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PETRÓLEO E ESTADO

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Capítulo 4 - Anos de estruturação e fortalecimento 65<br />

A questão do refino<br />

O temor de que o refino ficasse sob o controle das<br />

companhias estrangeiras fez com que o general Horta<br />

Barbosa, desde o início de seu envolvimento com<br />

a questão do petróleo, elegesse este setor como um<br />

dos pontos mais importantes a serem examinados.<br />

O País possuía apenas três refinarias em seu território<br />

no final da década de 1930. Duas ficavam no<br />

Rio Grande do Sul: a Destilaria Rio-Grandense de<br />

Petróleo S.A., em Uruguaiana, fundada em 1934, e<br />

a Companhia Brasileira de Petróleos Rio Grande,<br />

da Ipiranga S.A., fundada em 1937, em Rio Grande,<br />

ambas associadas a grupos uruguaios e argentinos.<br />

A terceira funcionava em São Caetano, nas<br />

proximidades da cidade de São Paulo: era a refinaria<br />

das Indústrias Reunidas F. Matarazzo S.A. (IMÊ),<br />

fundada em 1936, resultado da associação do Grupo<br />

Matarazzo com capitais italianos, e voltada exclusivamente<br />

ao abastecimento das empresas do<br />

grupo. Juntas, as três refinarias processavam apenas<br />

1.650 barris de petróleo bruto por dia. Há ainda<br />

informações sobre uma quarta refinaria, a Refinaria<br />

Brasileira de Petróleo S.A., também localizada em<br />

São Paulo, que teria encerrado suas atividades em<br />

1941 por dificuldades na obtenção de óleo cru. 100<br />

A priorização do setor de refino decorria do entendimento<br />

de que, a partir dele, seria mais fácil<br />

chegar-se ao setor de produção, percorrendo-se<br />

às avessas um caminho de integração das fases<br />

produtivas. Os lucros obtidos com o refino poderiam<br />

ser empregados no financiamento da exploração.<br />

As experiências do México, Argentina e<br />

Uruguai, em especial, serviram de base para essa<br />

convicção. Horta Barbosa visitou esses três países<br />

e voltou ao Brasil totalmente convencido da importância<br />

do controle do Estado também sobre<br />

o refino. Em relatório apresentado a Vargas, ele<br />

reivindicou mais recursos e a concessão de poderes<br />

ainda maiores para o CNP. Era sua intenção<br />

concentrar sob a orientação do Conselho todas as<br />

atividades relativas ao petróleo e seus derivados.<br />

Como o Brasil ainda não produzia petróleo, nada<br />

mais natural que Horta Barbosa se empenhasse<br />

inicialmente na luta pelo refino, o que não significa<br />

dizer que ele não se preocupava com a produção.<br />

Pelo contrário, esta preocupação esteve sempre<br />

presente e tornou-se mesmo um diferencial em<br />

relação aos demais países latino-americanos. 101<br />

Se, nos primeiros tempos, Horta Barbosa admitia que<br />

a atividade de refino fosse desenvolvida pelo capital<br />

nacional – privado ou público –, a viagem à região<br />

do Prata foi sem dúvida um marco para que ele mudasse<br />

de ponto de vista. Em seu relatório a Vargas,<br />

o presidente do CNP afirmou taxativamente “que<br />

eram ‘evidentes’ as vantagens da indústria estatal<br />

de refinação sob monopólio”. 102 O refino era o único<br />

setor da indústria do petróleo que atraía o capital nacional,<br />

principalmente a partir de meados da década<br />

de 1930, quando a economia brasileira experimentou<br />

franca recuperação. Como a taxação imposta pelo<br />

governo aos produtos nacionais era bem inferior à<br />

dos similares importados, criava-se assim uma gran-<br />

de disparidade entre as tarifas sobre o petróleo cru<br />

e sobre os produtos refinados, podendo-se esperar,<br />

portanto, lucros expressivos na operação. Em pouco<br />

tempo, multiplicaram-se os projetos e propostas para<br />

instalações de refinarias, muitos deles envolvendo o<br />

capital estrangeiro. Horta acreditava que esses planos<br />

poderiam ser uma porta dos fundos para a entrada<br />

das companhias de petróleo estrangeiras. 103<br />

Para o presidente<br />

do CNP, eram<br />

‘evidentes’ as<br />

vantagens da<br />

indústria estatal<br />

de refinação<br />

sob monopólio.<br />

O fato é que os governos dos estados de São<br />

Paulo, Bahia e Rio de Janeiro tinham, cada qual,<br />

a sua moderna unidade de craqueamento nas<br />

pranchetas de desenho. 104 No caso do Rio de<br />

Janeiro, estado governado por Ernâni Amaral<br />

Peixoto, genro do presidente, as negociações<br />

com um grupo estrangeiro visando à implantação,<br />

em Niterói, de uma refinaria projetada para<br />

produzir quatro mil barris/dia acabaram gerando<br />

um desentendimento com Horta Barbosa. 105<br />

100. WIRTH, 1973, p. 119; DIAS; QUAGLINO, 1993, p.60.<br />

101. MARINHO JUNIOR, I., 1970, p.351.<br />

102. DIAS; QUAGLINO, 1993, p. 62-63.<br />

103. WIRTH, 1973, p. 131-132.<br />

104. Id., 1973, p.119.<br />

105. ERNANI [DO] AMARAL PEIXOTO (1905-1989) [Arquivo EAP]. Dossiê EAP int 1938.08.00. FGV-CPDOC, Arq. EAP.

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