PETRÓLEO E ESTADO
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146 Petróleo e Estado<br />
Banco de Imagens Petrobras<br />
Arquivo ANP<br />
Janary Nunes, presidente da Petrobras, não aceitava os termos do Acordo<br />
de Roboré. Mais tarde, foi acusado de irregularidades administrativas<br />
O coronel Alexínio Bittencourt, presidente do CNP, criticou oficialmente<br />
o presidente da Petrobras, criando profundo mal-estar no governo<br />
O Relatório Alexínio<br />
Ao declarar que as atribuições legais do Conselho<br />
seriam “levadas a sério” em sua gestão, o coronel<br />
José Alexínio Bittencourt, já no seu discurso de<br />
posse como novo presidente do CNP, em maio de<br />
1958, indicava que o convívio com a Petrobras estava<br />
deixando de ser amistoso.<br />
O clima na área petrolífera do governo já não era<br />
dos melhores. Um dos diretores da Petrobras,<br />
João Neiva de Figueiredo, havia encaminhado a<br />
Kubitschek seu pedido de demissão, acusando o<br />
presidente da empresa, Janary Gentil Nunes, de<br />
cometer irregularidades administrativas. Em seguida,<br />
o diretor Irnack Carvalho do Amaral também<br />
se demitiu pelos mesmos motivos. O coronel<br />
Janary, segundo eles, tomava decisões sem consultar<br />
o Conselho de Administração da empresa,<br />
definia prioridades com base em critérios políticos<br />
e não em laudos técnicos, e anunciara prematuramente<br />
os resultados das ações da Petrobras,<br />
gerando expectativas que nem sempre se cumpriam,<br />
entre outras acusações. 239<br />
Janary Nunes não aceitara os termos do Acordo<br />
de Roboré, exigindo a exclusividade da exploração<br />
do petróleo boliviano para a Petrobras, ao passo<br />
que o novo presidente do CNP defendia o Acordo.<br />
Para ele, a Petrobras deveria atuar como suporte<br />
invisível dos grupos privados nacionais na Bolívia.<br />
Agravando o clima já tenso, Bittencourt engrossava<br />
as críticas dos diretores demissionários da<br />
Petrobras, afirmando que a política executada<br />
por Janary estava intensificando a crise cambial<br />
vivida pelo País e prejudicando o abastecimento<br />
interno de derivados.<br />
As críticas a Janary Nunes foram formalizadas<br />
pelo presidente do CNP, no documento conhecido<br />
como Relatório Alexínio, que ele enviou a Juscelino<br />
no dia 4 de outubro de 1958:<br />
(...) a política nacional do petróleo está<br />
seriamente ameaçada de fracasso, em<br />
consequência da maneira pela qual<br />
vem sendo conduzida e dirigida a empresa<br />
incumbida de executá-la, a Petróleo<br />
Brasileiro S.A. (...) O programa ora<br />
em marcha estabelecido pela presidência<br />
da empresa representa um agravamento<br />
da crise cambial do País; uma<br />
ameaça ao êxito da Petrobras, através<br />
da descoordenação e do descontrole<br />
dos seus investimentos; um prejuízo ao<br />
consumo, através de um aumento artificial<br />
de preços com graves reflexos na<br />
economia nacional. 240<br />
O coronel Alexínio enfatizava ainda o não cumprimento,<br />
por parte do presidente da Petrobras,<br />
das regras que regiam as relações entre os dois<br />
órgãos. Nesse mesmo documento, denunciava<br />
a atuação “altamente entreguista” de Roberto<br />
Campos, acusando-o de condicionar a colaboração<br />
do banco à aceitação, pelas empresas brasileiras<br />
interessadas na exploração do petróleo da<br />
Bolívia, de financiamento da Pan American Land<br />
& Oil Co. O documento caiu como uma bomba<br />
nos círculos políticos, militares e universitários.<br />
Dentro do grupo militar nacionalista, a discussão<br />
acabou pendendo para a posição defendida por<br />
Janary, em detrimento de Alexínio.<br />
239. CARVALHO, G., 1977, p. 107-110<br />
240. JESUS SOARES PEREIRA (1910-1974) [Arquivo JSP]. Rio de Janeiro, FGV, CPDOC. Sigla JSP. Dossiê JSP mvop/cnp 1957.04.22 (doc.2), 1957.