PETRÓLEO E ESTADO
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Capítulo 14 - O “milagre brasileiro” e os choques do petróleo 173<br />
Em 15 de março de 1974, foi empossado na Presidência<br />
da República o general Ernesto Geisel,<br />
ex-conselheiro do CNP e ex-presidente da Petrobras.<br />
Seu ministério foi integrado por uma<br />
mistura de técnicos e políticos, alguns oriundos<br />
dos governos anteriores. Para a pasta das Minas<br />
e Energia foi nomeado Shigeaki Ueki.<br />
As metas da política econômica do governo<br />
Geisel foram sistematizadas no II Plano Nacional<br />
de Desenvolvimento (II PND), que procurou<br />
adequar o funcionamento da economia<br />
brasileira ao impacto da crise do petróleo. Recusando-se<br />
a imprimir uma orientação recessiva<br />
à economia, o II PND jogou suas fichas no<br />
desenvolvimento das indústrias básicas, das<br />
comunicações, das ferrovias da navegação<br />
e dos portos. Tinha como matriz principal a<br />
procura pela independência energética, promovendo<br />
construções de usinas hidrelétricas,<br />
o desenvolvimento de um programa nuclear e<br />
projetos paralelos como o Programa do Álcool<br />
(Pró-Álcool).<br />
O segundo choque do petróleo, ocorrido em<br />
julho de 1979, complicou ainda mais a situação<br />
do País, que ainda não se tinha recuperado do<br />
choque de 1973. Dessa vez, a crise foi provocada<br />
pela revolução iraniana, que derrubou o<br />
xá Reza Pahlevi e instalou uma república islâmica.<br />
Segundo maior exportador da Opep,<br />
atrás apenas da Arábia Saudita, o Irã ficou<br />
praticamente fora do mercado, o que afetou<br />
gravemente a produção de petróleo. O preço<br />
do barril de petróleo duplicou de US$16 para<br />
US$32, atingindo níveis recordes e agravando<br />
a recessão econômica mundial no início da década<br />
de 1980. Em decorrência dessa crise, o<br />
governo brasileiro anunciou o congelamento<br />
das importações de petróleo. Quase no final<br />
do ano, o preço da gasolina subiu 58% e, em<br />
outubro de 1980, tinha aumentado 100%. O<br />
Brasil passou a ser o segundo país com a gasolina<br />
mais cara do mundo. 275<br />
O choque do<br />
petróleo tornou<br />
evidentes os<br />
pontos frágeis<br />
do “milagre<br />
brasileiro”.<br />
Em março de 1979, o governo Geisel chegava<br />
ao fim. Ao longo do quinquênio, o PIB brasileiro<br />
tinha crescido mais de 40%, cinco milhões de<br />
novos empregos tinham sido criados e o valor<br />
das exportações era 50% maior, porém a taxa<br />
de inflação anual situava-se em torno de 40%.<br />
Porém, para conter a inflação nesse patamar, o<br />
Governo Federal lançou mão de uma série de<br />
artifícios, como a venda de produtos das empresas<br />
estatais por preços abaixo do custo, o<br />
que tornava essas empresas cada vez mais deficitárias,<br />
participando de uma dívida externa<br />
que chegava a US$ 43 bilhões. 276<br />
Inaugurado sob o signo do segundo choque<br />
de petróleo, o governo do general João Batista<br />
Figueiredo concentrou esforços, em seus<br />
primeiros meses, no combate irrestrito à espiral<br />
inflacionária e à recessão econômica. Em julho<br />
de 1979, o novo presidente anunciou o congelamento<br />
das importações de petróleo e a criação<br />
do Conselho Nacional de Energia, encarregado<br />
de elaborar programas de pesquisa e investimento<br />
em fontes energéticas alternativas.<br />
275. O AUMENTO gigante. Veja, São Paulo, p. 164, 28 nov. 1979. Economia e Negócios; OUTRO aperto no cinto, Veja, São Paulo, p. 120, 08 out.<br />
1980. Economia e Negócios.<br />
276. PETROBRAS 50 anos: uma construção da inteligência brasileira. Rio de Janeiro: Petrobras, 2003, p. 165.