PETRÓLEO E ESTADO
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Capítulo 6 - Tempo de conflitos 77<br />
Fundo Monteiro Lobato - CEDAE - Centro de Documentação Alexandre Eulalio - Instituto de Estudos da Linguagem - Unicamp<br />
Octalles Ferreira, Anisio Teixeira, Monteiro Lobato e Edson de Carvalho no campo de Araquá (SP), no início da década de 1930<br />
O confronto com Monteiro Lobato<br />
Não foi apenas com as grandes empresas estrangeiras<br />
que o general Horta Barbosa entrou em<br />
choque. O arcabouço legal construído pelo Estado<br />
Novo a partir da criação do CNP também gerou<br />
atritos com as empresas nacionais ligadas à exploração<br />
de petróleo. Um dos casos mais rumorosos<br />
foi protagonizado pelo escritor Monteiro Lobato,<br />
que desde o início dos anos 1930 vinha participando<br />
de inúmeras e calorosas polêmicas nessa área.<br />
Lobato era um dos mais renitentes opositores da<br />
atuação de Horta Barbosa. Em seu livro O escândalo<br />
do petróleo, lançado em 1936, ele havia denunciado<br />
com cores sensacionalistas o interesse<br />
dos trustes estrangeiros em se apoderar das riquezas<br />
do subsolo brasileiro e a cumplicidade das<br />
autoridades, usando como argumento principal a<br />
afirmativa de que “o governo não perfurará nem<br />
permitirá que outros perfurem”. 131<br />
Em meados de 1937, praticamente um ano antes<br />
de ser criado o CNP, Lobato havia constituído<br />
mais uma empresa dedicada à exploração do petróleo,<br />
a Companhia Matogrossense de Petróleo,<br />
sediada em São Paulo. Seu capital inicial – cerca<br />
de vinte mil contos, levantado pelos principais<br />
sócios – era suficiente para implementar um programa<br />
racional de prospecção, a partir da escolha<br />
de um local (Porto Esperança - MT) com estrutura<br />
semelhante à da Bolívia.<br />
O escritor e empresário percorria o País, de norte a<br />
sul, em campanha para obter capital para a nova empresa,<br />
quando foi surpreendido pelo golpe de 1937.<br />
Poucos meses depois, em carta dirigida a Vargas,<br />
afirmava que empresas como as organizadas por ele<br />
– envolvendo capital de cerca de cinquenta mil pequenos<br />
acionistas – seriam inviabilizadas pela nova legislação.<br />
Nessa carta, ele foi enfático em suas críticas<br />
a Fleury da Rocha, a quem acusou de ser um “agente<br />
secreto dos poderes ocultos hostis ao petróleo brasileiro<br />
dentro do oficialismo”. Pedindo ao presidente<br />
que estudasse a questão com cuidado, ele exorta:<br />
‘Pelo amor de Deus, e do Brasil, não preste sua mão<br />
generosa à mais cruel e mesquinha obra de vingança<br />
pessoal, disfarçada em sublime nacionalismo”. 132<br />
131. WIRTH, 1973, p. 121.<br />
132. AZEVEDO, Carmen Lucia de. Monteiro Lobato: furacão na Botocúndia. São Paulo: SENAC, 1997. p. 294.