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PETRÓLEO E ESTADO

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Capítulo 12 - Governo JK: expansão do refino 145<br />

Flirckr/José Fernades<br />

O Acordo de Roboré<br />

A exploração do petróleo boliviano por empresas<br />

brasileiras foi outra questão controversa enfrentada<br />

pelo CNP durante a gestão de Poppe de Figueiredo.<br />

O tema veio à tona em janeiro de 1955,<br />

quando os presidentes Café Filho e Victor Paz<br />

Estensoro inauguraram o trecho ferroviário Corumbá-Santa<br />

Cruz. Dias mais tarde, o presidente<br />

da Bolívia enviou um documento, por intermédio<br />

de seu embaixador no Brasil, insistindo na necessidade<br />

de se rever o Tratado sobre Saída e Aproveitamento<br />

do Petróleo Boliviano, que havia sido<br />

firmado entre os dois países em fevereiro de 1938.<br />

Estensoro considerava o tratado obsoleto frente<br />

às novas condições econômicas dos dois países.<br />

O Conselho de Segurança Nacional (CSN), embora<br />

autorizando o Itamaraty a iniciar as conversas com<br />

o governo boliviano, decidiu que o direito de exploração<br />

do óleo boliviano pelas companhias brasileiras<br />

permaneceria segundo as normas ditadas pelas autoridades<br />

brasileiras. Estavam em jogo interesses geopolíticos,<br />

mais do que econômicos. A intenção era<br />

prevenir ou conter a expansão da Argentina na área,<br />

por isso não interessava ao Brasil abrir mão dos direitos<br />

garantidos pelo Tratado. De acordo com o Itamaraty,<br />

era preciso negociar com o governo boliviano<br />

a implantação de subsidiárias da Petrobras para<br />

pesquisa e prospecção do petróleo na área reservada<br />

pelo Tratado de 1938. Essas subsidiárias deveriam ser<br />

formadas principalmente por capitais privados, ficando<br />

a Petrobras como sócia minoritária.<br />

Em março de 1957, um grupo de trabalho sob a<br />

direção do presidente do CNP concluiu que somente<br />

três companhias brasileiras possuíam as<br />

A ferrovia Corumbá-Santa Cruz de la Sierra passa pelo rio Paraguai, na divisa entre Brasil e Bolívia<br />

condições necessárias para a exploração do petróleo<br />

boliviano. O estudo, feito em conjunto com e privatistas, tão comuns na época. Uma polariza-<br />

ambos era típica das discussões entre nacionalistas<br />

o BNDE, levou em conta aspectos econômicos e ção sempre presente, com pequenas variações, nas<br />

técnicos das empresas. O diretor-superintendente<br />

do BNDE, Roberto Campos, por defender a<br />

sucessivas épocas da indústria do petróleo no Brasil.<br />

participação de companhias mistas, com capitais Em março de 1958, os chanceleres Macedo Soares<br />

estrangeiros – reembolsáveis apenas em caso de e Manuel Barrau Peláez assinaram em La Paz o<br />

sucesso do empreendimento – tornou-se alvo da Acordo de Roboré. Elaborado sob a justificativa<br />

campanha nacionalista, acusado de ser representante<br />

dos trustes petrolíferos americanos [...]. 238 cumento impedia que estatais brasileiras explo-<br />

de atualização do compromisso de 1938, o dorassem<br />

o petróleo da Bolívia, reservando-o aos<br />

Poppe de Figueiredo, decidido a evitar a participação<br />

de capitais estrangeiros, exigiu que fossem afirmavam que ele contrariava o tratado de 1938,<br />

grupos privados. No Brasil, críticos do acordo<br />

revistos os critérios para a constituição de companhias<br />

privadas brasileiras. Macedo Soares conside-<br />

dos dois países. Diante da forte campanha nacio-<br />

que estipulava o monopólio de empresas estatais<br />

rou a revisão totalmente desnecessária e insistiu no nalista, Kubitschek preferiu retroceder e o acordo<br />

caráter decisório da Comissão. A divergência entre permaneceu letra morta.<br />

238. CAMPOS, Roberto. In: ABREU, Alzira Alves de. et al. (Coord.). Dicionário histórico e biográfico brasileiro. Rio de Janeiro: FGV, CPDOC, 2001. v.<br />

1, p. 1026-1035.

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