PETRÓLEO E ESTADO
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Capítulo 3 - Estado intervém com mais força 49<br />
A atuação das empresas estrangeiras<br />
As grandes companhias petrolíferas internacionais<br />
não estavam muito interessadas em fazer investimentos<br />
próprios em prospecção de jazidas no<br />
País. Standard Oil 78 e Anglo-Mexican (Shell) num<br />
primeiro plano, secundadas pela Atlantic, pela Caloric<br />
e pela Texaco: era o mesmo oligopólio que no<br />
final da década de 1920 já dominava no Brasil as<br />
vendas de gasolina, óleo combustível, óleo diesel<br />
e lubrificantes. Esses produtos, importados de refinarias<br />
norte-americanas e inglesas situadas no<br />
golfo do México e nas Antilhas Holandesas, eram<br />
desembarcados nos principais portos brasileiros,<br />
de onde eram distribuídos para o comércio varejista,<br />
em grande parte concentrado em São Paulo.<br />
Arquivo Shell<br />
O mercado interno brasileiro era modesto (representava<br />
apenas 25% do mercado argentino em 1935),<br />
havia sofrido os efeitos da crise de 1929, mas em 1933<br />
já se recuperava. Nesse ano, as importações de gasolina<br />
registraram o mesmo volume de 1929 (2.496.000<br />
barris). Entre 1931 e 1940, a demanda nacional de petróleo<br />
aumentou a uma taxa média anual de 6,4%. De<br />
qualquer modo, as mudanças trazidas pela Revolução<br />
de 1930 foram alvo de muitas reclamações por<br />
parte das companhias estrangeiras.<br />
O primeiro atrito ocorreu logo após a subida de<br />
Vargas ao poder, quando foi decretada a aquisição<br />
obrigatória de álcool na proporção de 5% da<br />
gasolina importada, visando aumentar o consumo<br />
deste subproduto da cana-de-açúcar. 79 Um<br />
dia antes da assinatura do decreto, representan-<br />
tes da Atlantic Refining Company, da Tide Water Oil<br />
Export Corporation, da Anglo-Mexican Petroleum<br />
Co. Limited, da Texas Co. e da Standard Oil of Brazil<br />
entregaram um memorial ao chefe do Governo<br />
Provisório, dando conta das suas preocupações<br />
com o conteúdo do texto legal. 80 Um outro embate<br />
entre o oligopólio e o Governo Federal se<br />
deveu ao tabelamento, em caráter provisório, do<br />
preço da gasolina e à imposição de restrições ao<br />
mercado cambial, “impedindo que as companhias<br />
(...) ‘pagassem’ as encomendas de derivados que<br />
faziam às suas matrizes e coligadas no exterior”. 81<br />
Latas de gasolina de aviação da Shell<br />
O objetivo dessas medidas era atenuar a crise<br />
econômico-financeira que o País enfrentava.<br />
Apesar dos atritos, a Anglo-Mexican diversificou<br />
suas atividades neste período. Já em 1930 a empresa<br />
contava com seu primeiro vagão-tanque<br />
para transporte de combustível. Em 1935, inaugurou<br />
um serviço de venda de produtos petroquímicos<br />
e agrícolas, tornando-se a empresa petrolífera<br />
pioneira nesta área no mercado brasileiro. Além<br />
de filiais em várias cidades, em 1934 foi instalada<br />
a Companhia de Navegação Shell do Brasil.<br />
78. Em 1930, a Standard Oil fundou uma subsidiária no Brasil, a Companhia Geral de Petróleo Pan-Brasileira S.A., que chegou a deter 96 concessões<br />
privadas e áreas petrolíferas para exploração. Porém, com a entrada em vigor do Código de Minas todos esses contratos foram cancelados. WIRTH,<br />
John D. A política do desenvolvimento na era de Vargas. Rio de Janeiro: FGV, 1973.<br />
79. BRASIL. Decreto nº 19.717, de 20 de Fevereiro de 1931. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Rio de Janeiro, 13 mar.<br />
1931. Seção 1, p. 3736.<br />
80. CORREIO DA MANHÃ. Rio de janeiro, 1901-1974 . Periodicidade diária. 20 de fev. de 1931, p. 2.<br />
81. DIAS; QUAGLINO, 1993, p. 50.