PETRÓLEO E ESTADO
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90 Petróleo e Estado<br />
CAPÍTULO 8<br />
NACIONALISMO<br />
QUESTIONADO<br />
Colaboração hemisférica<br />
A escolha do coronel João Carlos Barreto para a<br />
presidência do CNP refletia uma mudança de posicionamento<br />
do governo brasileiro nas questões<br />
ligadas ao petróleo. Embora o Conselho ainda estivesse<br />
nas mãos dos militares como ele próprio, o<br />
novo grupo dirigente se orientava pelas teses de<br />
colaboração hemisférica, defendidas pelo governo<br />
norte-americano, tanto no plano econômico<br />
quanto no militar. Foram sendo progressivamente<br />
colocadas de lado as posições nacionalistas, características<br />
da presidência de Horta Barbosa. E o vice,<br />
Domingos Fleury da Rocha, também se desligou<br />
do CNP em 1944. Ao assumir a direção do órgão,<br />
em setembro de 1943, João Carlos Barreto procurou<br />
cercar-se de técnicos afinados com a nova<br />
orientação. Se, em termos mais amplos, sua gestão<br />
representou uma profunda ruptura com o período<br />
anterior, no terreno prático tiveram continuidade as<br />
linhas de ação definidas na gestão anterior, sobretudo<br />
o racionamento de combustíveis e o programa<br />
de extração de petróleo no Recôncavo Baiano.<br />
O envolvimento do Brasil na Segunda Guerra<br />
Mundial, que culminou com o envio de tropas<br />
para a Itália no final de 1944, trouxe enormes<br />
dificuldades ao Conselho Nacional do Petróleo,<br />
principalmente em função das reduções<br />
drásticas da exportação de petróleo pelos países<br />
produtores e do perigo iminente de desabastecimento<br />
interno. Não era possível, portanto,<br />
fugir do racionamento de combustíveis.<br />
Por isso, João Carlos Barreto não apenas o<br />
manteve, como criou um setor específico – diretamente<br />
ligado à presidência do CNP – para<br />
os assuntos relacionados com o racionamento.<br />
Este setor funcionaria até novembro de 1945,<br />
quando o racionamento como um todo foi suspenso<br />
no País.<br />
Segundo palavras do próprio Barreto na apresentação<br />
do Relatório de 1944, a guerra afetou<br />
os trabalhos do Conselho, perturbando seu ritmo<br />
e o desviando do rumo principal, “em prejuízo,<br />
não raro, de questões palpitantes e de interesse<br />
para o nosso problema do petróleo”. 151 Ao discorrer<br />
sobre as principais atividades de sua gestão,<br />
durante entrevista ao jornal Estado de Minas, 152<br />
o presidente do CNP citou as cotas mensais de<br />
combustíveis aos governos estaduais e a restrição<br />
do tráfego de veículos no País, medidas<br />
implantadas na gestão de Horta Barbosa, mas<br />
abordou também a cooperação do governo norte-americano,<br />
que teria procurado atender aos<br />
pedidos do Brasil em relação ao suprimento de<br />
combustíveis, mesmo em meio às dificuldades<br />
da guerra. Além disso, ele destacou a existência<br />
de um mercado clandestino de combustíveis, sobretudo<br />
de gasolina, que se estabelecera no País<br />
em consequência do racionamento, e informou<br />
que o CNP solicitaria providências mais rigorosas<br />
por parte dos órgãos de segurança para coibir<br />
a ação desses infratores.<br />
A estrutura de abastecimento, em 1944, contava<br />
com instalações de armazenamento para<br />
combustíveis que totalizavam aproximadamente<br />
815.000 m³, além de 100.000 m³ para fins militares,<br />
construídas pelas forças armadas americanas.<br />
Essas tancagens estavam espalhadas em nove estados<br />
e no Distrito Federal, algumas junto a portos,<br />
com linhas de descarga ligando os navios aos<br />
parques de tanques.<br />
151. COHN, 1968, p. 65.<br />
152. <strong>ESTADO</strong> DE MINAS [Jornal]. Belo Horizonte: Uai, 02 jun. 1945.