PETRÓLEO E ESTADO
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Capítulo 10 - Projeto Petrobras mobiliza opinião pública 121<br />
“O Petróleo é Nosso”, porém a reação mais surpreendente<br />
veio da UDN, que repentinamente<br />
assumiu a bandeira do monopólio estatal, contrariando<br />
todas as expectativas.<br />
Em 4 de junho de 1952, quando o projeto do governo<br />
retornava das comissões, cheio de emendas,<br />
o presidente da UDN, deputado Bilac Pinto,<br />
apresentou um substitutivo prevendo a criação<br />
da Empresa Nacional do Petróleo (Enape), previa<br />
o monopólio estatal em todas as fases da indústria<br />
do petróleo.<br />
Na campanha<br />
“O petróleo é nosso”,<br />
Getúlio Vargas<br />
foi classificado<br />
como “aliado do<br />
imperialismo”.<br />
O substitutivo da UDN foi apoiado por representantes<br />
de todos os partidos, inclusive por ícones dos<br />
nacionalistas, como Eusébio Rocha e Artur Bernardes.<br />
A eles se uniram entidades da sociedade civil,<br />
como a UNE, o Jornal de Debates e o CEDPEN, que<br />
relançaram a palavra de ordem “O petróleo é nosso”,<br />
convocando a população mais uma vez para<br />
lutar em defesa da soberania nacional.<br />
O Congresso voltou a ser palco de discursos contundentes<br />
em defesa do monopólio estatal do petróleo,<br />
como o que foi proferido em 6 de junho de 1952,<br />
pelo ex-Presidente da República Artur Bernardes,<br />
então deputado federal pelo PR de Minas Gerais:<br />
Está hoje provado que não necessitamos<br />
do capital estrangeiro para industrializar<br />
o nosso petróleo. (...). Fomos os<br />
iniciadores da indústria ora em adiantada<br />
execução. Descobrimos o combustível,<br />
montamos refinarias, construímos<br />
oleodutos e adquirimos frota de petroleiros.<br />
Tudo isso se fez com recursos<br />
nossos, com técnicos nossos e também<br />
contratados, e máquinas que adquirimos.<br />
Agora que tudo está em boa marcha,<br />
não necessitamos de convivas para<br />
a mesa posta. Os lucros integrais do<br />
petróleo devem ficar no Brasil, circulando<br />
nas artérias da nação, estimulando<br />
trabalho novo, criando novas indústrias,<br />
melhorando as condições de vida do<br />
seu povo e enriquecendo os brasileiros.<br />
Além disso, temos milhões e milhões de<br />
compatriotas que morrem à fome ou<br />
vegetam, sem roupa, sem saúde, sem<br />
escolas e devemos destinar à cura de<br />
seus males os lucros com que se quer<br />
presentear os trustes. 208<br />
Nas ruas, a União Nacional dos Estudantes e o<br />
CEDPEN desencadearam o segundo tempo da<br />
Campanha do Petróleo, relançando o lema “O petróleo<br />
é nosso”, agora com um forte sentido de<br />
contestação a Vargas, classificado como “aliado<br />
do imperialismo” por militares nacionalistas, comunistas<br />
e até mesmo dirigentes do PTB.<br />
Os meses que se seguiram foram marcados por<br />
uma intensa atividade política. Em junho, um comício<br />
realizado no centro do Rio de Janeiro foi<br />
reprimido a tiros pela polícia. Em julho, o governo<br />
proibiu a realização da 3 a Convenção Nacional<br />
de Defesa do Petróleo, convocada pelo CEDPEN,<br />
porque coincidia com a visita do secretário de Estado<br />
norte-americano Dean Acheson, mas teve<br />
que recuar devido a fortes protestos. A convenção<br />
foi realizada na data prevista e mais uma vez<br />
os nacionalistas condenaram o projeto governamental,<br />
taxando-o de “impatriótico e lesivo aos<br />
interesses do povo brasileiro”. 209<br />
Vargas, por seu turno, também procurava mobilizar<br />
a opinião pública a seu favor, desqualificando seus<br />
adversários. Em 23 de junho, num discurso pronunciado<br />
em Candeias, um dos principais centros petrolíferos<br />
da Bahia, Vargas bateu forte nos udenistas<br />
(”conhecidos advogados dos monopólios econômicos<br />
estrangeiros”) e comunistas (“arautos dum falso<br />
nacionalismo que mal encobre uma filiação ideológica,<br />
visando novos imperialismos”):<br />
Não é de espantar, pois que se levantem<br />
agora uns e outros, com o objetivo de<br />
torpedear e paralisar a atual proposta<br />
governamental – os primeiros porque<br />
não têm porta de acesso na nova organização,<br />
e os últimos porque, para eles,<br />
só interessa que o petróleo seja nosso,<br />
mas... debaixo da terra. 210<br />
O governo adotou então a estratégia de apressar<br />
a discussão do seu projeto, evitando a articulação<br />
da oposição em torno do projeto da UDN.<br />
208. BERNARDES, Artur. Defesa do monopólio estatal do petróleo. Brasília, Congresso Nacional, 1952. Discurso.<br />
209. COHN, Gabriel, 1968, p. 153.<br />
210. VARGAS, 1952, apud COHN, Gabriel, 1968, p. 145-150.