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PETRÓLEO E ESTADO

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Capítulo 3 - Estado intervém com mais força 47<br />

Outro ponto de conflito foi a edição do Código<br />

de Minas, que estabelecia novos critérios<br />

para a exploração das jazidas minerais e subordinava<br />

a operação das companhias privadas<br />

ao DNPM. Lobato atacou com veemência<br />

essa regulamentação, que a seu ver defendia<br />

os interesses estrangeiros e asfixiava as empresas<br />

nacionais. Viajou então por todo o País,<br />

denunciando a política oficial e tentando obter<br />

recursos para suas empresas, mas não foi<br />

bem-sucedido.<br />

Em Alagoas a situação também estava tensa.<br />

O DNPM pediu de volta a sonda emprestada ao<br />

governo do estado, em função de um relatório<br />

pessimista do engenheiro Bourdot Dutra, enviado<br />

a Riacho Doce para examinar a suposta<br />

descoberta. O governador Osman Loureiro manifestou-se<br />

contra a medida, exigindo do Governo<br />

Federal a manutenção da sonda no local.<br />

Em seguida, contratou os serviços da firma alemã<br />

Elbof, que considerou haver “fortes possibilidades<br />

de existência de petróleo no local”. 73 O<br />

DNPM enviou nova equipe para realizar o mesmo<br />

tipo de trabalho, fato que só fez aumentar<br />

o mal-estar.<br />

Monteiro Lobato, por sua vez, prosseguia sua<br />

campanha de denúncias. Em 1936, enviou carta<br />

ao ministro da Agricultura, Odilon Braga, acusando<br />

Mark Melamphy e Victor Oppenheim, 74 de<br />

serem agentes secretos da Standard Oil. Porém,<br />

uma comissão de inquérito instalada por conta<br />

destas acusações concluiu pela inocência dos<br />

acusados. Nesse mesmo ano, publicou o livro O<br />

escândalo do petróleo e do ferro, em que refutava<br />

as afirmações do trabalho de Odilon Braga, Bases<br />

para o inquérito sobre o petróleo. 75<br />

Em Lobato, no<br />

Recôncavo Baiano,<br />

os moradores<br />

usavam uma espécie<br />

de “lama preta”<br />

nos lampiões, em<br />

vez de querosene,<br />

para iluminar<br />

suas residências.<br />

Em uma localidade que, por coincidência, tinha o<br />

mesmo nome do escritor, a discussão a respeito<br />

de indícios de petróleo começou atrair as atenções<br />

e polarizou a opinião pública de todo o País. 76<br />

Trata-se de Lobato, no Recôncavo Baiano, assim<br />

chamada em homenagem ao senhor de engenho<br />

Francisco Rodrigues Lobato. 77 Conta-se que<br />

os moradores locais usavam nos lampiões uma<br />

espécie de “lama preta”, em vez de querosene,<br />

para iluminar suas residências. Em 1930 o engenheiro<br />

Manuel Inácio Bastos enviou um relatório<br />

ao presidente Vargas, que o reenviou ao SGMB,<br />

sobre os vestígios de óleo naquela localidade. No<br />

entanto, o documento acabou se perdendo nos<br />

meandros da burocracia. Em 1933, ele enviou uma<br />

amostra do óleo para ser analisada por um professor<br />

da Escola Politécnica da Bahia. Em seguida,<br />

comunicou sua descoberta ao presidente da<br />

Bolsa de Mercadorias da Bahia, Oscar Cordeiro.<br />

Juntos criaram uma sociedade para explorar as<br />

jazidas e enviaram o óleo obtido para análise no<br />

DNPM, mas tiveram negado o pedido que fizeram<br />

ao Departamento: um técnico e uma sonda para<br />

realizarem uma perfuração.<br />

O caso repercutiu na imprensa. O DNPM, instado<br />

a dar um veredicto acerca do petróleo de Lobato,<br />

emitiu um relatório oficial em fevereiro de 1934.<br />

Com base em parecer técnico, desmentiu categoricamente<br />

a existência do óleo na região. O geólogo<br />

Victor Oppenheim reiterou categoricamente<br />

essa posição, em texto publicado no boletim oficial<br />

do Departamento.<br />

A situação complicou-se ainda mais em 1935 e<br />

1936, quando dois geólogos estranhos aos quadros<br />

do DNPM, Matias Roxo e Othon Leonardos,<br />

visitaram Lobato e, mesmo admitindo não serem<br />

especialistas em petróleo, recomendaram uma<br />

verificação mais acurada. Um novo estudo feito<br />

por técnicos do Departamento, em 1936, dessa<br />

vez concluiu que era possível a existência de petróleo<br />

e que valia a pena uma investigação mais<br />

detida. Mesmo assim, a questão se prolongaria<br />

por mais tempo e só seria resolvida, de uma forma<br />

ou de outra, em 1939, com a descoberta de<br />

petróleo por técnicos do DNPM.<br />

73. LOUREIRO, Osman. In: ABREU, Alzira Alves de. et al. (Coord.). Dicionário histórico e biográfico brasileiro. Rio de Janeiro: FGV, CPDOC, 2001. v. 3,<br />

p. 3305-3306.<br />

74. ARTUR HEHL NEIVA (1909-1967) [Arquivo AHN]. Ofício nº 10.610, do CNP. FGV-CPDOC, Arq. Arthur Heil Neiva 1942.09.00 (PI, doc. 27).<br />

75. COHN, 1968, p. 19-25.<br />

76. DIAS; QUAGLINO, 1993, p. 18-19.<br />

77. Ver capítulo 5: “A descoberta em Lobato”.

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