PETRÓLEO E ESTADO
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Capítulo 4 - Anos de estruturação e fortalecimento 55<br />
Ao receber de Horta Barbosa um memorando<br />
com esses argumentos, em 7 de janeiro de 1938,<br />
o general Góis Monteiro, chefe do Estado-Maior,<br />
imediatamente o reenviou ao secretário-geral<br />
do Conselho de Segurança:<br />
Acervo Refinaria Rio Grandense<br />
A indústria de refinação de óleo cru,<br />
existente no Brasil em estado ainda<br />
embrionário, começa a despertar interesse<br />
às grandes empresas estrangeiras,<br />
detentoras do monopólio comercial<br />
de combustível líquido. [...] Na<br />
expectativa do açambarcamento desta<br />
indústria pelo ‘trust’ internacional, ainda<br />
porque jazidas de petróleo podem<br />
ser descobertas em nosso território,<br />
julgamos de grande alcance para a soberania<br />
nacional que os departamentos<br />
responsáveis pela sua salvaguarda<br />
meditem sobre tão relevante assunto,<br />
propondo ao Governo as medidas<br />
acauteladoras que a situação impõe. 86<br />
Tendo por base a experiência de outros países<br />
latino-americanos, o documento endossado<br />
pelo general Góis, além de enfatizar a importância<br />
estratégica do petróleo, defendia a importância<br />
da indústria de refinação, principalmente<br />
tendo em vista que ainda não haviam<br />
sido descobertas jazidas petrolíferas no território<br />
brasileiro. Apontava também para a importância<br />
de que essa indústria fosse totalmente<br />
nacionalizada, mas com o cuidado de evitar a<br />
formação de trustes nacionais, o que encareceria<br />
o preço de combustíveis e lubrificantes.<br />
Além disso, era ressaltada a importância da formação<br />
de técnicos para a exploração geológica<br />
e industrial e para a administração deste tipo<br />
Construção da Destilaria Riograndense em Uruguaiana (RS), em 1937<br />
de serviço, razão pela qual sugeria o envio de<br />
brasileiros ao Uruguai, Argentina, México e Bolívia<br />
para o estudo das organizações petrolíferas<br />
destes países. O memorando fazia ainda uma<br />
declaração de fé estatista-nacionalista:<br />
[...] se o Estado chama a si o monopólio<br />
de toda a atividade petrolífera, a exemplo<br />
da Argentina, México, Bolívia, Japão,<br />
Uruguai e outras nações, dentro de<br />
um plano preestabelecido, terá então<br />
cumprido com êxito um dos principais<br />
capítulos do plano de reorganização<br />
econômica nacionalista.<br />
Rapidamente essas propostas chegaram às<br />
mãos do presidente Vargas, vistas como reivindicações<br />
de setores militares, e como tal foram<br />
por ele encaminhadas ao CFCE (Conselho Federal<br />
do Comércio Exterior) para avaliação do<br />
problema da nacionalização da indústria do<br />
óleo cru ou do seu monopólio pelo Estado. Imediatamente,<br />
Barbosa Carneiro (diretor-executivo<br />
do CFCE) sugeriu a criação de uma comissão<br />
sigilosa com a finalidade de promover um<br />
profundo exame na questão do abastecimento<br />
nacional de combustíveis líquidos. Nos trabalhos<br />
da comissão, o geólogo Domingos Fleury<br />
da Rocha, diretor do DNPM, destacou-se por<br />
ser o mais familiarizado com a matéria, tendo<br />
participado diretamente da redação do projeto<br />
dos códigos de Minas e de Águas, em 1934. Esta<br />
experiência o credenciava a dar forma legislativa<br />
às ideias de Horta Barbosa.<br />
86. HORTA BARBOSA (1881-1965) [Arquivo HB]. Correspondência enviada pelo chefe do Estado-Maior do Exército ao secretário geral do Conselho<br />
Superior de Segurança Nacional em 7 de janeiro de 1938. Rio de Janeiro, FGV, CPDOC. Arq. Horta Barbosa, HB vp 1936.11.17, doc. 8, p. 1.