PETRÓLEO E ESTADO
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Capítulo 13 - A consolidação do monopólio estatal 157<br />
Ainda em 1963, uma comissão especial analisou<br />
todo o processo petrolífero nacional, discutindo a<br />
ideia de se implantar o monopólio de importação.<br />
Além de atuar como refinadora e produtora de<br />
óleo, a Petrobras passaria a ter controle absoluto<br />
sobre todo o óleo cru e os derivados que entravam<br />
no Brasil, cuidando também da distribuição e<br />
da efetiva alocação desses produtos no mercado.<br />
O Plenário do Conselho propôs, então, ao ministro<br />
Antônio Oliveira Brito, das Minas e Energia, que<br />
levasse a questão para deliberação do Presidente<br />
da República.<br />
Todas as áreas da indústria do petróleo estavam<br />
passando pelo crivo da orientação nacionalista<br />
do governo de Jango. Também em dezembro de<br />
1963, tomando como base a Resolução nº 5/63<br />
do CNP, o Presidente da República determinou o<br />
tabelamento, em preços únicos para todo o País,<br />
dos óleos lubrificantes do tipo motor oil, vendidos<br />
pela Esso, Shell, Texaco e outras empresas estrangeiras,<br />
quebrando assim o domínio das distribuidoras<br />
sobre o mercado brasileiro. Com essa medida,<br />
foi possível uma redução geral dos preços em<br />
todas as etapas da comercialização.<br />
FGV/CPDOC - Arquivo Horta Barbosa<br />
Em 13 de março<br />
de 1964, foram<br />
encampadas<br />
as seis refinarias<br />
particulares<br />
em operação<br />
no Brasil.<br />
Em 24 de dezembro, Goulart editou o Decreto<br />
nº 53.337, que conferia ao Estado a faculdade<br />
de “autorizar, regular e controlar a importação, o<br />
transporte, inclusive a construção de oleodutos, a<br />
distribuição e o comércio do petróleo e seus derivados”.<br />
Seria assim criada uma subsidiária, a Petrobras<br />
Internacional, que deteria a exclusividade<br />
para operar no exterior. Com esse decreto, as empresas<br />
brasileiras que pretendiam explorar o óleo<br />
boliviano ficaram sem base legal para concretizar<br />
suas explorações na Bolívia. O Acordo de Roboré,<br />
a partir de então, passaria a vigorar segundo sua<br />
forma original, de 1938.<br />
Outro ponto a destacar no ano de 1963 foi o acelerado<br />
desenvolvimento da indústria petroquímica<br />
em escala mundial. Esse acontecimento levou o<br />
CNP a reexaminar a política traçada para o setor,<br />
já que datava de uma época em que a Petrobras<br />
havia entrado nesta atividade. Foi então criado<br />
um grupo de trabalho, integrado por membros do<br />
Conselho e da empresa estatal, com a tarefa de<br />
rever toda a legislação existente sobre o assunto,<br />
e de sugerir diretrizes para a implementação de<br />
uma nova política petroquímica no País.<br />
Em setembro, quando a discussão da política nacionalista<br />
estava no auge, Carlos Meireles organizou<br />
o Fórum Nacional de Debate de Política de Petróleo,<br />
com a participação de conferencistas como<br />
o general Aurélio de Lyra Tavares, o industrial Fernando<br />
Gasparian, o antropólogo Darcy Ribeiro e o<br />
senador Josaphat Marinho, entre outros. Segundo<br />
Meireles, “esse fórum teve uma repercussão na imprensa<br />
muito grande. Levantou muito a ideia monopolista,<br />
(...) e deu mais força à Petrobras”. 252<br />
No início de 1964, Carlos Meireles participou, juntamente<br />
com José Murilo Paraíso, chefe da Dire-<br />
O general Aurélio de Lyra Tavares discursa no<br />
I Fórum de Debates do CNP, em setembro de 1963<br />
toria Econômica do CNP, e Waldir Pires, consultor-geral<br />
da República, da elaboração do decreto<br />
de encampação das refinarias particulares. A assinatura<br />
deste decreto foi anunciada pelo presidente<br />
Goulart durante o chamado Comício das Reformas,<br />
no dia 13 de março de 1964. Por esse ato,<br />
foram encampadas as seis refinarias particulares<br />
em operação no Brasil – Capuava (grupo Soares<br />
Sampaio), Manguinhos (grupo Peixoto de Castro),<br />
Refinaria Ipiranga (grupo Ipiranga), Manaus, Uruguaiana<br />
e Matarazzo –, cujas ações passariam a<br />
pertencer ao patrimônio nacional.<br />
Em 31 de março de 1964, eclodiu o golpe militar<br />
que depôs o presidente João Goulart. Profundamente<br />
identificado com o governo Goulart, Carlos<br />
Meireles Vieira deixou a presidência do CNP.<br />
252. Ibid.