PETRÓLEO E ESTADO
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204 Petróleo e Estado<br />
CAPÍTULO 18<br />
O PAPEL DO <strong>ESTADO</strong><br />
NA REGULAÇÃO DO<br />
MERCADO<br />
A flexibilização do monopólio estatal<br />
A criação das agências reguladoras no Brasil,<br />
no final da década de 1990, foi uma consequência<br />
direta da crise do Estado, iniciada<br />
vinte anos antes, e do processo de globalização<br />
da economia, que passou a exigir maior<br />
competitividade das nações. A intensificação<br />
do comércio exterior, dos financiamentos internacionais<br />
e dos investimentos diretos das<br />
empresas multinacionais, acarretando a reorganização<br />
da produção mundial em uma escala<br />
jamais imaginada, contribuiu para o desgaste<br />
do modelo de Estado intervencionista, que<br />
busca promover o desenvolvimento econômico<br />
pela produção de bens e serviços públicos.<br />
No Brasil, a máquina pública havia crescido<br />
em demasia para cumprir suas funções e os<br />
reflexos mais evidentes do esgotamento desse<br />
modelo foram a crise fiscal – gerando perda<br />
do crédito estatal –, deficiência das condições<br />
de intervenção e obsolescência da burocracia<br />
vigente até então. 309<br />
A redefinição do papel do Estado na economia<br />
brasileira foi uma marca do governo do Presidente<br />
Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Segundo<br />
Luiz Carlos Bresser Pereira, então à frente<br />
do Ministério da Administração Federal e Reforma<br />
do Estado (MARE), o objetivo era tornar o Estado<br />
mais eficiente. Bresser foi o principal articulador<br />
de um modelo “social-liberal”, que pudesse complementar<br />
e corrigir efetivamente as falhas de<br />
mercado. Social, explicava ele, porque continuaria<br />
a proteger os direitos sociais e a promover o<br />
desenvolvimento econômico; liberal, porque utilizaria<br />
mais os controles de mercado e menos os<br />
controles administrativos governamentais. 310<br />
A reforma proposta pela equipe de governo 311 foi<br />
subdividida em quatro grandes eixos: a reforma<br />
administrativa, a reforma fiscal, a reforma previdenciária<br />
e as privatizações. A flexibilização da<br />
execução do monopólio estatal do petróleo e<br />
criação da Agência Nacional do Petróleo inserem-<br />
-se neste novo contexto histórico.<br />
A indústria do petróleo, entre outros setores, era<br />
afetada pelo esgotamento da capacidade do investimento<br />
em setores de infraestrutura e em serviços<br />
públicos até então operados de modo exclusivo<br />
ou parcial pelo Estado. Havia necessidade<br />
de recursos em montante superior à capacidade<br />
de financiamento exclusivo da Petrobras e, para<br />
viabilizar esses investimentos, seria preciso atrair<br />
capitais privados. Estes eram os principais argumentos<br />
para a mudança na Constituição.<br />
309. PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. A Reforma do Estado dos anos 90: lógica e mecanismos de controle. Ministério da Administração Federal<br />
e Reforma do Estado, 1997.<br />
310. Id., 1997.<br />
311. BRASIL. Decreto 1.738, de 8 dezembro de 1995.Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, 11 dez. 1995.