PETRÓLEO E ESTADO
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16 Petróleo e Estado<br />
Embora esses documentos já destacassem a importância<br />
econômica do petróleo, ele não foi mencionado<br />
explicitamente nos decretos relativos a pedidos<br />
de concessão até o final da década de 1850.<br />
...Não era de<br />
conveniência<br />
pública que as<br />
riquezas ficassem<br />
sepultadas<br />
nas entranhas<br />
da terra.<br />
A primeira referência explícita à exploração de<br />
petróleo no País consta do Decreto nº 3.352-A,<br />
de 30 de novembro de 1864, que autorizava o<br />
inglês Thomas Denny Sargent a extrair turfa,<br />
petróleo e outros minerais, pelo prazo de 90<br />
anos, nas comarcas de Camamu e de Ilhéus.<br />
Com 25 cláusulas, o decreto estabelecia detalhes<br />
dos trabalhos de mineração e proibia<br />
expressamente o emprego da mão de obra<br />
escrava nos trabalhos. Este último item estava<br />
relacionado com a progressiva diminuição da<br />
força de trabalho cativa após o fim do tráfico<br />
negreiro, ocorrido em 1850.<br />
Conflitos de interesses entre propriedade territorial<br />
e propriedade mineral não tardaram a surgir.<br />
Em 1859, três proprietários de terras, afirmando-<br />
-se como os verdadeiros descobridores das minas,<br />
denunciaram ao Museu Nacional as concessões<br />
outorgadas a José de Barros Pimentel, Frederico<br />
Hamilton Southworth e Thomas Sargent. 6<br />
Dez anos depois, quando o inglês Edward Pellew<br />
Wilson 7 recebeu autorização para lavrar por 30<br />
anos carvão-de-pedra, turfa e outros minerais, na<br />
região do rio Maraú, alguns proprietários locais<br />
reclamaram formalmente ao imperador D. Pedro<br />
II o direito de descobridores dos minerais e pediram<br />
o privilégio exclusivo para a sua extração, ou,<br />
pelo menos, que suas terras fossem excluídas da<br />
concessão, e o governo imperial foi obrigado a se<br />
manifestar claramente sobre o assunto. Segundo<br />
um parecer do Conselho de Estado, datado de 15<br />
de agosto de 1870, “a descoberta de minerais não<br />
conferia ao descobridor o direito de extraí-los,<br />
mesmo sendo proprietário do solo”. Em fevereiro<br />
do ano seguinte, o Ministério dos Negócios da<br />
Agricultura, Comércio e Obras Públicas, baixou um<br />
Aviso reafirmando que as “riquezas subterrâneas<br />
e os minerais de todas as espécies” pertenciam ao<br />
Estado e que “a descoberta de minerais não conferia<br />
ipso facto aos descobridores o direito de os<br />
extrair, ainda que proprietários da superfície”, sem<br />
autorização governamental. 8 Mencionando ainda<br />
que os proprietários dos terrenos “não tinham<br />
empenhado capitais e esforços suficientes para<br />
desenvolver os mesmos trabalhos” e que “a lavra<br />
a que precederam não passara de uma tentativa<br />
passageira”, o governo manteve a concessão a<br />
Edward Wilson, pois “não era de conveniência pública<br />
que as riquezas do mencionado solo ficassem<br />
sepultadas nas entranhas da terra quando empreendedores<br />
ativos e capitais suficientes apareciam<br />
para as aproveitar eficazmente”.<br />
Até o final da década de 1860, o Maranhão foi a<br />
única província que, além da Bahia, atraiu o interesse<br />
de pesquisadores. Em 1867, as rochas betuminosas<br />
localizadas em Codó e Coroatá, no vale<br />
do rio Itapecuru, foram objeto de um pedido de<br />
concessão, encaminhado por Policarpo Lopes de<br />
Leão e pelo engenheiro inglês Nathaniel Plant. 9<br />
No começo dos anos 1870, uma nova leva de<br />
concessões teve como cenário a província de<br />
São Paulo, onde “a expansão da rede ferroviária<br />
e dos serviços urbanos (...), com muito mais<br />
força do que na Bahia, aguçava o interesse por<br />
combustíveis minerais, destacadamente o carvão”.<br />
10 Quatro concessões foram registradas<br />
em São Paulo, na região da Bacia do Paraná,<br />
conhecida pela ocorrência de exsudações de<br />
óleo e gás. A primeira referência a petróleo está<br />
contida no Decreto nº 4.725, de 9 de maio de<br />
1871, que autorizava Antônio Cândido da Rocha<br />
e Ângelo Tomaz do Amaral a explorarem vários<br />
minerais em Iporanga, mas não há registros de<br />
que a concessão tenha sido levada adiante.<br />
6. DIAS, José Luciano de Mattos; QUAGLINO, Maria Ana. A questão do petróleo no Brasil: uma história da Petrobrás. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio<br />
Vargas, CPDOC: Petrobras, SERINST, 1993. p. 3<br />
7. SABÓIA, Patrícia. A saga da Wilson Sons. Rio de Janeiro: Índex: BASI, 1997.<br />
8. BRASIL. Ministério dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Aviso nº 53, baixado em 7 de fevereiro de 1871.<br />
9. MOURA, Pedro de; CARNEIRO, Felisberto Olímpio. Em busca do petróleo brasileiro. Ouro Preto, MG: Fundação Gorceix, 1976. p. 55-75<br />
10. DIAS; QUAGLINO, 1993, passim. ; FIGUEIRÔA, Silvia Fernanda de Mendonça. A ciência na busca do Eldorado: a institucionalização das ciências<br />
geológicas no Brasil, 1808-1907. 1992. Tese (Doutorado) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo,<br />
1992. p. 123-124.