PETRÓLEO E ESTADO
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Capítulo 2 - Os primeiros anos da República 27<br />
teve de lidar com um sério problema de abastecimento<br />
durante o conflito que envolveu as grandes<br />
potências de todo o mundo.<br />
A importância estratégica do petróleo e do motor<br />
de combustão interna foi também evidenciada<br />
pela Primeira Guerra Mundial, em função do<br />
transporte mecanizado das tropas, que mudou<br />
“todas as dimensões do conflito armado, até mesmo<br />
o próprio significado da mobilidade na terra,<br />
no mar e no ar”. 28 Diante da necessidade de combustíveis,<br />
as potências europeias promoveram<br />
inúmeras manobras diplomáticas para garantir<br />
fontes externas de suprimento de petróleo.<br />
Em 1915, Gonzaga de Campos assumiu a direção<br />
do SGMB, em razão do falecimento de Orville<br />
Derby, e o órgão foi reestruturado, voltando-se<br />
mais para as necessidades econômicas do País do<br />
que para estudos exclusivamente científicos. Nesse<br />
mesmo ano, o geólogo Euzébio Paulo de Oliveira<br />
recebeu a incumbência de estudar a questão<br />
do petróleo e publicou o texto “Pesquisa de<br />
petróleo”, no qual refutava a opinião do geólogo<br />
Israel Charles White quanto à não existência de<br />
petróleo no sul do País. É muito provável que esse<br />
trabalho tenha estimulado o conselheiro Antônio<br />
Prado, presidente da Companhia Paulista de Estradas<br />
de Ferro, a fundar a Empresa Paulista de<br />
Petróleos, em 1917, juntamente com outros empresários<br />
paulistas. 29<br />
São Paulo não podia parar. Em franco processo<br />
de industrialização, o estado sofria a escassez<br />
de combustíveis provocada pela Primeira Guerra<br />
Mundial. Foi nesse contexto que a Empresa Paulista<br />
de Petróleos empreendeu uma sondagem<br />
em Rio Claro, atingindo 300 metros de profundidade.<br />
A sonda pertencia ao governo estadual e<br />
as operações foram acompanhadas pela Comissão<br />
Geográfica e Geológica de São Paulo. Como<br />
estava sem recursos, a empresa executora requereu<br />
uma subvenção ao Governo Federal para dar<br />
prosseguimento à perfuração. Recusado o auxílio,<br />
os trabalhos foram abandonados.<br />
Em 1919, doze anos após sua criação, o SGMB efetivamente<br />
se lançou na pesquisa efetiva de petróleo,<br />
perfurando em Marechal Mallet (PR). Foi a<br />
primeira sondagem de petróleo realizada por um<br />
órgão público federal no País. Porém, o poço foi<br />
abandonado no ano seguinte, chegando apenas a<br />
84,77 metros de profundidade, ao ser identificada<br />
a existência de um pequeno reservatório de gás<br />
natural. Também foram frustrantes os resultados<br />
das sondagens em Garça Torta (AL) e em Cururupe<br />
(BA), ainda em 1920.<br />
Esses resultados negativos deram o tom do<br />
relatório anual do SGMB em 1920, ao acentuar<br />
que “em nenhum Estado do Brasil, que nos<br />
conste, tem aparecido petróleo in natura”. 30<br />
Porém, isso não impediu novas tentativas. No<br />
ano seguinte, em uma sondagem na fazenda<br />
Graminha, perto de São Pedro (SP), a perfuração<br />
alcançou quase 330 metros, tendo sido<br />
extraída apenas uma pequena quantidade de<br />
gás natural e de água sulfurosa. 31<br />
Epitácio Pessoa reconheceu as limitações da pesquisa de petróleo no Brasil<br />
O geólogo Luís Filipe Gonzaga de Campos foi o primeiro diretor do SGMB<br />
Wikipedia.org<br />
Serviço Geológico do Brasil - CPRM/Museu de Ciências da Terra<br />
28. YERGIN, Daniel. Petróleo: uma história de ganância, dinheiro e poder. São Paulo: Scritta, 1992. p. 161.<br />
29. Eusébio Paulo de Oliveira, um dos mais importantes geólogos brasileiros do século XX, formado na Escola de Minas de Ouro Preto, trabalhou desde<br />
1907 no Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil e, de 1933 a 1939, no Departamento Nacional de Produção Mineral.<br />
30. GUIMARÃES, 1966, p. 15.<br />
31. MOURA; CARNEIRO, 1976, p. 103.