PETRÓLEO E ESTADO
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76 Petróleo e Estado<br />
FGV/CPDOC - Arquivo Getúlio Vargas/Associated Press Photo<br />
O general Góis Monteiro revista tropas americanas na base aérea de Bolling, em Washington D.C., em junho de 1939<br />
Por outro lado, o plano de se construir uma refinaria<br />
estatal continuava em ponto-morto, o que Dutra –, os governos do Brasil e dos Estados Uniqueada,<br />
com a ajuda do ministro da Guerra Eurico<br />
de certo modo indicava uma indefinição de Vargas<br />
diante do embate que vinha sendo travado nos chamados Acordos de Washington. 127 Os esdos<br />
estabeleceram conversações que resultariam<br />
entre as duas correntes dentro do governo. tudos feitos por uma missão técnica do governo<br />
norte-americano, que permaneceu dez semanas<br />
Insatisfeito, após uma reunião do Conselho de no País, incluíam questões como financiamento e<br />
Segurança Nacional, Horta Barbosa chegou a enviar<br />
a Vargas um pedido de demissão, dizendodistribuição<br />
de recursos. 128<br />
-lhe que, “como oficial, teria de obedecer; como Esta ocasião foi vista por Horta Barbosa como uma<br />
cidadão, porém, não poderia fazê-lo, e, por isso, excelente oportunidade para seu projeto de construção<br />
de uma refinaria estatal para o País. Sendo<br />
renunciava”. A integridade de Horta era respeitada<br />
por Vargas, que não queria se ver exposto assim, apresentou um pedido de recursos destinados<br />
à aquisição de torres de perfuração e de uma<br />
em meio a essa controvérsia. Disse ele então ao<br />
ajudante de Horta, capitão Ibá Jobim Meirelles, refinaria, já usada, em Houston, no Texas (EUA).<br />
“que a carta não fora escrita, que a reunião do A contrapartida, no entanto, implicava autorizar a<br />
Conselho de Segurança não fora realizada, e que visita do geólogo William J. Kemnitzer, contratado<br />
pelo governo de Washington para examinar os<br />
o petróleo, afinal de contas, era motivo de preocupação<br />
do Exército”. 126<br />
campos petrolíferos localizados na Bahia.<br />
Em 1942 – ano em que uma nova proposta da O relatório de Kemnitzer avaliou que a produção<br />
Standard foi apresentada e mais uma vez blo-<br />
baiana poderia subir para 3.500 barris por dia<br />
com as quatro novas torres de perfuração, volume<br />
suficiente para uma refinaria usada de 4.500<br />
barris por dia, mas o consumo brasileiro já chegava<br />
a quase 32 mil barris diários de petróleo<br />
cru. Por isso, “embora o Brasil realmente possuísse<br />
petróleo”, ele concluía que não eram boas as<br />
perspectivas de redução das importações em um<br />
futuro próximo. 129 Diante desse parecer, o governo<br />
norte-americano – que já estava financiando a<br />
construção de Volta Redonda, além dos compromissos<br />
com os países aliados na Segunda Guerra<br />
Mundial – preferiu se manter longe da questão<br />
sobre o petróleo.<br />
A recusa norte-americana deu margem a críticas<br />
contra a atuação de Horta Barbosa e do CNP na<br />
defesa do monopólio estatal. Em artigo no Diário<br />
Carioca, o economista Aluízio de Lima Campos<br />
afirmava que o problema do setor de petróleo somente<br />
se resolveria com a participação dos grupos<br />
estrangeiros, que vinham sendo mantidos à<br />
distância desde que a “fase de xenofobia” criara<br />
diversos dispositivos legais dificultando sua entrada<br />
no País. Horta Barbosa contestou os argumentos<br />
do economista, por meio de ofício ao ministro<br />
da Guerra, no qual concluía enfaticamente:<br />
Nada precisamos [...] para conseguir esse<br />
resultado (o desenvolvimento da indústria<br />
do petróleo brasileiro), senão preservar<br />
a orientação já adotada, mantendo<br />
inalterados os princípios de nacionalização<br />
das riquezas naturais e das fontes de<br />
energia, que constituem uma das maiores<br />
conquistas da revolução de 30. 130<br />
126. WIRTH, 1973, p. 136.<br />
127. WASHINGTON, Acordos de. In: ABREU, Alzira Alves de. et al. (Coord.). Dicionário histórico e biográfico brasileiro. Rio de Janeiro: FGV,<br />
CPDOC, 2001. v. 4, p. 6116-6117.<br />
128. MISSÃO COOKE. In: ABREU, Alzira Alves de. et al. (Coord.). Dicionário histórico e biográfico brasileiro. Rio de Janeiro: FGV, CPDOC, 2001. v. 4, p. 3823.<br />
129. WIRTH, 1973, p. 135.<br />
130. MARINHO JUNIOR, I., 1970, p.353.