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Comentário Evangelho Segundo João - Vol. 1

Comentário de João Calvino no Evangelho Segundo João - Vol. 1.

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Capítulo 1 • 31<br />

ela exercia seu poder? Qual era sua natureza? De que forma poderia<br />

ser ela conhecida? Por isso, o Evangelista nega que Cristo fosse parte<br />

do mundo e das coisas criadas, já que ele sempre estivera unido<br />

com Deus antes que o mundo viesse à existência. Ora, aqueles que<br />

tomam princípio como parte da criação do céu e da terra não estariam<br />

reduzindo Cristo à ordem comum do mundo, do qual ele é aqui<br />

expressamente excluído? Ao fazer isso, não só insultam horrivelmente<br />

ao Filho de Deus, mas igualmente ao seu eterno Pai, a quem privam de<br />

sua Sabedoria. Se, porventura, for errado retratar a Deus isoladamente<br />

de sua Sabedoria, devemos igualmente confessar que a origem da<br />

Palavra não deve ser buscada em algum outro lugar senão na eterna<br />

Sabedoria de Deus.<br />

Serveto objeta que a Palavra não pode ser concebida antes de<br />

Deus ser, por meio de Moisés, representado como que falando. Como<br />

se ela, porque não havia ainda publicamente se manifestado, não subsistisse<br />

em Deus! Como se ela não possuísse existência abscôndita<br />

antes que começasse a revelar-se exteriormente! O Evangelista, porém,<br />

destrói toda fenda que possibilitasse a passagem de disparates<br />

tão absurdos, quando afirma incondicionalmente que a Palavra estava<br />

com Deus. Com isso, ele nos afasta para longe de toda temporalidade.<br />

Aqueles que inferem do tempo imperfeito do verbo 1 um estado<br />

contínuo, infelizmente se colocam numa posição incômoda. Afirmam<br />

que a forma verbal era [erat] expressa melhor uma série contínua do<br />

que se <strong>João</strong> dissesse tem sido [fuit]. Tais questões, porém, demandam<br />

razões mais convincentes. O que tenho exposto deve ser suficiente, a<br />

saber: que o Evangelista nos envia ao eterno santuário de Deus e nos<br />

ensina que a Palavra estava, por assim dizer, oculta ali antes que se<br />

revelasse na estrutura externa do mundo. Portanto, Agostinho está<br />

certo quando nos lembra que o princípio mencionado aqui não teve<br />

começo, pois ainda que o Pai seja anterior à sua Sabedoria quanto à<br />

ordem, não obstante os que inventam algum ápice de tempo para essa<br />

1 “Pource qu’il est dit Estoit, et non pas N’esté.” – “Porquanto se diz Era, e não tem sido.”

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