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PETRÓLEO E ESTADO

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102 Petróleo e Estado<br />

Campanhas na mídia<br />

A publicação de uma série de anúncios pela<br />

Standard Oil nos principais jornais do País, entre<br />

1949 e 1950, deu início a uma forte estratégia de<br />

comunicação com o objetivo de esclarecer a população<br />

brasileira sobre a sua posição em relação<br />

à questão do petróleo.<br />

Grandes empresas<br />

internacionais<br />

buscaram apoio<br />

da opinião pública<br />

por meio de<br />

campanhas<br />

de comunicação.<br />

A maior parte dos grandes jornais posicionou-<br />

-se favoravelmente à abertura do setor petrolífero<br />

ao capital estrangeiro. O Estado de S. Paulo,<br />

que tinha como princípios básicos o liberalismo,<br />

o anticomunismo e o antigetulismo, sugeriu a<br />

substituição da legislação restritiva por uma outra,<br />

que possibilitasse a articulação com o capital<br />

estrangeiro, de modo a desenvolver as fontes de<br />

energia que o País sabidamente possuía. Essa<br />

também era a postura dos jornais O Globo, Correio<br />

da Manhã, dos periódicos do grupo Folha e<br />

dos Diários Associados, de propriedade de Assis<br />

Chateaubriand. As exceções eram o Diário de<br />

Notícias e a Tribuna da Imprensa, que defendiam<br />

o monopólio estatal do petróleo. 173<br />

A Standard Oil centrava suas baterias contra a<br />

proibição, ainda vigente, da participação do capital<br />

estrangeiro no refino de petróleo e, ao mesmo<br />

tempo, procurava defender-se das acusações de<br />

que tentava impedir o desenvolvimento da indústria<br />

petrolífera no País, conforme declarou o presidente<br />

da companhia no Brasil, W. M. Anderson,<br />

ao jornal A Tarde:<br />

Na verdade, a política e a ação da nossa<br />

companhia têm sido orientadas na direção<br />

oposta. Por exemplo, nos oferecemos<br />

para suprir de petróleo bruto os diversos<br />

projetos da refinaria que têm estado sob<br />

consideração nos recentes últimos anos e<br />

temos declarado a nossa vontade de participar<br />

desses projetos se, porventura, leis<br />

satisfatórias assim nos autorizarem. 174<br />

O novo slogan – Esso a serviço do progresso – sintetizava<br />

a imagem que a Standard Oil procurava<br />

construir, de empresa comprometida com a modernização<br />

do País. Suas mensagens publicitárias<br />

e jornalísticas transmitiam a ideia de que o Brasil<br />

deveria explorar os seus próprios recursos petrolíferos,<br />

mas esse trabalho exigia um grande volume<br />

de capitais e oferecia riscos aos investidores, além<br />

de pressupor conhecimentos técnicos de ponta,<br />

por isso a melhor maneira de industrializar o petróleo<br />

brasileiro era abrindo o setor para as empresas<br />

privadas. Foi assim que a indústria petrolífera<br />

se desenvolveu no Oriente Médio, na Europa,<br />

nos Estados Unidos, na Venezuela e em outros<br />

países, argumentava a empresa, 175 declarando-se<br />

contrária ao Estatuto do Petróleo. No entender da<br />

Standard Oil, aquele projeto de lei não permitia<br />

às empresas privadas desenvolverem suas atividades<br />

com êxito, pois o setor petrolífero brasileiro<br />

deveria basear-se no sistema de livre iniciativa e<br />

livre concorrência. 176<br />

A Shell também procurou defender seus pontos<br />

de vista. Ainda em novembro de 1946, três meses<br />

antes do início dos trabalhos da Comissão de<br />

Anteprojeto da Legislação do Petróleo, o diretor-<br />

-geral da companhia no Brasil, J. C. Reed, fez a<br />

seguinte declaração ao jornal A Noite:<br />

No momento, encontramo-nos numa situação<br />

de expectativa, esperando a legislação<br />

do governo que venha regulamentar,<br />

no que toca a capitais estrangeiros, a sua<br />

participação na indústria da exploração do<br />

petróleo. Desde que, como acontece (...)<br />

em outros países, tais como a Venezuela,<br />

Colômbia, Equador etc., sejam asseguradas<br />

ao capital estrangeiro as necessárias<br />

condições que permitam o seu emprego,<br />

a nossa companhia está disposta a investir<br />

grandes fundos no Brasil. 177<br />

173. CARVALHO JÚNIOR, Celso. A criação da Petrobras nas páginas dos jornais O Estado de São Paulo e Diário de Notícias. São Paulo: Assis, 2005. p. 7-9.<br />

174. A TARDE, Rio de Janeiro, 10 de julho de 1949 apud PETROBRAS, 2000, p. 45, p. 222.<br />

175. DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 1949 apud CARVALHO JÚNIOR, 2005, p. 70.<br />

176. DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 1949 apud CARVALHO JÚNIOR, 2005, p. 69.<br />

177. A NOITE, nov. 1946 apud PINHEIRO; VIANA, 1987, p. 34.

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