nesse caminho”, afirma ela, queacaba<br />

de serclicada paraanova campanha<br />

da Dzarme,segundoarevista Forbes,<br />

faturaanualmentealgo em torno de<br />

US$ 8milhões, cercadeR$24milhões.<br />

Mãe de Anja,de7anos, edeNoah, de<br />

3, Alessandradiz queencaraanova<br />

idade comserenidade. “O queaidade<br />

me trouxedemelhor foi poder ver<br />

meus filhos crescerem,isso não tem<br />

preço.Ocorpovai <strong>mud</strong>ando, claro,<br />

oque paraalgumas pessoas éruim.<br />

Para mim, ésinal de maturidade.”<br />

Ruivaderuim<br />

Prestes aviver aprimeiravilã<br />

de suacarreira, asolteirona<br />

Branca da nova novela das 23<br />

horas, Liberdade, liberdade,<br />

NathaliaDill tingiu ocabelo<br />

de ruivoparaapersonagem.<br />

“O vermelho éforte,trazuma<br />

energiadiferente.Chama naturalmenteaatenção”,<br />

explica.“Ela<br />

éuma mulheràbeira<br />

de um ataque de nervos, que<br />

não se compadece dosproblemasdos<br />

outros. Seumaior<br />

medo éirparaumconvento,<br />

porque eraoqueacontecia<br />

às solteiras no século XVIII.”<br />

Ela diz quesóexisteuma<br />

coisa capaz de lhe arrancar o<br />

lado mais sombrio. “Abomino<br />

aintolerância. De todas as<br />

formas. Émuitodifícil aceitar<br />

queomundoestá cada vez<br />

mais intransigente.”


BRUNOASTUTO<br />

Leia acoluna diária de BrunoAstuto em epoca.com.br<br />

D<br />

Jdesde os 15 anos, Olin Batista,<br />

filho mais novo de Luma de Oliveira<br />

eEike Batista, estava afastado<br />

das picapes há dois anos. “Senti que<br />

precisava dar algoamais às pessoas”,<br />

afirma ojovem, hoje com20anos. Duranteessetempo,<br />

ele se dividiu entrea<br />

paixão pelo esqui, as partidas de tênis<br />

em sua própria quadra –“são hábitos<br />

que nunca pretendo perder” –,eas<br />

muitas horas dedicadas àprodução<br />

em seuestúdio,tambémemcasa. Oresultado<br />

dissoéolançamento, no dia 9,<br />

da faixa“Luma”, que marca seuretorno<br />

às pistas.“Elamedeu àluz,eagora eu<br />

estoudando vida aminha carreiracom<br />

umamúsica dedicada aela.”<br />

ÉPOCA –Oque podemos esperar da<br />

música dedicada asua mãe?<br />

Olin Batista – Bom, aideia foifazer uma<br />

música comelementos “tribais”ecom<br />

bastantepercussão, algo que lembrasse<br />

etivesse umavibebrasileiraecarnavalesca.<br />

Dessa ideia,surgiu “Luma”.<br />

Nada mais gratificanteque poder homenagear<br />

apessoa que mais amo na<br />

vida.Nós temosuma relaçãobonita. Eu<br />

aamo earespeitomuito.<br />

ÉPOCA –Como seus pais reagiram à<br />

faixa?<br />

Olin – Tive uma longa conversa com<br />

eles. Ficaram superorgulhosos. Não<br />

tem nada mais gratificante doque receber<br />

isso emtroca, olhares cheios<br />

de lágrimas, emoção eorgulho. Eles<br />

sempreacreditaram emederam força<br />

paraque fizesse oque amo.<br />

ÉPOCA –Anoiteenvolvedrogasebebidas.Como<br />

lida comisso?<br />

Olin – Minha filosofia é: vamos todos<br />

fazeroque queremos, as pessoas precisam<br />

ter liberdade para fazer oque<br />

quiserem. Tenho 20 anos esei quanto<br />

posso beber. Tenho um sensor que<br />

ENTREVISTA<br />

OLIN BATISTA<br />

DJ<br />

“Não confioemninguém”<br />

MÚSICAPARA AMÃE<br />

ODJOlin Batista,prestes avoltar ao<br />

trabalho.Ele vaihomenagear Luma<br />

diz: “Ok, Olin, está na hora debeber<br />

um pouco d’água!”. Ninguém gosta de<br />

acordar comuma grande dor de cabeça<br />

todososdomingos.<br />

ÉPOCA –Aproximam-se de você por<br />

interesse,por ser filho de quem é?<br />

Olin – Sem dúvida nenhuma. Tenho<br />

sérios problemas de confiança,<br />

não confio em ninguém. Temos um<br />

longo histórico com pessoas de má<br />

influência. Oser humano só pensa<br />

em dinheiro. Étriste, mas éverdade.<br />

Ando 24 horas pordia comopé atrás<br />

eolhosbem abertos. Avida me ensinou<br />

aser assim.<br />

ÉPOCA –Oque acha das críticas aseu<br />

pai como empresário?<br />

Olin – Honestamente, nãoestou ouvindo<br />

nem vendo essascríticas.<br />

Eraamor<br />

Quandoaduquesa de Alba se<br />

casou, em 2011, aos 85, com<br />

obonitón Alfonso Diez, 25<br />

anos mais novo,muita gente<br />

apostou altonum caso clássico<br />

de golpedobaú contra uma das<br />

maioresfortunas da Espanha.<br />

Pois, um ano etrês meses<br />

depois da mortedamulher, o<br />

viúvoassinou um acordo com<br />

ofilhomais velho da duquesa,<br />

oatual duquedeAlba, topando<br />

recebercerca de R$ 15 milhões<br />

parceladosemprestações<br />

anuais euma pensão de E 15<br />

mil, praticamenteuma vírgula<br />

do patrimônio estimado entre<br />

R$ 7bilhões eR$12bilhões.<br />

Depoisdamorte da duquesa,<br />

Alfonso desocupou os palácios<br />

em quevivia comela evoltou<br />

paraseu pequenoapartamento<br />

em Madri. Dizque não quer<br />

nemumcentavo amais do que<br />

foi combinadocom amulher.<br />

82 I ÉPOCA I 7demarço de 2016<br />

Fotos: divulgação eEuropa Pressvia Getty Images


WALCYR CARRASCO<br />

Avitória<br />

transexual<br />

Q<br />

uando menino, morava em Marília, interior deSão<br />

Paulo. Certa semana,umgrupo chamado Les Girls<br />

se apresentou na cidade. Para acidade,então pequena, um<br />

escândalo! Homens que sevestiam de mulheres, agiam<br />

como mulheres! Não se falava emoutra coisa. Oespetáculo<br />

foi àmeia-noite, eoshomens foram assistir curiosos,<br />

mas em segredo. Lotou! Mais tarde, descobri que a<br />

questão de gênero não eraalgoaser discutido.Era crime.<br />

Omédico RobertoFarina, em 1971, sofreu açãocriminal<br />

ao realizar aprimeira cirurgia deredesignação de sexo,<br />

de um homemparamulher. Se um médicosofriareveses,<br />

imaginem os transexuais.<br />

Oprimeiroestágioera viveremcomotravestis. Raríssimos,<br />

como Rogéria, ganhavam avida com shows. Para a<br />

maioria, só uma maneiradesobreviver: a<br />

prostituição.Iam para ocamburãoatroco<br />

de nada. Sociedade estranha anossa.<br />

Quemeramosclientessenão os homens<br />

“respeitáveis” que apostavam nopreconceito?<br />

Até hoje funciona assim. Nas<br />

maiores cidades, um grande número de<br />

travestis se prostitui. Em São Paulo, a<br />

zona do Jockey Club éumdos pontos<br />

prediletos. Éaporta de entrada para o<br />

Morumbi, um dos bairros mais caros da<br />

cidade.Empresários eexecutivos, pais de<br />

família, dão uma rapidinha antes de ir<br />

paracasa.Simples assim.<br />

Atérecentemente, oobjetivodotransexual erasobreviver<br />

como travesti até juntar dinheiro para fazer aoperação<br />

no exterior.Muitos se prostituíam na Itália, na França. O<br />

travesti brasileiro virou produto deexportação por sua<br />

beleza. Cruel omotivo para essa “vantagem”. Boa parte<br />

das vezes, oriundos de famílias paupérrimas, começam a<br />

tomar hormônios já aos 11, 12 anos. Começam aganhar<br />

contornos femininos ejásustentam afamília trabalhando<br />

nas ruas. Tornam-se femininos ou andróginos muito<br />

jovens. Em países com renda melhor emais educação, os<br />

pais costumam impedir as transformações até queofilho<br />

tenha idade para decidir –mas aí os hormônios já deram<br />

aseu corpotraços masculinos.<br />

Os transexuais brasileiros faziam aoperação no Marrocos.<br />

Muitos morriam.Voltavam,equal aopção? As ruas, novamente.Conheci<br />

Cláudia Wonder,uma artista, pioneira na<br />

área. Faleceu, já. Lutava muitoparasobreviver comshows.<br />

NÃOCONSIGO<br />

IMAGINAR COMO<br />

ÉTERRÍVEL O<br />

SENTIMENTO DE<br />

ESTAR APRISIONADO<br />

NO CORPO ERRADO<br />

Agora, as <strong>mud</strong>anças acontecemrapidamente.Asociedade é<br />

assim, às vezesvem um ventotransformador. Só no futuro<br />

os historiadoressaberão mapear os acontecimentos.<br />

Dou muitaimportância aLea T, brasileira, aprimeira<br />

modelo trans aexplodir no mundo daalta moda. Lea T<br />

trouxe para ocotidiano anoção de que umtransexual<br />

não éum homem que sesubmete auma operação para<br />

virar mulher, esim uma mulher que estava aprisionada<br />

no corpo de um homem.<br />

No Hospital das Clínicas, em São Paulo, jáháprocedimentos<br />

para lidar com crianças transgênero. Thammy<br />

Miranda étambémumsímbolo. Aceita como um homem,<br />

posa comanamorada no Instagram. Temmais de 500 mil<br />

seguidores. Ninguém mais lheatira pedras.Comparecea<br />

programas de televisãoejá feznovela. No<br />

Brasil, há também uma musa do cinema:<br />

Maria Clara Spinelli. Dos Estados Unidos,<br />

também vem uma influência forte:<br />

Angelina Jolie jáapresentou ao público<br />

seu filho Shiloh, nascido como menina.<br />

Massóaceitasevestir como garoto.Para<br />

amãe, tudobem.Aatriztrans MyaTaylor<br />

ganhou oIndependentSpiritAwardpelo<br />

filme Tangerine. Laverne Cox levou o<br />

Emmypelasérie de televisão Orange is the<br />

new black. Eogalã Keenu Reeves foi fotografadoaos<br />

beijos comJamie Clayton,<br />

da série Sense8.Numa boa.<br />

Mesmo nas cidadespequenas, já éaceitaaideia de que<br />

alguém nasceu aprisionado no corpoerrado. Alei ajuda: é<br />

possível <strong>mud</strong>ar aidentidade,com ogênero.Não quetodos<br />

entendam exatamenteoque acontece.Eumesmo,confesso,<br />

não consigoimaginarcomoéterrívelosentimentodeestar<br />

aprisionado no corpo errado. Dá para ter uma ideia no<br />

filme Agarota dinamarquesa,cujo ator,Eddie Redmayne,<br />

foi indicado ao Oscar por interpretar oprimeiro caso do<br />

mundo detransexual apassar por uma cirurgia. Os trans<br />

não estão só no mundo artístico, mais liberal. Há profissionais<br />

em diversas áreas. Semescândalo.Quemfor contra<br />

que se cale. Em breve, seufilhopoderáavisar:<br />

–Casei comuma trans!<br />

Se elafor genteboa,apenas comemore.<br />

Walcyr Carrasco éjornalista, autordelivros,<br />

peças teatrais enovelas de televisão<br />

u<br />

7demarço de 2016 I ÉPOCA I 83


MENTE ABERTA<br />

Oministroque<br />

viroupeixe<br />

OIphandiscuteoque fazercom azulejos de Portinari,<br />

encaixotadosdesde1942porqueGustavo Capanema,<br />

prócer do Estado Novo,achouque eram suacaricatura<br />

ÍMarcelo Bortoloti<br />

cone da arquitetura modernista, o<br />

Palácio Gustavo Capanema, no centrodoRio<br />

de Janeiro, passou décadas<br />

abandonado.Odescaso comopatrimônio<br />

públicochegouatal nível queavida<br />

dosfuncionários públicos queali trabalham<br />

edapopulação que caminha por<br />

suas calçadas começou acorrer risco.<br />

Elevadoresestavam, literalmente,caindo<br />

aos pedaços –houve casos em quedespencaram<br />

com passageiros epor pura<br />

sortenão houve um acidente maissério,<br />

com vítimas. Azulejos da fachada despencavam<br />

na cabeça de quem passava<br />

pela calçada. Pinturas emurais emseu<br />

interiorestavamdescascando. Em 2015,<br />

oInstituto do Patrimônio Histórico e<br />

Artístico Nacional (Iphan) começou o<br />

restaurodoprédio,tombado pelo patrimônio<br />

histórico, aumcustoestimado de<br />

R$ 60 milhões. Além de recuperaraestrutura<br />

física doedifício,oprojeto vai<br />

restaurar os painéis de CândidoPortinari<br />

easesculturas de Celso Antônio,Bruno<br />

GiorgieVictor Brecheretque fazem<br />

parte do conjunto. Com tanto trabalho<br />

afazer,ostécnicos quecoordenam oprojeto<br />

têm um dilema aresolver: oque fazer<br />

com um painel de Portinari, depositado<br />

no almoxarifado do prédio,que oentão<br />

ministro da Educação,Gustavo Capanema,<br />

mandou encaixotar em 1942.<br />

Ahistória dessa obra inédita expõe<br />

umafraturanarelaçãoentre Portinari e<br />

Capanema. Opainel tem desenhos de<br />

peixes estilizadosque, conforme se percebeunaépoca,<br />

imitam orostodoministro<br />

de perfil. Portinari recriou nas<br />

figurasmarinhas atestaproeminentee<br />

aboca rasgada de Capanema. Quando<br />

opainel já estavasendo instalado, surgiramnotasmaldosas<br />

na imprensafalando<br />

da “homenagem”.Capanema mandou<br />

retirar osazulejos da parede e<br />

substituir odesenhopor outroemforma<br />

de estrelas-do-mar.Não ficou esclarecido<br />

se Portinari teve aintençãodefazer<br />

uma caricatura doministro ou se asemelhançafoi<br />

fortuita.Mas aobraacabou<br />

guardada esófoi redescoberta durante<br />

uma pesquisa em1984. Desde então,o<br />

Iphan estudaoquefazer comela.<br />

Gustavo Capanema quis construir<br />

umasedeparaoMinistériodaEducação<br />

quefosseuma marcapessoal de suagestão,que<br />

duroude1934 a1945 –amais<br />

longaentre todososministrosdaEducaçãoque<br />

opaísjáteve. Porisso, interferiu<br />

em cada detalhe da obra,acomeçar<br />

pelo projeto arquitetônico. Capanema<br />

descartouaplanta escolhida em concurso<br />

público econvidou Lúcio Costa e<br />

Oscar Niemeyer para fazer novo desenho,<br />

apartir das linhas modernas do<br />

francês Le Corbusier. Chamou Portinari<br />

para pintarosmaiores murais já feitos<br />

no Brasil. Ainiciativa ocomparava ao<br />

ministro mexicano José de Vasconcellos,<br />

que duas décadas antes convidara os<br />

84 I ÉPOCA I 7demarço de 2016<br />

Fotos: LifePictureCollection/Getty Images, Pulsar eFolhapress


CARA DE GENTE<br />

Cândido Portinari<br />

em seuestúdio.<br />

Àesquerda,<br />

os azulejos pintados<br />

porele compeixes<br />

comamesma<br />

fisionomia de<br />

Gustavo Capanema<br />

(na foto ao lado).<br />

Qualquer<br />

semelhança émera<br />

coincidência?<br />

3<br />

7demarço de 2016 I ÉPOCA I 85


MENTE ABERTA<br />

FACHADA<br />

Opainel comazulejos<br />

em forma de estrelado-mar<br />

que foi<br />

montado na antiga<br />

sede do MEC, no Rio<br />

de Janeiro. Seria<br />

anedóticoumpainel<br />

comafigura do<br />

ministronum projeto<br />

tãopersonalista<br />

sioso para acabar os trabalhos quefaltam<br />

no Ministério–foi um trabalho quenão<br />

me satisfez em nenhum sentido. Mesmo<br />

quetivesse feitográtis, mas realizado sem<br />

tanta intervenção, teria valido apena”.<br />

Além das pinturas edos murais internos,<br />

os enormes painéis de azulejo querecobrem<br />

aparte externadoprédio também<br />

foram confiados aPortinari.LeCorbusier<br />

defendia esse tipo de revestimento<br />

na fachada,emvez do mármore importado,<br />

porque isso valorizava materiais<br />

locais eremetiaaos azulejos das igrejas<br />

coloniais do Rio de Janeiro, arquitetura<br />

cara aos modernistas. Capanema concordou<br />

queospainéis deveriam seror-<br />

pintor Diego Rivera para conceber os<br />

murais no prédiodaSecretariadeEducação,naCidade<br />

do México. Oedifício<br />

de Capanemavirou exemplo da pujança<br />

da nova arquiteturabrasileira.<br />

Portinaritambém estava no auge, e as<br />

relações comCapanema eram amistosas.<br />

Mascomeçaram asedesgastar porcausa<br />

da excessiva intervenção de Capanema.A<br />

documentação do período mostraquanto<br />

eleimpunha seugostopessoalemcada<br />

detalhe.Ao encomendar apinturadasala<br />

de espera dogabinete,escreveu aPortinari:<br />

“Nograndepainel, deverão figurar<br />

ogaúcho,osertanejo eojangadeiro.Você<br />

deve ler oterceiro capítulo da segunda<br />

parte de Os sertões,deEuclides da Cunha.<br />

Aí estão traçadosdamaneiramais viva os<br />

tipos dogaúcho edosertanejo”. Para o<br />

gabinete,pediu uma cena bíblica do julgamento<br />

dorei Salomão eorientou o<br />

pintor:“Leia no terceiro Livro dos Reis,<br />

capítulo III, versículos 16-28”.<br />

Já na metade da encomenda,emdezembro<br />

de 1943,Portinaridesabafou em<br />

carta aMário de Andrade: “Estou annamentados<br />

com motivos marinhos,<br />

como estrelas-do-mar,conchas,peixese<br />

moluscos,pelofatodeoedifício encontrar-se<br />

na épocadefrenteparaomar.A<br />

área depois foi aterrada.<br />

Para aconfecção desses painéis, Portinari<br />

fazia desenhos emcartões, que<br />

eram aprovadospor Capanema edepois<br />

enviados aSão Paulo, onde oartista<br />

Paulo Rossi Osir produzia os azulejos.<br />

Os desenhos deveriam ser estampados<br />

nascores azul ebrancacomoosazulejos<br />

da igreja do OuteirodaGlória. Otrabalho<br />

era tão minucioso que Paulo Osir<br />

passou mesesfazendo experiências para<br />

chegar ao mesmotom de azul dospainéis<br />

da igreja.Usouumóxido de cobalto<br />

quenoséculoXVIII os portugueses<br />

importavam de Angola.<br />

Odesenho dospeixes foi inicialmente<br />

aprovado porCapanema, semque oministro<br />

percebesse semelhanças com sua<br />

fisionomia. Opainelficouprontoeestava<br />

sendoinstalado,quandoele mandou<br />

arrancar as peças quejáestavam na parede.Alegava<br />

que,em tamanho grande,seu<br />

86 I ÉPOCA I 7demarço de 2016<br />

Foto: Marcos Arcoverde/EstadãoConteúdo/AE


esultado estético não foi “satisfatório”.<br />

Numedifício tão personalista como oque<br />

oministro estava construindo, umaparede<br />

cobertapor figuras quesepareciam<br />

com ele soaria anedótico. Capanema,<br />

políticoexperiente, evitou atragédia.<br />

Paulo Rossi Osir,fabricantedos azulejos,<br />

escreveu aPortinari: “Lastimo o<br />

incidente peixe cara de gente”. Aimprensa,<br />

sob censura do Estado Novo,<br />

não noticiou oacontecido. Foramsubstituídas<br />

por estrelas-do-mar todas as<br />

figuras de peixe que ornamentavam a<br />

parte internadopainel. Ogoverno teve<br />

de pagar afábrica de SãoPaulo quetrabalhou<br />

dobrado produzindo novos<br />

azulejos comodesenho refeitopor Portinari.<br />

Ocaso acabouesquecido.<br />

Em 1984, técnicos do Iphan fizeram<br />

um inventárionos depósitos do edifício<br />

eencontraramazulejos quenão pertenciam<br />

anenhum painel instalado. Eram<br />

1.600 peças comdesenhos de peixes. Alguns<br />

deles tinham vestígios de massa,<br />

indicandoque já haviam sidoassentados.<br />

Pesquisando aorigem domaterial,eles<br />

encontraramdocumentaçãosobreoincidente.<br />

Os técnicosremontaram opainel–quedeveria<br />

ter72metrosquadrados–no<br />

pátio do ministério.Verificou-se<br />

que era uma obra inédita, com alguns<br />

azulejos quebradoseoutros faltando. Em<br />

seguida ele foi desmontado easpeças<br />

guardadas em 29 caixas no depósito.<br />

“Tão logo as obrasderestaurodoprédio<br />

estejam concluídas, nossos técnicos<br />

verificarão apossibilidadedemontagem<br />

do painel”, diz Luiz Phillippe Torelly, diretordoDepartamentodeArticulação<br />

e<br />

Fomento doIphan. Odilema écomo<br />

remontá-lo.Norelatório do Iphan de<br />

1984, havia duas sugestões.Aprimeira<br />

seria mandar fabricar os azulejos que<br />

estão faltando emontaraobra conforme<br />

seudesenho original, em alguma parede<br />

interna doprédio. Isso implicaria um<br />

custoelevado edificuldadetécnica para<br />

replicar comexatidãoosazulejosque se<br />

perderam.Asegundaseria usar apenas<br />

os azulejos preservados. Assim, se faria<br />

umaremontagemartística comdesenho<br />

aleatório, semrespeitar os traços de Portinari.NessecasoCapanematerácumprido<br />

seu intento denão ver aprópria<br />

caricatura estampada no prédio que<br />

mandou construir.<br />

u<br />

P<br />

MARCIOATALLA<br />

erdi 15 quilos,mas agoravoltei a<br />

ganhar peso. Faço um trabalhoaeróbicoecom<br />

reforçodemusculação, já<br />

que estoucom 45 anos.Devo aumentarotrabalhoaeróbico?–Rômulo<br />

F. de<br />

Carvalho,BelfordRoxo, RJ<br />

Primeirogostariadeparabenizálo<br />

pelo esforço epeloprograma, que<br />

mescla diferentes atividades. As aeróbicas<br />

são excelentes parareduzira<br />

gordura corporal, melhorar ocondicionamentocardiorrespiratório<br />

eafastar complicações,<br />

como diabetes,<br />

pressão alta eproblemas<br />

cardiovasculares. Os exercícios<br />

de força são fundamentais<br />

para preservar a<br />

massa muscular, proteger<br />

os ossos enão deixar oritmo<br />

metabólicocair como<br />

avanço da idade.Oganho<br />

de peso podeestar associado<br />

ao ganho de massa muscular.Parater<br />

certeza,você<br />

pode tirar algumas medidas,<br />

como adacintura,<br />

dascoxas edos braços. O<br />

mesmo peso de massa gorda<br />

ocupa muitomais espaço queode<br />

massa magra,por isso ovolume pode<br />

diminuir eopeso aumentar.Suas roupas<br />

também podem seruma boa referência<br />

paraisso.Paraemagrecermais,<br />

<strong>mud</strong>e os treinos, porque ocorpo se<br />

adapta. Faça treinos aeróbicos intervalados<br />

ou corranasubida. Nostreinos<br />

de força, <strong>mud</strong>e as repetições, ointervalo<br />

entreasséries eaté mesmo a<br />

velocidade quevocêfaz os exercícios.<br />

Treino novo<br />

para enganaro<br />

corpo<br />

NA LIVRARIA<br />

Mais dicas sobre<br />

qualidadedevida<br />

eemagrecimento<br />

no livro Suavida<br />

em movimento,<br />

de Marcio Atalla<br />

(EditoraParalela)<br />

Há poucomais de dois anos tivegêmeos<br />

e, durante agravidez, engordei 20<br />

quilos. Quero diminuir minhasmedidas<br />

efortalecerabarriga.Comomeexercitar<br />

cuidando de duascrianças?–Viviane<br />

Rocha,MataVerde, MG<br />

Uma gestação de gêmeos <strong>mud</strong>a<br />

bastante ocorpo da mulher. Aatividade<br />

física ajuda avoltar àantiga<br />

forma. Em casa,vocêpodefazer<br />

exercícios localizados para ganhar<br />

massa muscular. Exercícios<br />

como agachamentos,<br />

flexão de braços eabdominais,<br />

em que usamos<br />

apenas opeso do corpo,<br />

são os mais fáceis. Uma<br />

opção, afim de aumentar<br />

ocardápio de movimentos<br />

possíveis, écomprar<br />

um kit chamado TRX,<br />

compostodecordas para<br />

fazer exercícios em suspensão.Acordadepular<br />

éuma ótimaopção para<br />

fazer alguma atividade aeróbica.<br />

Promovebom gasto<br />

calórico,ajuda na coordenaçãoeainda<br />

trabalha<br />

os músculos de costas, braços eombros.<br />

Para complementar as atividadesaeróbicas,<br />

uma caminhada vigorosa<br />

comosbebês no carrinho éuma<br />

excelenteforma de se movimentare<br />

aproveitarparaestar comosfilhos. u<br />

Marcio Atalla éprofessor de<br />

educaçãofísica econsultor do quadro<br />

“Medida certa”, do Fantástico,daGlobo.<br />

E-mail: matalla@edglobo.com.br<br />

7demarço de 2016 I ÉPOCA I 87


TEMPO LIVRE? ESQUEÇA. EIS OQUE VOCÊ PRECISA FAZERNESTASEMANA<br />

LIVRO<br />

2horas<br />

CINEMA<br />

2horas<br />

Nem tudo vaificar bem<br />

OalemãoWim Wenderslança mais um filme em<br />

que questiona opapel de um diretor ou de um<br />

escritor,quando esse toma emprestado ador do<br />

outroemnome da arte.Ofilme Tudo vaificar bem<br />

retrataosofrimentodeumescritor (JamesFranco)<br />

responsávelpela morte de uma criança em um<br />

acidentedecarro. Para expurgar osentimento de<br />

culpa,ele escreveumlivrosobreoassunto, que se<br />

torna um grande sucesso.Usando orecurso do 3D,<br />

Wenderstenta dar mais profundidade àconfusão<br />

de sentimentos do escritor,levando oespectador<br />

para“dentro” da trama. Estreia no dia10/3.<br />

Quem não<br />

deve não<br />

apaga histórico<br />

Siem Sigerius é<br />

um acadêmico<br />

respeitado,marido<br />

epai exemplar<br />

–epornógrafo<br />

incorrigível. Na<br />

solidãodeseu<br />

computador,ele<br />

assisteavídeos<br />

de sexo explícito<br />

protagonizados por<br />

uma moça muito<br />

parecida com<br />

sua enteada Joni.<br />

Seria Joni adona<br />

daquelecorpocuja<br />

performanceo<br />

enlouquece?Oué<br />

tudouma perversa<br />

coincidência? Bonita<br />

avenue,romance de<br />

estreiadoholandês<br />

PeterBuwalda,<br />

ganhou traduções<br />

(e elogios) em dez<br />

idiomas eprova que<br />

os conflitos trazidos<br />

pela tecnologiasão<br />

um prato cheiopara<br />

escritores talentosos.<br />

Alfaguara, 536<br />

páginas,R$64,90.<br />

MOSTRA<br />

2horas<br />

OladoBdeHelena<br />

Além de completar 50 anosem2016,aatriz<br />

Helena Bonham Cartertambém celebraoDia<br />

Internacional da Mulher em SãoPaulo.AMostra<br />

Helena Bonham Carter reúneoitofilmese<br />

rememoraatrajetória da atriz,conhecida por<br />

viver personagens complexosedistintos. A<br />

mostradáluz aobras nãotão conhecidas de<br />

sua filmografia,como RetornoaHoward’sEnd<br />

e Lady Jane. MIS,São Paulo,de9/3 a12/3.<br />

STREAMING<br />

1hora<br />

Amor embriagado<br />

Na série Flaked,ocomediante Will Arnett<br />

(conhecido porsua participaçãonasérie<br />

Arrested development)viveChip,umexalcoólatra<br />

disposto atudoparamanter<br />

a imagem de cara legal. Sua reputação<br />

começaadesmoronar quando ele se<br />

apaixona pela mesma mulher que seu<br />

melhor amigoesuas mentiras começam a<br />

se acumular.Acadapassoàfrenteparaser<br />

uma pessoa melhor,ele dará12paratrás.<br />

Netflix,estreia no dia 11/3.<br />

88 I ÉPOCA I 7demarço de 2016


Por Ruan de Sousa Gabriel, rsgabriel@edglobo.com.br,<br />

e Nina Finco,mfinco@edglobo.com.br<br />

LIVRO<br />

1hora<br />

SHOW<br />

2horas<br />

Joga tinta na política<br />

TancredoNeves,José Sarney, Fernando Collor de<br />

Mello,ItamarFranco, Fernando Henrique Cardoso,<br />

Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff... Quem<br />

vesteafaixapresidencial,invariavelmente, tornase<br />

vítima das tintas de Chico e Paulo Caruso, os<br />

gêmeos cartunistas que pintam apolítica brasileira<br />

em suas charges. Sãoosmesmos personagens<br />

ironizados no show 30 anosdedemocracia –Que<br />

país éesse?,noqual os dois irmãos apresentam<br />

canções bem-humoradas sobreavidanacional<br />

desdeademocratização.Composições como<br />

“Cinquenta tons de Dilma (Dilma blues)”, “Balada<br />

do Zé Dirceu”e“Pizzolato pizzaiolo”versam<br />

sobreaimpunidade,ofisiologismo eadelação<br />

premiada. Teatro Itália,São Paulo,de11a13/3.<br />

MUSICAL<br />

2horas<br />

Mina,esse musical édaora!<br />

Os Mamonas Assassinas foramumestrondo nacional<br />

em 1995.Com apenas um álbum lançado,elesvenderam<br />

mais de 3milhões de cópias.Atrajetória de sucesso<br />

foiinterrompida poruma tragédia,e,noano seguinte,<br />

calou-seorisodos garotosdeGuarulhos. Essa história<br />

de êxitoetragédiaéatrama de Omusical Mamonas.<br />

Em homenagem aos20anosdemorte do grupo, o<br />

espetáculo écontado apartir do pontodevista de Dinho,<br />

Júlio,Samuel, Sergio eBento. Ojaponêsdaturma é<br />

interpretado pelo legendário Yudi Tamashiro. Teatro<br />

Fecomercio,Sala Raul Cortez,estreia no dia11/3.<br />

Ossos do ofício<br />

Ajornalista e<br />

escritoraamericana<br />

Janet Malcolm<br />

desconfia que talvez<br />

os biógrafos não<br />

passem de ladrões<br />

que exploram o<br />

voyeurismo dos<br />

leitores.Ela também<br />

nãogosta de<br />

David Salle,artista<br />

pós-moderno<br />

americano.Teve<br />

tanta dificuldade<br />

paraescrever um<br />

perfildele que<br />

começouotexto 41<br />

vezes.Oresultado foi<br />

oensaioque dá título<br />

a 41 iníciosfalsos,<br />

livroque reúne<br />

reflexões sobre<br />

artistas,escritorese<br />

oprocesso criativo.<br />

Janet mistura<br />

reportagem,crítica<br />

literária epsicanálise<br />

ao analisar o<br />

Bloomsbury(ogrupo<br />

de literatos ao qual<br />

pertenceu Virginia<br />

Woolf), omedo<br />

que oescritorJ.D.<br />

Salinger tinha da<br />

banalidade eoutras<br />

particularidades<br />

do ofício criativo.<br />

Companhia<br />

das Letras,384<br />

páginas,R$54,90.<br />

Fotos: dilvulgação<br />

7demarço de 2016 I ÉPOCA I 89


RUTH DE AQUINO<br />

Ou lava ou racha<br />

A<br />

gora, não há mais como escapar do julgamento da<br />

História, com letra maiúscula. Aexplosão de dois<br />

homens-bomba deixou opaís perplexo eespalhou estilhaços<br />

no Congresso Nacional enoPalácio do Planalto.<br />

Os homens-bomba não são meros doleiros, oudiretores<br />

de estatal, ou empreiteiros,mas líderes de nossaRepública,<br />

investigados pela Lava Jato no exercício de seus mandatos.<br />

Oex-líder do governo Dilma Rousseff no Senado,Delcídio<br />

doAmaral, (ainda) do PT, eo(ainda) presidente da<br />

Câmara, Eduardo Cunha, do PMDB,setornaramreféns e<br />

protagonistas explícitos do grandeesquema de corrupção<br />

eguerrasujadepoder queapequenou apolítica brasileira<br />

edesacreditou seus maioresrepresentantes.<br />

Primeiro, como aperitivo, caiu emdesgraça Eduardo<br />

Cunha, depois de um ano de manobras irritantes. Cunha<br />

foi,enfim, parafelicidade geral da nação,transformado em<br />

réu pelo SupremoTribunal Federal epor<br />

unanimidade: 10votos a0.Éacusado de<br />

receber aomenos US$ 5milhões desviadosdaPetrobras.<br />

Poucomais de uma hora<br />

após ser proclamado réu, cinco partidos<br />

pediam seu afastamento dapresidência<br />

da Câmara: PT,PSDB,PSOL, PPS eRede.<br />

Cunha parecia oúnicocapaz de reunificar<br />

opaís –contraele.<br />

Ele perdeomandatosepelomenos 257<br />

de seus 512 colegasquiserem, em votação<br />

aberta. Nãohámais clima paraCunha se<br />

manter presidente da Câmara edriblar a<br />

cassação, anão ser que faça como Renan Calheiros, que<br />

renunciou paranão perder omandato–evoltou, como o<br />

afilhado favorito de José Sarney,àpresidência do Senado.<br />

Sobre ocorreligionário Cunha, Renan já se pronunciou:<br />

“Meincluaforadessa. Não me ponha nessa confusão”.<br />

Omaiorhomem-bomba explodiria logo depois, deixando<br />

apresidente Dilma Rousseff anestesiada, sem capacidade<br />

de reação imediata. Aexplosão veio em forma de palavras,<br />

trechos devastadores deumdepoimento de400 páginas<br />

que osenador petista Delcídio do Amaral teria dado ao<br />

procurador-geral da República, como partedoacordopara<br />

sersoltonodia 19 de fevereiro. Foramquase três meses de<br />

prisão,acusado de atrapalhar as investigações da Lava Jato<br />

edesmascarado em vídeo gravado num quarto de hotel<br />

pelo filho de Nestor Cerveró.<br />

Arevista IstoÉ antecipou suaedição parapublicar com<br />

exclusividade odepoimento deDelcídio, ainda não formalizado<br />

pelo STF como delação. Collor eNixon caíram<br />

É PERIGOSO DEIXAR<br />

FERIDOS PELO<br />

CAMINHO”, DISSE<br />

DELCÍDIO.LULAE<br />

DILMA NÃOSEGUIRAM<br />

OCONSELHO<br />

por muito menos. Em vez deafirmar que asdeclarações<br />

publicadas são uma fraudeenão passam de mentiras, Delcídio<br />

disse apenas “não reconhecer oteor, aorigem ea<br />

autenticidade”, em nota assinada com seu advogado.Não<br />

confirmou oconteúdo, masnão odesmentiu.<br />

Oque veio àtonacom ohomem-bomba eex-braço forte<br />

de DilmaeLulanoCongressoéumconjuntodecrimes<br />

contra ademocracia, que vão muito além dacorrupção<br />

passiva oucompra devotos. Articulação para barrar a<br />

Lava Jato esabotar aJustiça, nomear desembargadores<br />

simpáticosaoPT, influenciarovotodoSupremo Tribunal<br />

Federal, soltar presoscomoMarcelo Odebrecht. Complôs<br />

tendoLulacomomentordas mesadas paraCerveró calar<br />

aboca –mesadas que teriam saído do bolso do amigo<br />

pecuaristaJoséCarlos Bumlai.<br />

Se um terço desse depoimento ficar comprovado, o<br />

governoimplodirá, porrenúncia ou impeachment.<br />

Antes disso, cabeças rolarão<br />

–esperoque essaexpressão não passe de<br />

uma metáfora. Temmuita gente preocupada<br />

comasobrevivência físicaepolítica.<br />

Ofilho deCerveró deixou opaís. Osenador<br />

Delcídio tornou-se, paraoPT, réu<br />

confesso,inimigodeclaradodopartido e<br />

do governoeforte candidato aser cassado<br />

rapidamente.<br />

Seja qual for odesfecho desse drama,<br />

Lula –que na sexta-feira começou aser<br />

investigadooficialmente pela Lava Jato –<br />

eDilma devemestar arrependidos ao menos de um detalhe:não<br />

terescutadooconselhodeDelcídio.“Presidente,é<br />

perigoso deixar os feridos pelo caminho.” Osenador disse<br />

issoaos dois, Lula eDilma,aolongo de anos,antes de ser<br />

preso eexperimentaroveneno do PT.“Coisa de imbecil”<br />

e“burrada” –foi areação de Lula ao vídeo quederrubou<br />

Delcídio.OPT ficou dividido entreaexpulsãosumária e<br />

asuspensão do senador. Delcídio ficou desesperado com<br />

atraição eoisolamento.<br />

Opanorama, aliado auma crise econômica quase sem<br />

precedentes, ésombrio,mas podeser oinícioreal de uma<br />

depuração nunca antes vista no país. Militantes apaixonados<br />

que sonham com“ORegresso”podem se tornar<br />

dissidentes, também passionais, caso averdade seja assim<br />

tão suja.Agora,élava ou racha.<br />

u<br />

Ruth de Aquino écolunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br<br />

90 I ÉPOCA I 7demarço de 2016

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