PETRÓLEO E ESTADO
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60 Petróleo e Estado<br />
Estrutura e funcionamento<br />
Com a participação de representantes das organizações<br />
de classe da indústria e do comércio<br />
no CNP, ao lado dos representantes de órgãos<br />
do governo, o Estado reconhecia formalmente<br />
a cooperação com a iniciativa privada e, por<br />
meio dela, procurava a adesão do setor privado<br />
brasileiro à luta contra os trustes estrangeiros.<br />
Indicados como relatores das investigações, estes<br />
representantes classistas teriam uma atuação<br />
apenas consultiva.<br />
Os conselheiros eram investidos em caráter de<br />
comissão pelo prazo de três anos, embora pudessem<br />
ser substituídos ou reconduzidos, conforme<br />
o caso. As reuniões deveriam acontecer<br />
regularmente, uma vez por semana, em sessões<br />
ordinárias, ou em caráter extraordinário, sempre<br />
que o presidente do órgão as convocasse.<br />
Na solenidade de instalação, em 12 de setembro<br />
de 1938, no Palácio Tiradentes, Rio de Janeiro,<br />
o discurso do general Horta Barbosa deu o tom<br />
que seria seguido nas sessões do CNP:<br />
A amplitude de ação que lhe foi conferida<br />
para solução de problemas intimamente<br />
ligados à prosperidade<br />
econômica do Brasil e à sua independência<br />
política assinala bem a magnitude<br />
de nossos encargos e revela<br />
quão subida foi a honra com que nos<br />
distinguiu o Exmo. Chefe do Governo,<br />
designando-nos para tão difícil quão<br />
importante investidura.<br />
Quanto ao funcionamento do CNP, para que<br />
determinado assunto fosse colocado na pauta<br />
das reuniões era preciso que houvesse uma recomendação<br />
dos técnicos. Isso significava dizer<br />
que, além dos estudos, análises e pareceres, era<br />
necessário também que houvesse alguma articulação,<br />
já que a questão petróleo continuava<br />
a envolver um forte coeficiente político. Assim,<br />
por exemplo, se os representantes das Forças<br />
Armadas geralmente atuavam de forma coesa,<br />
o do Ministério da Agricultura e os representantes<br />
da indústria e do comércio costumavam ter<br />
posicionamentos discordantes. Assim, as reuniões<br />
plenárias exigiam do presidente do Conselho<br />
uma boa dose de habilidade na condução<br />
das discussões, de modo a garantir a aprovação<br />
das decisões. Caso contrário, um assunto<br />
poderia ser postergado para a reunião seguinte,<br />
de modo a permanecer em pauta, mas sem<br />
chegar a ser resolvido. Segundo depoimento de<br />
Antônio Seabra Moggi, que entrou para o CNP<br />
em 1947, esses procedimentos faziam com que<br />
o organismo não tivesse a agilidade necessária<br />
para dar conta do conjunto de atividades relacionadas<br />
com o petróleo. 93<br />
As atividades do CNP eram executadas pela<br />
Divisão Técnica, pela Divisão Econômica e pela<br />
Divisão Administrativa. O principal objetivo da<br />
Divisão Técnica era executar os trabalhos de<br />
pesquisa, lavra e industrialização das jazidas de<br />
petróleo e gases naturais no território nacional,<br />
e também incentivar o estudo das jazidas de rochas<br />
betuminosas e pirobetuminosas. Já à Divisão<br />
Econômica cabia, entre outras atribuições, o<br />
controle da importação, exportação, transporte,<br />
distribuição e comércio do petróleo e seus derivados,<br />
o processamento das concessões relativas<br />
ao abastecimento nacional desses produtos,<br />
o levantamento dos estoques existentes e o estabelecimento<br />
dos estoques mínimos de petróleo<br />
e seus derivados.<br />
O Estado reconhecia<br />
formalmente<br />
a cooperação com<br />
a iniciativa<br />
privada e, por<br />
meio dela,<br />
procurava adesão<br />
à luta contra os<br />
trustes estrangeiros.<br />
A criação do CNP, que nasceu diretamente subordinado<br />
à Presidência da República, se processou<br />
à margem do Departamento Administrativo do<br />
Serviço Público (DASP), responsável pela padronização<br />
no serviço público, pelos concursos para<br />
seleção de funcionários e (a partir de 1939) pela<br />
elaboração do orçamento do Governo Federal.<br />
93. MOGGI, Antonio. Antonio Seabra Moggi: depoimento [1988]. Rio de Janeiro: FGV, CPDOC, 1992. Programa de História Oral. p.50-53.