Revista Beer Brasil - Edição 01 - JAN2016

BEER BRASIL
sua revista sobre cervejas artesanais
ESPECIAL
GROWLERS
LEVANDO PARA CASA
MAIS DO QUE APENAS CERVEJA
Velhas Virgens Rockin’ Beer
Convidados mais
do que especiais para falar
sobre música e cerveja
CERVEJARIAS DO MEU BRASIL
INICIAMOS NA CAPITAL PAULISTA O NOSSO
PASSEIO PELAS CERVEJARIAS BRASILEIRAS
A revolução
no cenário
cervejeiro
da Alemanha
Harmonização
de cervejas
com alimentos
#wanderlust
Como planejar
seu roteiro
cervejeiro
Um breve giro
pela história
da cerveja
Ed. #01 | JAN2016

BEER BRASIL
EdiToR E diREToR EXECUTiVo
Raul dos Santos
Editorial
ANo NoVo, REViSTA NoVA!
E 100% gratuita e digital, acessível a todos, de qualquer
lugar, a qualquer hora. Em uma época digital, onde
estamos conectados boa parte do nosso tempo,
resolvemos seguir a tendência e estar 100% do tempo
disponíveis online.
Também conseguimos montar um time de colunistas e
colaboradores de dar inveja a qualquer outra publicação.
Sommeliers, professores, jornalistas, todos apaixonados
e profundos conhecedores de cervejas!
CoLABoRAdoRES dESTA Edição
Adriane Baldini
Amanda Reitenbach
Daiane Colla
Fabiana Arreguy
Fabrício Domingues
Fernanda Meybom
Gil Lebre
Gisele Russano
Rodrigo Sawamura
Simone Pires
Velhas Virgens
Essa é a Revista Beer Brasil, uma revista novinha, focada
no mercado cervejeiro e destinada ao público envolvido
com cervejas artesanais.
Não é mais nenhuma novidade, o mercado cervejeiro
no Brasil segue em expansão, com cada vez mais
cervejarias artesanais, rótulos, bares e empórios
especializados. Nossas cervejas estão ganhando prêmios
e mais prêmios. Está cada vez mais fácil encontrar
nossas cervejas artesanais preferidas nos mercados,
bares e restaurantes. Em conversas despretenciosas, é
corriqueiro descobrir que um amigo ou familiar agora
está “fazendo cerveja”. Também estamos escrevendo
mais, lendo mais, estudando mais. E formando mais
sommeliers e produtores de cerveja.
Estamos mais exigentes, bebendo melhor, e agora, lendo
melhor!
Leia sem moderação!
Um abraço!
Editor
Raul dos Santos
PRodUção GRÁFiCA
Editora HOPHEAD
CoNTAToS, PARCERiAS E ANÚNCioS
contato@revistabeerbrasil.com.br
WEBSiTE
www.revistabeerbrasil.com.br
FACEBooK
facebook.com/revistabeerbrasil
A REViSTA BEER BRASiL é uma publicação criada, desenhada e
produzida no Brasil pela EdiToRA HoPHEAd LTdA, e destinada ao
público envolvido com cervejas artesanais.Copyright © 2016 REViSTA
BEER BRASiL. Todos os direitos reservados. ISSN 2447-3863.
Esta publicação é protegida por direitos autorais, sendo vedada a
reprodução, distribuição ou comercialização de qualquer material
ou conteúdo dela obtido, sem a prévia e expressa autorização da
EdiToRA HoPHEAd LTdA. As visões e opiniões dos anunciantes,
entrevistados e colunistas são particulares e não necessariamente
refletem a opinião da editora ou do staff editorial. A editora
não assume nenhuma responsabilidade por erros, omissões ou
danos resultantes da utilização das informações aqui contidas.
IMPORTANTE: eventualmente, utilizamos material que acreditamos
ter sido disponibilizado sob domínio público, porém algumas vezes
não é possível identificar e/ou contatar o dono dos direitos autorais.
Se desejar alegar propriedade por qualquer conteúdo aqui publicado,
entre em contato e ficaremos mais do que felizes em realizar quaisquer
correções necessárias.
4 Revista Beer Brasil

06
22
Edição #01 | JAN2016
06
10
14
18
22
26
36
40
46
CERVEJARIAS DO MEU BRASIL
Um bate-papo com Marcos Ribas, um dos sócios
da CERVEJARIA NACIONAL.
MOVIMENTO CERVEJEIRO
E o Movimento Cervejeiro, com todas suas
oportunidades, continua crescendo no Brasil!
CERVEJAS, SABORES E LUGARES
A cerveja dos bunkers da 2ª Guerra Mundial.
ROTEIROS CERVEJEIROS
#wanderlust: o incontrolável desejo de estar
sempre com malas prontas e pé na estrada.
ESPECIAL GROWLERS
Levando para casa mais do que
apenas cerveja.
ESPECIAL GROWLERS
Muitas ideias dentro de um growler.
CRAFT BEER REVOLUTION
A revolução no cenário cervejeiro da
Alemanha.
ENTREVISTA: MALTERIA
BLUMENAU
Maltes 100% nacionais!
UM BREVE GIRO PELA
HISTÓRIA DA CERVEJA
A história da bebida alcoólica mais
consumida no mundo.
14

CERVEJARIAS DO MEU BRASIL
SÃO PAULO
cervejaRIA
NACIONAL
Em um bate-papo bastante descontraído, conversamos com
o mais que receptivo Marcus Ribas, um dos sócios da
Cervejaria Nacional, de São Paulo, onde falamos um pouco
sobre a história da cervejaria, os desafios destes 4 anos de vida
e os próximos passos rumo ao futuro.
A
história da Cervejaria Nacional
começa em 2006, com
experimentos do economista
e cervejeiro Luis Fabiani, que
após morar um tempo fora do país, nos
Estados Unidos, volta entusiasmado
com o movimento cervejeiro americano,
e com equipamentos debaixo dos braços
para iniciar suas próprias produções
caseiras. Autodidata, inicia suas pequenas
produções de cervejas artesanais,
e juntamente com o amigo de infância
Dudu Toledo, aproveitando o interesse
mútuo em tornar esses experimentos
em um negócio, montam a estrutura da
embrionária nanocervejaria que mais
tarde se tornaria a cervejaria que hoje
produz cerca de 13.000 litros/mês (entre
consumo em chope na casa, e receitas
engarrafadas, produzidas em planta
externa).
O laboratório inicial foi extremamente
importante para entenderem melhor
o negócio das cervejas artesanais, a
legislação e tributação em vigor, além
de todas as possibilidades de desenvolvimento
dentro desse mercado. Após
muito estudo de mercado e muitas
brassagens caseiras, e ainda compartilhando
seus tempos
entre a nanocervejaria e
seus próprios negócios, no
segundo semestre de 2009
tomam a decisão e resolvem
sair à procura de opções para
expandir o negócio. Com um
pequeno plano de negócios em mãos,
entram em contato com uma consultoria
especializada em bares e restaurantes,
sendo atendidos por Marcus Ribas,
então sócio da consultoria e já com
vasta experiência no setor de bares e
restaurantes. A sinergia foi grande, e o
que seria uma proposta de consulto-
6 Revista Beer Brasil

ia, rapidamente transformou-se em
sociedade. Foi assim que Fabiani, Dudu
e Marcus, junto com outros dois sócios
(Alexandre Cymes e Peter Jancso),
inauguram em 2011 o espaço que hoje
acolhe a Cervejaria Nacional.
Cada sócio tem sua responsabilidade
no negócio, mas Marcus é quem toca a
operação diária, hoje dedicando 100%
do seu tempo à fábrica-bar-restaurante.
O diferencial de ter um consultor com
mais de 25 anos de experiência no setor
de bares e restaurantes é sem dúvida
uma vantagem competitiva. “O tempo
de consultoria permite enxergar um
padrão para os problemas mais comuns
enfrentados por bares e restaurantes”,
comenta Marcus, “fazendo com que se
possa antecipar problemas já conhecidos,
aumentando a probabilidade de
sucesso do negócio”.
E de todos os desafios, “o grande problema,
o grande gargalo, é sem dúvida
o material humano, os recursos humanos”,
que demanda uma preocupação
especial com a base, com a qualidade
educacional de seus funcionários e com
um plano de capacitação.
Foto: Antonio Rodrigues

CERVEJARIAS DO MEU BRASIL
SÃO PAULO
Foto: Daniel Teixeira
Sampler da Cervejaria Nacional:
as cinco receitas fixas da casa, dispostas
para degustação em copinhos de 120 ml.
Com cinco receitas fixas (criadas
para cobrir um leque variado
de estilos), e uma média de
duas receitas sazonais todos os
meses (algumas delas colaborativas), a
variedade de opções tornou-se um dos
diferenciais da casa. São 24 sazonais
lançadas anualmente, onde metade
são grandes sucessos já experimentados
e metade são novas receitas, um
número impressionante para qualquer
brewpub. Além dos chopes servidos,
cervejas artesanais em
garrafas, todas nacionais,
completam as
opções para os apreciadores
que preferem
variar.
Indo para seu quinto
ano como fábrica-bar-
-restaurante, a Cervejaria
Nacional conta com três
pisos e três ambientes
bastante distintos. No
térreo temos a fábrica,
onde ficam dispostos os
tanques de fermentação
para os 8.000 litros mensais
de cerveja artesanal produzidos
todos os meses para
consumo na casa. O primeiro
andar acolhe o bar, com uma parede
de tijolos e ambiente mais rústico, palco
para apresentações de música ao vivo
e amplo espaço para sentar, conversar
e degustar as cervejas da casa. E no
último andar o restaurante, com vista
para a rua através de um grande vidro e
também com vista para a cozinha, onde
pode-se ver uma “parrilla” argentina,
um sistema de grelhas utilizado para
preparar e dar sabor especial às carnes
e hambúrgueres da casa. Os pratos da
casa são assinados pelo chef de cozinha
e também sócio Alexandre Cymes,
que caprichou nas receitas para
harmonizar com as cervejas da casa.
As receitas fixas são a Domina Weiss
(uma cerveja de trigo com boa presença
dos característicos aromas de
banana e cravo), a Y-Îara Pilsen (criada
com a ideia de reproduzir a tradição do
estilo, porém com um amargor mais
perceptível e 100% de malte), a Mula
IPA (baseada em uma IPA americana,
com generosas doses de lúpulos americanos
que contribuem para aromas
de frutas tropicais, maracujá e cítrico),
a Kurupira Ale (uma Ale
tradicional baseada na receita
da Drake’s Brown Ale,
o primeiro grande sucesso
da Cervejaria Nacional
antes mesmo de tornar-se
fábrica-bar-restaurante) e
a Sa’si Stout (uma variação
Dry Stout, fiel ao estilo
e que foi equilibrada ao
longo do tempo para dar
mais harmonia aos sabores).
Entre todas, é injusto
dizer quem é a “estrela
da casa”. Em 2014 foram
produzidos aproximadamente
96 mil litros entre
fixas e sazonais, sendo
a Domina, responsável
por cerca de 17 mil litros,
seguida muito de perto pela Y-Îara,
com 16,5 mil litros. Em terceiro lugar, a
Mula IPA com 15 mil litros, a Kurupira,
com 14 mil, e por último a Sa’si, com 9
mil litros. As quatro primeiras receitas
8 Revista Beer Brasil

‘‘
“O cliente que vem sempre
aqui e não está no clima
de tomar um dos nossos
chopes da casa, deve ter
opções. É bastante comum
ver o pessoal pedindo
rótulos de outras
cervejarias nacionais”,
comenta Ribas.
tiveram um volume muito próximo de
produção, mostrando que existe espaço
para apreciadores de variados estilos.
Além dos 8.000 litros mensais para consumo
na própria casa, a Cervejaria Nacional
também vem se aventurando, há
pouco mais de um ano, no lançamento
de suas receitas na versão engarrafada.
Já são 5.000 litros distribuídos em garrafas,
produzidos na planta da Cervejaria
Blondine, em Itupeva, no interior de São
Paulo. A ideia vem crescendo de maneira
sustentável, e iniciou-se com a Mula
IPA, onde inicialmente foram produzidos
pouco mais de mil litros, durante alguns
meses, como um laboratório para
a iniciativa. Com o resultado positivo,
uma a uma as receitas foram gradualmente
engarrafadas, e desde fevereiro
de 2015 todas as receitas já estão disponíveis
para venda fora da cervejaria. “É
um outro mercado, uma outra realidade,
um outro jogo com regras bem
diferentes”, comenta, comparando o
negócio da fábrica-bar-restaurante com
a produção e distribuição de cervejas
em garrafa. A fase atual é de aprendizado,
de experimentações, pouco a pouco
entrando em mais pontos de venda,
bares e empórios, dentro e fora de São
Paulo. “Estamos testando nosso produto
em outra praça, em outro público,
oferecendo outro tipo de experiência
fábrica, bar e restaurante
com uma dinâmica completa diferente”.
E como
inovar e
manter-
-se estável
na atual
conjuntura
econômica
do país,
neste período
de alta
da inflação,
desemprego
e dólar
nas alturas?
Não existe
um segredo,
mas um bom planejamento é essencial.
“Neste ramo, a linha de frente somos
nós, os bares, o comércio”, comenta,
“nós somos muito sensíveis a enchentes,
manifestações, trânsito, greves
– qualquer evento destes faz com que
meu consumidor simplesmente não entre
no bar, derrubando minha previsão
de faturamento, e veja que não necessariamente
tem a ver com a crise”. E
para quem pensa que a matéria-prima,
os insumos cervejeiros, seriam o grande
vilão da história, estão enganados! “O
custo de matéria-prima é importante,
mas não é o meu maior custo”. Estes
insumos, especialmente os importados,
são negociados anualmente e já estão
dentro dos reajustes anuais previstos
pela casa. Agora, a inflação é realmente
um problema: “os preços da carne, do
tomate, de insumos e matéria-prima
de cozinha, são mais importantes e me
afetam mais”. A resposta vem na diversificação:
na produção de chope, na
produção em garrafas, na participação
em eventos, nas brassagens colaborativas,
e em parcerias, por exemplo, com
institutos de educação cervejeira. “Para
nós isso é muito legal, traz público para
dentro da casa, que tem oportunidade
de vivenciar uma outra experiência,
dentro da fábrica. É uma forma inclusive
de fidelização, reforçando o laço com
o público, onde ele passa a ter outra interpretação
sobre qual é a proposta da
casa.
Você estreita
o relacionamento
com o
público. Além
disso, sempre
temos que ficar
de olho nas
tendências.
Nós nunca
deixamos de
escutar uma
proposta, de
quem quer
que seja”.
Foto: Mariana Buck
Sem dúvidas
os desafios são grandes, mas com a
visão empreendedora dos sócios, da
operação experiente de Marcus Ribas
e com o crescimento exponencial do
nosso mercado cervejeiro, seguramente
‘‘
a Cervejaria Nacional cada vez mais se
consolidará com uma das cervejarias e
brewpubs mais importantes do Brasil.
“É um outro mercado,
uma outra realidade, um
outro jogo com regras
bem diferentes”, comenta
Ribas, comparando o
negócio da fábrica-bar-
-restaurante com a
produção e distribuição
de cervejas em garrafa.
Revista Beer Brasil
9

EMPREENDEDORISMO CERVEJEIRO
MOVIMENTO
CERVEJEIRO
E o movimento cervejeiro, com todas suas oportunidades,
continua crescendo no Brasil
As grandes cervejarias seguem
investindo pesado não apenas
nas cervejas “mainstream”,
mas também na “premiunização”
de suas cervejas e na aquisição
de cervejarias artesanais já consolidadas
(reconhecendo o crescimento e
importância deste nicho de mercado, e
querendo é claro, aumentar sua participação
no mesmo).
Já as micro e pequenas cervejarias
continuam crescendo, em quantidade
e em qualidade. Continuam inovando,
ganhando prêmios, lançando rótulos e
fortalecendo cada vez mais o mercado
das artesanais.
Mercado este que segue promissor,
hoje representando menos de 1% de
todo o volume de cerveja produzido
no Brasil, porém com expectativas de
dobrar este percentual na próxima
década. Hoje temos pouco mais de 300
microcervejarias espalhadas pelo território
nacional (número ainda difícil de
se comprovar, justamente pelo pouco
tempo de maturidade deste mercado,
falta de regulamentação específica ou
de uma associação consolidada que
efetivamente consiga realizar esse
controle), porém ainda é muito pouco
se comparado, por exemplo, às quase
3500 cervejarias americanas, que juntas
representam quase 10% do volume de
cerveja produzido e mais de 14% do
faturamento do setor. Comparativamente,
ainda temos muito espaço para
crescer.
Neste cenário, oportunidades não
param de surgir: produção de cervejas,
distribuição, pontos de venda (lojas
físicas e virtuais), eventos, feiras, design
de rótulos e embalagens, conteúdo
cervejeiro (blogs, sites, revistas), comunicação,
comercialização de insumos,
franquias, etc. Ideias não faltam, assim
10 Revista Beer Brasil

‘‘
É um movimento bonito
de se ver, mas ao mesmo
tempo em que GERA oportunidades
(para empreendedores
e para o mercado
cervejeiro), GERA pontos
de atenção. Paixão não
gere um negócio.
como não faltam empresários apaixonados
investindo em seus sonhos
cervejeiros.
É um movimento bonito de se ver, mas
ao mesmo tempo em que gera oportunidades
(para empreendedores e para
o mercado cervejeiro em geral), gera
pontos de atenção. Paixão não gere um
negócio. Estamos presenciando o crescimento
de empreendimentos muito
bem estruturados, que fortalecem o
mercado e geram oportunidades. Mas
também vemos o oposto, onde apaixonados
sem experiência empreendedora
atuam com dificuldades, se mantém
em operação por pouco tempo e de alguma
forma mancham o mercado com
a baixa qualidade de seus produtos e
serviços. Neste ponto torna-se imprescindível
uma boa capacitação, aquisição
de conhecimento, leitura, troca de
experiências.
Temos hoje boas e conceituadas
escolas ministrando
cursos
de produção de
cervejas, formação
para sommeliers
de cerveja, especializações
em
estilos, em insumos
(maltes, leveduras,
lúpulos), etc.. Porém
ainda faltam publicações
especializadas.
Faltam também escolas
exclusivamente
voltadas a negócios
cervejeiros, e com
uma carga horária
que consiga cobrir,
com qualidade, todos
os assuntos que fazem
a diferença. Sim, temos
algumas dessas escolas, mas ainda são
poucas se comparado ao crescimento
deste mercado, especialmente com todos
os desafios políticos e econômicos
enfrentados pelo Brasil. E são muitos os
assuntos a tratar: negócios, economia,
marketing, tributação, comunicação,
recursos humanos, legislação, análise
de mercado, análise dos competidores,
atendimento ao cliente, ufa.. Estamos
falando de um negócio, de um empreendimento,
não “apenas” de cerveja
(como se já não fosse suficiente ter que
conhecer afundo sobre cervejas!). Os
empreendedores muitas vezes pegam
os rendimentos de uma vida e investem
em seus sonhos, em seus novos negócios.
Porém sem preparação, planejamento
e estudo, todo este investimento
pode simplesmente se
esvair, tornando um sonho
em pesadelo.
Nesta coluna sobre “Empreendimentos
Cervejeiros”,
tentaremos abordar
todas as possibilidades
de negócio envolvendo
cervejas, passando por
produção, pontos de
venda e distribuição.
De oportunidades nas
áreas de comunicação,
embalagens, rótulos
e insumos. Das mais
variadas franquias
cervejeiras. Do mundo
dos blogueiros, dos livros,
das publicações
especializadas. Das
ferramentas e softwares de apoio
ao cervejeiro caseiro e profissional. Da
organização de feiras e festivais. Das
oportunidades de carreira em grandes
cervejarias. Das agências e assessorias
de imprensa e seu papel na divulgação
de produtos cervejeiros. Das escolas e
publicações que podem ajudar os empreendedores.
Do escopo do apoio de
entidades como o Sebrae e Endeavor,
assim como das AcervAs e de outras associações.
Fique ligado, teremos muito
o que tratar!

EU, SOMmelier
por RODRIGO SAWAMURA
Rodrigo Sawamura
Engenheiro de Alimentos pela Unesp, Cozinheiro Chef
Internacional pelo Senac, Sommelier de Cervejas pela
ABS-Instituto da Cerveja e Doemens-Academia Barbante,
Mestre em Estilos pelo Instituto da Cerveja, Tecnologia Cervejeira
pelo Instituto da Cerveja / Faculdade de Tecnologia Munique /
Weihenstephan, 3° Lugar no Campeonato Brasileiro de Sommelier
de Cervejas 2015 e 4° Colocado no Campeonato Mundial de
Sommelier de Cervejas 2015.
O PROFISSIONAL
SOMMELIER
DE CERVEJAS
Por um bom tempo, o profissional
sommelier tinha sua
imagem diretamente relacionada
ao universo do vinho. De um
tempo para cá, novas oportunidades
para esse profissional, responsável pelo
serviço de bebidas, estão surgindo. Já é
possível encontrar, com certa facilidade,
cursos para sommelier de café, água
mineral, chás, cachaça, destilados e, é
claro, cervejas. Este último, graças ao
amadurecimento do mercado nacional,
surgimento de centenas de microcervejarias,
lojas para homebrewers,
empórios especializados e brewpubs, é
sem dúvida, o mais expressivo quando
consideramos a quantidade de profissionais
formados a cada ano.
‘‘
12 Revista Beer Brasil
Hoje percebo que o sommelier de
cerveja tem tido oportunidades em
diversos setores. Além da figura clássica
daquele profissional que atua em
restaurante e bares, sendo responsável
por todo o serviço de bebida, sugerindo
harmonizações e orientando eventuais
MAS o que é preciso para
tornar-se um sommelier
de cervejas? Para quem
estava esperando que a
resposta fosse apenas
“tomar muita cerveja”,
sinto decepcioná-lo.
dúvidas dos clientes, muitos profissionais
também estão atuando como
empreendedores, em importadoras,
microcervejarias, consultorias, dentre
tantas outras possibilidades.
Mas o que é preciso para tornar-se um
sommelier de cervejas? Para quem
estava esperando que a resposta fosse
apenas “tomar muita cerveja”, sinto
decepcioná-lo.
Acho que o primeiro passo seria a capacitação.
O Brasil conta com dezenas
de escolas e institutos de ensino que
oferecem desde cursos introdutórios,
passando por cursos de formação
profissional, até cursos mais específicos
para quem já é sommelier de cerveja.
Assim como em qualquer área de
atuação, o bom profissional deve ser
apaixonado pelo que faz, exercer suas
funções de forma ética, com muita responsabilidade
e respeito aos clientes e
demais colegas - e neste sentido, os excessos,
realmente não combinam com
nossa profissão. Então quer dizer que
o sommelier não deve “tomar cerveja”?
Também não precisamos ser tão quadrados
assim! Na minha opinião uma
das principais marcas do nosso universo
é justamente a informalidade, descontração,
casualidade e irreverência. Em
um curso para formação de sommelier
de cerveja, são degustados pelo menos
100 rótulos de vários estilos. Além disso,
um dos principais atributos de um bom
profissional é a sensibilidade sensorial,
cujo desenvolvimento e aprimoramento
se dá pela prática e repetição.
No meu caso, por exemplo, durante
minha preparação para o Campeonato
Brasileiro de Sommelier de Cerveja e,
mais recentemente, para o Campeonato
Mundial, além de estudar muito a parte
teórica, fazia degustações quase que
diárias, principalmente nas semanas em
que antecederam os campeonatos. Em
algumas oportunidades, degustava às
cegas (sem saber qual era o rótulo), em
outras de forma consciente (sabendo
qual era o rótulo), mas sempre com o
objetivo de melhorar minha sensibilidade
sensorial para um determinado aroma
ou sabor. Independente do objetivo,
a moderação é o melhor parâmetro.
Mesmo sendo considerada uma profissão
relativamente nova, é cada vez
maior a quantidade de sommeliers de
cerveja em nosso mercado. O melhor
disso tudo: forma-se uma espiral
positiva, um círculo virtuoso – quanto
mais pessoas capacitadas, mais forte
fica nosso segmento, mais oportunidades
de negócios surgem, mais
pessoas começam a se interessar, mais
pessoas buscam capacitação. E apesar
de estarmos em franco crescimento,
ainda temos muito que evoluir. Fazendo
uma rápida comparação com países
onde o mercado de cerveja artesanal
está consolidado e os profissionais
bastante reconhecidos e valorizados, é
fácil perceber que estamos apenas no
início da nossa jornada. Nosso caminho
será longo, pois ainda temos algumas
questões básicas para tratarmos, como
a retomada da economia, adequação
do regime tributário para as micro e
nanocervejarias, regulamentação para
homebrewers, elevadas taxas de impostos
para cervejas importadas, dentre
tantas outras. Contudo, o que podemos
e devemos fazer é estarmos preparados
para quando uma nova oportunidade
surgir, pois ela surgirá!
Ficou interessado? No próximo texto
apresentarei um resumo dos principais
cursos e escolas voltadas para educação
cervejeira. Não percam! Saúde!

Cervejas, sabores e lugares
por FERNANDA MEYBOM
A cerveja dos
bunkers da
2ª Guerra Mundial
“Visitar a Hausbrauerei
Altstadthof é como fazer
uma viagem no tempo“
Ao ouvir o som de estridentes
sirenes, a população da segunda
maior cidade da Baviera e a
principal cidade da Francônia
- Nuremberg, tinha apenas 10 minutos
para correr em direção à praça principal e
descer as escadas em direção a uma rede de
túneis subterrâneos que levam a pequenas
galerias, espaços estes que serviram
de abrigo para os ataques de bombas
realizados pelo exército aliado durante a 2ª
Guerra Mundial.
Mas nem sempre o abrigo foi utilizado para
tal fim. Antes de ser quase completamente
destruída, a cidade, considerada um dos
símbolos do nazismo e palco do julgamento
de seus famosos personagens, utilizava seu
subsolo para guardar não pessoas, mas sim
cervejas.
Alemanha é famosa por suas leis
relacionadas a cerveja. Porém, antes
mesmo da Reinheitsgebot, a Lei
da Pureza de 1516, entrar em
vigor, a cidade de Nuremberg já
tinha regulamentação própria
para a bebida. No caso, a lei
não era exatamente uma
lei sobre bebidas, mas sim
uma legislação referente a
alimentos. Bom, na Alemanha
cerveja é alimento, logo a bebida
aparecia em artigos de legislações
que estabeleciam parâmetros de
produção e consumo de alimentos.

Cervejaria Hausbrauerei Altstadthof,
Nurenberg, Alemanha

E foi a Câmara Municipal da cidade em
1303, que estabeleceu que a cerveja
só poderia ser fabricada utilizando
cevada (como ingrediente principal).
Mais tarde, determinou também que
todos os produtores deveriam fazer
uma adega subterrânea para conservar
o produto. Ao longo dos anos, foi
construído um emaranhado de túneis
sob a terra, que durante a 2ª Guerra
Mundial serviram de bunker para os
moradores da cidade.
Uma das cervejarias que utiliza o
subsolo da cidade para sua produção
de cervejas é a Hausbrauerei
Altstadthof. O curioso é que não é
apenas cerveja, mas também whiskey. A
cervejaria ainda se orgulha em ser uma
cervejaria orgânica.
Visitar a Hausbrauerei Altstadthof é
como fazer uma viagem no tempo.
A cervejaria fica localizada no centro
antigo de Nuremberg, e possui tours
guiados que acontecem em alemão,
mas também têm sistema de áudio em
inglês. O tour começa na praça próxima
à cervejaria.
Ao descer as escadas que dão acesso a
um dos bunkers, nos deparamos com
uma das bombas que atingiu a cidade.
A peça de metal em excelente estado
de conservação, fica pendurada em
frente à uma foto dos bombardeios.
Ao final das escadas atravessamos uma
pesada porta de metal que dá acesso
a uma sala com as fotos de antes e
depois da guerra.
Durante o tour, é explicado como o
solo e a formação rochosa do terreno
da cidade favorecia a construção
desses túneis, além de outros fatos
e curiosidades sobre a produção de
cervejas na época. Passeando pelos
gélidos corredores e galerias, que ao
todo são em torno de 25 mil m 2 (porém
só uma parte é liberada para visitação),
ficamos sabendo que antigamente o
processo de fermentação e maturação
das cervejas acontecia por ali. Ao todo
o passeio leva um pouco mais de uma
hora e termina no pátio da cervejaria.
Ainda visitamos o local de produção de
cervejas e whiskey. O pub e restaurante
Fernanda Meybom
Engenheira Química pela Universidade Federal de Santa Catarina,
Assessora Técnica no Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia (CREA-SC), Sommelier de Cervejas pelo Science of Beer
Institute - escola na qual atua profissionalmente, Mestre em Estilos de
Cervejas pelo Siebel Institute of Technology (Chicago- EUA),
Professora no curso de Pós-graduação Cervejeira da
Uniasselvi Blumenau/SC, jurada em concursos de cervejas e integrante
da equipe organizadora do Concurso Brasileiro de Cervejas 2014/2015.
também são visitas obrigatórias. O
menu é feito com cervejas e também
com os ingredientes da cerveja como o
magnífico filé com crosta de malte.
A tábua de degustação é uma excelente
opção para degustar as deliciosas
cervejas do local. O destaque vai
para a tradicional cerveja de malte
avermelhado da casa, a Red Beer.
Na loja onde compramos os tickets do
tour também é possível comprar as
cervejas e demais produtos feitos na
cervejaria, como chocolates, vinagre,
mostarda, entre outros. Todos feitos
com cerveja e seus ingredientes.
De todas as cervejarias que já visitei
pelo mundo, a Hausbrauerei Altstadthof
foi uma das mais impressionantes. Com
certeza, voltarei.
16 Revista Beer Brasil

Fotos: Fernanda Meybom
“Beeramisu”, preparado com cerveja de
trigo, licor de malte, “schnaps” de cerveja
escura (um destilado alemão), mascarpone,
canela e cacau.

ROTEIROS CERVEJEIROS
por DAIANE COLLA
Foto: Daiane Colla
#wanderlust
A
vida me presenteou com duas
paixões. Bebidas alcóolicas de
uma forma geral, em especial
os fermentados – dentre eles
a cerveja, claro! – e wanderlust. Para
aqueles que desconhecem o significado
dessa palavra, basta procurar nas
redes sociais ela acompanhada de uma
hashtag (#wanderlust), que irá se deparar
com inúmeras imagens de viagens
pelo mundo. Wanderlust é o incontrolável
desejo de estar sempre com malas
prontas e pé na estrada. Tenho isso
desde pequena, quando uma viagem
de 1 hora já fazia minha alegria.
Foi nutrindo esse desejo incontrolável
de conhecer o mundo que resolvi
transformar minha paixão por cerveja
em profissão. Existe período de tempo
melhor para se iniciar no mundo das
cervejas especiais do que durante uma
viagem? E na Europa? Terra das “ales”,
a Inglaterra é conhecida por produzir
cervejas extremamente equilibradas.
Amargor e dulçor nunca estão em pé
de guerra nas cervejas inglesas. Nada
se sobressai. Por isso, a paixão foi
arrebatadora. Lembro do primeiro pint
bebido no The Swan a duas quadras do
nosso hostel. Já havia bebido cervejas
inglesas no Brasil, mas não uma cask
ale. Não uma real cask ale!
Quando voltei ao Brasil, fui correndo
pesquisar cursos que me fizessem entender
o que bebi por lá e o que vinha
bebendo de forma esporádica no Brasil.
A partir daí, quando o foco da viagem
não é cervejeiro, sempre encontramos
um tempinho para visitar bares e cervejarias
e conhecer ainda mais sobre esse
universo.
Entretanto, estava faltando “A” viagem
cervejeira. Já havia viajado para o berço
de duas escolas cervejeiras, o Reino
Unido e os Estados Unidos. Agora parto
para uma aventura de 40 dias entre
Alemanha, Bélgica e um pedacinho da
Holanda. Serão 40 dias de imersão total
no mundo da cerveja, podendo ver de
perto diferentes processos produtivos
que resultam em cervejas que caracterizam
regiões nos dois países. Sonho de
qualquer cervejeiro.
O roteiro cervejeiro inicia em Munique,
na Alemanha, passando por todo o Sul
do país, indo para o Leste em direção
a Saxônia e Berlim, não esquecendo
da região Oeste, berço das cervejas
do estilo Alt e Kolsch. Depois, vem a
Bélgica, com seus mosteiros trapistas e
suas lambics e flanders, finalizando no
Brussels Beer Challenge, uma das maiores
competições de cerveja do mundo.
Por fim, Holanda, mais um mosteiro
trapista e a cosmopolita Amsterdã.
Todos os roteiros dessa quarentena
18 Revista Beer Brasil

‘‘
cervejeira serão retratados aqui nesse espaço. Como se deslocar, onde ficar, o
que comer e principalmente onde e o quê beber nessas diferentes regiões. O
que trazer na mala e como trazer também!
Wanderlust é o incontrolável
desejo de estar sempre com malas
prontas e pé na estrada.
Como montar seu roteiro
Baseie-se nos lugares que pretende conhecer e o tempo que pretende ficar
neles. Como estamos falando da Europa e de países próximos com curtas distâncias,
é possível se hospedar em uma cidade chave e se deslocar por outras
menores de carro, ônibus ou trem. Eu tenho um sério problema em comprar
com antecedência passagens de deslocamento interno. Quando estou em um
lugar, quero aproveitar o máximo dele e sempre temo que os dias reservados
por ali serão poucos para o que pretendo fazer. O oposto também acontece.
Temo reservar muitos dias para um lugar onde dois dias seriam suficientes. Mas
isso é algo bem pessoal. Tem aqueles que não conseguem viajar sem estar com
tudo previamente agendado. Quem tem essa sorte, costuma economizar mais.
Infelizmente não é meu caso.
Cerveja na mala
Nada melhor do que vir com a bagagem recheada. Uma dica para os viajantes é
optar por uma mala no lugar da mochila. Adoro viajar de mochilão, mas se o seu
objetivo é trazer cervejas, opte sempre por uma mala (preferencialmente com
rodinhas, porque ela vai voltar pesada!). Nos voos internacionais o limite é de
32kg por mala, podendo despachar até duas malas por pessoa. Como sempre
busco trazer cervejas nessas viagens, costumo ir com a mala pesando quase
nada (no máximo 15 kg). Outra dica – que aprendi com meu marido e companheiro
nessa aventura – é tentar levar algumas coisas que, caso seja necessário,
você possa deixar pelo caminho. Aquele tênis velho, o casaco ou a calça surrados,
produtos de higiene que não farão falta no retorno pra casa (como costumamos
ficar em hostels, B&B e apartamentos alugados, precisamos sempre
levar produtos de uso pessoal), toalhas de banho e rosto velhas, etc.. Quando
a viagem envolve muito deslocamento - trens, ônibus, avião, carro, carona - é
sempre recomendado andar com apenas uma mala. Imagina você viajando três
países com duas malas de 32 kg!?
Daiane Colla
Daiane Colla é Sommelière de Cerveja pelo Science of Beer Institute do
Brasil em 2012 e em 2014 Master of Beer Styles pelo Siebel Institute of
Technology de Chicago, Estados Unidos. É coordenadora geral do Science
of Beer Institute trabalhando na organização dos cursos realizados no
país e diretora de comunicação. Atua como sommelière em consultorias e
eventos de degustação e harmonização. É embaixadora do Brussels Beer
Challenge para o Brasil e membro da comissão organizadora do Concurso
Brasileiro de Cervejas atuando como coordenadora de serviço.

PÃO E CERVEJA
por FABIANA ARREGUY
Fabiana Arreguy
Jornalista, criadora e editora da Rádio Web Pão e Cerveja. Colunista
na Rádio CDL FM de MG, coluna Pão e Cerveja. Colunista do jornal
Estado de Minas, assinando o espaço Líquido e Certo. Colunista da
Revista PQN Notícias, página PQN com Cerveja. Sócia benemérita
da AcervA Mineira. Sommelier de Cerveja pela Doemens Akademie
de Munique e SENAC/SP. Criadora, desenvolvedora e professora do
Curso Introdução ao Estudo da Cerveja - SENAC/MG. Professora do
curso de pós-graduação em Tecnologia Cervejeira - UNI-BH. Juiz de
concursos nacionais e internacionais de cerveja.
A PRIMEIRA
CERVEJA
ESPECIAL
NUNCA
SE ESQUECE
Você seria capaz de dizer qual
foi a primeira cerveja especial,
diferente, que tomou em sua
vida? Essa é uma pergunta que
costumo fazer em palestras e aulas que
dou por aí. Muita gente é capaz de se
lembrar de viagens ao exterior e das
cervejas que tomou lá fora. Outras são
taxativas em dizer que as de trigo Erdinger,
pioneiras a chegar no Brasil, foram
sua iniciação no mundo das especiais.
Eu não duvido, desde que sejam pessoas
com menos de 30 anos de idade.
Pois aquelas que, na década de 1980, já
estavam na faixa etária permitida para
beber, acabam se esquecendo de listar
a sua verdadeira primeira experiência
com outras cervejas. Duvida?
Na década de 80 havia no Brasil torcidas
organizadas para rótulos de cerveja.
Quem era do time Skol, não tomava
Brahma ou Antartica. “Brahmeiros”
não tocavam em copos habitados por
Antartica. Os bebedores da Antartica
passavam longe da Brahma. Naquela
época, as três marcas eram de fato concorrentes,
não pertenciam ao mesmo
grupo como hoje. E assim o consumidor
brasileiro praticava o democrático
direito de escolha, ainda que fosse pelo
mesmo tipo de cerveja. Acontece que
na briga por espaço, outras marcas tentavam
se impor, lançando rótulos bem
parecidos para entrar na concorrência.
Assim aconteceu com o grupo Schincariol,
e com a própria Coca-Cola, que
também entrou na disputa por uma
fatia do mercado de cerveja brasileiro.
A ideia de uma cerveja da Coca-Cola
veio de um visionário empresário mineiro.
Luiz Pôssas era o representante e
distribuidor do refrigerante em Minas
Gerais. Em determinado momento, ele
percebeu que para conseguir fechar
com os bares desse imenso estado
brasileiro, precisava ter uma cerveja,
pois as demais marcas eram atreladas
a outros refrigerantes. A prática de
dominar os pontos de venda, ainda
hoje utilizada pelos grandes grupos, era
moeda corrente naquele tempo. E não
entrava na concorrência quem não se
adaptasse a ela. Foi assim que surgiu a
cerveja Kaiser.
Na concepção da nova cerveja, o
empresário mineiro foi buscar, de fato,
na Alemanha, um produto que fosse
diferenciado. Só que na voracidade do
mercado a marca foi sendo desmoralizada,
execrada pelo público, totalmente
crente que ela dava dor de barriga.
Antes dessa desmoralização, porém, a
Kaiser conseguiu atingir positivamente
o consumidor. A primeira sacada, e
isso deveria ser exemplo para algumas
agências de publicidade atuais, foi
mudar a lógica das propagandas de
cerveja. Em vez de mulheres louras, de
biquíni (mulheres “maiores” naquele
tempo, é verdade), a agência DPZ criou
um anti-personagem. Um senhor, na
casa dos 50 anos, baixinho, barrigudo,
de bigode e boina para garoto-propaganda
da marca. Era puro nonsense,
mas fazia o contraponto perfeito ao slogan
criado: Kaiser, uma grande cerveja.
E para arrematar o conjunto, um jingle
forte, utilizando-se de melodia conhecida,
repetia: “A Kaiser é uma grande
cerveja, ninguém pode negar!”. Era uma
expectativa saber qual seria a próxima
aventura do “ baixinho da Kaiser” nas
propagandas.
Todo esse preâmbulo tem apenas uma
razão de ser, uma vez que desejo falar
sobre a primeira cerveja diferente e
especial que muitos tomaram e se
esqueceram: Kaiser Bock. Um estilo
autenticamente alemão, centenário,
muito característico e que não existia
no Brasil dos anos 80. Foi ela, com
certeza, a primeira cerveja diferente de
muitos que hoje apreciam as artesanais.
A Kaiser Bock foi criada com o intuito de
ser uma sazonal, só vendida nos meses
de inverno no Brasil. E essa foi mais uma
bela sacada: criar o desejo no consumidor
por algo que não estava disponível
sempre.
Não estou aqui tecendo juízo de valor
sobre a qualidade dessa cerveja, embora
deva confessar que eu gostava bastante
dela e esperava ansiosa por seu
lançamento nos meses de julho. Há cerca
de 3 anos a Kaiser, hoje pertencente
ao grupo Heineken, produziu uma
leva especial de sua Bock e presenteou
vários jornalistas, blogueiros e formadores
de opinião com um engradado
‘‘
composto por seis garrafinhas. Receber
aquele presente me transportou para
outro tempo e me fez reencontrar a
primeira cerveja especial da minha vida!
Kaiser Bock. Um estilo
autenticamente alemão,
centenário, que não existia
no Brasil dos anos
80. Foi ela, com certeza,
a primeira cerveja diferente
de muitos que hoje
apreciam as artesanais.
20 Revista Beer Brasil

AGENDA DE EVENTOS CERVEJEIROS
EVENTOS CERVEJEIROS EM 2016
2016 será repleto de festivais cervejeiros espalhados pelo país.
Mas por enquanto, apenas alguns deles estão 100% confirmados
para o primeiro semestre. Confira:
SOMMERFEST
Blumenau/SC
Parque Vila Germânica
De 7 a 29 de janeiro
(todas as quintas e sextas)
Mais informações:
www.sommerfestblumenau.com.br
FESTIVAL BRASILEIRO DA CERVEJA
Blumenau/SC
Parque Vila Germânica
De 9 a 12 de março
Mais informações:
www.festivaldacerveja.com
DAMA BIER FEST
Piracicaba/SP
Cervejaria Dama Bier
Dia 27 de fevereiro
Mais informações:
www.facebook.com/DamaBierFest
TREMBIER FESTIVAL
Tiradentes/MG
Largo das Forras
De 28 de abril a 01 de maio
Mais informações:
www.facebook.com/TremBierFestival
Revista Beer Brasil
21

ESPECIAL GROWLERS
GROWLERS!?
ENCHA JÁ O SEU!

Não existem evidências claras sobre a
origem do termo “growler”, e são muitas
as histórias sobre seu surgimento,
mas a verdade é que seu aparecimento
nos remete ao final do século 18, onde simplesmente
faziam referência a “baldes de metal”
usados para transportar cerveja da taverna para
sua casa. ótima ideia, não!?
A palavra “growl” em inglês significa “rosnar,
grunhir”. “Growler” seria então algo como um
“rosnado”! Alguns dizem que esse rosnado teria
relação com o “som” de gás carbônico emitido
ao abrir esse “balde de metal” cheio de cerveja.
Outros contam uma história mais divertida: em
um pub, o atendente queria servir um growler
apenas com a medida de um pint. Porém o
cliente queria mais, queria fosse completamente
cheio, e claro, pagando o mesmo valor! Na
discussão, “rosnados e grunhidos” ecoaram pelo
bar, eternizando o termo “growler”.
Histórias a parte, o que importa é que os growlers
são bastante comuns na Europa e Estados
Unidos, e cada vez mais vêm ganhando espaço
na cena cervejeira nacional.
Em linhas gerais, growler é uma jarra, um recipiente,
um vasilhame, usado para transportar
cerveja, geralmente feito de vidro, cerâmica ou
aço inoxidável, e que permite você transportar
cerveja de um lugar para outro sem degradar
sua qualidade ou seus atributos.
Foto: Divulgação Hydro Flask

ESPECiAL GRoWLERS
Os de vidro, os mais populares, podem
ser encontrados na cor transparente
ou marrom, porém a marrom é a mais
recomendada já que garrafas escuras
protegem a cerveja da incidência de luz,
evitando afetar seu aroma e sabor. Em qualquer
uma das cores, outra vantagem dos growlers
de vidro, é poder ver o que está dentro, facilitando
na hora de encher e de ver quanto ainda
tem para beber. A grande desvantagem é que
vidro quebra! Para os mais desajeitados talvez
convenha partir para as outras opções.
Os de aço inoxidável, como o da foto, também
são bastante populares, não quebram, também
protegem da luz e têm o benefício de conservar
a temperatura estável por mais tempo. Imagine
fazer uma longa caminhada carregando seu
growler e ao final abri-lo para degustar uma
cerveja ainda gelada? Não chega a ser um super
problema, mas a principal desvantagem é justamente
o fato de você não conseguir ver o que
tem dentro, quanto ainda tem de cerveja e até
quando encher para não transbordar.
Foto: Divulgação Wine Enthusiast

E
por último, os de cerâmica.
Protegem da luz, não quebram
tão facilmente como os de vidro
(apesar de também poderem
quebrar), conservam a temperatura
(mas não tanto quanto os de aço
inoxidável), e são no mínimo diferentes,
lembram garrafas térmicas, um pouco
mais pesados que os demais e um pouco
mais difíceis de limpar. Oferecem um
mix de vantagens e desvantagens com
relação aos outros dois tipos.
Mas por que ter um growler? Bom,
primeiramente growlers são geralmente
leves, oferecidos em tamanhos
diversos, na maioria das vezes possuem
uma haste lateral para facilitar seu carregamento,
e com isso, estão sempre
por perto para você levar sua cerveja
fresquinha para casa, saída direto das
torneiras da sua cervejaria ou brewpub
preferido.
Também são “ecologicamente corretos”,
pense em quantas garrafas a menos
serão fabricadas (menos poluição).
Além disso são econômicos. Uma vez
que você já tenha seu growler, o valor
do ”refil” é muito mais barato que comprar
um chope ou garrafa.
E por último, mas talvez o mais importante,
a possibilidade de você compartilhar
cerveja de sua cervejaria favorita
com a sua família e amigos. Imagine
você levando um chope fresquinho
para casa, com um novo sabor, oferecendo
uma nova experiência para os
seus convidados e difundindo a cultura
cervejeira no seu ciclo de amizades.
Bacana, não!? Pegue seu growler agora
mesmo e vá até sua cervejaria artesanal
mais próxima!
Revista Beer Brasil
25

ESPECIAL GROWLERS
por ADRIANE BALDINI
Samuel Cavalcanti é o
mestre cervejeiro frente
a Bodebrown, cervejaria
artesanal que surgiu no
cenário curitibano em
2009 e hoje é conhecida
mundialmente por
sempre apresentar
inovações ao consumidor,
indo muito além do
que (apenas) excelentes
receitas de cervejas.
Muitas ideias
dentro de um
growler
26 Revista Beer Brasil

Revista Beer Brasil
27

ESPECiAL GRoWLERS
por AdRiANE BALdiNi
Quando a cervejaria surgiu, a ideia inicial era a de
expandir a marca com um toque a mais sobre
receitas de cervejas tradicionais. “Começamos a ser
bem conhecidos nos estados de Santa Catarina,
Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio - estados onde também há
microcervejarias como a minha. Porém, percebemos que em
nossa própria cidade, poucos sabiam que Bodebrown é de
Curitiba. Então, nossa meta foi ao de olhar, daquele ponto em
diante, ao nosso entorno”, diz Samuel, que começou a pensar
em novas alternativas para atingir o público local.
Certo dia,
ao visitar a
Das Bier em
Santa Catarina,
Samuel
conheceu
a rotina da
microcervejaria,
que vendia a
maior parte da
produção em
growlers - que
nada mais é do
que um recipiente
com tampa usado
para transportar
cerveja, geralmente
feitos de vidro,
cerâmica ou inox. Ele
ficou encantado com
todo
aquele cenário: a
grande praticidade de vender
cerveja e, principalmente, com as pessoas de lá, que se
entrosavam acompanhados dos filhos pequenos, parecendo
todos ser de uma grande e única família.
Outro fator que influenciou o mestre cervejeiro a investir no
growler foi a grande dificuldade em relação à linha de envase
– algo que, segundo ele, é absolutamente problemático (e
embrionário) em qualquer cervejaria artesanal. A que se
encontra atualmente na fábrica é de origem chinesa, da
década de 1980, e, segundo Samuel, “parece um Frankestein”.
O envase é um dos grandes culpados pelo custo elevado
da garrafa, pois deve-se considerar custos de tampa, rótulo,
garrafa, mão de obra especializada para operá-la, controle de
qualidade, pasteurização e empilhamento. “Isso que a garrafa
pode ficar, dependendo da cerveja, até seis meses em uma
prateleira para ser vendida. Boa parte da qualidade sensorial
do produto, infelizmente, pode se perder”, lamenta Samuel.
A consciência dele dizia que o consumidor poderia encontrar
uma cerveja muito melhor do que é encontrada nas garrafas,
então, porque não entregaria um produto assim? O desafio
era trazer os curitibanos para dentro da fábrica, além de
apenas buscarem as aulas que ensinam a fabricação de
cerveja caseira e a venda de insumos para tal.
Então, há três anos, a Bodebrown iniciou a venda da cerveja
no growler. No começo, se bateram bastante pois a fila
vivia grande devido ao processo mecanizado (e lento) no
enchimento do growler. Ainda, segundo ele, erraram na
questão da substituição dos vasilhames, no qual o cliente
trazia o dele e levava outro. Os problemas logo apareceram:
sempre aparecia alguém que não tinha cuidado com a
limpeza do recipiente, outro deixava um growler impecável e
levava um trincado
ou desgastado pra
casa. Decidiram
segurar um
pouco as vendas
e, por meio de
experiências
que assistiram
nas fábricas da
Stone e Sierra
Nevada, nos
EUA, e outras
na Alemanha,
escolheram
padronizar
a venda dos
vasilhames
escolhendo
o recipiente
de vidro com
a rosca tipo
flip top.
“No começo, foi um dilema para saber se importávamos
ou não os recipientes. Como incentivar o consumo de uma
cerveja não pausterizada por meio de um recipiente em que
o consumidor não está habituado? A quantidade mínima de
importação era de um contâiner, mas, encaramos mesmo
assim”, lembra ele, rindo.
Samuel disse que a fábrica iniciou uma verdadeira
transformação cultural para que a venda dos primeiros
growlers oficiais da Bodebrown fosse um sucesso. O
primeiro passo foi o de abrir a cervejaria aos consumidores
– claro, todos os visitantes vestidos de acordo com as
normas das regras de sanitização – com o objetivo de
mostrar que, para se ter um uma cerveja em sua condição
mais plena, era pelo growler que ele a teria da maneira
mais fresca possível. “Comparo a venda do growler com
a de uma panificadora: em um determinado horário,
o consumidor sabe quando o pão estará fresco. E é
exatamente essa sensação que eu quero passar com
a cerveja saída do tanque: de frescor, dele conhecer a
plenitude da receita”, diz ele.
Com o passar do tempo, as pessoas se habituaram a
buscar um chope fresco com os amigos e a esposa. Uns
trazem os filhos, engatam um breve bate-papo, degustam
pães e queijos e levam a cerveja por meio do growler
28 Revista Beer Brasil

Fotos: Adriane Baldini

ESPECIAL GROWLERS
por ADRIANE BALDINI
Fotos: Adriane Baldini
para acompanhar o almoço em casa e, dependendo do
formato do vasilhame, até na hora do jantar. Atualmente, a
aceitabilidade dos curitibanos é tão grande que é possível
acompanhar a satisfação dos consumidores pelas redes
sociais, que dão feedbacks diretamente ao cervejeiro e a toda
equipe da Bodebrown.
Samuel enfatiza que o growler também tem a função
de sustentabilidade, evitando que o consumidor final
consuma mais garrafas e as descarte no meio ambiente.
“Muitos sequer percebem que ao consumir cerveja por esse
recipiente, estão tornando o futuro melhor”, diz ele.
Pioneira mais uma vez, a cervejaria está vendendo growlers
personalizados, onde o consumidor pode comprar o
recipiente com o próprio nome gravado nele.
“Sempre sonhei com uma fábrica em que o cliente pudesse
ter uma boa experiência dentro de uma cervejaria, onde
ele soubesse como nasce o produto e como colocamos
nossa alma nele. E por que não compartilhar isso com os
nossos consumidores, sendo eles os grandes responsáveis
pelo nosso sucesso? Se eles estão felizes, com certeza, nós
também estamos”, finaliza.
Adriane Baldini
Adriane Baldini é jornalista investigativa
há 10 anos. Atualmente trabalha em uma
agência que pesquisa a história e a influência
cultural da imigração alemã em Curitiba.
Também é sommelière de cerveja (suas
cervejas preferidas são as de estilos ingleses
e, claro, alemães) e cozinheira. É apaixonada
por história da arte e estratégias de guerra.
Instagram @dribal21
30 Revista Beer Brasil

RIO DE CERVEJA
por GIL LEBRE
UMA RUA
CHAMADA CERVEJA
Foto: Eduardo Tayer

O
Rio de Janeiro continua
lindo. E a Praça da Bandeira
continua sendo uma boa
opção em diversão. Esqueçamos
um pouco o trânsito caótico do
bairro e os problemas com alagamento
em dias de chuva, que infelizmente
atrapalham os comerciantes e
moradores da região. E deixemos
um pouco de lado a Rua
Ceará, famoso endereço que
atrai desde o público fã do Rock
underground, até os que visitam
a Vila Mimosa, famosa zona de
meretrício da cidade.
Imaginemos então a Praça da Bandeira
como um grande coração que
bombeia os boêmios que frequentam
a região. E não é feito de sangue o
líquido bombeado, mas de cerveja, e
cerveja do tipo artesanal! Esse nobre
líquido passa pela artéria que é a Rua
Barão de Iguatemi - o polo cervejeiro
da Praça da Bandeira.
O circuito começa no número 205, no
Botto Bar, conhecido como o melhor
chope do Rio. Das 20 torneiras saem
cervejas de várias nacionalidades, sempre
com qualidade ímpar, graças a higienização
que a casa tanto presa. Mas
são as cervejas ciganas que ocupam o
orgulhoso coração de Leonardo Botto,
proprietário da casa. Principalmente se
forem as produzidas por ex-alunos formados
em seus cursos de produção de
cerveja caseira. Noi Avena e Noi Amara,
de Niterói-RJ, são algumas receitas criadas
pelo Botto, sempre plugadas nas
torneiras do bar.
Continuando pela mesma calçada até
o 379, está o Aconchego Carioca, que
dispensa apresentações. Com filiais no
Leblon e até em São Paulo, é de sua
autoria um dos petiscos de boteco
mais copiados do Brasil, o bolinho de
feijoada. O “Aconcha”, carinhosamente
apelidado, foi um dos primeiros
a comercializar cerveja artesanal no
Rio e hoje possui até rótulo próprio:
Electra, cerveja do estilo Vienna Lager,
fabricada pela Cervejaria Bamberg, de
Votorantim-SP.
‘‘
Em frente ao “Aconcha”, do outro lado
da rua, fica o Bar da Frente. O número
388 ficou famoso após ganhar a edição
2014 do Comida di Buteco, com o petisco
Porquinho de Quimono. O bar só
comercializa, orgulhosamente, cervejas
artesanais brasileiras. Em 2016 vêm
duas novidades: serviço de entregas à
domicílio e carta de cervejas, que foi
toda reformulada. Procure pelas simpáticas
Valéria e Mariana - as donas e, respectivamente,
mãe e filha - e diga que
o Gil recomendou: sanduíche Malandrinho
harmonizado com Rubine, cerveja
Bock fabricada pela Therezópolis-RJ.
Encerrando a tour, um pouco mais
adiante e na mesma calçada, fica o Dida
Bar, antigo Tempero da Praça. O bar do
número 408 mudou de administração
ano passado, mas continua o trabalho
de bom anfitrião ao receber os membros
da ACervA Carioca - Associação
de Cervejeiros Artesanais. Lá eles se
encontram na “terça-sim”, confraternização
quinzenal dos cervejeiros caseiros
Imaginemos então a Praça
da Bandeira como um
grande coração que bombeia
os boêmios que frequentam
a região. E não é
feito de sangue o líquido
bombeado, mas de cerveja,
e cerveja do tipo artesanal!
Esse nobre líquido
passa pela artéria que é
a Rua Barão de Iguatemi
- o polo cervejeiro da
Praça da Bandeira.
Revista Beer Brasil
33

RIO DE CERVEJA
por GIL LEBRE
do Rio, que trocam figurinhas sobre produção e levam suas cervejas
para serem degustadas. Das comerciais a dica é pedir pela Fraga
Weiss, cerveja de trigo fabricada em Vargem Pequena, bairro da Zona
Oeste do Rio.
Portanto, se você é fã de cerveja artesanal e da boa gastronomia,
está esperando o quê para visitar a Rua Barão de Iguatemi?
Gil Lebre
É o autor do blog A Perua da Cerveja, constantemente
atualizado com informações e novidades do meio cervejeiro.
Formou-se Sommelier de Cervejas na ABS-SP, em aulas
ministradas pelo Instituto da Cerveja Brasil (ICB) e na sede
do ICB concluiu o curso de Mestre em Estilos. Gil Lebre é o
atual campeão do Campeonato Brasileiro de Sommelier de
Cervejas e recentemente disputou o IV Beer Sommelier World
Championship. Também participa constantemente como
degustador e jurado em competições de cerveja.
ANUNCIE AQUI
Divulgue sua marca em uma publicação de abrangência
nacional, 100% digital, de maneira segmentada, para um
público selecionado e envolvido com cervejas artesanais!
contato@revistabeerbrasil.com.br

CIÊNCIA DA CERVEJA
por AMANDA REITENBACH
Amanda Felipe Reitenbach
Brasileira, mora em Berlim / Alemanha, tem formação em
Engenharia Química e de Alimentos, e desde a sua graduação
dedica-se ao estudo da cerveja e seus temas adjacentes. Teve
como objeto de seu mestrado o desenvolvimento de uma cerveja
probiótica, a qual traz inúmeros benefícios à saúde. Doutoranda
na Versuchs- und Lehranstalt für Brauerei (VLB-Berlin), desenvolve
atualmente um estudo para o desenvolvimento de um nariz
eletrônico para cervejas.
HARMONIZAÇÃO
DE CERVEJAS
COM
ALIMENTOS
A harmonização de cervejas com alimentos pode ser algo muito
prazeroso e surpreendente para muitas pessoas.
A
versatilidade da cerveja em sabores, aromas e texturas
faz dela uma combinação perfeita para quase
todos os pratos, desde os queijos até os pratos mais
sofisticados.
Fazer a escolha correta requer atenção nas características
da cerveja e do prato escolhido para que um não apague o
outro.
Na cerveja podemos encontrar os sabores dos maltes, que
vão desde os aromas de cereal, biscoito, até os mais intensos
como os tostados. Temos a contribuição do lúpulo, que
confere aromas distintos e amargor. E um leque gigantesco
quando falamos nos aromas produzidos pelas leveduras.
Todos esses elementos serão protagonistas para a harmonia
com o alimento, onde o mais importante é encontrar o equilíbrio
entre os dois.
A cerveja é, sem dúvida, a melhor de todas as bebidas para
acompanhar os mais variados pratos. Graças à sua grande
diversidade e riqueza de aromas e sabores, o prato sempre
ganha alguma coisa quando se faz a escolha acertada da
cerveja para acompanhá-lo. Na verdade, há uma sinergia
entre ambos, cerveja e alimento, quando bem casados, propiciando
um prazer muito maior do que quando ambos são
degustados separadamente.
Fotos: Eduardo Tayer
O conceito básico para se fazer a harmonização é o bom
senso, que deve guiar sempre a ação, de forma a haver equilíbrio
entre a cerveja e a comida. Dessa forma, cada termo da
equação deve se equilibrar com o outro, de tal forma que a
cerveja não se sobreponha ao prato, e vice-versa.
Etapas da harmonização
Identificação minuciosa (componentes,
aromas, textura, peso do prato e
da cerveja);
Determinar o elemento chave (observar
as incompatibilidades);
Fazer a opção final, testar na prática;
Anotar suas observações;
Não se leve muito a sério: divirta-se!
Algumas regras gerais
Equilíbrio de forças: alimento e
cerveja devem ter intensidades iguais;
Harmonizações por semelhança:
busque aromas semelhantes no
alimento e na cerveja. Por exemplo,
cervejas cítricas e leves com carnes
brancas e saladas, cervejas carameladas
e suavemente tostadas com carnes
assadas e cervejas escuras e tostadas
com sobremesas à base de chocolate;
Harmonizações por contraste:
algumas interações específicas contrastam
muito bem, como alimentos
gordurosos e cervejas mais alcoólicas e
doces com cervejas de maior acidez.
Foto: Eduardo Tayer
Revista Beer Brasil
35

CRAFT BEER REVOLUTION
por GISELE RUSSANO
A REVOLUÇÃO NO
CENÁRIO CERVEJEIRO
DA ALEMANHA
Acerveja faz parte da identidade nacional da Alemanha,
e cumpre um longo e importante significado
histórico no país, sempre marcado por muita tradição.
Mas nos últimos anos o mercado de cervejas
alemão vem sofrendo mudanças significativas. Desde 2007
o consumo de cerveja na Alemanha vem caindo todos os
anos, segundo o Destatis (Instituto Federal de Estatística da
Alemanha). Por outro lado, desde 2012 acontece a chamada
“craft beer revolution”, moldando um novo cenário cervejeiro
no país, onde cervejas importadas vêm conquistando consumidores,
estilos inovadores e criativos ganhando espaço ao
lado dos tradicionais estilos de cerveja alemães, e a produção
e consumo de craft beer na Alemanha aumentado exponencialmente.
Para começar a entender a história da cerveja na Alemanha, é
imprescindível falar sobre a Reinheitsgebot – a Lei da Pureza
Alemã. Lei promulgada em 1516 pelo Duque da Bavária, a
Reinheitsgebot estabelecia uma série de regulamentações
para a produção de cerveja no país, sendo a principal o uso
exclusivo dos ingredientes água, cevada e lúpulo (naquela
época ainda não se conhecia a levedura). A lei foi interpretada
como um selo de qualidade para as cervejas alemãs, já
que proibia o uso de aditivos químicos e ingredientes de má
36 Revista Beer Brasil

qualidade, e foi o guia para os tradicionais estilos de cerveja
alemães que conhecemos hoje. Ela sofreu algumas modificações
com o passar dos anos, mas ainda hoje tem muita
importância para a maioria dos cervejeiros e consumidores
da Alemanha.
E é por isso que a “craft beer revolution” demorou a acontecer
no país. Foi apenas há 3 ou 4 anos que alguns cervejeiros
se inspiraram e começaram a produzir diferentes estilos de
cerveja na Alemanha, trazendo criatividade e inovação para
o mercado cervejeiro do país. A Lei da Pureza ainda existe,
o que faz com que o produto produzido com outros ingredientes,
que não sejam os 4 principais (água, malte, lúpulo e
levedura), não possam ser oficialmente categorizados como
cerveja. Mas isso não é um problema para cervejeiros e consumidores
de craft beer.
Especialmente em Berlim, a capital do país, com tantos
expatriados e turistas (e hipsters!), o cenário cervejeiro vem
mudando com rapidez: a cidade tem cerca de 12 microcervejarias,
diversos bares e alguns eventos anuais especializados
em craft beer. Até em alguns supermercados e Spätis (tipo o
nosso mercadinho de bairro), já é possível encontrar diversidade
de estilos de cerveja nas prateleiras. Não é à toa que a
Revista Beer Brasil
37

CRAFT BEER REVOLUTION
por GISELE RUSSANO
escocesa Brewdog decidiu abrir um bar em Berlim ainda em
2016, e a americana Stone Brewing Co. anunciou recentemente
o investimento de mais de 25 milhões de dólares em
uma planta onde funcionará sua cervejaria e restaurante na
capital alemã.
Hamburgo e Munique também são cidades onde a revolução
é facilmente percebida, e criatividade e inovação podem ser
surpreendentemente encontradas até em algumas cervejarias
da Bavária, como é o caso da Spitalbrauerei - uma
cervejaria da cidade de Regensburg, fundada em 1226, super
consolidada e respeitada no mercado alemão. Recentemente
a cervejaria lançou uma nova linha chamada Spital Manufaktur,
com estilos como Pale Ale, Strong Ale e Chocolate
Stout – estilos não-alemães, mas que ainda respeitam a
Reinheitsgebot. O pessoal da cervejaria diz que a intenção
com a nova linha foi provar que tradição e ideias novas
podem realmente se complementar: “Existe uma frase do
Goethe que diz: é necessário ter raízes e asas (it needs roots
and wings). Nossas raízes estão profundamente ancoradas na
tradição cervejeira da Bavária, desde 1226. E quando falamos
de nossas asas, nos referimos à nossa paixão por cerveja,
muita criatividade e nossa ambição de dar a cada cerveja
nosso toque especial”.
Especialmente em Berlim, a capital do
país, com tantos expatriados e turistas
(e hipsters!), o cenário cervejeiro vem
mudando com rapidez: a cidade tem
cerca de 12 microcervejarias, diversos
bares e alguns eventos anuais
especializados em craft beer.
Ainda há muito para se discutir sobre o futuro do cenário cervejeiro
na Alemanha, mas acredito que há sim espaço para
tradição e inovação coexistirem. Assim, mesmo com tantas
mudanças, a cerveja continuará cumprindo um importante
papel na história e identidade do país.
Gisele Russano
Sommelier de Cerveja e Mestre em Estilos. Vive
na Alemanha, onde vivencia e acompanha
as tradições, tendências e movimentos do
‘‘cenário cervejeiro europeu.
38 Revista Beer Brasil

Velhas Virgens Rockin’ Beer
Para deixar a revista ainda mais
interessante, saímos à procura
de uma banda de rock para falar
sobre cerveja (afinal, rock e
cerveja tem tudo a ver, não tem?!). Mas
somos exigentes, não podia ser qualquer
banda. Tinha que ser uma banda
paulistana (a revista nasceu na capital
paulista, queríamos uma banda daqui!),
que bebesse (e muita!) cerveja, com
mais de 25 anos de estrada, com pelo
menos 15 discos gravados, que tivesse
seus próprios rótulos, que tivesse seu
próprio bar, e que a boa parte de suas
músicas falassem sobre cerveja! Ufa.. só
nos restou uma opção: Velhas Virgens!
Brincadeiras à parte, as Velhas Virgens
realmente têm esse currículo. Considerada
a maior banda independente
do Brasil, tem 29 anos de estrada, mais
de 2 mil shows na bagagem e recém
lançou seu 15º álbum, “Garçons do
Inferno”, sua primeira coletânea oficial
que conta com 20 músicas eleitas pelo
público como “as melhores das Velhas
Virgens”.
Além de toda sua
história roqueira,
as Velhas também
conhecem
muito de cerveja.
Eles têm um
bar, o “Velhas
Virgens Rockin’
Beer”, já em
seu terceiro
ano de vida
e localizado
próximo ao
Horto Florestal,
em São Paulo. Têm também
4 rótulos de cervejas artesanais, uma
IPA, uma Witbier, uma Brown Ale, e o
mais recente lançamento, uma Fruit
Bier com adição de amoras negras,
todas receitas do baixista Tuca Paiva e
atualmente produzidas pela cervejaria
Invicta, de Ribeirão Preto-SP.
Mostrando que estão realmente
antenados com o mundo cervejeiro,
lançaram recentemente mais uma
novidade: o “WorkChopp, uma palestra
cantante”, onde Paulão de Carvalho,
Tuca Paiva e Ale Cavalo se reúnem com
a galera para falar de cerveja, música e
negócios, além de tomar umas cervejas
e tocar umas músicas para quem estiver
presente!
Não perca nas próximas edições as histórias
de Paulão de Carvalho, Ale Cavalo,
Tuca Paiva e demais velhas, falando
sobre cerveja e muito rock and roll!
Revista Beer Brasil
39

ENTREVISTA: MALTERIA BLUMENAU
por FABRÍCIO DOMINGUES
MALTES 100%
NACIONAIS
Uma das boas novidades de 2015 foi o lançamento da
Malteria Blumenau, primeira malteria nacional especializada
em maltes especiais.
Em conversa com Rodolfo Rebelo,
um dos proprietários da
malteria, ele contou um pouco
sobre como é ser o precursor
desta área no país, mas antes disso, é
bom explicar o que é esse tal de malte.
O Brasil produz a maior parte da sua
cevada para a indústria cervejeira.
Depois da colheita, a cevada segue
para a malteria, onde será classificada
e testada, antes de germinar e ser
malteada. O mesmo processo pode ser
feito com outros cereais como trigo e
sorgo. Os grãos passam pelo processo
de germinação para desprender com
facilidade a casca do cereal e liberar
as enzimas e amido necessários para a
produção da cerveja.
Os grãos ficarão em um ambiente climatizado,
com umidade e temperatura
controladas, e o processo é interrompido
assim que o grão germinar. Está
pronto o malte verde, mas, há a possibilidade
de criar variáveis desse malte, os
chamados maltes especiais. Os maltes
especiais poderão ter características
caramelizadas ou tostadas, devido ao
processo de torrefação que o cereal
passará após ter interrompida sua
germinação. Se o grão estiver úmido
durante o processo de torrefação, ele
terá características caramelizadas, caso
esteja seco, as características do grão
lembrarão ao café, chocolate e notas de
tostado.
Portanto, malte é um processo, onde o
cereal adquire características específicas
e úteis para a produção de cerveja.
Agora que você possui uma noção
do que é a especialidade da Malteria
Blumenau, vamos para a entrevista com
o Rodolfo, que nos contou um pouco
sobre como funciona uma malteria.
40 Revista Beer Brasil

Como surgiu a ideia de montar
uma malteria e qual a novidade
ou diferencial que a Malteria
Blumenau está oferecendo?
Quando iniciei meu mestrado em
Engenharia Química, desde o início quis
fazer algo relacionado a malteação.
Após estudos e aprofundamento no
assunto, pude perceber a oportunidade
no mercado. O meu sócio, Walter Borelli,
também estava querendo montar
algo e acabamos juntando as ideias e
formalizamos a empresa. No cenário
atual brasileiro, a Malteria Blumenau é
a primeira no ramo de maltes especiais,
competindo neste momento somente
com os maltes importados. O grande
diferencial é a produção 100% brasileira,
matéria-prima brasileira, equipamentos
brasileiros e mão de obra local.
Qual a origem da matéria-prima?
Há importação ou exportação
dos produtos comercializados
na malteria?
A matéria-prima usada é 100% brasileira,
provinda dos estados produtores de
cevada e trigo, que são Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul. Estamos
estudando a exportação de produtos,
mas, ainda é um assunto que está somente
no papel.
Hoje, a Malteria Blumenau
atende que tipo de público e
atua em qual região do país?
A Malteria Blumenau atende três grupos
do mercado brasileiro, primeiro são
os cervejeiros caseiros, segundo são as
lojas de insumos cervejeiros e o terceiro
grupo são as microcervejarias. Estamos
em constante expansão em vendas,
quase batemos 100% do Brasil, vendendo
nos três grupos já mencionados.
Recentemente atravessamos o Brasil e
chegamos a Teresina-PI. Ficamos muito
orgulhosos!
Há a expectativa de um
crescimento considerável
no número de novas microcervejarias
nacionais
para a próxima década.
Qual a meta da Malteria
Blumenau para o mesmo
período?
Sim, o crescimento das cervejarias
e do ramo cervejeiro chega
aos seus 20% anuais, o que é
muito bom para nós. A meta da
Malteria Blumenau nos próximos
anos é aumentar pelo
menos 200% a produção.
Quais produtos e tipos
de maltes estão sendo
comercializados por
vocês?
Hoje nós temos somente 4
produtos em linha, mas com
previsão para aumentar o sortimento
em 10 tipos até final do ano. Trabalhamos
com o Pale Ale (Malte base),
Blumenauer I e Blumenauer II, estes são
maltes desenvolvidos por nós, são dois
tipos de maltes torrados. Ainda temos
mais um desenvolvido por nós que é
o Barley Loaf, da categoria “Biscuit” ou
Biscoito, é um malte super aromático
desenvolvido na Malteria Blumenau.
Os próximos tipos serão, Trigo, Trigo
Orgânico, Trigo Blumenauer I e II, Vienna,
Ponteado, Ponteado Torrado, Pilsen
Premium e Pilsen Orgânico.
Qual a visão da empresa referente
ao crescimento do setor
nos próximos anos?
Acreditamos que a cadeia cervejeira irá
crescer como um todo, existem outras
lacunas também vazias ou pouco exploradas.
No setor de malte é possível ver
este potencial, mas a indústria malteira
exige alto investimento, tecnologia e
mão de obra qualificada.
Fabrício Domingues
Consultor de empresas, editor do site Cerveja
em Foco, formação em Comércio Exterior e
especialização em Planejamento de Marketing.
Revista Beer Brasil
41

CERVEJA TRIO
UM TRIO DE MUITO TRÊS
Um trio de muitos três - três meninas, três sommelières,
três cervejeiras, três lotes, três lupulagens - formando um triângulo de
leveza, aroma e amargor, uma tríade de sede, frescor e satisfação!
Desde 2010, quando formaram-se
juntas no curso
de sommelier de cervejas,
Amanda Reitenbach, Bia
Amorim e Carolina Oda encontraram-se
muitas vezes por conta dos compromissos
cervejeiros e as relações foram
sendo estreitadas. Da proposta para
realizarem uma aula de harmonização
no Festival de Cervejas de Blumenau
em 2014, surgiu o batismo do ABC da
Cerveja. Em seguida, veio o convite da
cervejaria Blondine para uma colaborativa.
O objetivo? Diversão, matando
a vontade de trabalhar junto com
pessoas com quem temos afinidades,
e aproveitar o alcance para difundir
sempre mais a cultura cervejeira e suas
experiências!
Conversa vai, conversa vem, e-mails pra
lá e e-mails pra cá, meses se passaram
e, finalmente, Alemanha, São Paulo e
Ribeirão Preto se aproximaram graças
à tecnologia e o projeto se concretizou:
estilo, receita, nome, rótulo e festas
escolhidos.
A ideia foi produzir três lotes com a
mesma receita base, o mesmo estilo
- Session IPA - porém com lúpulos diferentes
no dry-hopping (adição de lúpulo
no final do processo, com a cerveja já
pronta, conferindo muita intensidade
aromática). Com isso tudo, mantém a
graça do número 3 em tudo. Os três
lotes produzem um estilo excelente
para o calor, época dos lançamentos; e
tem conceitos educativos envolvidos,
com as adições de lúpulo demandando
uma explicação sobre a técnica de dry-
-hopping e uma conscientização sobre
a importância do frescor da cerveja,
além de promover uma comparação
que enriquece a experiência sensorial
quando os três lotes estiverem no
mercado, possibilidade bem rara de se
encontrar nas prateleiras. Afinal, seria
impossível para três profissionais cheias
de prazer em compartilhar o conhecimento
não pensar no que a brincadeira
agregaria aos que se envolvessem com
o produto.
A primeira edição, lançada em setembro,
foi feita com os lúpulos Brewers
Gold e Pacific Gem. A segunda, lançada
em dezembro, foi com Bravo e Saphir.
E, a terceira, que será lançada no final
de janeiro ou começo de fevereiro, será
42 Revista Beer Brasil

com Nelson Sauvin e Chelan.
O estilo Session IPA, tendência que explodiu
em meados de 2010 nos Estados
Unidos em resposta aos estilos de cerveja
mais fortes, alcoólicos e potentes,
tem drinkability como a sua palavra-
-chave, ou seja, é fácil de ser bebida por
longos períodos, porém sem perder
o sabor e as características esperadas
do estilo base. As IPAs têm presença
marcante do lúpulo em aroma, sabor
e amargor. Os americanos costumam
dizer “All the IBUs, half the AVB” (“Todos
os IBUs - medida de amargor internacional
- e metade do teor alcoólico), isso
porque a cerveja tem um corpo mais
leve, porcentagem de álcool menor e a
carga de sabor de lúpulo não diminui. A
intensidade de sabor e aroma continua,
mas ainda assim, deixando a bebida fácil,
leve. Ideal para quem adora cerveja
pelo seu sabor e não pelos seus efeitos.
E teremos novidades das três? Quem
sabe? As meninas gostam de projetos
com começo, meio e fim. Um brinde às
efemeridades da vida!
Fotos: Acervo pessoal

BRUSSELS BEER PRoJECT
A moderna proposta
de inovação e
co-criação do
Brussels Beer Project
Mais do que apenas uma cervejaria,
os belgas da Brussels Beer Project,
que recentemente desembarcaram
no Brasil para apresentar e
distribuir suas cervejas através da importadora
Bier&Wein, trazem um projeto colaborativo que
foca no conceito de “co-criação”, visando ousar,
inovar e renovar o cenário cervejeiro belga.
Desde junho de 2013, com a escolha pela comunidade
cervejeira belga do rótulo Delta (entre
as criativas opções Alpha, Beta e Gamma!),
a cervejaria não para de crescer, e hoje com
apenas 2 anos de vida, orgulha-se de já estar
presente em mais de 20 países na Europa. Hoje
já são 4 rótulos fixos (Grosse Bertha, Baby Lone,
Dark Sister e Delta), mais de 20 sazonais e cerca
de 750.00 garrafas produzidas todos os anos.
O lançamento da cervejaria contou não apenas
com aporte de seus co-fundadores, mas também
com financiamento coletivo (crowdfunding).
Já foram duas rodadas de uma proposta
nomeada #BeerForLife, onde basicamente
são garantidas 12 garrafas de cerveja, todos os
anos, para o resto da vida de cada um dos “patrocinadores
e entusiastas” do projeto que toparam
investir 160 euros. Parece muito bom para
ser verdade e já são mais de 1200 crowdfunders
que toparam apoiar o projeto.
Mais do que “clientes e consumidores”, o
Brussels Beer Project fala de uma “comunidade
de entusiastas cervejeiros e de um espírito de
co-criação”, onde a comunidade é incentivada
a participar e sugerir novas receitas, e onde o
espírito colaborativo está fortemente presente.
É possível, inclusive, entrar no site da cervejaria
e em cerca de dois minutos sugerir sua própria
receita! Se sua receita for escolhida, poderá ir
até a Bélgica para produzir sua receita junto
com os caras. Legal não!?

Um breve giro pela história da cerveja
por SIMONE PIRES
A história da bebida
alcoólica mais
consumida no mundo
é extremamente
envolvente e tem seu
surgimento datado
de milhares de anos
atrás.
The Ale-House Door, Henry Singleton, 1790
Conheça um pouco
mais sobre seu
contexto histórico,
sua evolução e todos
os desafios até que
pudesse estar hoje
em nossas prateleiras.
Um breve giro pela
história da cerveja
Para inaugurar esse espaço na primeira edição, nada
melhor que contar um breve resumo sobre a história
da bebida alcoólica mais consumida no mundo,
a cerveja. Há cerca de 10 mil anos, na região da Mesopotâmia
– que hoje corresponde a grande parte do território
do Iraque - o homem pré-histórico deixava de ser nômade
para então fixar-se em terras férteis, assim, desenvolveu as
primeiras técnicas de agricultura.
A cerveja surgiu por acaso. Diz a lenda que alguém esqueceu
vasos cheios de grãos ao relento. Entre pancadas de chuva e
raios de sol, os grãos foram fermentando, gerando um líquido
turvo, até que algum corajoso tomou da mistura e voilà, a
cerveja!
Existem registros antigos que comprovam a existência da
cerveja já nesta época. Um dos mais importantes, foi deixado
pelo Império Babilônico, na Mesopotâmia, por volta de
1700 a.C.: o Código de Hamurabi. Esse legado foi o primeiro
a detalhar um conjunto de leis sobre a bebida (entre outras
tantas leis). Você pode encontrá-lo em exposição no Museu
do Louvre, em Paris.
Antigamente, a cerveja era bem diferente. Substâncias como
raízes e frutos eram misturadas aos grãos, e tudo era fermentado
espontaneamente. Para os egípcios, só as mulheres
podiam fabricar a bebida, que era considerada indispensável,
por exemplo, em cerimônias fúnebres. E acreditem, os operários
que construíram as pirâmides recebiam cervejas como
pagamento.
Já na Grécia, o povo não curtia muito. Eles recomendavam a
bebida apenas para tratamento médico. No Império Romano,
por ser a Itália uma região cercada por vinhedos, a cerveja
46 Revista Beer Brasil

perdeu ainda mais importância. Foi o vinho que virou coisa
de nobre. A fama da cerveja só veio na Idade Média, com a
Igreja. Acredita?
A partir do século IV, a cerveja começou a ser fabricada pelos
monges, que a consumiam como alimento durante as épocas
de jejuns. Antes, a produção era extremamente caseira. Com
as pesquisas da monja beneditina Hildegard Von Bingen,
descobre-se a importância da qualidade do lúpulo. Antes, era
utilizada uma mistura de ervas chamada gruit.
Com o aumento no consumo, algumas pequenas cervejarias
surgiram para ajudar na produção. Em 1040, o Mosteiro de
Weihenstephan, na Alemanha, conseguiu a licença para produzir
a bebida comercialmente, sendo até hoje a cervejaria
mais antiga em atividade no mundo.
Com o decorrer do tempo, os mosteiros foram perdendo a
sua força, mas a bebida continuou se estabelecendo pela
Europa graças ao modelo de produção comercial.
Prova disto é o Duque Guilherme IV, da Baviera, que decretou
a Reinheitsgebot, a Lei da Pureza. A partir de então, na
Alemanha, apenas três ingredientes poderiam ser usados na
fabricação de cervejas: água, malte e lúpulo. A levedura ainda
era uma dádiva de Deus.
Na Era Moderna, a evolução da cerveja aconteceu graças às
descobertas como a refrigeração artificial (Carl von Linde)
e de aprimoramentos no termômetro para a medição de
mínimas temperaturas, o que proporcionou a fabricação
de cervejas de baixa fermentação, permitindo a produção
durante o ano todo.
Louis Pasteur, em 1876, desenvolvia pesquisas para alguns
cervejeiros e detectou seres microbiológicos na cerveja. A
partir disso, criou um método para eliminar esses intrusos: a
pasteurização.
Código de Hamurabi, Museu do Louvre
No Brasil, a cerveja chegou somente com a Família Real, em
1808. Antes, a cachaça e o vinho dominavam por aqui. Nos
anos de 1830, 40 e 50, surgem as primeiras cervejarias no
Sul e Sudeste do país, porém a primeira indústria cervejeira
nacional foi fundada por um imigrante alemão, Henrique
Kremer, instalada entre 1853 e 1854.
No início do século 20, o mundo sofre com a 1ª Guerra Mundial,
o consumo de cerveja cai e gera várias fusões e aquisições.
Sem contar a escassez de matéria-prima e mão de obra,
que levou as indústrias a apostarem na mecanização. Mas
como tudo pode piorar, em 1919 a Lei Seca foi implantada
nos EUA, acabando somente 1933 e tendo diminuído drasticamente
a quantidade de cervejarias americanas.
O tempo passa, o consumo e a indústria cervejeira aumentam
a cada dia, e hoje ainda passamos por um período de expansão
no consumo massivo das cervejas do estilo American
Light Lager. Mas a boa notícia é que vivemos um momento
de “vida nova” para as cervejas artesanais, que vem retomando
a tradição das regiões onde são produzidas.
Hoje, a cerveja não sai mais das prateleiras, e muito menos da
geladeira de todos, do mundo inteiro. Oremos e brindemos!
Saúde!
Polícia esvaziando barris durante a Lei Seca americana
Simone Pires
Publicitária com pós-graduação em Branding. Beer Sommelier pelo Instituto
da Cerveja, especialista em Administração e Negócios da Cerveja pela FGV
e colunista do blog Mucha Breja. Fã de IPAs e Barley Wine. Acredita em um
mundo mais justo para a produção das cervejas artesanais.
Revista Beer Brasil
47