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Comentário Evangelho Segundo João - Vol. 1

Comentário de João Calvino no Evangelho Segundo João - Vol. 1.

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Capítulo 4 • 157<br />

escória resultante da fusão de judeus e povos estrangeiros. Havendo<br />

corrompido o culto divino, e introduzido muitas cerimônias espúrias<br />

e ímpias, eram, com razão, considerados pelos judeus como um povo<br />

detestável. Contudo, indubitavelmente, os judeus, em sua maioria, fomentavam<br />

seu zelo pela lei como uma capa para seu ódio carnal, pois<br />

muitos agiam movidos mais por ambição e inveja, sentindo desprazer<br />

em ver o país que lhes pertencia ocupado pelos samaritanos, do que<br />

por pesar e intranquilidade por verem o culto divino sendo corrompido.<br />

Havia motivo justo para a separação, desde que seus sentimentos<br />

fossem puros e bem temperados. Por essa razão, Cristo, quando inicialmente<br />

enviou os apóstolos a proclamarem o evangelho, os proíbe<br />

de entrar em contato com os samaritanos [Mt 10.5].<br />

Esta mulher, porém, faz o que é natural a quase todos nós, pois,<br />

desejosos de manter nossa autoestima, levamos muito a sério quando<br />

somos desprezados. Essa doença da natureza humana é tão generalizada<br />

que cada pessoa deseja que seus vícios agradem a outros. Se<br />

alguém nos desaprova por alguma coisa que fazemos ou dizemos, 1 nos<br />

sentimos imediatamente ofendidos sem qualquer razão plausível. Que<br />

cada um de nós examine a si mesmo, e encontrará essa semente do<br />

orgulho em sua mente, até que a mesma seja erradicada pelo Espírito<br />

de Deus. Esta mulher, pois, tendo consciência de que as superstições<br />

de sua nação eram condenadas pelos judeus, dirigi-lhes um insulto na<br />

pessoa de Cristo.<br />

Porque os judeus não se comunicam com os samaritanos. Considero<br />

estas palavras como tendo sido pronunciadas pela mulher.<br />

Outros supõem que o evangelista as adicionou como explicação, e<br />

de fato é de pouca importância que significado o leitor prefira. Eu, porém,<br />

penso ser mais natural crer que a mulher está ironizando Cristo<br />

nestes termos: “O quê?! É lícito você me pedir água para beber, uma<br />

vez que nos tem na conta de tão profanos?”. Mas, se alguém preferir<br />

a outra interpretação, de minha parte não polemizo. Além disso, é<br />

1 “Et qui reprouve ce que nous disons ou faisons.”

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