01.02.2016 Views

PETRÓLEO E ESTADO

1RZuvmj

1RZuvmj

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

192 Petróleo e Estado<br />

Cláudia Martins/Banco de Imagens Petrobras<br />

Osíris Silva<br />

A conta petróleo entrou em grande déficit, já que<br />

o preço de realização da Petrobras foi comprimido,<br />

o excedente gerado pela venda da gasolina<br />

tornava-se progressivamente insuficiente para<br />

cobrir os subsídios aos preços dos demais derivados<br />

de petróleo.<br />

O CNP contava com recursos oriundos da conta petróleo,<br />

292 que tinha a função de sustentar financeiramente<br />

custos de abastecimento não cobertos na estrutura<br />

do preço, atendendo às políticas do Governo<br />

Federal, nos pagamentos de subsídios e subvenções<br />

decorrentes de múltiplos programas, principalmente<br />

os relacionados com o álcool etílico carburante.<br />

Para assegurar que o preço do combustível para<br />

o consumidor fosse o mesmo em todo o território<br />

nacional, o CNP adicionava, ao preço final das<br />

refinarias, despesas gerais de distribuição, a remuneração<br />

das distribuidoras, as despesas de transferência<br />

de produtos por vias internas e despesas e a<br />

remuneração das revendas de combustíveis. Além<br />

disso, a partir de 1980 a conta petróleo passou a<br />

contemplar também o ressarcimento das diferenças<br />

cambiais relativas ao petróleo importado e das<br />

diferenças entre o valor de importação dos derivados<br />

de petróleo e o correspondente preço de<br />

faturamento vigente no País. Esses recursos permaneciam<br />

no caixa da Petrobras, que repassava os<br />

valores devidos à Shell, à Esso e à BR, de acordo<br />

com despachos do CNP, calculados com base nas<br />

transferências dos produtos em determinado mês.<br />

Nessa ocasião, uma política do governo determinava<br />

que o preço do combustível fosse o mesmo<br />

em todos os pontos do País. Para isso, era necessário<br />

que alguém pagasse o frete, que contava<br />

com os recursos da conta petróleo.<br />

No caso do álcool (etanol), era necessário que<br />

o preço do produto para o consumidor se mantivesse<br />

25% menor que o da gasolina. Para isso,<br />

a Petrobras tinha que vendê-lo por um preço<br />

inferior ao da compra e ficou estabelecido que<br />

a diferença entre compra e venda seria coberta<br />

pelo Governo Federal, o que raramente acontecia.<br />

A situação se agravou em 1986, quando a queda<br />

dos preços internacionais do petróleo tornou os<br />

subsídios ao Proálcool ainda mais onerosos. Mas o<br />

governo já não podia recuar, pois havia feito uma<br />

grande campanha para promover o consumo do<br />

etanol e 80% dos carros em circulação no País dependiam<br />

desse combustível. 293 Por sua vez, só a<br />

sua estocagem gerou para a Petrobras um prejuízo<br />

de US$ 234 milhões em 1989.<br />

“Conservaram aquela diferença do álcool para a gasolina?”<br />

– costumava perguntar o ministro Aureliano<br />

Chaves ao presidente do CNP. Segundo o general<br />

França Domingues, o ministro reconhecia a fragilidade<br />

do etanol como alternativa, por ser factível<br />

apenas quando o preço do petróleo estivesse alto.<br />

Em 1987, voltou a ser discutida a questão do<br />

monopólio do petróleo. Na Assembleia Nacional<br />

Constituinte, Delfim Neto e Roberto Campos<br />

atuavam na subcomissão encarregada do tema e<br />

propuseram limitar o monopólio às atividades de<br />

pesquisa e lavra, liberando a assinatura de novos<br />

contratos de risco. Osíris Silva, então presidente<br />

da Petrobras, apoiava essas posições. Entretanto,<br />

em 28 de agosto de 1987, trabalhadores e sindicalistas<br />

promoveram grande manifestação em defesa<br />

do monopólio, nas proximidades do prédio<br />

292. BRASIL. Lei nº 4.452, de 5 de novembro de 1964. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Poder Executivo, Brasília, DF, 9 nov. 1964.<br />

Seção 1, p. 10065.<br />

293. MOURA, 2003, p. 192.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!